Capítulo 4
O que poderia ser tão ruim que poderia acontecer? Eles pareciam ter muitos contatos na cidade, talvez eu também encontrasse uma pista para resolver meu caso.
Os Sermindes mexeram nas coisas do ilGlorias, mas isso não me incomodou. No século XXI o que mais existe são bandidos e criminalidade e como jornalista isso já não me choca. Pelo menos ela não precisava ouvir gemidos nos quartos ao lado ou servir homens que pensavam que as mulheres eram apenas escravas sexuais. Paige ficou triste por me ver partir, mas eu ainda a encontraria para conversar nos meus dias de folga.
Passei muitas horas no trabalho com Michael fazendo todos os cálculos e quando cheguei em casa tudo que eu queria era um banho e minha cama desconfortável. Algumas noites passei acordado, me perguntando se eles ainda estavam me procurando. Mas quando me dei conta, semanas já haviam se passado, mas pensei que isso ficaria lá no passado até eu morrer. Talvez não fosse uma má ideia.
Nos finais de semana eu ficava bêbado para esquecer esse assunto com o Arthur, que estava mudando de ideia sobre mim. Até o levei para casa uma vez porque ele não suportava ir sozinho. Ele se lembrava perfeitamente de como John zombou dele quando nos encontrou na porta, nas primeiras horas da manhã.
Mas aí acontece que não era comum mulher sair com homem para beber só por amizade e começaram a circular pela cidade boatos de que eu tinha feito sexo com Arthur Sermindes, o que era uma completa mentira. Um: gangster não fazia meu tipo e dois: era o Arthur, o cara que mais me odiou lá desde o começo.
E Polly, a matriarca da família, não gostou da ideia de envolver um estranho em assuntos pessoais. Ela não falou comigo pessoalmente, mas uma vez acabei ouvindo a conversa dela com Tomy. Eles não me viram.
"Cada vez que você deixa seu coração te controlar, coisas ruins acontecem."
Pensei naquela fala da Polly e nem continuei ouvindo o resto, afinal se me pegassem ali não sei qual seria o meu rumo, já que não foi o melhor. O ruim é que depois daquela conversa o Tomy nem me cumprimentou ao passar por mim, como se realmente achasse que eu era idiota por ter me colocado para trabalhar ali, eles não sabiam que eu não tinha absolutamente ninguém com quem contar Exceto eles. e mesmo que tivesse alguém mais conhecido, ele nunca falaria sobre suas ações malfadadas. Seus irmãos me contaram que ele está assim desde que voltou da França, que uma guerra pode transformar um homem ao extremo. Talvez seja verdade.
Minha casa ficava na mesma rua, a poucos metros da casa da Polly. Era um lugar pequeno e mofado e a sala fazia fronteira com o quarto, mas era bom ficar sozinho.
Abri as portas do armário e olhei pela milésima vez todo o mapa que criei e colei na porta. O lago não estava escuro, mas aquela rocha foi a razão pela qual antes de explodir eu vi Matteo vindo em minha direção e segundos depois apareci em uma dimensão diferente. Se outra pessoa pegasse, acabaria no mesmo lugar que eu? E se houvesse algum propósito específico para eu estar ali? E se a pedra ainda estivesse enterrada no lago este ano?
Pensando nisso, saí de casa com leveza correndo pelas ruas como se minha vida dependesse disso e, bom, por um lado dependeu.
—Tomás! — gritei quando o vi chegar na casa de Polly.
Ele parou com a mão na maçaneta da porta e olhou para mim, quando parei na frente dele me agachei, sem fôlego de tanto correr.
“Preciso de um favor”, eu disse, ainda tentando fazer minha respiração voltar ao normal.
- Eu não faço favores.
— Só quero saber como chegar ao lago onde seus homens estavam quando me encontraram.
Ele me olhou em silêncio por alguns segundos.
—Não é bom que uma mulher como você vá sozinha.
—Uma mulher como eu? — Levantei as sobrancelhas. —Você me leva lá então?
—Não, tenho assuntos para resolver. Pergunte a Arthur.
Ultimamente, tudo se resumia a essa frase e, para ser sincero, Arthur era o único que fazia coisas para mim, então balancei a cabeça e olhei para o homem na minha frente esperando que ele abrisse a porta.
Lá dentro o cheiro de cigarro era forte, você nunca saberia que fumavam tanto. Os homens estavam ao redor das mesas discutindo algo que eu não me preocupei em ouvir, naquele momento eu só estava focado em saber como chegar ao lago.
Encontrei Arthur sentado no fundo, com um copo de uísque na mão, observando todo mundo brigar. Foi um milagre ele não estar no meio daquela confusão: afinal, ele tinha um talento dramático.
— Você pode me levar ao lago onde você estava filmando? —perguntei sem rodeios quando me aproximei dele.
- O que você quer fazer lá?
—Acho que perdi alguma coisa, então quero ver se ainda está lá.
Ele se levantou.
— É melhor você tomar cuidado com esses malucos — ele bebeu o resto do uísque e bateu o copo na mesa, depois se levantou.
— Ah, pega uma pá — ele sorri.
Arthur ficou perguntando durante todo o caminho se íamos enterrar alguém e isso me assustou, mas eu não disse nada. Ele parecia feliz falando sobre mortes.
O lago estava exatamente como no dia do evento e não demorou muito para começarmos a procurar a única coisa que me dava esperança de voltar para casa.
— Você é cheio de mistérios, espião. —ele ainda me chamava assim, mas agora como apelido. -O que estamos procurando?
— Uma pedra branca brilhante.
—Quanto você vai me pagar por esse trabalho manual? Não estou acostumado a cavar buracos à toa.
— Achei que ia ser de graça — sorri, observando-o cavar. - Posso te pagar uma bebida.
Ele fez uma careta.
—Eu quero um terno. Eu sei que Tommy está te pagando bem.
—Se você encontrar essa pedra, sairei daqui hoje mesmo, Arthur. Mas primeiro vou falar com Tomy sobre usar todo o meu pagamento no terno dele.
Ele enfiou a pá na terra molhada e se apoiou nela, olhando para mim.
—Isso tem a ver com as loucuras que você disse no armazém? — ele perguntou curioso e eu balancei a cabeça. —O que você é mesmo, Glória?
Eu adoraria responder essa pergunta com clareza, mas ele não acreditaria em nada e ainda assim me chamaria de louca.
— Só não sou daqui e não sei como cheguei aqui, mas ainda vou descobrir.
Ele balançou a cabeça e voltou a cavar.
Passamos a manhã inteira cavando vários buracos na mata próxima ao lago e nem vimos nenhum vislumbre. Talvez eu tenha pensado errado mais uma vez.
Quando voltamos para a cidade, todos os Sermindes da casa de Polly nos olharam de cima a baixo. Estávamos sujos, suados e cansados. Infelizmente eu ainda teria que contar dinheiro pelo resto do dia.
Fui até a sala onde Michael estava e sentei ao lado dele, ele silenciosamente me entregou um maço de notas e comecei a contar. Porém, minha cabeça estava em um lugar totalmente diferente, meu verdadeiro lar.
Matteo ainda estava me procurando ou sentindo minha falta? A polícia mostrou alguma foto feia minha nos jornais?
— Gale. —Tomás apareceu na porta. - Necessito falar contigo.
Levantei-me e saí do quarto, subimos silenciosamente as escadas onde entramos em um quarto e ele fechou a porta. Observei-o acender um cigarro e sentar-se em uma das cadeiras de couro vazias.
—Amanhã vamos a uma corrida de cavalos e preciso que você me acompanhe, então peça a alguém um terno bonito e me encontre no canal às dez e meia da manhã.
—Ada não pode ir com você? Amanhã é meu dia de folga.
—Ela é minha irmã e você não tem folga, só quando eu deixo você ficar em casa.
— Você nunca ouviu falar em direitos dos trabalhadores, certo? - Meu rei.
- Não estou brincando. Esteja lá amanhã sem falta.
"Sim, senhor", cumprimentei, sorrindo, mas Tomy não era um daqueles que ria.
E com isso saí da sala, deixando um sorriso bobo escapar dos meus lábios.
Estar ao lado de Tomy Sermindes me deu arrepios. Desde o dia em que o conheci, não o vi sorrir ou qualquer outra reação além da cara séria. John me contou que antes da França ele era um homem completamente diferente, ria e brincava, mas agora só pensava nos seus negócios. Possivelmente ele viu coisas horríveis e isso o deixou tão retraído.