Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo 1 Ressurreição

Uma dor aguda se espalhou da testa por todo o corpo. Ela foi empurrada por alguém, fazendo com que sua testa se chocasse contra o chão de mármore frio e duro.

Com um gemido abafado, Rafaela Oliveira abriu os olhos. Sua visão estava turva, e uma sensação sombria e cruel envolveu seu ser. Sentiu-se como se estivesse presa em uma armadilha, pronta para contra-atacar com ferocidade a qualquer momento.

Um rugido furioso de um homem aos seus ouvidos.

- Rafaela, por que não morre logo?!

Logo em seguida, uma uma mulher nervosa gritou:

- Davi, você está louco? Por que estão parados aqui, seus imprestáveis! Levem o Sr. Davi!

Dois guarda-costas se precipitaram para afastar o homem que estava segurando o cabelo de Rafaela. Ela sentiu o alívio momentâneo, mas o medo e a confusão ainda a dominavam.

Uma senhora de meia-idade correu para levantar o corpo frágil de Rafaela, fixando o olhar assustado em seu rosto e sua cabeça cheios de sangue.

- Rafaela, você está bem? - Sua voz tremia de preocupação.

Rafaela lutou para manter a compostura e observou os arredores com seus olhos frios e escuros. Já no próximo segundo, um ar confuso apareceu subitamente no fundo de seus olhos.

Um hotel luxuoso, com decorações elaboradas, flores frescas e fitas coloridas, e uma multidão murmurante... Nada fazia sentido.

Aqui era...onde?

Ela abaixou a cabeça para se olhar e viu que estava em um vestido de noiva branco. A parte de peito estava manchada de sangue, criando uma imagem de tristeza chocante.

Rafaela ficou atônita. Ela estava se casando...

O que aconteceu?!

O olhar do homem à sua frente era tão afiado como uma faca, cortando-a com ódio e desprezo. Seu rosto distorcido estava cheio de humilhação e fúria. Rafaela podia ver a veia em sua têmpora latejando de raiva.

Ele jogou uma pilha de fotos no rosto de Rafaela, as fotos espelhando-se pelo chão. A frieza e o desgosto em sua voz eram inconfundíveis.

- Dormiu com tantos homens e ainda quer matar sua própria irmã para esconder o segredo... Rafaela, que maldosa e desavergonhada é você! Eu, Davi Rodrigues, não me casarei com você nem que eu morra!

Ele arrancou os lírios do noivo, jogou-os na frente dela e se virou com indiferença para ir embora .O som de seus passos ecoava pelo salão, cada vez mais distante.

Ansiosa e brava, a senhora de meia-idade correu atrás dele, gritando:

- Davi, seu canalha! Volte aqui!

Diante das costas do homem determinado a sair, Rafaela sentiu uma dor afiada no coração. Emoções e memórias estranhas inundaram seu coração, uma mistura de raiva, tristeza e desespero.

Com o rosto pálido, ela franziu fortemente as sobrancelhas, tentando compreender a torrente de informações que surgia em sua mente. No momento em que Davi desapareceu completamente de sua visão, algo explodiu na sua cabeça com um estrondo, liberando uma torrente de memórias caóticas.

Rafaela não conseguiu suportar mais. Com o corpo amolecido, ela caiu no chão e perdeu a consciência, seus últimos pensamentos engolidos pelo vazio.

...

No sonho confuso, o cheiro de sangue e fogo enchia suas narinas, enchendo sua respiração com uma aroma acre e penetrante. Entre rostos jovens e determinados, seus gritos eram abafados pelo som da batalha, tingido pelo gosto metálico do sangue derramado.

- Senhorita, vá embora! - A voz implorante de um soldado, os olhos cheios de urgência e desejo de proteger sua líder.

- Senhorita, por favor, sobreviva! - Outro soldado, com a voz embargada pela emoção, suplicando por um milagre que mantivesse viva a esperança.

- Senhorita, volte viva e vingue seus companheiros! - O clamor desesperado de um terceiro, a determinação marcada em cada palavra, desejando justiça para os companheiros caídos.

Na cama, a jovem abriu os olhos e fixou o olhar tranquilo no teto. Suas órbitas oculares estavam um pouco húmidas, testemunhas silenciosas de sua dor e sofrimento. Após um longo tempo de silêncio, uma lágrima escorreu do canto do olho pela sua bochecha pálida.

Finalmente, ela se lembrou de como chegava lá, vindo das chamas da guerra a milhares de quilômetros de distância.

Ela morreu.

Era verdade, Rafaela morreu como a comandante suprema no campo de batalha. Traída pela pessoa mais próxima, envolta pelos corpos de seus camaradas caídos, ela enfrentou o olhar alerta e lamentável do inimigo, que perfurou seu coração com uma facada certeira.

A partir daquele momento, não houve mais a nobre e bonita Srta. Rafaela .

No entanto, uma nova Rafaela emergiu na distante Maravia.

Em transe, ela ouviu a voz de Deus que estava chamando e perguntando se estava disposta a tentar mais uma vez, se houvesse uma chance?

Ela parecia ter respondido que queria uma outra chance para procurar seus camaradas de armas...

Rafaela fechou os olhos para conter a tristeza intensa, organizando minuciosamente os fragmentos de memórias que emergiam em sua mente.

A garota cujo corpo foi ocupado por ela também se chamava Rafaela Oliveira. Correu em direção ao noivo com alegria na noite de seu casamento, mas sua irmã, Lara Oliveira, bloqueou seu caminho.

Com um sorriso estranho e maldoso, Lara colocou várias fotos lascivas na sua frente. Rafaela tentou agarrar as fotos nervosamente, mas Lara rolou escada abaixo e começou a gritar e chorar antes mesmo de ser atingida por ela.

As fotos foram espalhadas pelo chão, todas mostrando as cenas eróticas em que ela estava com outros homens.

Antes que ela pudesse reagir, uma onda avassaladora de abuso e humilhação tomou conta dela.

O noivo se arrependeu do casamento na hora e afastou a mão dela, ignorando suas explicações chorosas. Sua testa bateu no chão e o sangue jorrou por todo lado...

E a pessoa que abriu os olhos novamente foi ela, Rafaela, a comandante suprema.

As memórias das duas “Rafaelas” passaram claramente pela sua mente como um filme, mesclando-se até se transformarem em silêncio.

Depois de um longo tempo de silêncio, Rafaela piscou os olhos e se sentiu imensamente grata por ainda estar viva.

Ela continuaria vivendo...

Ela voltaria para casa com todos os heróis no Paraíso. O sangue e o ódio seriam vingados!

...

- Ela ainda não acordou?

- Já passaram dois dias e ela nem se mexeu. Ela morreu?

- Ela merece isso! Essa mulher descarada se envolveu com tantos homens, colocando muitos chifres na cabeça do Sr. Davi. E ainda quer matar sua irmã para esconder o pecado. Para uma mulher tão maldosa como essa, sua vida é apenas um desperdício de comida!

- É triste mesmo. Ninguém veio vê-la depois de um incidente tão grande. A enfermaria VIP lá acima de Lara está tão movimentada como um mercado. Além da família Oliveira, o Sr. Davi também está a guardando de perto, valorizando-a tanto como seus olhos. A Srta. Lara finalmente conseguiu um futuro promissor.

- Quem vai visitar uma tola? Não só é feia, como também cruel. Se quiser morrer, é melhor morrer rápido. Que azar! Está demorando muito. Não sei até quando devemos ficar aqui...

A enfermeira que estava falando levantou a cabeça subconscientemente e viu uma figura esbelta à porta.

Em uma bata de hospital azul, ela caminhava com passos silenciosos, cabelos longos caindo em cascata sobre os ombros, o rosto pálido destacando-se contra o tecido branco do lençol. Seus lábios estavam tingindos de um batom vermelho desbotado, contrastando com a palidez de sua pele, enquanto a maquiagem mal feita falhava em esconder as marcas do cansaço. Uma gaze cobria sua testa, ocultando parcialmente sua verdadeira aparência. Seus olhos permaneciam como poços profundos de desolação, emitindo um brilho frio que cortava o ar.

As duas enfermeiras, ao vê-la, soltarem um grito abafado de surpresa, seus corações acelerando com o impacto repentino da aparição de Rafaela.

Rafaela fixou seu olhar nas enfermeiras. Seus olhos, tão vazios e frios como um lago congelado, penetravam nelas com uma intensidade que enviava arrepios pela espinha.

- Por favor, preparem produtos para remover a maquiagem, bem como roupas e sapatos. - Instruiu Rafaela, sua voz suave contrastando com a dureza de seu olhar.

Diante do olhar penetrante dela, as enfermeiras se sentiram compelidas a obedecer, movendose em um transe involuntário para cimprir suas ordens

Rafaela sorriu levemente. Sua expressão fria ganhou um lampejo de determinação, um brilho fugaz de esperança que iluminou seus olhos sombrios.

- Não vou morrer. - Afirmou Rafaela, com uma convicção inabalável.

As duas enfermeiras sentiram um peso nos ombros, uma consciência pesada pairando sobre elas enquanto absorviam as palavras de Rafaela.

- Minha mãe me deixou 20% das ações da família Oliveira em seu testamento. Mesmo que eu perca tudo, ainda tenho dinheiro. - Revelou Rafaela, sua voz carregada de uma mistura de resignação e determinação.

As duas enfermeiras arregalaram os olhos em um instante.

“Nossa... 20% das ações da família Oliveira... Quanto é isso? A família Rodrigues sabia isso?”, pensaram as enfermeiras em silêncio, uma onda de incredulidade varrendo-as enquanto tentavam processar a magnitude da informação.

Mesmo que a Srta. Rafaela estivesse em apuros, ainda era filha de uma família nobre. Era muito fácil agir contra trabalhadores comuns como elas.

Pensando nisso, as duas enfermeiras ficaram com seus rostos cobertos de suor frio.

- Desculpe, Srta. Rafaela. Dissemos coisas indevidas. Por favor, não leve a sério. Vamos preparar as coisas para a senhora agora mesmo. - Suplicaram as enfermeiras, conscientes de sua própria insignificância diante do mundo privilegiado ao qual Rafaela pertencia.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.