Capítulo 4
Minha avó Paula se encontrava na cozinha fazendo o café da manhã depois da noite tensa que tivemos em Brasília.
- Bom dia para a avó mais linda do mundo.
- Bom dia meu amor, estou preparando aquele cafezinho que você gosta - ela apontou para o coador de pano - Sua tia me disse ontem da confusão que você arrumou na tal entrega do prêmio.
- Vó eu não tive culpa a moça que era uma doida e me agarrou no banheiro.
- Meu filho só um conselho, segura seu peru dentro das calças ou vai se dar mal menino.
- Vê se escuta o que sua vovó diz garoto – Nathi diz entrando na cozinha – Esse aqui vai acabar se metendo em confusão logo, logo e não vai conseguir sair dela.
- Se continuar falando assim e me rogando pragas, vai deixar de ser minha prima preferida – ela gargalhou.
- Eu não sou sua preferida você só não tem opção – ela tomou um gole do meu café – Vamos meu preferido o trabalho nos espera.
- Emhre espere – então eu e Nathi, paramos e prestamos atenção em vovó - Sua mãe ligou ontem – ela fez uma pausa - Me disse que teremos que ir para o palácio daqui a alguns dias, o casamento do seu irmão foi marcado.
- Te espero lá fora – então Nathi saiu como um foguete.
- Então ele vai mesmo se casar?
- É o que se esperava não é mesmo meu filho – então vovó fez uma pausa e suspirou – Não podemos fazer nada – sai e encontrei Nathi encostada na caminhonete pensativa.
- Achei que não sair dessa cozinha nunca mais.
- Já estou aqui ao seu dispor senhorita – fiz uma reverencia e ela entrou na caminhonete.
Então eu e Nathi rumamos para um lugar onde eu amava estar. Lógico que não se tratava mesmo de trabalho, mais sim de caridade. A usina tinha um mar de terras para plantação, então mamãe teve a brilhante idéia de usar um pouco dessas terras para fazer o bem, e construiu O LAR DAS ESTRELINHAS. Lá as nossas estrelinhas eram bem cuidadas e tentávamos ao máximo trazer o amor e o carinho a todos, e eu amava muito estar ali, cuidar e dar atenção a cada um deles.
Nathalia foi encontrada no canavial da usina por tio Pedro, ele viu o pequeno embrulho se mexer e desceu do carro para ver do que se tratava, até então ele achava que era cachorrinhos que alguém tinha deixado ali jogado na beira da estrada, mais ao abrir o paninho que a embrulhava se deparou com o pequeno bebê de olhos verdes e pele branquinha. A situação de Nathi não era nada boa, pois formigas andavam sobre ela e algumas já tinham mordido seu pequenino corpinho, então tio Pedro a levou para casa. Tia Sophie se apaixonou pelo bebezinho de cabelos negros e a adotou, e Nathi sempre foi nosso milagre.
Muitas crianças são abandonadas pelos seus genitores na mesma situação, e ai que o Lar Das Estrelinhas entra, com todo amor e carinho que todos nós podemos oferecer. A principio, o orfanato foi criado para receber crianças carentes da região, mamãe e tia Sophie usaram o dinheiro da nossa família e da própria usina para construir e cuidar das crianças o asilo, os velinhos abandonados pela família também começaram a chegar, e é incrível como a cada dia que passava um idoso era abandonado, deixado como um móvel velho que já não serve mais e foi substituído. Então o Lar Das Estrelinhas também se tornou uma casa de acolhimento para os idosos.
As crianças que chegam ainda bebês são acolhidas, as que estão em idade escolar estudam na própria instituição e os adolescentes fazem cursos e se qualificam, e a maioria deles que cursam faculdade e voltam para o Lar e se tornam funcionários, temos médicos, advogados, enfermeiros, professores que ficam ali para cuidar da família, porque somos uma família. E eu amo estar junto com essa família, mesmo quando não estou no Brasil fico sempre em contato com eles em vídeos chamadas, principalmente da minha querida Bianca, ela chegou aqui ainda bebê quando eu tinha apenas quinze anos hoje, foi o bebê mais lindo que eu já vi na vida, e hoje ela com seus dez anos continua a linda e encantadora menina. Eu penso muito em adotá-la definitivamente, e quando eu fizer meus trinta anos à pequena Bianca virá morar comigo em algum lugar do mundo.
Nossa visita começou pelo berçário e infelizmente novos bebezinhos chegaram, acho que todas as crianças deveriam ser criadas em seus lares com amor de pai e mãe, só que muitas vezes a realidade é outra, mais somos sortudos por tê-los e poder vê-los crescer e se tornarem adultos diferentes de seus genitores. Fomos á escola e criamos um grande tumulto entre as crianças que correram para nos abraçar, a minha pequena Bianca se aproxima e como sempre tímida sorri e eu abro os meus braços para que ela venha até mim, e ela corre e o abraço que ganho é maravilhoso. Sei que não deveria me apegar a ela, mais ela é meu ponto fraco aqui no Lar.
- Tio Emhre, que saudades de você.
- Eu também minha pequena, muitas saudades.
- Não sabia que estava aqui – ela aperta mais o abraço.
- Eu vim receber um premio e ver você e as crianças.
- Um prêmio, que legal – ela saiu do abraço e me olha curiosa – O que você fez de bom para receber um prêmio? Aqui no lar no fim do ano as crianças que se comportaram bem também ganham um prêmio. Você se comportou bem também, tio Emhre?
- Tio Emhre nunca se comporta bem minha querida, quem ganhou o prêmio foi a Usina e ele foi só o cara que subiu lá pra pegar o troféu – diz Nathi.
- Nossa Nathi não precisa ofender né.
- E por caso eu menti? – então dei língua a ela e continuamos nossa visita com Bianca ao nosso lado como de costume, Nathalia Sempre diz que se eu não adotá-la ela o fará.
- Não briga com meu tio mais querido, tia Nathi, eu amo ele.
- Não estou brigando só dizendo a verdade, minha princesa, tio Emhre tem tomar vergonha na cara e começar a trabalhar para poder merecer o prêmio dele como você faz aqui no lar.
A hora do almoço foi super animada com a criançada, o grande pavilhão com mesas e cadeiras para que todos possam se alimentar e interagir como família na mesa, e nós almoçamos lá também junto com a vovó Paula, as receitas feitas pelas cozinheiras são receitas da vovó, que também coloca as crianças e os idosos para fazerem receitas e assim ocupar a mente nas aulas de culinária. Estavamos sentados no jardim do Lar, um local com a grama verdinha e bancos brancos com caminhos de calçadas branquinhas, ali parecia ser o céu e trazer a paz que a gente procura todos os dias depois de nossa rotina diária.
- Vamos para casa meu querido? – diz vovó.
- Vou na usina com a Nathi vovó, vou me interar dos negócios e merecer meu prêmio – Nathi me olha e ri do meu comentário – Uma hora ou outra terei que ir trabalhar, querida prima, vou começar a me interessar nos negócios, daqui uns cinco anos eu começo a estagiar – e todos riem.
- Esse meu neto não tem jeito – e a vez de vovó Paula falar.
- Vovó gostaria de levar a Bianca lá para o sitio e ficar com ela mais um tempinho – eu digo ansioso.
- Meu neto, será que é uma boa idéia? Criar expectativas na cabecinha dela, de que terá um lar diferente do que ela conheceu a vida toda – ela segura minha mão – E se daqui a um ano você mudar de idéia, você viaja o mundo conhece lugares, cidades, países e ela é somente uma menina que conhece somente os quatro muros do Lar Das Estrelinhas.
- Vovó eu sei que sou instável, que não tenho responsabilidade e um boa vida, mais a única certeza que tenho é que irei tirar minha pequena Bianca daqui e levá-la para conhecer o mundo – e o sorriso de uma das mulheres que mais amo é revigorante para mim –Eu prometo que quando conseguir a guarda dela eu serei um novo homem e um pai maravilhoso para ela, e irei cuidar muito bem da minha pequena.
- Quem sabe meu neto encontra uma linda mulher carinhosa que cuide de você e da pequena Bianca.
- Eu não pretendo me casar vovó, quero ser o pai da Bianca, mais casamento está fora do meu futuro – ergo as mãos – Que Ala me proteja desse mal de ser um homem casado com uma mulher só – olho para vovó – Pena que mamãe fez papai assinar a lei em que nós homens podíamos nos casar com varias mulheres, eu teria meu harém particular não nasci lindo assim para ser de uma mulher só.
- Nathi leva esse garoto daqui por que ele não tem jeito, leva para trabalhar quem sabe cria juízo – antes de ganhar um tapa de vovó eu já estou de pé.
- Estou indo não precisa partir para a agressão Dona Paula – depois de me levantar e arrumar minha roupa – Vovó leve a Bianca eu ficarei muito feliz.
Então eu e Nathi fomos para a usina ver o seu funcionamento, decidimos ir caminhando até a sede, as ruas de chão batido e os canaviais que lotavam nossas terras, o céu azul e sol queimava nossas peles. Hoje com a modernização temos maquinas ao invés de trabalhadores no corte da cana de açúcar, era muito desumano ver aquelas pessoas no sol quente e cortando ruas de cana para ganhar um misero salário. Hoje podemos dar melhor condições de trabalho aos nossos funcionários.
- Você vai mesmo adotar a Bianca? – Nathi me pergunta.
- Eu quero muito isso, poder tirá-la do Lar e levá-la para ter uma casa, um lar como ela sempre sonhou – eu olho para o chão cabisbaixo – Gostaria de poder ajudar todas aquelas crianças, fazer mais por elas.
- Emhre – eu a olhei – Todos os dias da minha vida, e quando digo todos, são realmente todos – nós rimos – Eu penso se eu teria sobrevivido, se meu pai não tivesse me achado naquele dia, a pessoa que me colocou no mundo me deixou lá, jogada no meio de um canavial, não se preocupou com minha integridade física, se algum animal pudesse me encontrar lá, se eu fosse morrer lá de sede e de fome ou qual mal poderia me acontecer ali – os olhos dela se enchem de lágrimas.
- Vem cá minha menina – e então a abraço e ela desaba no choro – Eu amo você.
- Sabe Emhre eu sempre quis dizer isso, como eu realmente me sinto em relação a isso e nunca consegui me abrir com ninguém, nem mesmo com Nádia – ela fungou – E olha que somos melhores amigas – ela me abraça forte.
- Eu sei meu amor, sempre estive do seu lado e sempre estarei, eu posso estar com quem for ou em qualquer lugar que sempre estarei aqui por você.
- Eu sei disso, mais dói, muitas vezes pensei o que eu fiz de errado por ter sido deixada lá – ela aponta para os pés de cana que nos cercam – Ser deixada aqui, não saber da minha história e nem quem deu á luz a criança que foi abandonada, eu poderia ter morrido, meu corpo frágil foi mordido por formigas, por quê?
- Nathi se um dia você quiser respostas para suas perguntas eu a ajudarei, nós temos dinheiro poderemos contratar os melhores investigadores e descobrir o aconteceu – chego perto dela e coloco uma mecha de seus cabelos negros atrás da orelha – Só depende da sua vontade minha menina, e eu farei tudo que for possível.
- Vou pensar se realmente quero sofrer mais com essa história – ela enxuga as suas lágrimas – Isso me deixa muito mal e por isso que as vezes sumo no mundo e não quero trazer minhas tristezas a mamãe e ao papai, nem mesmo para meus avós que tanto amo.
- Conte sempre comigo minha menina, o seu desejo será uma ordem, se quiser ir atrás de sua história nós iremos mais se você quiser enterrar tudo isso bem fundo e trancar e só saber da felicidade que é ser parte de nossa família eu também vou ajudá-la.
- Obrigada Emhre, eu também amo você e obrigada por tudo que você faz por mim – ela limpou as lágrimas sorriu – Quem chegar por último é a mulher do padre – me empurrou e eu cai sentado, enquanto aquela sapeca saiu correndo me deixando para trás comendo poeira.