Capítulo 6
- Sim, de uma vez por todas... - Cristina Ade se forçou a sorrir, tentando ignorar a tensão que havia diminuído de repente.
Ela tentou acrescentar algo, mas descobriu que ele havia parado de olhar para ela e estava olhando para o telefone, ou melhor, para a mão que o segurava, a que tinha o anel de noivado.
- Acho que devo parabenizá-lo... -
Eu não sabia o que dizer, tudo havia se tornado muito embaraçoso e estranho.
Ela poderia superar a visão de seu ex-namorado e agir normalmente, mas falar com ele sobre seu casamento poderia ser demais.
"Não... não, quero dizer, obrigada", ela murmurou palavras incoerentes, esperando que ele entendesse que era hora de se despedir e poupasse os dois de mais constrangimentos.
- É estranho, mas eu verifiquei meu e-mail até hoje de manhã, talvez meu convite tenha se perdido? -Pietro perguntou ironicamente, sorrindo, sem perder a calma.
- I... -
O convite dele... o convite era esse. Ele estava localizado no Corso Einaudi, em Turim. Ele não tinha tido coragem de enviá-lo.
Gianluigi havia lhe dito que ela poderia convidá-lo, Pietro, para o casamento; ela não sabia de toda a história, mas a manteve, como sempre. Cristina Ade pensou que poderia fazê-lo, que poderia se casar com Pietro a poucos metros de distância dela, talvez olhando para ele, colocando diante de seus olhos o que havia perdido.
Ela achava que já tinha superado tudo, mas quando chegou a hora de enviar os convites, algo a impediu. E ela disse a si mesma que isso era normal, porque as pessoas não convidam seus ex-namorados para casamentos, exceto o Príncipe Harry.
Ela achava que tinha tomado a melhor decisão ao colocá-lo na gaveta embaixo da escrivaninha, mas, naquele momento, na frente dele, sentiu-se culpada, porque, afinal, eles nunca seriam apenas ex-namorados.
Pietro percebeu o desconforto dela, então se aproximou e colocou a mão em seu ombro. - Ei, não se preocupe, você não me deve nenhuma explicação. Eu estava apenas brincando. Estou feliz por você, Adela. Estou falando sério. -
Ela deu um pulo para trás, afastando-se do toque dele, e Pietro baixou o olhar: "De qualquer forma, estou feliz por vê-la novamente.... De verdade. -
- Sim, bem, me desculpe, mas eu realmente tenho que ir agora. O Federico já deveria ter saído do trabalho e eu queria fazer uma surpresa para ele, então... -
Seu primo Frederick deveria voltar naquele dia, ele teria terminado às seis horas. Era melhor ele se apressar, já que teria que chegar à prefeitura a pé.
- Ah, você tem que ir ao Federico, por que não disse logo? Eu levo você, eu passo lá", ofereceu Pietro, com uma mão já no carrinho lilás de Cristina Ade.
- O quê? Não, não, eu vou a pé, não se preocupe. É perto. -
- Vamos lá, Adé, você tem que arrastar isso para a praça? Aceite minha ajuda e não seja difícil, afinal sou só eu. - .
O problema, no entanto, estava lá: era apenas ele.
Ele nem teve tempo de responder, pois já estava se dirigindo ao carro.
"Afinal de contas, sou só eu."
Cristina Ade simplesmente o seguiu, sem especificar que ela já havia arrastado o carrinho para casa naquela manhã.
Afinal de contas, era apenas uma passagem.
Afinal de contas, era apenas ele.
Ele entrou no Polo verde-garrafa e inalou o cheiro que permeava todo o interior da cabine: tinha cheiro de peixe recém-pescado, Arbre Magique com pinheiro silvestre pendurado no espelho retrovisor, tudo misturado com o perfume inconfundível de Pietro ....
E ele sentiu novamente o mesmo calor familiar daquela manhã na pista do aeroporto de Palermo, de quando se sentou no bar e pediu um suco, de quando entrou em sua antiga casa.
- Então você chegou hoje? -perguntou Pietro, colocando o carro em marcha, mas Cristina Ade levantou uma sobrancelha e piscou para o cinto de segurança.
- O que é isso? ele disse sem entender.
- O cinturão. -
- Está falando sério? Vamos lá, são apenas alguns metros e não há ninguém lá a essa hora. O que você entenderá, mesmo que houvesse, não estamos em Turim. -
- Coloque-o ou vou sair e caminhar. Você sabe que não estou brincando. -
Pietro bufou e fez o que ela disse. - Muito bem, polenta, às suas ordens. -
Cristina Ade sorriu forçosamente: - Vou fingir que você não disse isso. E, a propósito, sim, eu cheguei esta manhã. - Ela apoiou o braço na beirada da janela abaixada e olhou para fora. Embora a situação fosse incrivelmente familiar, por outro lado, a percepção de que ela estava tão perto dele em um espaço tão pequeno a deixou um pouco nervosa.
- Eu vi seu primo ontem, mas ele não me disse nada. -
- Na verdade, a ideia era chegar aqui, primeiro comer um brioche com suco, tomar um banho e depois aparecer na casa da minha tia com quatro pizzas que o Enzo havia trazido diretamente dela e surpreender a todos. Mas os planos mudaram: minha casa está um desastre. A caldeira está quebrada, a água sai laranja das torneiras, o medidor de eletricidade não dá sinal de vida, nem a televisão. E minha mãe vive me contando sobre uma agenda de couro fantasma com os números do eletricista e do encanador, mas, na minha opinião, ela não existe. Ah, e como se isso não bastasse, quando tentei puxar a persiana do banheiro, eu a quebrei, quer dizer, não acho que tenha sido eu, mas a coisa que está lá dentro, aquela que você joga no final, se desgastou completamente e caiu. E agora eles saberão que estou aqui de qualquer maneira. Todo mundo sabe tudo sobre todo mundo: ele disse tudo de uma vez, quase sem respirar entre uma frase e outra, gesticulando teatralmente com as mãos.
Pietro balançou a cabeça, sorrindo. - Muito bem. Agora você pode voltar a respirar, desde que não tenha mais nada a acrescentar", comentou divertido, ainda mantendo os olhos fixos nas ruas estreitas.
- Bem... era para conversar. -
- Isso geralmente envolve uma pergunta e uma resposta, caso contrário, é chamado de monólogo. -
- Mas você sempre foi tão irritante? E então podemos saber para onde estamos indo? O município está na parte de baixo, não na parte de cima. -
Pietro olhou para ela: "Eu não sabia que ainda tinha esse efeito sobre você".
Cristina Ade se remexeu em seu assento. - De que efeito estou me desculpando? -
Pietro buzinou para cumprimentar um conhecido e Cristina Ade, surpresa, deu um pulo, fazendo-o rir: - Você está nervoso, quando está nervoso fala com uma máquina, mais do que o normal, para evitar silêncios constrangedores. E aí você faz um gesto como uma atriz e move a linha da direita para a esquerda e depois a deixa no meio. Eu ainda a intimido assim? -
Ele olhou para ela novamente, maliciosamente, apreciando sua expressão de espanto.
- Sim, não, isso é... não. - Cristina Ade mordeu a parte interna de sua bochecha e tentou se acalmar, por que ele tinha que conhecê-la tão bem?
Em um gesto involuntário, ela levantou uma das mãos, levou-a até o cabelo e imediatamente a retirou, escondendo-a sob as coxas.
"Você está se achando demais", concluiu ele finalmente. "E você ainda não me disse para onde estamos indo. Federico trabalha na prefeitura, na praça. No andar de baixo. -