A culpa
Kyle
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Eu vi a Celine desaparecer da minha vista como uma poeira levada pelo vento, naquela situação eu sabia que era impossível eu alcançá-la ou segurá-la nas mãos.
Foi impossível controlar a raiva, e toda a culpa foi direcionada pra Monique, e pela primeira vez eu deixei claro pra ela o que eu realmente pensava.
Eu dei um passo a frente, me virei pra ela e a encarei, aquela cara de safada, e seios chamativos não poderiam mais ser um motivo de desentendimentos entre eu e a Celine.
— Você pode me responder uma coisa Monique?
Monique: Claro, você pode tudo comigo Ky.
— Você costuma sempre colocar o seu corpo e a sua dignidade em liquidação?
Ela fechou a cara, e pelo o que vi, a minha pergunta a atingiu com força.
Monique: Que pergunta estúpida é essa Kyle?
— É uma pergunta que geralmente os homens fazem a si mesmos quando se deparam com mulheres como você, que não sabem se controlar e usam o corpo pra conseguir o que querem, se colocando em uma prateleira, como um verdadeiro objeto, é exatamente esse tipo de mulheres que eu quero distância, deu pra entender?
Eu dei um passo em direção a ela e encarei os olhos marejados dela bem de perto, como se eu fosse beijá-la, mas a intenção era totalmente o oposto, eu queria feri-la o suficiente pra afastá-la definitivamente.
— E eu acho bom você estudar, pois não existe buceta nenhuma no mundo que vai fazer eu te aprovar se você levar bomba na minha matéria.
As lágrimas começaram a cair dos olhos dela, e aquilo não me comoveu em nenhum momento, eu fui frio e direto, e logo dei as costas pra ela e saí dali o mais rápido que pude.
Antes de ir dar a próxima aula, eu tirei o meu celular do bolso e liguei pra Celine, eu não podia perdê-la, aquela garota poderia ser o maior erro da minha vida, mas imaginar ela longe do alcance das minhas mãos me causou um aperto absurdo no peito, eu nunca senti aquilo por ninguém.
Ela não atendeu nenhuma das minhas ligações, e eu tive que dar as minhas aulas e exercer bem o meu papel como sempre fiz desde que me tornei professor, e apesar de constantemente sentir vontade de abandonar tudo e ir atrás dela, eu optei por esperar, era melhor, afinal no fundo eu sabia que havia passado do ponto, e que resolver as coisas naquele momento, poderia piorar tudo pro meu lado.
Entre uma aula e outra eu até que tentei ligar outras vezes, mas como o esperado ela não atendeu.
O meu humor no final do expediente manteve todos os alunos distantes de mim, aquela versão minha era nova pra eles, afinal eu sempre fui um professor amigo de todos, e eles não estavam acostumados a me ver tão irritado.
Era audível os comentários que eles estavam fazendo, e ouvir aquilo só me deixou mais irritado.
"Foi aquela aluna que deixou ele assim"...
"Não é a primeira vez que ela bate de frente com ele"...
"Eu nunca vi ele tão estressado assim, nem parece o Kyle que conheço".
Eu só precisei olhar na direção deles pra se darem conta de que eu ouvi tudo e não gostei.
Eu tentei chegar no meu carro sem precisar mandar ninguém pro inferno, e foi mais difícil do que imaginei, isso porquê pra piorar tudo eu encontrei a Monique no caminho do estacionamento, e por mais que eu tentasse a todo custo ignorá-la, ela não deixou isso acontecer.
Monique: É aquela ruiva não é?
Eu parei de andar e a encarei, sentindo o meu coração bater de forma acelerada, e eu tentei a todo custo fingir que não estava entendendo o que ela estava falando.
— Do que você está falando?
Monique: O motivo do seu mau humor, da sua falta de concentração na aula, e das palavras horríveis que você me falou mais cedo, a ruiva é a sua namorada, eu vi muito bem quando ela viu nós dois e ficou como se estivesse sendo apunhalada pelas costas, eu conheço uma mulher apaixonada de longe, pois eu sou uma.
— Você é mais louca do que eu imaginei.
Monique: Louca por você, e eu quero deixar claro que eu não sou de desistir assim tão fácil.
— É muita burrice lutar por alguém que você nunca vai ter.
Monique: Ficar com você parecia algo impossível, no entanto você não pensou duas vezes quando eu fui na sua casa e abri as pernas pra você, e depois quando você me levou pro motel, você acha mesmo que é impossível dessa vez professor? Nunca subestime uma mulher.
Ela saiu rebolando aquela bunda, e eu lembrei imediatamente da Celine, ela também gostava de usar aquelas palavras, e eu sabia que realmente não deveria subestimar uma mulher decidida, porém eu jamais iria abrir mão da Celine pra ficar com a Monique, aquilo não iria acontecer.
Quando eu cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi atravessar a rua e ir atrás da Celine.
— Você pode abrir pra mim por favor?
Porteiro: O senhor veio ver a Srt. Celine?
— Sim, quem mais poderia ser?
Porteiro: Sinto muito, mas recebi ordens dela pra não permitir a entrada do senhor.
— Você está falando sério?
Porteiro: Sim, porquê eu inventaria isso?
A ironia na voz do porteiro deixou claro que ele não havia gostado da forma como eu falei, e ele tinha razão, eu estava sendo extremamente arrogante.
— Me desculpe pelo estresse, você pode pelo menos interfonar e avisá-la que eu estou querendo falar com ela?
Porteiro: Ela também pediu pra não interfonar caso fosse você.
Eu fiquei encarando o porteiro me sentindo um completo derrotado, mas acabei aceitando a derrota e fui pra casa.
Eu tirei o celular do bolso e liguei pra única pessoa que poderia me ajudar e que independente de qualquer coisa, não iria recusar minhas ligações.
Karen: Eu não deveria estar te atendendo.
— Pelo jeito, a Celine já conversou com você.
Karen: O que você quer Kyle?
— Quero conversar com a Celine, mas ela não atende e barrou a minha entrada no condomínio.
Karen: E com razão né cara? Você ficou de pau duro no meio da universidade com uma vagabunda que a Celine odeia, e nem lembrou que agora é um homem comprometido? Dessa vez não dá pra te defender kyle.
— Eu não quero defesa, eu só quero que a Celine me escute.
Karen: Ela não vai escutar, e você pode se considerar um homem solteiro, fim de linha pra você.
— Como assim? Ela te falou isso? Você está falando sério?
Karen: Eu vou desligar Kyle.
— Karen, nós somos amigos, você não vai desligar sem me explicar isso direito não é?
Karen: A Celine é minha amiga, você perdeu essa posição quando foi um filho da puta com ela, agora somos dois desconhecidos, e eu não quero que a Celine sofra por um homem que não respeita a mulher que ela é, e não me ligue mais kyle.
Ela desligou, e eu fiquei olhando pra tela do celular feito um completo idiota, que havia perdido a namorada.
— Solteiro! Eu estou solteiro!
Falar aquilo em voz alta me deixou deprimido, e o pior, me deixou totalmente fora de mim.