Capítulo 4 Ela está na minha cama
Percebendo o ânimo no som dele, Murilo Lima, o amigo de Leopoldo, ficou tão chocada que quase mordeu a língua.
- Quem? Será que é a Srta. Bruna? - Indagou Murilo, com os olhos arregados de surpresa.
- Não. - Respondeu Leopoldo, com um tom enigmático.
- Então quem é? - Insistiu Murulo, a curiosidade fervilhando dentro dele.
Um silêncio pesado se instalou no ambiente, deixando Murilo sem palavras, enquanto ele aguardava ansiosamente por uma resposta.
“Ele é tão mesquinho que nem sequer quer revelar o nome?”, pensou Murilo, franzindo o cenho diante da atitude enigmática de Leopoldo.
Considerando a indiferença de Leopoldo com as mulheres, era raro para ele se apaixonar por alguém. Murilo ponderou por um momento, refletindo sobre a personalidade reservada de Leopoldo e suas relações passadas, antes de tomar uma decisão.
- Tudo bem! Contanto que você goste, seja quem for, vou fazer dela sua esposa! - Declarou Murilo com convicção. Seu tom era determinado, mostrando sua disposição em apoiar Leopoldo.
Se a mulher fosse esperta, por acaso cabia muito bem a ele. Se fosse tipo inocente, era uma combinação perfeita de anjo e demônio. Assim que esse homem gostasse, Murilo até não se importava com a homosexualidade. Ele faria qualquer coisa pelo amigo.
Leopoldo sorriu, um sorriso enigmático que iluminou seu rosto por um breve momento.
- Ela está na minha cama. - Disse ele, com uma voz calma e firme.
Murilo ficou sem palavras, seus olhos arregalados de surpresa. Finalmente, ele entendeu. Afinal, Leopoldo já a tinha levado para casa! Não era à toa que estava tão anormal. Ele riu por dentro. Sendo homem, ele podia entender...
Enquanto Murilo ainda estava processando a revelação, Leopoldo abriu a boca devagar novamente.
- Ceda sua posição como o presidente do Grupo Emperor. - Disse ele, sua voz era um comando frio.
Murilo ficou congelado por um momento, processando a impactante solicitação de Leopoldo. Quando percebeu, seus olhos se iluminaram com a surpresa.
- Você finalmente tem a bondade de me prestar férias! Compro uma passagem aérea agora mesmo para ir embora... - Disse Murilo, quase celebrando a ideia de finalmente ter um descanso.
Mas a celebração de Murilo foi interrompida por uma frase fria que veio do outro lado, quebrando sua alegria.
- Você será o vice. - A voz de Leopoldo era como gelo, sem deixar espaço para argumentos.
Murilo se calou, sua expressão mudando rapidamente para surpresa e confusão, atônito com a reviravolta inesperada em sua vida profissional.
“Que reviravolta é essa!”, pensou, sua mente girando com a inesperada mudança.
- Por que você quer a presidência do Grupo Emperor? - Perguntou Murilo, tentando desvendar o mistério por trás da solicitação de seu amigo.
Levando em conta a identidade e o temperamento de Leopoldo, ele nunca perguntaria sobre o Grupo Emperor se não houvesse algo importante.
Era o trabalho mais chato. Além de ganhar um pouco de dinheiro, consumia muita energia sem receber a menor gratificação. E agora, foi reduzido a mero servo.
Leopoldo baixou a voz, revelando uma motivação oculta por trás de sua solicitação:
- É útil para ela.
Quando ele a via pela primeira vez, percebia que havia um forte tom de ódio nos olhos de sua esposa recém-casada.
Ela de repente se casou com ele sem motivo. A razão mais provável era que ela estivesse extremamente magoada e quisesse retaliar aqueles que a machucaram.
O que poderia esmagar a família Oliveira e a Rodrigues na Maravia era apenas o Grupo Emperor.
Murilo ficou surpreendido, sua mente correndo para entender a situação. - Ela? - Murmurou, sua voz cheia de incredulidade.
Pelo que viu agora, somente a nova esposa dele tinha essa importância... Ela era a chave para tudo isso.
Os dedos esbeltos de Leopoldo passaram pelas sobrancelhas, enquanto ele soltava uma voz baixa, que parecia carregar todo o peso de sua determinação:
- Ela não tem boa reputação na Maravia. Proteja-a bem.
Murilo respirou fundo, sentindo a seriedade na voz de Leopoldo. Sabia que o amigo não fazia tais pedidos levianamente. Murilo respondeu com um tom firme:
- Entendi. Se alguém se atrever a repreendê-la no Grupo Emperor, mando-o embora da cidade imediatamente.
Seja como fossem os rumores, Murilo nunca poderia duvidar o carácter da mulher apaixonada por Leopoldo. Ele sabia que Leopoldo não fazia escolhas impensadas e não admitiria desrespeito àquela que escolheu proteger. Caso contrário, ele poderia morrer de uma maneira nunca imaginada.
Pensando em experiências de Rafaela, Leopoldo abriu a boca com indiferença novamente. Seu tom revelou uma intensidade chocante:
- Não quero ver as chamadas famílias Oliveira e Rodrigues em Maravia novamente em 3 meses!
...
Encerrando a ligação, Leopoldo voltou para o quarto sozinho, sentindo um peso no peito. Abriu a porta devagar e seus olhos caíram sobre Rafaela, deitada na cama de forma apertada, com os cabelos longos, pretos e aveludados espalhados pelos ombros finos, dormindo tranquilamente com as sobrancelhas ligeiramente franzidas.
Parado à beira da cama, Leopoldo curvou a cintura e tocou o curativo em sua testa com seus dedos, deslizando suavemente pela sua bochecha pálida até seus lábios.Ele estava tão perto que podia sentir a fragrância delicada da garota em sua respiração.
No sono, Rafaela parecia ter notado algo, prestes a abrir os olhos. Com os dedos passando pelo cabelo preto e sedoso de Rafaela, Leopoldo deu tapinhas suaves nela.
- Está tudo bem. Durma. - Sua voz era um sussurro tranquilizador, carregado de uma doçura inesperada.
Os longos cílios de Rafaela tremeram. Em vez de sentir qualquer malícia, ela sentiu um leve calor que parecia estar ausente há séculos. Ela esfregou o travesseiro e abraçou os braços dele como um bebê, demonstrando um apego inexplicável. E adormeceu rápidamente de novo.
Leopoldo observava o rostinho dela, com os olhos fixos em cada detalhe de sua expressão serena. Após muito tempo, ele abaixou a cabeça e deu um beijo tenro na testa dela.
- Independentemente de quem você for, de onde vier e pelo que passou, não vou... Deixar você ir embora. - Suas palavras foram um juramento silencioso, uma promessa de proteção e cuidado.
...
Quando Rafaela acordou na manhã seguinte, o sol já brilhava no quarto, inundando o espaço com uma luz suave. Ela se lembrava vagamente que foi carregada para o quarto na noite passada, então não se surpreendeu naquele momento.
Todavia, ficou um pouco surpresa por poder dormir tão pacificamente nos braços de um homem estranho sem ter a menor guarda. Ela bateu na testa mas não conseguiu entender, então deixou de ponderar.
Desceu da cama, foi ao camarim e escolheu um vestido longo azul de diversas roupas. Era um estilo simples, bonito e caloroso, refletindo sua natureza tranquila e frieza interior. Depois que ela tomou o café da manhã, o médico aplicou remédio no ferimento de sua testa. Ela pegou o chapéu, pronta para sair.
Naquele momento, Leopoldo estava sentado no sofá com as pernas cruzadas casualmente, os olhos fixados nela o tempo todo.
Ele só se levantou até que ela estava prestes a ir. Caminhou até ela, agarrou o pulso fino dela e entregou um acordo de transferência de ações. Sua voz foi tenra:
- Este é o dote de casamento.
Rafaela ficou congelada por um momento e deu uma olhada no documento. Era um acordo de transferência de ações do Grupo Emperor. Todos os procedimentos estavam prontos. Assim que ela assinasse, se tornaria a nova presidente da empresa.
Esse dote seria suficiente para enlouquecer qualquer garota na Maravia. Rafaela, no entanto, não cresceu na Maravia. Passou mais de 20 anos de sua vida estudando e não tinha obsessão demasiada por dinheiro.
Porém, já que se casou com Leopoldo, não recusou seu dote. Além disso, esse homem deveria ter investigado minuciosamente o passado dela, de maneira que sabia que ela estava com falta de dinheiro naquele momento.
No entanto, esse homem conseguiu lhe dar o Grupo Emperor como o dote de casamento, então sua identidade deveria ser ainda mais poderosa do que ela pensava.
Rafaela sorriu e guardou o acordo. Olhando para o homem tão sofisticado como a cerâmica, ela fez um sorriso suave e agradeceu:
- Obrigada, vou aceitar. Espere meu dote.
Depois, ela piscou os olhos de forma brincalhona e saiu de casa, deixando uma leve fragrância no ar.
Atrás dela, os olhos de Leopoldo se escureceram em um instante, sua expressão endurecendo. Fixando o olhar na sombra fina dela que estava indo para longe, ele disse tchau silenciosamente no coração. A determinação de protegê-la crescia cada vez mais forte dentro dele.
...
Rafaela voltou à mansão da família Oliveira, um lugar que nunca lhe trouxe paz. Quando entrou, viu que sua madrasta, Maria, tomando o chá no sofá da sala de estar. Maria estava usando um vestido justo, que acentuava suas curvas, e, embora tivesse mais de 40 anos, ela se cuidava bem, mantendo uma aura de dama nobre.
Maria levantou os olhos ligeiramente enrugados para Rafaela. A repulsa surgiu rapidamente em seus olhos, como uma nuvem negra obscurecendo o céu.
- O café da manhã está na cozinha. - Maria disse com um tom frio, mal disfarçando o desprezo. - Coma agachada na cozinha no futuro. Assim, os empregados não precisam de arrumar a mesa.
Rafaela sentiu a crueldade das palavras de Maria, mas manteve a calma, uma expressão serena e decidida em seu rosto.
Maria continuou, seu tom carregado de falsa piedade:
- Não me culpe. Você manchou a família Oliveira tão gravemente que não podemos responder à família Rodrigues. Seu pai ficou muito furioso e quer expulsar você de casa. Mas enfim, você foi crescida por mim. Não suporto ver você morando na rua nem posso deixar seu pai ver você com raiva. Então, aguente um pouco.
Ela se virou para os empregados da família Oliveira, sua voz gotejando autoridade:
- Deixem a comida de Rafaela na cozinha no futuro, entenderam?
Os empregados, acostumados a obedecer cegamente, disseram com respeito à dona:
- Entendemos.
A situação era humilhante. Deixar Rafaela comer agachada na cozinha? Estava tornando-a como um animal? Rafaela manteve a tranquilidade. Ao invés de ficar raivosa, fez um sorriso ligeiro, quase desafiante.
- Não precisa,Sra. Maria. Saio de casa ainda hoje.
Com isso, ela subiu ao piso superior, seus passos firmes ecoando pela escada.
Maria ficou zangada, sua fúria explodindo. Ela bateu uma xícara no chão, os cacos se espalhando ao redor.
- Pare! Você subiu sozinha enquanto eu ainda estou embaixo. Onde está sua educação? Ficou estúpida depois de fazer aquelas coisas feias?
Com o rosto escurecido pela raiva, Maria foi até Rafaela, levantando a mão para bater nela. Rafaela se esquivou com agilidade, seus olhos brilhando de determinação.
Quando estava prestes a se irritar ainda mais, Maria levantou a cabeça e se deparou com um par de olhos escuros e frios. Rafaela a olhava diretamente, sem medo. O confronto silencioso entre as duas era palpável, cada uma resistindo à outra com toda a força de suas vontades.