Capítulo 3
- Querer? —pergunta a russa, me entregando o baseado que segura entre os dedos. Acho que é a terceira vez que ela fala comigo desde que chegou. Nem sei o nome dela.
- Não, obrigado. — Balanço a cabeça com uma careta e pego os chumaços de algodão embebidos em demaquilante para passar no rosto todo.
O couro falso do sutiã está grudado como cola e tenho dificuldade para removê-lo. As botas causaram uma irritação irritante e tenho pequenas manchas vermelhas que coçam, com certeza terei que reclamar com Dylan sobre essas coisas.
—Que sucesso! — Jen parabeniza com um sorriso brilhante ao entrar, fechando a porta atrás de si, em seguida me entrega meu jeans e camiseta.
Jennifer é uma ex-stripper que, aos trinta anos, decidiu parar de fazer shows e apresentações, de administrar os locais e de cuidar de nós um pouco como uma irmã mais velha faria. Ele cuida dos figurinos, da música, mas acima de tudo nos incentiva e incentiva.
—Deus abençoe a noite de sábado! — Sharon comemora aparecendo pela porta, agitando um maço de dinheiro no ar.
Sorrio, me abanando com as notas e nós dois caímos na gargalhada enquanto a loira se despe, revelando seus seios grandes e firmes, que foram colocados sob as mãos experientes do cirurgião plástico.
Por fim calço meus confortáveis chinelos desbotados que logo dão alívio aos pés, desamarro o rabo de cavalo e, de bruços, mexo um pouco o cabelo. Quero muito ir para casa, me esconder debaixo das cobertas e dormir por horas, mas, como sempre, estou esperando que Sharon caminhe parte do caminho com ela. Sento-me no sofá no canto da sala, ao lado de Danielle, que está bebendo vodca barata em um copo. Ele começa a me entregar a garrafa, mas eu rejeito.
—Chloe, você causou uma boa impressão, né? — Jen zomba, piscando para mim, depois se junta a mim me passando um envelope completamente branco, pesado o suficiente para entender que contém algo.
- E para mim? —Pergunto confuso, virando-o nas mãos.
— Sim, há pouco um menino me trouxe pedindo para dar para a linda garota de terno branco. —ela me explica, arrumando as franjas do seu bob preto, depois recolhendo nossas fantasias e pendurando-as em um cabide.
Sem muito interesse, dou de ombros e coloco o envelope no bolso externo da minha bolsa, não é incomum receber bilhetes com seu nome, telefone ou quem sabe seu endereço.
- Preparar! —Sharon anuncia após vestir sua jaqueta de inverno.
— Perfeito, vejo vocês na segunda-feira meninas. — Saúdo-os dando um beijo no ar e, por fim, saio acompanhado do meu amigo.
O bairro, agora que é dia, está bem diferente de antes e ganha vida. Está iluminado pelas primeiras luzes da manhã, alguns carros já passam zunindo na rua e alguém já saiu para correr. Outras pessoas provavelmente estão dormindo em suas camas quentinhas e confortáveis, aproveitando esta manhã fria e calma de domingo, e mal posso esperar para estar debaixo do meu edredom com a cabeça apoiada no travesseiro macio.
—Você tem alguma ideia de quem poderia ter lhe enviado o envelope? — Sharon pergunta curiosa após acender um cigarro e dar uma longa tragada que parece relaxá-la.
— Não. — Eu simplesmente balanço a cabeça com os lábios curvados em uma careta desinteressada e coloco as mãos nos bolsos quentes da minha jaqueta de inverno.
— Talvez você tenha tido alguns encontros interessantes esta noite, um lindo bilionário? —ele brinca, empurrando levemente meu braço.
— Não, não é bilionário. — Reclamo com um beicinho brincalhão antes de voltar a ficar sério, — Será o bilhete de sempre, você é muito bonita, te espero neste endereço, ligue para esse número e blá, blá, blá. -
—Esperemos que ele tenha deixado pelo menos cinco dólares. —ela responde após soltar uma risada silenciosa e eu mostro meus dedos cruzados, fazendo-a rir novamente.
Abraço minha amiga enquanto nos separamos, observando por um momento enquanto sua figura esbelta recua para a minha direita e depois continuo em frente. Alguns minutos e finalmente me encontro na frente da porta do meu prédio.
Como todas as manhãs, subir as escadas até o quarto andar parece a façanha mais cansativa do mundo, mas só de pensar na água quente do chuveiro e no conforto da cama me faz subir os degraus de dois em dois. Abro a porta, jogo a sacola no canto e vou na ponta dos pés até o banheiro, tentando não acordar Amanda.
Este é o meu momento preferido: sinto a água no corpo, esfrego a espuma do banho e experimento uma sensação única. É como se eu tivesse removido as marcas das mãos daqueles homens, se tivesse lavado o seu cheiro, os seus pensamentos, a sujidade. No começo foi difícil esquecer, lembrei de seus rostos corados, de seus corpos trêmulos, de seus comentários, mas agora me acostumei e mal consigo pensar nisso.
Saio do banho, coloco o pijama e prendo o cabelo e depois caio na cama, debaixo das cobertas, com o rosto no meu tão desejado travesseiro, adormecendo imediatamente.
Quando acordo já é tarde, me espreguiço um pouco e fico na cama olhando o teto branco por alguns minutos. Adoro o domingo: é minha folga, posso ficar na cama até tarde, relaxar no sofá, assistir TV e não pensar em nada.
Levanto-me e tento arrumar um pouco os lençóis, calço meus chinelos rosa bem macios que Sharon me deu de aniversário e vou para a sala.
—Bom dia Amanda. — Saúdo-a sentando-me numa cadeira, apoiando os cotovelos na mesa e o queixo nas palmas das mãos.
— Bem, acordado, hein. — ela me repreende com uma careta, seguida de uma risada reprimida enquanto muda de canal de televisão, agachada no sofá, — Tem macarrão para esquentar. -
— Obrigada, — aceno e me levanto para colocar a panela no fogo, depois coloco um pouco de água em um copo, — você fez sua lição de casa? -
—Só preciso terminar a história, faço isso mais tarde. —ele responde, revirando os olhos.
Concordo com a cabeça e misturo o macarrão com uma colher de pau, depois coloco um pouco em um prato e sento para comê-lo enquanto assisto ao último episódio de Prison Break.
—Saio com Martha mais tarde. —ele me avisa, sem prestar atenção especial em mim e imediatamente volta a focar na série televisiva.
- Marta? — Repito, levanto uma sobrancelha com uma expressão confusa, olhando para ela, — Quem é? -
— Um colega meu de escola. - definitivamente está ficando impaciente.
-E aonde vais? — pergunto, mais por curiosidade do que para controlá-la.
—Eu não sabia que tinha que responder a um interrogatório. —ela reclama irritada e pega um travesseiro, colocando-o nas costas.
Um suspiro escapa dos meus lábios enquanto me recosto no encosto da cadeira. — Acabei de perguntar para onde você estava indo Amanda. — respondo, tentando manter o tom de voz calmo para não iniciar uma discussão inútil.
—Não sei, só para passear! — ele bufa, revirando os olhos, depois aumenta o volume da televisão, — Não me estresse, hein. -
— Você poderia parar de se comportar como uma criança mimada? — Cruzo os braços sobre o peito e minhas sobrancelhas se enrugam em uma expressão dura e severa, embora eu saiba perfeitamente que ele também não vai me levar a sério desta vez.
—E você poderia parar de agir como se fosse minha mãe? — ele retorna com o mesmo olhar desafiador, sentando-se melhor no sofá de três lugares cor creme, — Caso você não saiba, gostaria de informar que já tenho um em algum lugar e não preciso de outro . um. -