Capítulo 1
Mark
Vinte e um anos atrás...
Estava no terceiro ano da Accademia delle Arti Elementari , me tornei o orgulho da minha família no momento que participei da colheita e mesmo meus pais não estando mais entre nós, aprendi desde cedo a me virar sozinho e agradeço muito a minha avó, que deusa Tríplice a tenha, por me ajudar a me tornar o homem que sou hoje.
É uma honra servir ao lorde e ainda mais saber que seus propósitos para mim seriam louváveis.
Após algumas aulas cansativas, minha melhor amiga, Anthalia, que prefere ser chamada pelo apelido Thalia, se senta ao meu lado no refeitório.
— Irmão Mark, meu amigo... Acabaram por hoje as aulas e quero te fazer um convite... — diz animada.
Somos amigos desde que entramos na Academia, nos tornamos inseparáveis e ela é como minha irmã mais nova que nunca tive.
— Não aceito não como resposta! — afirma com propriedade enquanto me abraça devido ao entusiasmo.
Logo seriam as festividades do Solstício, teríamos que passá-lo em casa e ficaríamos alguns dias longes. Apesar que eu acabei resolvendo ficar e aprender mais magias negras...
— O que irá aprontar, irmã?
— Na verdade, minha irmã está voltando de viajem hoje e quero que vá comigo buscá-la!
Thalia havia me contado sobre seus irmãos, como a irmã do meio tinha ido estudar em uma escola na Escócia e seguia à risca os ensinamentos dos Stregheria , mas essa irmã e eu tivemos um certo desentendimento ao telefone ao me negar passá-lo para Thalia e ali entendi que ela detinha uma língua ferina e que deveria ser domesticada. Enquanto o irmão Rodolpho era o mais novo e ainda estava sendo ensinado a entender o clã.
— Meu irmão chegou semana passada, mas minha irmã mais querida está chegando hoje e quero muito apresentar vocês!
— Por qual motivo?
— Falei tanto sobre você e a escola, que ela quer te conhecer...
— E o que vou querer com uma fedelha? Na nossa última conversa por telefone trocamos ofensas e...
— Irmão Mark, é da minha irmã que está se referindo!
— Me perdoe, falei algo sem pensar! — De certo modo não era, não gosto de menininhas, muito menos suas frescuras juvenis. Melinda, era uma moça desagradável mesmo sem conhecê-la.
— Não se preocupe, embora ela seja uma mulher difícil, é a mais cabeça e centrada!
— E por que está me contando tudo isso? — Reviro os olhos com tanta informação desnecessária, pois meu foco era estudar.
— Bom, quero que se conheçam e que tire a péssima impressão que deu a ela no telefone aquele dia!
— Ela me odeia?
— Inteiramente! Deseja que o deus Cornífero leve sua alma para o inferno...
Um sorriso malicioso se formou em meus lábios, ela entraria na academia e seria eu o responsável por seus trotes.
— Vamos logo, antes que me arrependa amargamente em ir com você buscá-la.
Saber que ela me odiava inflou meu ego, aquela fedelha iria se arrepender de pisar os pés na academia. Pouco me importa se tinha dezessete anos, não a conhecia e sentia uma repulsa enorme somente por estar indo ao seu encontro.
O trajeto de carro até a estação de trem era demasiado longo e a estrada não ajudava muito, por isso viagem durou pouco mais de meia hora.
Saio do carro e acompanho Thalia pelos corredores da estação, chegamos até o banco de madeira e nos sentamos para esperar a Melinda, mas no meu interior sentia uma necessidade inexplicável em conhecê-la, o que era incomum já que a odiava.
Não demorou muito e o som do trem foi ficando mais forte, o apito ecoava pelas paredes da velha estação. Logo ele foi parando e nos recompusemos para esperar a irmã Melinda que deveria ser feia.
Meus olhos piscavam mais de uma vez ao ver a visão do pecado em forma de mulher. Ela descia do trem, um rapaz a ajudava segurando sua mão, depois foi pegar as malas e logo notei que procurava alguém. Em meio as pessoas que saiam, meu foco era somente na bela criatura ruiva que deslizava com graça. Eu a devorava com os olhos até Thalia quebrar o encanto.
— MELINDA!
A bela criatura ruiva, esculpida pessoalmente pela deusa Tríplice, virou seu corpo em nossa direção, e um sorriso tão branco e vistoso brotou naqueles lábios de fel.
Como queria prová-los!
— THALIA... — a bela criatura ruiva gritou em resposta.
Vi tudo em câmera lenta, ela largou as malas e se pôs a correr, se jogando nos braços da irmã. Percebi que aquela mulher seria minha perdição e ruína, ela era irmã da minha melhor amiga, a mulher que jurei odiar e que despertou desejos que eram vagas lembranças.
— Maninha, como foi a viagem? — indagou em meio ao rodopio e pude notar que seu corpo era o pecado para um pobre bruxo como eu.
— Foi maravilhoso, aprendi muitas histórias, magias novas, tantas ervas e suas propriedades mágicas... — Para de falar ao notar minha presença.
Pude notar, por suas belas esferas esverdeadas que brilhavam mais que os campos Elíseos, que ela gostou do que viu, pois seus olhos percorreram todo meu corpo.
Thalia a coloca no chão notando nossa troca intensa de olhar.
— Mel, este é, Mark, meu grande amigo na academia e...
Aquelas palavras soaram de forma negativa, rapidamente ela fechou o semblante e me olhou com raiva, mas os pensamentos pecaminosos que me vieram à mente e com prática tirariam aquela marra.
— Este homem? O trouxe aqui? Pela deusa Tríplice é algum tipo de brincadeira profana?
Ela era impetuosa e orgulhosa, características por mim reconhecida. Resolvo consertar o mal que fiz por telefone me aproximando e tomando sua mão esquerda entre os dedos enquanto ela me olhava surpresa.
— Queira me desculpar, Mark Clarke, creio que te devo desculpas por minhas péssimas impressões! — Beijo sua mão um tanto mais demorado que o normal, e ela deve ter sentido assim como eu o choque que tivemos ao menor contato. A imagino nua em minha cama, trocando experiências proveitosas na hora da bruxa, mas o encanto se perdeu e ela arrancou a mão bruscamente da minha.
— Perde seu tempo, não sou mulher que desculpa homens arrogantes e cretinos!
Doeu na alma ouvir tais palavras.
Seria um ano bem longo para nós dois, peguei suas malas ouvindo seus protestos e a ignorei. Fomos para o carro e nos acomodamos, o longo caminho até a casa dos la Barthe foi tortuoso e me pegava a encarando constantemente durante o caminho inteiro. Era como se ela lesse minha alma e eu a dela.
— Maninha?
— Sim, Thalia?
Nem falando com sua irmã quebramos o contato visual em momento algum.
— Começará na academia após o solstício?
— Sim, conversei com papai e começarei o mais rápido possível, perdi um ano de estudos, mas a lua de sangue se aproxima, assinarei meu nome no livro e estarei pronta, minha adorada irmã!
— Está animada por demais, irmã Melinda! — Minha voz saiu mais rouca que o normal e ela apenas revirou os olhos.
— Por que não estaria?
— Tem a capacidade requerida para tal estudo?
— Tenho sim como ousa...
— Calma os dois, sei que se odeiam, mas papai não tolera isso!
Thalia tocou em seu ponto fraco, em resposta Melinda cruza os braços bufando.
— Então ele que pare de me provocar!
— Minha cara, eu nem comecei ainda... Teremos muito tempo para destilar seu ódio por mim, nos momentos em que faremos os trotes!
Seus olhos brilhavam de raiva, mas por trás daquele olhar havia um fogo que a consumia e me consumia junto, era como um desejo implorando para ser liberto.
Desvio o olhar e mantemos o silêncio até chegarmos à casa dos la Barthes, minha casa não ficava muito longe, bastava quinze minutos de uma caminha rápida que estaria em minha cama me preparando para voltar à academia. Se ela iria participar da colheita agora, significava que seu aniversário se aproximava.
Saí do carro e abri a porta para a menina sair, ela fez birra e saiu pelo outro lado me fazendo de bobo. Aquela mulher estava me fazendo perder a paciência e o que me resta de juízo. Logo os senhores la Barthes apareceram na varanda da casa e Melinda se pôs a correr e os abraçar. Aquele vestido que ela estava usando era revelador demais e parece que ela nasceu para me provocar.
— Mark, entre e jante conosco!
— Agradeço imensamente o convite, mas creio que Melinda não aprovará! — digo a provocando e ela me fuzila com aqueles olhos esverdeados.
— Como assim?
— Nada papai. Senhor Mark, será um prazer tê-lo na nossa mesa hoje!
Soou falso demais, por isso me limitei a sorrir friamente.
— Desculpa menina Melinda, preciso ir para casa e não senti um pingo de verdade no seu convite! — A provoco ainda mais. — Agradeço o convite, mas preciso arrumar algumas coisas antes de voltar para a academia.
Sorrio para ela que pela forma que retribuiu o olhar me fizeram suar frio, aquela menina mulher era o pecado de deusa Tríplice, meu pecado particular. Me despedi de todos e saí caminhando em direção a floresta, mas antes pude ouvi-los falar, "um bom partido como Mark não se trata assim!". Mordo o lábio inferior e sinto minhas costas queimarem, ela estava me amaldiçoando e eu a teria em minha cama.
Custe o que custar!
****
Mal cheguei em casa, subi a escada e fui direto para o banheiro. Liguei a água e enquanto a banheira enchia, tirei toda a roupa ficando apenas de cueca boxer. Desci a escada indo em direção a cozinha, abri a geladeira, peguei o pote com frutas cortadas e as comi.
Voltei para o banheiro, desliguei a água e entrei na banheira. Não sei ao certo quanto tempo fiquei ali me banhando ou apenas pensando na ruiva de olhos esverdeados que estava me tirando o juízo, mas meus devaneios foram interrompidos por batidas fortes na porta, era como se alguém fosse derrubá-la.
— JÁ VOU! — grito saindo da banheira.
Peguei a toalha que estava pendurada, enrolei-a na cintura e sai do banheiro.
Pleno sábado à noite, quem em nome da deusa Tríplice iria me importunar?
Estava já em frente a porta e a abro com força. Estava prestes a dizer algumas belas verdades, quando encaro a criatura parada na minha frente e um sorriso malicioso brota em meus lábios.
— Irmã Melinda, a que devo a honra da sua visita?