Capítulo 7
Roberta
Depois daquela verdadeira aventura para conseguir fugir daquele carro que nos espionava, seguimos naquela estrada.
— Tem certeza de que é mesmo Thaís que está neste orfanato?
Olhei para ele rapidamente, sem me descuidar da estrada.
— Confio nos homens que trabalham para mim, Roberta. Acho que também mereço o seu voto de confiança!
O orfanato ficava em uma parte um pouco mais afastada da cidade. Precisamos pegar uma curva e uma estrada ainda mais deserta. Seguimos em frente por uma estrada de terra e logo encontramos uma placa com a indicação de que estávamos mesmo próximos ao local.
Leandro saiu e abriu a porta do carro para mim. Achei a atitude dele muito cordial. Entramos e fomos recebidos pela madre superiora. Aquela era uma instituição comandada apenas por religiosas. Uma construção antiga e diria até demasiadamente isolada da cidade, mas tinha uma área grande onde havia algumas crianças correndo e pareciam felizes ali.
— A sua bênção, madre.
Beijei a mão dela e ela me abençoou. Sou uma católica praticante. Até fiquei um pouco mais aliviada em saber que Thaís estava em um lugar assim tão cercado de cuidados. Leandro a cumprimentou também, mas não tão cordialmente quanto eu.
— Um dos meus funcionários telefonou para cá e confirmou que uma garota chamada Thaís está aqui entre as suas internas.
Para nossa surpresa, a freira olhou rapidamente para a fotografia e a entregou para mim em seguida.
— Eu nunca vi essa garota!
Olhei bem nos olhos de Leandro, e tenho certeza de que, assim como eu, ele sabia que aquela mulher estava mentindo descaradamente. Como nunca havia visto minha irmã se a fonte que nos comunicou que ela estava aqui era confiável e jamais brincaria com Leandro?
— Estranho, madre. Soubemos por uma fonte muito segura que minha irmã está neste lugar!
— Se duvida de mim, então está convidada a procurar em cada canto do orfanato.
A forma tão descarada com que aquela mulher mentia e evitava me olhar nos olhos me fez cegar por completo. Leandro sempre carregava sua arma na cintura, e eu puxei de uma só vez e apontei para o rosto daquela falsa religiosa.
— Se tem amor à sua vida, então vá abrindo a boca e me diga: para onde levaram a minha irmã?
[...]
A mulher ficou assustada com aquela reação tão repentina de Roberta. Leandro ficou impressionado com a forma tão decidida e obstinada que ela havia usado para obter o que queria.
Com muito medo, a madre não teve outra alternativa a não ser começar a falar.
— Ofereceram um alto valor por elas, e eu não tive outra alternativa a não ser aceitar. Acha que é muito barato manter todas essas crianças?
Ou ela estava com medo de nos dizer a verdade, mas não vou sair daqui enquanto eu não souber o paradeiro da minha irmã, e não me importo com os métodos que precisarei usar para conseguir isso. Aquela mulher era um monstro, e não sei como podia viver sabendo que tantas meninas estavam sofrendo por sua culpa.
— Você me dá nojo, sua miserável! Como pode ganhar dinheiro comercializando seres humanos e, ainda mais, meninas inocentes como a minha irmã?
[...]
Roberta não conseguiu conter as lágrimas, e Leandro segurou sua mão e a acalmou. Ela sentiu que não valia a pena acabar com a vida daquela mulher. Queria de todas as formas ir atrás daquelas pessoas que encontraram a irmã.
Ele precisou acalmá-la. Estava preocupado com aquele sumiço repentino da garota, e certamente alguém havia contado para eles que estavam em busca do paradeiro dela.
Longe dali...
Thaís estava muito amedrontada dentro da boleia de um caminhão. Seu tornozelo estava preso por uma corrente, e ela estava aprisionada junto com várias outras meninas. Quando ela pensou ter sido acolhida naquele orfanato, infelizmente sofreu mais um golpe ao ter sido comercializada como se fosse uma mercadoria, junto com aquelas crianças. Não sabia se Roberta ainda estava viva ou se estava procurando por ela. A menina preferia acreditar que ainda havia alguém nesse mundo buscando por seu paradeiro.
Sentadas encolhidas naquele lugar, sem saber para onde o destino as estava levando e muito menos o que passariam ao chegar. Uma das meninas que estava ao seu lado parecia mais desesperada do que todas as outras juntas. Ela não parava de chorar sequer um segundo, e seu desespero comoveu Thaís. Ela se lembrou de como a irmã cuidava dela e a consolava nesses momentos.
— Fique calma. Assim que eles pararem, eu sei que vamos conseguir escapar!
— Você só diz isso para me fazer parar de chorar. Eles têm armas e são muito mais fortes do que nós.
— Nosso pai me ensinou que o medo nunca nos fará vencer. Fique ao meu lado, e tenho certeza de que vamos conseguir sair dessa, juntas!
Um tempo depois, quando elas finalmente haviam conseguido cochilar, o caminhão parou e as portas foram abertas.
— Vamos, garotinhas, é hora de sair!
Elas se levantaram assustadas. Thaís ajudou a outra a se levantar, e elas desceram. A primeira coisa que Thaís prestou atenção naquele momento foi na tatuagem que cada um deles tinha: um símbolo de uma Pantera escarlate.
Eles eram membros daquela facção. As garotas foram separadas em lotes, e algumas delas seriam levadas para se tornarem membros reservas daquele cartel.
Thaís seria uma das escolhidas para o treinamento, mas a garota que estava com ela não. As duas choraram e começaram a tentar agredir aqueles homens para que não as separassem... Érick olhou para aquelas meninas e sorriu ao perceber que Thaís era tão valente e destemida quanto a irmã mais velha.
— Levem as duas!
Os subordinados seguiram as ordens dele, e as duas meninas foram colocadas dentro de um dos carros para a sede, onde seriam treinadas.
Érick sabia que Roberta procuraria a irmã em qualquer lugar deste mundo e não iria desistir até se vingar dele. Então ele pediu para os homens planejarem um naufrágio e colocarem provas falsas de que Thaís e outras daquelas meninas estariam nele, e afundaram.
Roberta
Não conseguimos encontrar o paradeiro daqueles malditos que levaram minha irmã. Inevitavelmente, Leandro precisou me levar para casa, e eu parecia estar ainda pior do que antes de saber para onde haviam levado minha irmã.
Ele foi até a cozinha e voltou trazendo um copo com água. Vi que minhas mãos tremiam tanto que mal conseguia segurar o copo, e ele prontamente o segurou junto comigo, acalmando-me.
— Não se desespere, Roberta. Dei minha palavra que ajudaria a encontrar sua irmã, e eu irei cumprir!
Naquele instante, o celular dele tocou. Ele ficou apreensivo ao ouvir o que a pessoa do outro lado dizia, e tenho certeza de que isso tem a ver com a minha irmã.
Ele veio para perto de mim e tirou o copo das minhas mãos, segurando-as em seguida.
— Infelizmente, eu preciso que você seja forte.
— Diga de uma vez, o que aconteceu com ela?
— Aqueles malditos pretendiam fugir com as garotas em um navio. Infelizmente, ele naufragou, deixando alguns mortos, e sua irmã está na lista das vítimas fatais.
Pelo olhar dele, não precisei esperar que terminasse aquela frase. Comecei a chorar desesperadamente, e ele me abraçou. Como uma reação de defesa, comecei a me debater, como se quisesse destruir tudo ao meu redor para me livrar de tanta dor.
Ele precisou me deitar no sofá, segurando meu corpo sob o dele, até que me acalmasse. Mesmo que eu passasse a minha vida inteira chorando pelo lamento da morte de Thaís, nada a traria de volta para mim.
— Juro por Deus que Érick irá me pagar por todo esse sofrimento! Essa vingança será o único combustível que moverá minha vida de agora em diante.
— E eu irei te ajudar. Prometo que irei.
Ele me abraçou mais uma vez e acariciou meus cabelos. Minhas lágrimas secaram, e eu as transformarei uma por uma em dedicação para fazer Érick me pagar por tudo.
— Passamos o dia inteiro fora. Você precisa se alimentar.
— Irei para o meu quarto descansar um pouco.
Fechei a porta e me joguei na cama, ficando apenas amargando aquele sofrimento sem derramar lágrimas. Acho que já não tenho mais nenhuma para derramar. Depois de alguns minutos, alguém bateu na porta. Autorizei a entrada, e era Leandro com uma bandeja de comida.
Ele a colocou ao meu lado na cama, e eu me sentei, olhando em seus olhos. Peguei uma das maçãs que estavam na bandeja e dei uma mordida grande, mesmo sem estar com qualquer vontade. A forma tão doce com que ele estava olhando para mim me fazia acreditar que, de alguma forma, ele se comovia com meu sofrimento.
— Eu quero que você seja meu padrinho!
— Padrinho? — Ele perguntou surpreso.
— Sim, um gângster sabe muito bem do que isso se trata. Quero que me ensine tudo o que sabe fazer e me torne tão mortal quanto você é! Ele ficou em silêncio, mas se realmente ele queria o meu bem e estava triste ao me ver sofrer, agora eu iria ter a certeza.