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Melissa Alpes Narrando
Eu olho para ele e ele me encara.
- Qual é o seu medo Melissa? – Eu encaro Sebastian.
- Meu medo? – eu pergunto – Incrível como você pergunta qual é o meu medo, se nós dois tememos algo.
- A gente se conhece algumas semanas, como você sabe que eu tenho medo de algo? – ele questiona.
- Eu vejo em seu olhar, você olha para as pessoas procurando abrigo – ele me encara – procurando alguém que te entenda, entenda o seu passado, as suas angústias e não encontra.
- Eu vejo o mesmo em você – ele fala me olhando – Eu encontrei sua caixinha na sua casa, quem é aquela menina da foto e porque você guarda aqueles cacos de vidro dentro dela?
- É algo pessoal – eu falo – é apenas uma lembrança
- Lembrança de quem você era ou de quem você tenta não ser? – ele pergunta.
- Eu não sei – eu falo e Sebastian me encara – eu ainda não entendi qual é o meu caminho e o que eu faço aqui.
- Somos dois – ele fala olhando para a torre.
Era de madrugada e a gente está aqui com algumas bebidas na nossa frente, ele pega uma garrafa abre e começa a tomar.
- Eu matei duas pessoas – ele fala – eu saí de um show bêbado, dirigi que nem um maluco pelas ruas e perdi o controle.
- Eu sinto muito – eu falo para ele.
- Nós três estava bêbados, a gente sempre bebia, usava drogas após os shows – ele fala – nos envolvia com mulheres e voltava de taxi para o hotel, mas naquela noite um deles insistiu que a gente precisava levar o carro porque a seguradora iria buscar em algumas horas e eu levei o carro.
- Você não tem que se culpar por algo que foi decidido em vocês três – eu falo – eu sei que a perda é algo horrível, eu também perdi uma pessoa.
- Ela morreu? – ele pergunta.
- Ela está viva, mas morreu para mim – ele me olha – mataram ela para mim.
A gente se encara, ele era mais alto que eu, Sebastian era um homem lindo, mas sofrido, machucado. O seu olhar era triste, ele sorria pouco e vivia zangado.
- Está ficando tarde – eu falo – eu preciso ir, amanhã tenho aula.
- Eu te levo para casa – ele fala.
- É uma caminhada e tanto – eu falo para ele.
- Eu tenho uma bicicleta se você quiser passar na minha casa e pegar – ele fala – estou doando.
- Obrigada – eu sorrio – eu vou aceitar – ele me olha e eu o encaro e começamos a caminhar.