Capítulo 9
- Vamos Sam, desça daí, se eles te pegarem você vai acabar em apuros - Arthur disse novamente. - Não sejas estúpido. – Ordenou, engolindo alto e suspirando.
Sam olhou para ele, colocando um sorriso em seu rosto e era tão falso e forçado que também senti sua dor quando ele se forçou a sorrir. – Não estou sendo estúpido – Ele respondeu, erguendo os braços no ar e fechando os olhos novamente. - Estou dançando -
De repente a música foi desligada e todos nós nos viramos para Carter, que segurava o alto-falante do meu melhor amigo, agora desligado, nas mãos, e acabava de ganhar um olhar irritado de Sam, que bufou teatralmente e lambeu o céu da boca. , levantando o dedo médio. – Ponto um: é um pouco cedo para estar bêbado – Carter deu um passo à frente, batendo a caixa contra a mesa e se aproximando de mim, levantando a cabeça e empurrando Sam para olhá-lo nos olhos. – Segundo ponto: não é o lugar certo para estar – disse-lhe, apontando para o campus com um gesto de mão. – Terceiro ponto: chega de teatro barato, tudo isto não tem sentido e não levará a nada. – Concluiu erguendo as sobrancelhas e cruzando os braços sobre o peito.
Sam, naquele momento, sorriu histericamente e ergueu o rosto para o céu. Ele respirou fundo e se agachou na cadeira, alcançando a altura de Carter e apoiando os cotovelos nos joelhos. – Ponto um: cuide da sua vida, Carter. – Ele soltou, jogando a bituca no chão sem nem apagá-la e olhando para onde havia jogado. Pelo canto do olho vi Vanessa balançar a cabeça e se preparar para pisar no filtro do cigarro para apagá-lo, pegá-lo e jogá-lo na lixeira ao lado da porta de correr para entrar no quarto. Sam continuou a encarar Carter, seus olhos verdes tão cheios de raiva que eu até senti isso correndo em minhas veias. Não sabia se era porque éramos gêmeos, mas o fato é que Sam estava com tanta dor que eu senti toda aquela dor também, juntando-se à minha, amplificando o sofrimento. Eu sabia que era o mesmo com ele, porque eu era a única pessoa que não merecia olhares sujos dele, apenas olhares amorosos e preocupados. – Ponto dois: perdi a pessoa que amava, alguma coisa faz sentido? Não me parece. – Ele disse erguendo os braços em sinal de rendição e fazendo uma careta.
- Olá Sam, escute - Nesse momento Ben interveio, vendo Carter suspirar exasperado e balançar a cabeça submissamente, sem saber mais o que fazer. Tínhamos ido ao campus principalmente porque Vanessa me ligou para dizer que Sam estava agindo de forma estranha a manhã toda e Arthur, quando Ben ligou para ele para perguntar se o tinha visto, disse que sim, que havia topado com ele, mas que ele não sabia se ele tinha feito o exame e que quando conversaram naquela manhã ele falava mal e andava com passo instável, usando óculos escuros quando realmente não havia muito sol. –Nada do que aconteceu faz sentido para nenhum de nós. Pedimos apenas que você se comporte civilizada e normalmente, pelo menos no campus, onde você está à vista de todos e onde não faz sentido fazer um espetáculo como esse. -
Sam tossiu, fechou os olhos e mordeu o lábio, como se estivesse com dores físicas e tentasse resistir e lutar com todas as suas forças. Quando os abriu novamente, eles estavam brilhantes, sinal de que ele estava à beira de um ataque de choro e que estava fazendo tudo o que podia para evitá-lo ou fazer com que isso acontecesse o mais rápido possível, mas ele estava visivelmente cedendo, porque ele tremia como uma folha e tinha os olhos cerrados. – Vi morrer a pessoa que amava, Benjamín. – Ele respondeu com a voz trêmula e finalmente pulando da cadeira. Ele não foi até Ben, não se aproximou dele, veio até mim. Ele estava a um centímetro de mim e, sem me olhar nos olhos, puxou-me para perto do seu peito e beijou-me a cabeça, entre os meus cabelos, abraçando-me num abraço que parecia expressar todas aquelas palavras que eu não conseguia dizer. . Quando passei meus braços em volta de seu peito e descansei minha cabeça em seu peito senti seu coração frágil, senti-o bater tão rápido que também fez meu batimento cardíaco aumentar, como se estivéssemos intimamente unidos, conectados por um fio invisível no qual um também sentiu as emoções do outro. – A pessoa que eu amava morreu em meus braços, não pode haver normalidade depois disso. -
Abracei-o com mais força e deixei um beijo em seu coração, sem saber o motivo exato. Ryan estava atrás de Sam, com um cigarro aceso e a expressão de alguém que acabara de ser esfaqueado. Ele não tinha falado mas não era necessário que ele falasse, pela forma como ele observava em silêncio eu entendi que ele entendia Sam perfeitamente e que evitaria dizer ou fazer certas coisas. Vanessa, por outro lado, estava chorando. Senti seu soluço de partir o coração quebrar um pouco o meu também. Arthur colocou a mão no ombro de Sam e balançou a cabeça para Ben, como se lhe dissesse silenciosamente para não intervir e deixá-lo em paz. Carter havia caído em uma cadeira, cabeça baixa e olhos fechados, mão apoiada na testa, também abandonado ao silêncio frio que subitamente caiu após as palavras duras de Sam. – Não se machuque, Sammy. – sussurrei, erguendo o rosto e olhando em seus olhos. Ele olhou para mim como se estivesse se desculpando, como se estivesse me implorando para perdoá-lo antes mesmo de ele ter feito ou dito certas coisas que poderiam ter me magoado. Isso partiu meu coração, tanto que comecei a dançar com as pernas, tentando com todas as minhas forças conter as lágrimas. – Quando você faz isso, eu também sinto. – falei para ele, dando um passo para trás e levantando a mão, colocando-a sobre seu coração. – Eu sinto isso aqui, forte, e também dói, como se eu tivesse um anzol enfiado na pele. -
Sam não disse nada, simplesmente pegou meu rosto entre as mãos e com lágrimas nos olhos, após alguns momentos em que me perdi em seu olhar arrasado, ele beijou minha bochecha e se afastou definitivamente, quebrando a ligação entre nós . que eu havia criado e que queria fazê-lo se sentir um pouco melhor, mas a julgar pela expressão em seu rosto deduzi que só havia alcançado o resultado oposto. Cambaleei um pouco quando ele me soltou e balançou a cabeça, principalmente depois de vê-lo olhar para todos os garotos, focando principalmente em Ryan, pedindo desculpas silenciosamente a cada um de nós. Ele ergueu os braços e finalmente se afastou, parando por alguns momentos apenas para pronunciar as palavras que finalmente partiram meu coração. Ele não estava olhando para nenhum de nós, estava de costas e olhava para o nada. – Com licença – ele sussurrou com a voz trêmula. - Não posso fazer isso. -
Dei um passo à frente, mas fui bloqueado pelo aperto de Ben e, sentindo uma mão agarrar meu pulso, me virei para ver quem exatamente era entre os meninos, encontrando o olhar de Ryan, que simplesmente balançava a cabeça silenciosamente. – Deixe pra lá, ele precisa de espaço e acima de tudo de tempo. -
- Não podemos deixá-lo sozinho – Arthur interveio, captando a atenção de todos nós. – No momento ele está muito frágil, tenho medo que ele se machuque. -
- Não é frágil. – exclamou Ryan, soltando meu pulso e olhando para Arthur. – Ele só precisa de tempo, como todos nós. O fato de você estar sofrendo não faz de você uma pessoa frágil, você apenas é forte há muito tempo e está tentando não desistir. Estar em cima dele assim não vai ajudá-lo, cada um tem sua maneira de reagir à dor, deixe-o reagir do seu jeito e encontrar sua força no seu tempo, não podemos impedi-lo de sofrer, é inevitável . Fique tranquilo, você não vai se machucar. -
- O que te faz pensar que não faço coisas estúpidas? Você não pode ter certeza absoluta do que isso pode ou não fazer. – Vanessa perguntou, enxugando as lágrimas e tossindo, soluçando.
- Ele nao. – Ben disse a ela naquele momento, olhando para ela com um leve sorriso e tentando tranquilizá-la através daquele olhar meigo, o mesmo que sempre me transmitiu tranquilidade e proteção. – Para Victoria, porque agora ela é sua única certeza. -