Capítulo 10
- Não só para Victoria. – disse seu irmão, fixando os olhos nos meus, que se afastavam cada vez mais de nós, mantendo as mãos nos bolsos e a cabeça baixa.
- Ele não fará isso por ela, por Katherine. – Carter quebrou o silêncio, observando todos nós concordarmos com Ryan. Ele se levantou, segurando Vanessa nos braços e beijando sua bochecha, conseguindo fazê-la sorrir.
- Porque não é isso que ela quer e Sam sabe disso. – sussurrei com o coração partido e apoiando a cabeça no ombro de Ben que, entretanto, entrelaçou nossos dedos tentando me acalmar com aquele pequeno gesto.
– Ainda sinto isso aqui, conosco, até agora. – Vanessa se aproximou de mim e pegou minha mão livre, me fazendo olhar nos olhos dela e ler todo o seu sofrimento, o mesmo que tentei esconder, que todos nós tentamos esconder.
Cada um de nós tentou aceitar o que havia acontecido da melhor maneira possível, nem precisávamos repetir o quanto estávamos sofrendo, só precisávamos olhar um para o outro. Naquele momento percebi como, observando-nos todos juntos, desde que ela se foi, parecia sempre que faltava uma peça fundamental do puzzle, que se tinha perdido e deixado um vazio insubstituível.
- Você consegue ouvir o vento? – Arthur nos perguntou, erguendo o rosto para o céu e sorrindo. - E ela. -
Eu apenas suspirei, deixando aquele suspiro livre no vento e torcendo para que onde quer que ela estivesse, nossos pensamentos a alcançassem. Ao olhar para Sam, que estava se tornando cada vez mais um borrão na massa de pessoas, me peguei pensando em como estava apavorado com a ideia de perdê-lo também, com a ideia de que as peças que faltavam no quebra-cabeças seriam perdidas. desaparecer. tornar-se dois. Apesar da distância, porém, consegui vê-la de qualquer maneira: vi Katherine flanquear meu irmão e pegar sua mão, esperando de todo coração que ele também sentisse aquele aperto, talvez tivesse aliviado um pouco sua dor saber que ela, mesmo que ele não estivesse mais aqui fisicamente, ele continuou a zelar por nós, como um anjo da guarda.
Balancei a cabeça, depois de alguns momentos, em resposta a Arthur, e sorri, colocando a mão no coração e inclinando a cabeça para o lado, principalmente quando percebi que estávamos todos olhando para o mesmo ponto preciso, como se todos tivéssemos vi exatamente a mesma coisa. Pulei um segundo quando Sam parou no meio da avenida e ergueu o rosto para o céu, permanecendo naquela posição por um longo tempo porque talvez, pelo menos era o que eu gostava de pensar, ele a tivesse ouvido e estivesse sorrindo.
"Sim", Ben sussurrou, beijando meu cabelo e me segurando em seus braços. – Ouvimos e sim, é ela. -
Ficamos ali por um longo tempo, observando Sam sair do campus sozinho, com o coração partido e impotente. Naquele momento, entre nossos silêncios, me peguei pensando que se tivesse pintado a dor certamente teria o rosto dele: teria o rosto do meu irmão.
A fragilidade custa caro a quem não tem lugar no mundo.
Era quase meia-noite, o ar frio de novembro soprava em meu rosto e bagunçava meu cabelo, me fazendo tremer. Tinha começado a nevar, mas apesar disso resolvi ficar no telhado e admirar o manto branco que enfeitava a minha cidade, procurando as estrelas e até contando-as, entre o manto de nuvens brancas e a espessa neblina característica do inverno e neve. . Abri a palma da mão, acolhendo um pequeno floco de neve, observando-o pousar na minha luva de lã enquanto, no silêncio e no meu amado inverno, fumava um cigarro e sorria para o floco dançante.
Eu tinha subido ao telhado principalmente porque precisava ficar sozinho e parar de pensar, mas durante a última hora tudo que consegui pensar foi que precisava parar de fazer isso. Meu principal problema era que minha mente viajava demais e muitas vezes meus pensamentos se transformavam em sussurros, sussurros irritantes, risadas frustrantes e delírios. Às vezes havia tantos sussurros, todos sobrepostos e muitos ao mesmo tempo, que a única coisa que eu podia fazer para silenciá-los era colocar a cabeça entre as mãos e gritar. Os gritos eram tão altos que abafavam o volume das risadas, os pensamentos venenosos, e no final consegui silenciá-los algumas vezes. Pela primeira vez, depois de uma vida inteira sem fazer nada além de temer e ficar aterrorizado até sentir pânico nos ossos, passei a buscar desesperadamente o silêncio. Quando percebi que queria a paz que só o silêncio poderia me proporcionar, percebi que havia ultrapassado meu limite máximo de tolerância à dor.
Enfim, enquanto os flocos de neve lentamente deixavam meus cabelos brancos, uma garrafa de água cheia de vodca pura estava ao meu lado, enfiada entre um ladrilho e outro, me fazendo companhia, me aquecendo enquanto o inverno me esfriava até os ossos. Foi principalmente por isso que adorei: deu-me arrepios, e os arrepios eram a prova de que eu ainda estava vivo. Levantei meu nariz congelado, erguendo a garrafa para o céu e sorrindo após mandar um beijo para a lua e depois levar até os lábios, saboreando o calor ardente do álcool que descia lentamente pelo meu esôfago, me fazendo fechar a boca. olhos e desfrute daquela maravilhosa sensação de formigamento em sua cabeça que os espíritos lhe proporcionam. Já fazia uma hora que eu estava bebendo, estava tonto, mas sinceramente não me importei muito, pensei que afinal talvez fosse a única coisa que poderia me fazer parar de pensar. – Felicidades Kat – murmurei com os dentes batendo e abraçando as pernas contra o peito, apoiando a cabeça nos joelhos. – Penso em você todos os dias – tomei mais um gole de álcool e franzi o nariz mordendo o lábio, respirei fundo e engoli em seco, olhando um pouco em volta e lembrando da primeira vez que levei meu melhor amigo ao telhado para contar os números das estrelas. Eu disse a ele que era algo que Sammy e eu sempre fizemos, imaginar criar desenhos desmontando constelações e juntando-as para criar novas, sempre diferentes, com histórias diferentes.
Katherine sempre sofreu de vertigens, então, quando subimos para o telhado, ela começou a me insultar e a me dizer o quanto Sam e eu éramos loucos por fazer isso, especialmente quando estávamos bêbados ou enquanto fumávamos e distribuíamos baseados perdidos em nossos próprios pequenos. uns. mundo. Fumamos olhando as estrelas, viajando pelo céu, criando nossas próprias histórias, sempre contando coisas novas um para o outro, até mesmo pequenos detalhes que podem parecer insignificantes para qualquer um, mas para nós eram tudo. Naquele momento eu só conseguia pensar no quão precioso era cada segundo e momento, lembrando dos momentos passados com Katherine e das noites dormindo nos braços um do outro. Lembrei-me da minha mão e da de Sam entrelaçadas, eu com a cabeça apoiada em seu peito e ele acariciando meus cabelos, tecendo os fios pretos entre os dedos e se tornando meu narrador. Tínhamos construído uma tradição, ele e eu, e eu queria me mostrar para Katherine naquela noite, apresentá-la à verdadeira Victoria. – Onde quer que você esteja, espero que meus pensamentos cheguem até você. – eu finalmente disse.
Levantei-me, segurando a garrafa com força nas mãos, e caminhei até a beira do telhado, olhando para baixo e me perguntando o que aconteceria se eu caísse dali. Perguntei-me novamente o que poderia acontecer, caso em que eu desapareceria para sempre e como seria dormir para sempre. Certamente morrer foi mais fácil do que viver, tudo teria sido mais fácil do que ser eu mesmo e viver a minha vida. Por um momento me peguei pensando naquelas duas semanas trancado naquele porão, sozinho com meus pensamentos e o silêncio. Mesmo naquele momento meus pensamentos estavam fazendo barulho, mas não tão alto, eles não estavam gritando como estavam gritando naquele momento. Lembrei-me do quanto ele me aterrorizava naquela época, do quanto eu o odiava e do quanto queria fechar os olhos e nunca mais abri-los, convencida de que havia chegado ao fundo do poço. Eu também me enganei pensando que não poderia haver nada pior, que isso significava chegar ao fundo do poço, mas eu estava sendo estúpido porque o pior ainda estava por vir. Então pensei novamente sobre o quão paradoxal tudo aquilo era, o quanto eu estava orando naquele momento para que me fosse concedido apenas um minuto de silêncio, o quanto eu teria gostado, o quanto eu teria agradecido a Deus por me permitir. .