Capítulo 8
- Os meninos gostam do Tray, ou melhor, só dele.
- Mas cale a boca.
-Nunca, a verdade dói?
-Sim, como você diz.
Conversamos um pouco e ele é um menino muito simpático, ajuda o “pai” na vinícola da família mas está estudando engenharia. Ele é dois anos mais velho que eu e é muito legal. Quando contei a ele meu trabalho, ele ficou muito surpreso. Mais de uma vez vi Tray olhando para ele e olhando para ele.
-Ele também está com ciúmes.
-Não não é.
-Já verás
Ele nunca pode ficar com ciúmes, ele e eu não somos nada, então não há razão para isso.
No final da noite me despeço dele e trocamos números.
Posso sentir o cheiro de Tray na jaqueta invadindo meus sentidos, é algo celestial.
Minha mãe me disse que tínhamos que ir e me levou com ela para nos despedirmos dos pais adotivos de Grayson.
Então vamos cumprimentar o Sr. e a Sra. Lewis e vejo que Tray não está lá. Como se estivesse lendo meu interior, minha mãe me conta que foi ao banheiro.
Depois de um tempo ele sai de um corredor com uma camisa surrada e atrás dele está aquela boneca refeita. Antes que ele possa chegar perto de mim, sairei novamente.
É como se aquela sala estivesse me oprimindo. Desço as escadas, tomando cuidado para não cair, e chego perto do carro do meu pai.
—Merlim— _ _Gritos me seguindo.
—Tray, não tenho nada para te contar—. Eu o evito, mas ele me detém pelo braço.
— Sim, não é o que você pensa, não fizemos nada. Ele tentou me beijar e queria fazer outra coisa, mas eu deixei. Explicar.
—Tray, você não precisa me explicar, não é da minha conta—.
— Sim, porque eu sei o que você estava pensando. Você pensou que eu tinha isso em um daqueles banheiros. Mas não, eu não quero mais isso, não mais. ele rosna
—É impossível não pensar nisso quando você aparece nessas condições—. Gritar. —Olha, eu nem sei porque estou pensando tanto nisso—. Isso me dá vontade de arrancar os cabelos. — E se você acha que estou com ciúmes, você está indo pelo caminho errado, você e eu não somos nada então não tem motivo — . Desabafo e o vejo sorrir.
—Você está fazendo tudo Mere, eu nunca disse que você estava com ciúmes—. Ele acaricia minha bochecha.
- Te odeio - . Eu me liberto de suas garras. Aproximo-me da fonte e sento-me na beirada de mármore.
- Ainda não - . Ele diz e não entendo o que ele quer dizer, mas sinto um jato de água gelada chegando e me levanto como se tivesse uma fonte sob meus pés.
Eu olho para ele em estado de choque, com os olhos bem abertos.
—Você realmente não—. Eu deixo escapar e ele ri alto.
Também jogo água nele e ele me olha com cara de “fuja, vai ficar melhor”. Eu fujo dele, rindo alto. Nunca me diverti tanto.
Sinto-me sendo levantada do chão e ele me segura com força em seus braços.
"Você não deveria ter feito isso, senhora."
"Você fez isso primeiro." Lembro a ele e quando vemos nossos pais vindo em nossa direção, ele me faz abaixar e fica ao meu lado.
—Pessoal, é hora de ir—
. Tray me dá um beijo na bochecha e outro nas costas da minha mão.
- Vejo você em breve - . Ele diz e parece uma promessa. Ele me deixa sua jaqueta me dizendo que é uma garantia certa de nos vermos.
Já posso ver minha mãe me olhando toda feliz, sei que o posto estará me esperando mas agora só quero pensar no que fizemos esta noite, e sei que de uma forma ou de outra nos aproximamos mais do que deveríamos. .
Estou meio adormecido quando meu telefone toca.
Viro-me para o outro lado da cama e enterro o rosto ainda mais no travesseiro.
A secretária eletrônica é ativada e a mensagem acústica soa.
-Dorminhoca, eu sou a mãe, quando você vai aprender a acordar cedo? -.
Gostaria de dizer que me levanto quase todas as manhãs antes do amanhecer para correr, mas hoje estou com preguiça.
-Queria pedir para você vir aqui depois de comer, sinto falta das nossas conversas e como você tem casa própria nunca vem nos visitar. Deixe-me dizer, você está agindo como uma garotinha.
De repente levanto a cabeça do travesseiro, ah, não, ela também não. Bandeja me ligando, isso é o suficiente para mim.
-Bem, levanta essas suas bundas firmes e anda, é meio-dia.
Ele ataca e eu bufo livremente. Hoje não tenho vontade de fazer nada, ficaria feliz em ficar na cama o dia todo e dormir. Pedi folga do trabalho e o tenente me concedeu.
Se ainda penso no quanto tenho que trabalhar, minha cabeça dói.
Com um grunhido, saio da cama e vou para o banheiro tomar um banho quente. Não tenho intenção de secar o cabelo porque está calor lá fora e faço duas tranças nas laterais.
Pareço a Pippi das Meias Altas agora. Faço uma careta no espelho e saio para a cozinha.
Vou preparar algo leve porque não estou com muita fome, uma salada mista vai bem. Depois de comer lavo a tigela e vou me arrumar. Uso short jeans e uma camisa por cima que amarro na cintura, coloco um converse preto e uso óculos escuros pretos. Não estou com vontade de pegar o carro, então saio a pé.
Alguns flashbacks da minha vida vêm à mente. Desde quando eu era pequeno até hoje. Desde quando eu confiava nas pessoas até não confiar mais. A história que tive com Ángel e tudo o que ele me fez passar, espero que esteja apodrecendo naquela prisão. Ele não merece ir embora e se dependesse de mim eu jogaria a chave num poço. Aprendi a não confiar em homens que usam palavras doces, mas que na verdade têm amargura no coração. Deixei de acreditar em algo que nunca poderá existir, quando as pessoas dizem que te amam mas na verdade estão apenas te enganando para chegar às suas intenções. As pessoas que eu conhecia sempre me machucaram, e quando minha mãe me disse para não confiar em estranhos eu não vi nada de errado, repito, foram as pessoas mais próximas de mim que me machucaram. Não sei se algum dia poderei sentir algo por alguém, essa é a condenação para quem foi bom demais.
