Capítulo 5 - Você está bêbado?
Eu detestava andar sozinha, fosse na rua, fosse no Manhattan Bar, fosse na festa da escola. Mas tive que fazer isso na esperança de encontrar o amor da minha vida em algum lugar por ali. A festa era no ginásio de esportes do Instituto. O lugar era grande. Mas não impossível para encontrar alguém, embora estivesse lotado. Andei por cerca de meia hora, dando voltas e voltas e não o encontrei. Cansada, fui até Alissa e Val, que encerravam seu turno na venda de bebidas.
- O encontrou? – perguntou Val.
- Não... Acho que deve ter ido embora.
- Mas ele estava aqui... Eu juro.
- Eu também vi. – disse Alissa.
- Eu acredito em vocês, meninas. Mas realmente não o encontrei.
- Nós vamos atrás de Saul... Ver o que ele está fazendo. Vamos junto? – convidou Alissa.
- Não... Estou podre de cansada. Meia hora dando voltas procurando o bendito ser que assombra meus sonhos. – confessei.
- Então nos espere. Encontramos você aqui daqui a pouco.
- Ok. – justo eu, a garota que tinha quase pânico de ficar sozinha.
Elas saíram de mãos dadas, empolgadas em seguir Saul. Eu subi as arquibancadas e sentei uns dez degraus acima, de onde eu tinha uma vista privilegiada de tudo. Passei meus olhos mais um tempo por ali e não vi nada. Então recostei minhas costas na parte de trás e deitei minha cabeça, fechando os olhos para descansar um pouco. A festa havia sido chata. Nada foi como esperávamos.
Se eu tivesse bebido poderia jurar que dormi um tempo ali, sozinha. Abri meus olhos assustada e procurei por Alissa e Val, que ainda não haviam retornado. Olhei para o lado e lá estava ele, sentado sozinho a alguns metros de mim... Carlos Eduardo, o amor da minha vida, o garoto que povoava meus sonhos, do qual eu falava 24 horas do dia, que havia me beijado como se o mundo fosse acabar naquela noite e depois desaparecido por seis meses sem nunca mais dar notícias.
Nossos olhos se encontraram. Eu desviei. Achava que conseguiria ir até ele, dizer qualquer coisa, talvez até que o amava. Mas no fim minhas pernas ficaram como que pregadas no chão e meu coração parecia que saltaria pela minha boca. Aquela não era eu... Ou era eu na presença dele, pois eu não sabia como era ficar próxima de Cadu.
Antes que eu pudesse pensar mais, vi ele levantando e andando até mim. Sério que aquilo estava mesmo acontecendo comigo, depois de longos 180 dias de espera?
Ele sentou ao meu lado... Cadu, você existe... Você é real... Cheguei a pensar que era imaginação da minha mente.
- Oi, Ju.
- Oi, Cadu. – falei tentando não transparecer o nervosismo que eu sentia.
Apoiei minhas mãos na arquibancada, para que ele não percebesse minha tremedeira. Seria muito humilhante se ele notasse que eu estava completamente desnorteada por causa dele.
Ele colocou a mão sobre a minha, que estava próxima da dele e avançou um pouco mais para o meu lado, deixando pouco mais de alguns centímetros de distância dos nossos corpos.
- Veio passear? – perguntei, tentando afastar a tensão, mas sem retirar a minha mão debaixo da dele.
- Sim... De vez em quando é bom sair um pouco.
- Verdade.
- Você tem ido ao Manhattan? – ele perguntou.
- Algumas vezes... Gosto bastante de lá.
- Nadiny me convidou para ir algumas vezes... Ela disse que você estaria por lá...
- Daí você não foi? – tentei quebrar o gelo com uma brincadeira de dizer verdades.
- Eu não curto muito o Manhattan. Prefiro o Lounge 191. Você não gosta?
- Nunca fui. – confessei.
- Acho que vai gostar. Gosto mais das músicas que tocam lá. E o público que frequenta é um pouco mais sério.
- Quer dizer que os frequentadores do Manhattan Bar não são sérios?
Ele riu:
- Você entendeu...
- Tenho algumas amigas que costumam ir ao Lounge 191 e nunca o encontraram lá.
- Hum... Quer dizer que você estava me procurando?
- Eu? – perguntei envergonhada. – Não quis dizer isso...
- Não precisa ficar corada. – ele riu.
- Não estou corada...
- Está tão corada quanto eu estou bêbado.
- Você está bêbado? – perguntei.
Eu não notei. E como notaria? Eu mal o conhecia. E por que ele me dizia aquilo? Eu queria ficar com um Cadu bêbado? Talvez ele nem lembrasse de mim no outro dia. Mas que diferença fazia ele lembrar ou não?
Antes que eu pudesse decidir, ele pegou meu rosto com as duas mãos e levou para próximo do dele, me beijando. Sua boca estava quente, doce e tinha gosto de álcool. Corria o risco de eu me embebedar naquele beijo perfeito. Que se foda que ele estava bêbado e eu não havia percebido. Ainda assim ele foi me procurar. Ninguém o obrigou a sentar ali ao meu lado... Ao menos eu esperava, pois eu perdi um pouco do que aconteceu quando acho que adormeci uns minutos na arquibancada.
Passei minhas mãos no pescoço dele e o trouxe para mais perto de mim, sentindo sua língua passeando pela minha boca. Quanto tempo eu havia esperado por aquilo... O beijo dele era absolutamente perfeito... E acabou num selinho. Como não me apaixonar por ele? A forma como aquele garoto me tratava era como se fôssemos namorados, como se nos conhecêssemos há tanto tempo. Eu já havia ficado com vários garotos, mas ele era diferente... Ele era especial. E eu sequer sabia explicar o motivo não a ser o beijo perfeito, pois nem tentar me tocar de forma mais ousada ele tentava.
No entanto não foi o que aconteceu no segundo beijo. Ele me puxou para o seu colo e sentei de frente para ele. Nosso beijo se intensificou e em pouco tempo senti seu membro duro embaixo de mim. Eu já tinha me sentido excitada e já havia inclusive ficado sem a parte de cima da minha roupa com um homem numa cama, embora tivesse sido na casa de Alissa e eu não tivesse feito nada além daquilo.
As mãos de Cadu desceram até minhas nádegas, que ele apertou, me puxando ainda mais próximo a ele. Minha língua procurava a dele avidamente. Alisei seus cabelos lisos e eu poderia tirar minha roupa e perder a virgindade com ele ali mesmo, na arquibancada do ginásio.
- Gente...
Paramos o beijo e continuamos como estávamos, olhando Alissa. Sério que ela estava interrompendo meu momento perfeito e tão esperado?
- Desculpem, mas a professora Marta pediu para você descer do colo dele, Juliet. – ela falou um pouco sem graça.
- Como assim? Não estamos fazendo nada... – ele contestou.
- Ela disse que é uma festa de final de tarde com toda a escola...
Sem sair do colo dele olhei para trás e vi a professora Marta nos observando séria e atenta. Desci a contragosto e ele colocou o casaco por cima do seu membro endurecido. Alissa saiu e ficamos ali, completamente constrangidos.
- Podemos ir para outro lugar, se você quiser. – falei sem acreditar no que eu estava dizendo.
Ele me encarou. Mas antes que respondesse, dois garotos pararam na parte de baixo da arquibancada e disseram:
- Estamos indo... Quer carona ou vai ficar?
Ele me olhou. Será que eu precisava dizer com palavras que gostaria muito que ele ficasse? Acho que deixei bem claro.
- Preciso ir... – ele disse.
- Precisa ou quer? – perguntei.
Ele sorriu e me deu um beijo no rosto:
- Preciso mesmo... Não quero ir sozinho depois... Nem pegar um táxi. Eles moram no mesmo prédio que eu. Tenho compromisso depois também. Então realmente não posso ficar.
- Ok... Sem problemas.
- Prometo lhe compensar da próxima vez, minha linda. – ele disse me dando um beijo na testa e indo embora.
Vi ele se afastar, sentindo um misto de raiva de mim mesma e ao mesmo tempo completamente encantada pelo “minha linda”. Carlos Eduardo definitivamente acabaria com minha sanidade. Acho que nem a Cinderela fugiu tanto... Só faltava ele deixar o sapato para eu encontrá-lo. Olhei no relógio... Não estava próximo da meia-noite e sim das vinte e uma horas.
Eu teria ido com ele para qualquer lugar... Eu teria transado com ele num motel, no banco de um carro, embaixo da arquibancada, num banheiro ou até mesmo na parede escura de trás do ginásio. Ainda assim ele foi embora e me deixou a ver navios, completamente molhada e cheia de amor para dar.
Dormimos na casa de Alissa naquela noite novamente. E pela primeira vez eu chorei na frente delas por um garoto. Eu não sabia se tinha mais raiva dele ou de mim mesma por ter dado tanto a entender que eu estava completamente apaixonada por ele.
- Não podemos nem dizer que ele está brincando com você porque em momento algum ele lhe prometeu qualquer coisa. – disse Alissa alisando meus cabelos.
- Eu acho que você deve se afastar... E dizer não para ele da próxima vez. – aconselhou Valquíria.
- Eu jamais serei capaz de dizer não para ele, Val... Porque tudo que eu quero é dizer sim. Eu espero por ele todas as noites quando saímos. Eu quero que ele tire a minha virgindade. – confessei.
- Juliet... Acho que ele não conseguiria fazer isso. Parece-me até que ele tem hora para chegar em casa. – falou Alissa.
- Acho que os amigos que o comandam. – tentou Val. – Mas ele gosta de você... Ou não teria parado ao seu lado e lhe beijado... E feito o que fez.
- Eu já pensei isso... Estava cheio de garotas e ele procurou a mim. Mas ao mesmo tempo literalmente fugiu.
- Acho que ele não seria uma boa pessoa para tirar sua virgindade. – disse Alissa.
Comecei a rir e as duas também. Era engraçado falarmos aquilo de forma tão natural. Sim, eu havia escolhido ele. Mas parecia que ele não queria ser o escolhido. Aquele garoto era completamente estranho e diferente dos demais. Quem, em são consciência, rejeitaria uma garota que lhe propusesse ir para qualquer lugar para continuar o que começamos? Se ele não tivesse me desejado da mesma maneira que eu o desejei, não teria ficado duro para mim. Senti um arrepio ao imaginar nós dois nus numa cama... Ele beijando meu corpo... Eu beijando o dele... Saboreando cada parte da sua pele macia...
Acabei adormecendo enquanto imaginava como seria minha primeira noite de amor com Carlos Eduardo.
Na segunda-feira, claro que o assunto foi a festa e Cadu ter aparecido e eu ter beijado ele e a professora Marta ter me feito descer do colo dele e ele ter ficado excitado e colocado o casaco por cima. Por sorte só teríamos aula com ela na sexta-feira. Eu morreria de vergonha se a visse naquele dia quase pós festa, ainda tão recente. No fim, foi melhor ela ter chamado minha atenção do que o diretor. Imagina minha mãe ser chamada na escola por aquilo... Ela nunca ma perdoaria e me daria um castigo eterno. Ela adorava me dar castigos. Estava demorando para não acontecer, inclusive.
- Eu vi Cadu no domingo. – disse Nadiny.
Agora eu já acreditava nela. Encarei-a, dando-lhe toda a atenção que ela merecia.
- E... – falei.
- Ele disse que estava bêbado... Mas lembra do que aconteceu.
- Bêbado? – perguntou Alissa. – Como assim?
- Se ele disse isso, é um otário. – falou Dani furiosa. – E eu vou cuidar para ele nunca mais tocar em você.
- Acho que ele bebeu demais mesmo. – admiti, mesmo sem tê-lo visto beber, levando em conta o que ele me falou.
- E ele precisava falar isso para Nadiny, como se justificasse algo? – continuou Dani.
- Ele lembra do que aconteceu... – falou Val. – O que ele lembra, exatamente?
- Que vocês “ficaram”. – disse Nadiny.
Val, Alissa e Dani me olharam e eu sabia que elas não estavam muito satisfeitas com o que tinha acontecido naquela noite.
- Eu quero ficar com ele novamente... Ajuda-me, Nadiny, por favor.
- Claro, querida. Vou levá-lo na próxima festa, eu juro. – disse Nadiny saindo.
- Se você ficar com ele novamente, vou matá-la. – disse Dani.
- Você não pode estar bem da cabeça. – observou Val.
- Esqueça tudo que eu disse sobre gostar de Cadu... O detesto a partir de hoje. – completou Alissa.
- Meninas, por que isso? O que ele fez de ruim?
Elas simplesmente não me responderam e eu senti uma dor dentro de mim. Não faltava mais nada do que agora elas acharem que Cadu não era uma boa pessoa e estava me enganando. Claro que ele não estava... Eu sabia muito bem o que estava acontecendo. E exatamente o que eu queria: ele. Não importava a forma que fosse.