Jessé - Amor Platônico
Aos 14 anos finalmente ingressei no ensino médio, eu não via a hora de mudar de escola, odiava a atual. Eu era o "patinho feio". Tirava péssimas notas e passei raspando no último ano do fundamental. Fiz uma promessa. Que eu me transformaria de péssima aluna para exemplar e de 'feia' para inesquecível.
E foi o que fiz, pelo menos eu me sentia assim. Passava longe de ser popular, mas ao menos tinha amizades e algumas paqueras.
Mas havia um rapaz, um único rapaz, que fazia me arrepiar ao vê-lo todos os dias, só de olhar seus olhos azuis esverdeados, seus cabelos castanhos quase loiros e compridos... já era o suficiente. Loucura? Com certeza, como isso pode ser suficiente? Sem um toque, um beijo, e outras coisas que não preciso citar? Não sei porque, mas aquilo me bastava.
Jessé, estudou comigo, na mesma turma, o ensino médio inteirinho. E trocamos algumas palavras e alguns olhares apenas... seu sorriso era maravilhosamente encantador, ele tinha um lado roqueiro mas era muito tímido.
Compartilhei isso apenas com as minhas três amigas, e elas respeitavam esse meu desvaneio apesar de não entenderem.
Finalmente uma delas teve a audácia, sabendo de tudo o que eu sentia por ele, de perguntar se eu me incomodaria se ela "ficasse" com ele. Eu disse amiga? Eu quis dizer VACA!
Apenas falei: — Ele não me pertence! Faça o que quiser!
A VACA! Achou que poderia ficar com ele e ainda ter minha amizade. Perceptível a lesão em seu cérebro!
Chorei muito, minhas duas outras amigas queriam matar a VACA. Eu apenas chorei. Chorei muito. Eu já disse que chorei muito?
Mas essa não foi a única vez que chorei, chorei também por ele ter sofrido um acidente e quase morrer, chorei quando ele começou a namorar firme outra VACA... sério, os indianos adorariam morar no Brasil. E finalmente chorei porque eu era idiota o suficiente para continuar gostando dele, sem ao menos ter coragem de expressar o que eu sentia.
Uma certa vez eu estava tão chateada em uma aula de português que fiz uma poesia maravilhosa como trabalho dizendo tudo o que sentia, claro sem citar nomes, o resultado foi uma excelente nota e a professora lendo minha poesia na frente da sala toda, me fazendo corar em 50 tons de vermelho. E acredite isso não me ajudou em nada. A única coisa que tirei dele foi um olhar, porque todos na sala me olharam.
Aos poucos fui tentando esquecê-lo, mas confesso que 8 anos depois não o esqueci.
Hoje com certeza iria ao menos ter uma conversa descente. Pelo amor de Deus, se você tem um amor platônico, faça alguma coisa, o 'não' você já tem, se não quiser acabar como eu falando eternamente "e se". E se eu tivesse sido menos covarde, e se eu tivesse tentado... isso é extremamente agoniante.
Depois de formados, nunca mais o vi, por um bom tempo! E aquele ditado, o que os olhos não vêem o coração não sente, não deu certo pra mim.
Já na era do Orkut e MSN, o procurei em vão. Certamente ele continuava reservado como sempre e namorando VACAS. Quem sabe um dia eu o encontre pessoalmente, se tiver sorte.