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Capítulo 4

Capítulo 4

Um dia por vez...

O dia foi cansativo, tanto que não tem ânimo para sair a noite, então senta com os demais perto da fogueira e escuta o Dito contar outra história inédita.

— Essa história vai fazer vocês tremerem de medo...

— É de lobisomem? — perguntou a esposa de um dos peões.

— Não... É uma história um tanto quanto estranha... É sobre um xerife do Velho Oeste, um homem muito temido em sua cidade, por sempre manter a ordem e o respeito. Cada arruaceiro era tratado como devia, os ladrões eram mortos ou presos, um certo dia, depois de horas e horas de trabalho, o Xerife foi em uma taberna tomar uma dose de absinto. Uma mulher estranha, mas muito bonita, pede para ele dormir com ela. Como estava muito cansado ele negou, depois dessa noite, o xerife nunca mais foi visto. Anos depois...

Tiago fica impressionado com a história e não perde um detalhe, como seu vinho quente acabou, se levanta e vai até a cozinha pegar mais.

Entrando na área gourmet franze a testa vendo Cristina sua cozinheira conversando ao celular, sua voz está embargada. Preocupado, acaba escutando a conversa.

— Filha, por que está chorando? O que aconteceu, meu amor? Calma... Tente se acalmar... Se ao menos me dissesse o que você tem. É claro que pode vir meu amor, vou ver como seu pai e tentaremos comprar sua passagem amanhã mesmo... Não, deixarei você aí... Farei o possível para você vir amanhã mesmo... Está certo, até mais.

Cristina desliga o celular, passa o dorso da mão pelas lágrimas, está muito nervosa, nunca sentiu tanto desespero na voz da filha.

Tenta se recompor respirando fundo algumas vezes e olha para trás.

— Senhor... Precisa de algo?

— Me desculpe por ter escutado sua conversa, percebi o desespero em sua voz e cheguei a conclusão de que o assunto é sério. Amanhã mesmo eu consigo uma passagem para sua filha.

— Ah, Senhor... Muito obrigada... — diz Cristina segurando as mãos do patrão em agradecimento.

— Fique calma, seja o que for, está tudo resolvido.

Cristina sorri entre as lágrimas, está mais que agradecida por ter conseguido um bom emprego e um patrão melhor ainda.

Tiago pega mais um copo de vinho quente e volta para sentar perto da fogueira, infelizmente perdeu uma boa parte da história.

— Era um prédio enorme, acredito que tinha uns 50 andares, talvez mais. Tinha dois andares só para a área de marketing e mais dois para os jornalistas mais importantes. Karina era o nome da repórter mais famosa de lá, ela foi escalada para descobrir o que aconteceu com o Xerife, ela nunca acreditou em fantasmas, então achou que o trabalho seria exercido por ela com excelência...

Após a história se recolhe ainda pensando em Cristina e sua filha.

***

No dia seguinte, a primeira coisa que Tiago faz é ir para o escritório fazer algumas ligações para conseguir a passagem da jovem.

Pega do bolso da calça o papel que Cristina lhe deu com o nome e os dados da jovem e os lê antes de passar os dados para seu agente de viagem.

Fica calado por um momento, apesar do sobrenome ser diferente, sente um baque no coração ao ler o nome: Luciana Lima da Silva.

Bufa exasperado, tinha que ser Luciana o nome da jovem, esse nome praticamente o assombra há um ano.

Consegue a passagem para a jovem e avisa os pais a hora que ela irá chegar no aeroporto nesse mesmo dia.

— Muito obrigado, patrão. Estava muito preocupado com a minha garota.

— Tire folga após o almoço para ir buscar sua filha, se precisar pode ir no meu carro.

— Muito agradecido patrão, mas posso ir no meu carro.

— Venha, meu querido! — Cristina puxa o braço dele até a mesa. — Tome seu café da manhã. Os outros estão alimentandos, e trabalhando.

— Obrigado, estou faminto — diz olhando para o banquete à sua frente enquanto se senta.

***

Dito começa a contar novamente o feno, assim que chega no número cinquenta do seu lado esquerdo alguém entra fazendo ele perder as contas novamente.

Nervoso, tira o chapéu da cabeça e o joga no chão o chutando em seguida.

— Cacete eu estava no fim, agora vou ter que contar tudo de novo — diz cruzando os braços indignado.

— Tio, desculpa — diz Antônio, um adolescente que aparenta ter uns 19 anos.

— Tá desculpado garoto. Agora sai daqui porque preciso me concentrar.

O jovem sai sorridente do celeiro indo direto para o estábulo ver os cavalos, depois segue para o cocho ver se os animais têm ração.

— Onde eu estava? Droga, vou ter que começar tudo de novo! — Dito tira o chapéu do chão e o coloca na cabeça.

Começa a contar, dessa vez consegue terminar sem nenhuma interrupção, quando pensou que tudo estava em seu devido lugar observa um feno que só Deus sabe como foi parar ali, fora do lugar.

— É só colocar ele ali e estará tudo resolvido... — fala para si mesmo pegando o feno.

Ao levantar suas costas não acompanha o movimento, fazendo ele sentir uma dor intensa.

— Ah! Que dor meu Deus! Jesus, Maria e José me ajudam!

Tiago passa a cavalo na frente do celeiro quando escuta o pedido de ajuda desesperado do Dito.

— Tio? — o chamou ao entrar.

— Estou aqui, me ajuda, rapaz, eu travei. Me sinto vulnerável nessa posição.

Tiago sobe e encontra Dito agachado com um feno caído do seu lado. O ajuda a levantar, o mesmo geme até ficar ereto.

— Vou te levar ainda hoje ao médico. Acredito que algumas injeções darão um jeito nessas dores.

— Não! Injeção não garoto... Ai meu Deus!

— Não se fala mais nisso. Você vem comigo agora.

— Ei, calma aí. Não empurra, tô sensível...

— Desculpa.

Tiago leva Dito para ser consultado na cidade. Após uma demora de aproximadamente duas horas, ele sai com uma perna boa e o lado que tomou as injeções está se arrastando.

— Garoto, você me paga! Cheguei aqui todo lascado e estou voltando pior.

— Calma, o médico disse que até a noite estará bem melhor.

— Espero que sim, pois estou só o bagaço da laranja.

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