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Capítulo 9

Clara suspirou e colocou o jornal num canto do balcão, à disposição dos clientes.

David pareceu perceber os pensamentos que passavam pela cabeça do meu chefe porque, tomando coragem, deu uma grande mordida no bolo e engoliu, forçando um sorriso.

- Dona Clara, esse bolo vai fazer sua cabeça girar!

Fiquei aliviado com o grande sorriso que a mulher lhe deu.

-Obrigado jovem, mas nem tudo é mérito meu. Tenho dois assistentes muito bons.

- Não levo nenhum crédito por isso. Eu apenas sigo suas diretrizes.

A porta atrás de nós abriu-se subitamente e uma perigosa bandeja cheia de bolos foi salva na hora pela abaixo-assinada que, no último período, ampliou os seus reflexos a cem por cento, para fazer face ao descuido da colega.

-Evelyn, felizmente você estava lá! Caso contrário, que desastre!

Quando Clara me contou sobre sua assistente, pensei que estaria diante de uma pessoa completamente incompetente, arrogante e sem vontade de trabalhar. No entanto, conhecendo Charlie, tive que mudar de ideia. Ela era desajeitada, praticamente cega, mas era absolutamente uma das pessoas mais dispostas que já conheci. Agora entendi por que ele não teve coragem de demiti-la.

-Você é?-. David imediatamente se inclinou para frente, interrogativamente.

-Ah, é Charlotte...Charlie. Quer dizer, meus amigos me chamam de Charlie, mas eu sou Charlotte. Embora eu realmente não tenha muitos amigos... -.

DE ACORDO...

-Excelente! É perfeito! Eu sou David. Dave, se você quiser... Olhei para meu amigo pela falta de tato usado. Até o loiro parecia surpreso com o entusiasmo dele.

-Prazer...-.

-Olha que ideia. Você, Evelyn e eu poderíamos sair hoje à noite. Fazemos amigos, tomamos uma bebida juntos e relaxamos um pouco depois de uma longa semana. O que você acha disso?-.

Aquele bastardo estava usando uma pobre garota para seus propósitos sujos! Foi um linchamento!

"Na verdade, eu não bebo", explicou Charlotte com um sorriso envergonhado.

- Bem, vamos parar de beber. Cinema? Bons filmes são exibidos no cinema ao ar livre.

Se eu tivesse proposto isso a ele, ele teria me chamado de chato. Foi um absurdo.

“Não está frio para ir ao cinema ao ar livre?”, perguntei cético.

-Eu realmente tenho que te mostrar tudo, né? Trazemos cobertores, travesseiros e muito calor humano. Ele piscou para mim, ao que respondi com uma careta. Só ele poderia ser tão estúpido.

- Vocês estão indo bem, pessoal. Agora que você é jovem, aproveite isso. Clara deu o seu apoio a David que, satisfeito, mordeu outro pedaço de bolo. Essa conversa quase fez com que seu açúcar no sangue disparasse. Continuei com ela apenas para vê-lo gemer depois.

-Perfeito! Cinema ao ar livre é isso! -.

O entusiasmo do meu amigo logo foi interceptado por alguém que eu nem notei até ele abrir a boca. Ele estava muito ocupado pensando em possíveis desculpas para inventar. Mesmo agora, se eu pudesse dizer que estava ferrado.

-Parece uma ideia muito boa-. Jacob encostou-se despreocupadamente no balcão e deu a Charlotte e a mim um sorriso torto. -Posso me unir?-.

David lambeu o céu da boca e mostrou seu melhor sorriso vitorioso. -Acho que ainda não nos apresentaram-.

-Jacó-.

-David-. Eles apertaram as mãos e tive que reprimir uma careta ao ver os olhos sonhadores do meu amigo. Só ele poderia achar um idiota assim fascinante. Eu tive que sair daquela situação surreal instantaneamente.

-E desde quando você gostaria de sair com a gente? - repreendi-o, irritado. Eu nunca gostei disso. Foi estranho. Ele sempre me deu a impressão de estar escondendo alguma coisa.

-Já que por causa da pegadinha da sua irmã meu grupo de amigos foi à merda.

Ao dizer essas palavras, percebi instintivamente que ninguém, inclusive Clara, a tinha ouvido. Suspirei de alívio quando a mulher estava conversando profundamente com um cliente.

-Ei! Pelo que eu sei, Mark não é totalmente inocente. As coisas são feitas dois a dois.

-Isso não significa que eu não tenha mais companhia para sair.

-E o que você gostaria de nós?-.

"Você está tão entediado, Eve!" David piscou para mim. Eu estava pensando sobre isso, droga.

-Eu só quero me juntar a você e... pedir ao Oliver para vir conosco. "Eu não transei com a namorada dele, não vejo por que ele não precisa atender o telefone."

É possível que as pessoas tenham entrado naquela sala só para me perguntar alguma coisa? Por acaso colocaram uma placa na entrada?!

-Mas você sabia disso-.

Jacob sorriu e fez sinal para que eu me aproximasse para que ele pudesse falar comigo em voz baixa. E, em parte, agradeci a ele.

-Mas eu não me tranquei no banheiro com o namorado da minha irmã. Não seria bom sabermos, não é? -.

Ele estava me chantageando? Nada aconteceu com Oliver naquele banheiro!

Abri e fechei a boca várias vezes para insultá-lo. Ele não tinha direito, eu não tinha responsabilidade pelo que aconteceu. Além disso, eu não queria que pensassem mal de mim, mesmo sendo completamente inocente, e aceitei silenciosamente. As pessoas podem ficar mal.

Jacob foi embora satisfeito com um sorriso irritante iluminando seu rosto. Senti uma onda de raiva crescendo lentamente dentro de mim. Foi um golpe baixo, mesmo para um cara como Jacob.

-O que ele te falou?-.

David e Charlotte olharam para mim, perplexos. Eu estava pensando em jogar alguma coisa nele quando ele saiu da padaria.

-Nada. Peço a Clara o número de Oliver.

Ele odiava ceder à chantagem. Mas isso foi uma verdadeira emergência. Ela não podia deixar Isabelle, ou qualquer outra pessoa, descobrir que ela estava com Oliver quando descobrisse sobre o engano. Teria sido minha sentença de morte.

Oliveros

-Ao fazer um breve resumo, Evelyn pede para você ir ao cinema com ela e você me leva com você... Você é um idiota. Quinze anos, você deve estar se amaldiçoando pelo passado.”

Não sei quem, Andrew ou eu, ficou mais chocado com a mensagem que meu ex-vizinho me enviou naquela manhã. Eu estava no trabalho e mal tinha caído da cadeira giratória quando vi o remetente. Primeiro porque não fazia ideia que ele tinha o meu número, depois porque não esperava tal proposta. Não tínhamos nos falado desde que lhe ofereci carona e agora ela estava de volta.

-Vá com calma. Seus amigos também estarão lá. O que eu verifiquei e que ela quis sublinhar para evitar mal-entendidos.

Portanto, apenas Andrew poderia ver pontas duplas nisso. Mesmo que ele não tenha dito isso explicitamente, ficou claro que ele sentia pena de mim. Principalmente depois que meu melhor amigo dormiu com minha namorada. Ela só queria ser bonita. Era um absurdo eu estar ali para embrulhar a cabeça. Era muito provável que seu convite fosse uma forma de pagar a passagem. Sim, foi definitivamente por causa disso. E tive que parar de imaginar coisas estranhas quando Andrew teve que parar de olhar para mim com aquela expressão óbvia.

Foi ele quem me deu ideias estranhas.

-E por que você solicitou minha presença? Eu tinha outras coisas para fazer além de assistir a um filme barato com um grupo de estranhos.

-Você sabe que Evelyn e eu não queríamos vir sozinhas. Você é meu primo, portanto, se eu lhe perguntar, venha sem fazer perguntas."

Andrew tirou os capacetes do assento da bicicleta e alisou o cabelo para trás. Ele revirou os olhos, mas não respondeu. Ele já havia me ameaçado diversas vezes para não aparecer, obrigando-me a arrastá-lo à força para aquele estúpido cinema ao ar livre. Até fui com ele de moto e odiei ir para lá. Em primeiro lugar, era um veículo instável e, em segundo lugar, eu odiava usar capacete.

Eu não tinha certeza por que me importava tanto com aquele lançamento. Depois do que Mark tinha feito comigo, eu não queria mais ver ninguém e muito menos sair em grupos. Mas a mensagem de Evelyn me intrigou. Não me importei nem um pouco com a ideia de vê-la longe de casa ou da família, como aconteceu anos atrás.

Ela estava participando de um debate sobre se tornar representante estudantil quando comecei a olhar para ela de uma perspectiva diferente. Ela estava tão confiante e determinada nesse cenário que um garoto de quinze anos que acabara de retornar de um longo período de luto pela morte prematura de seu pai ficou fascinado por ela. Ele passou os dois anos seguintes observando-a de longe, entre casamentos ruins e namorados questionáveis.

"Ei, Romeu, aí vem sua Julieta."

O carro de Evelyn parou a alguns estacionamentos de distância e ela e sua amiga com um gosto excêntrico para roupas desceram. Ele tinha um estilo entre elegante e marcante. Era uma monstruosidade toda vez que eu via. Mas apesar disso, pelo menos ele era legal.

-Boa tarde companheiros!-. David se despediu, ajeitando melhor o casaco e deixando Evelyn segurar seu braço. -Você viu uma garota loira, baixinha e… Ah, aí está ela.

Uma garota que correspondia exatamente à descrição de David se aproximou com a cabeça baixa, envolta em uma jaqueta rosa doce. Dois óculos enormes e grossos caíram sobre seu nariz, escondendo olhos azuis que ela tinha certeza de já ter visto antes.

-Desculpe-me pelo atraso. "Não encontrei o lugar", ela começou envergonhada, mantendo a cabeça baixa.

“Eu disse que iríamos buscá-lo!” David reclamou, balançando a cabeça.

Evelyn suspirou e pediu um descanso à amiga. -Você conhece Charlie? Ela também trabalha para sua tia.

E foi aí que eu vi. Fui eu quem a contratou.

-Não, ainda não tive o prazer. Eu sou andres-. Meu primo estendeu-lhe a mão com a expressão penetrante que usava com todas as meninas que cruzavam seu caminho. Nunca entendi se ele fez isso de propósito ou se era natural fazer todos corarem daquele jeito.

"Nós já nos conhecemos", eu disse, sorrindo e evitando enfatizar que antes das apresentações eu nem sabia quem ele era. Ele parecia bastante desconfortável e eu estava focada em outra coisa.

Charlotte assentiu e imediatamente flanqueou Evelyn, como se ela estivesse procurando proteção.

-Eu diria que estamos todos aqui, poderíamos caminhar-.

-Oh não. Estamos esperando... Ninguém, aí vêm eles.

Confuso, me virei. Pelo que eu sabia, Evelyn não era exatamente cheia de amigos. A presença do colega já havia me deixado pasmo. Não imaginava que havia ampliado tanto meus conhecimentos. Lembrei-me claramente das reclamações de Isabelle quando saímos. Segundo ele, sua irmã não tinha vida social.

-Já estamos aqui, desculpe!-.

Eu teria reconhecido aquele cabelo ruivo falso em qualquer lugar. O que diabos ele estava fazendo lá?! Isso foi uma emboscada de Isabelle? Foi a única coisa que eu não tinha considerado. Não nos falávamos desde o rompimento e eu esperava que ficássemos assim por um tempo.

“A jovem não estava preparada”, justificou seu incomum companheiro. Aqueles dois não tinham nada a ver um com o outro, por que estavam juntos? Eles não contaram bem.

“O que você está fazendo aqui?” perguntei apressadamente, alheio à presença de outras pessoas. Se Mark tivesse aparecido também, eu teria ido embora. Aquela noite estava piorando a cada segundo.

Jacob riu, fingindo espanto. -É uma história muito engraçada. Hoje fui tomar café em uma pastelaria e meus amigos estavam conversando sobre esta noite. Eles me viram tão desanimado que me convidaram também e pedi a Jane que fosse comigo. Não tive vontade de vir sozinho. Certo, querido? -.

-Meu nome é Jéssica, idiota. A garota revirou os olhos, afastando-se de Jacob, enquanto eu suspirava de alívio. O bom é que pelo menos eu não teria passado a noite com meu ex.

Apesar da minha decepção, finalmente chegamos à entrada do cinema ao ar livre. David trouxe cobertores e travesseiros para todos, presumindo que iríamos esquecê-los. Felizmente ele cuidou disso porque estava muito frio naquela noite e, ocupada demais convencendo meu primo, eu deixei tudo no carro.

-Não, David… O Iluminado? -. Evelyn começou a gemer assim que viu a placa.

-É um grande clássico da cultura pop dos anos oitenta!- explicou seu amigo com entusiasmo com um sorriso sádico estampado no rosto. Ele não conhecia bem o relacionamento deles, mas claramente fez isso de propósito.

-E pensei que veríamos um choroso. Boa escolha-. Andrew deu-lhe um tapinha satisfeito no ombro, fazendo-o hesitar um pouco.

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