Capítulo 5: Juntas outra vez
Entro numa das salas correndo e vejo um idoso abraçando ela.
— Me tira daqui, ele está maluco!
— Tem calma se não vai assustar ele! — Digo me aproximando.
— Ele pensa que eu sou a mulher dele, ele tentou me beijar e você me diz para ter calma?
— Ela não é a sua esposa Sr. Tomas, é só uma amiga!
— Então onde está a minha mulher? Eu quero a minha mulher! — Ele grita largando a Natanny e começa a bater na mesa... — Onde vocês esconderam a minha mulher? Eu quero a minha mulher! — Ele começava a chorar e batia na cabeça com a mão... — Tiros, cuidado com os tiros, tem bombas por todo o lado eles vão matar vocês! — De repente os enfermeiros chegam, nos empurram para fora da sala e fecharam a porta.
— O que foi aquilo?
— Eu disse para você ficar do meu lado!
— Eu só quis ver...— Tem salas que são restritas, não pode entrar sem autorização de um pessoal autorizado, há pacientes em estado grave, você podia se magoar e deixou o Sr. assustado!
— Okay mas... — Mas nada, simplesmente faz o que eu digo e tudo vai correr bem! — Continuei a andar e ela seguia os meus passos até terminarmos a visita de hoje...
Obrigada pelo seu tempo, nos vemos no próximo sábado! — Ela diz guardando os seus documentos.
— Desde que não me lixes a vida, vai correr tudo bem...
Eu acompanho você até à saída!
— ...O que aconteceu com aquele Senhor que pensou que eu fosse a mulher dele? Ele é doido?
— Ele tem Alzheimer à 4 anos, a sua esposa era diabética e faleceu ano passado desde então ele tem mostrado comportamentos esquizofrênicos, todos os seus traumas do passado surgem a qualquer momento e ele age como se estivesse a reviver aquele momento principalmente as guerras que aconteciam no seu país de origem...
— E os filhos?
— Desconhecidos... muitos dos pacientes não têm filhos e outros nem sequer lembram dos rostos dos filhos porque eles não aparecem para visitar.
— Isso deve ser horrível!
— É horrível, acredite...— E porque está trabalhando aqui?
— Eu não quero falar sobre isso!
— Por quê?
— Está entregue, até a próxima visita!— Digo lhe deixando na porta e indo embora...
Depois de terminar o meu trabalho, vou arrumar as minhas coisas quando recebo uma mensagem da Liz: "Almoço no mesmo sítio?"
Abro um sorriso, pego nas minhas coisas e vou correndo ter com eles...
…
— Pensei que já não viria, demorou uma eternidade!
— Ainda trabalho, esqueceu?
— Mas porque ainda está aí? Seu castigo terminou faz tempo!— Stev comenta.
— Eu eu gosto de estar lá, ver aqueles idosos me faz querer aproveitar mais a vida... eles contam histórias incríveis e eu gosto de cuidar das finanças!
— Pode cuidar das finanças das empresas dos seus pais!
— Credo, para ficar igual à eles? Nunca têm tempo para viverem a vida, passando horas numa sala, telefonemas chatos, nem conseguem aproveitar o que tento lutaram para ter ou pelo menos sentar no sofá da própria casa e perguntarem como está a vida da filha... sinceramente eu rezo muito para não ser como os meus pais!
— Você faz questão de deixar isso bem claro!
Já tentou lhes ver de uma outra forma?
— Vamos mudar de assunto, por favor... o que eu menos quero agora é falar sobre o meu relacionamento com os meus pais!
— Okay, falemos sobre o seu aniversário, já tem planos?— Eles perguntam.
— Não, ainda faltam uns meses para esse dia, mas provavelmente será encher a cara em algum bar e confirmar o que as pessoas já acham.
— O que elas acham?
— “Que Ellionora Gasper é a filha inconsequente que gasta o dinheiro dos pais fazendo bosta!”
— Dane-se o que as pessoas acham, não são eles quem pagam! — Stev comenta dando um gole no suco.
— Isso mesmo, dane-se o que eles pensam, vamos encher a cara, beber todos juntos, dar uns 18 shots de vodka e espalhar o terror... preparem os estômagos! — Anuncio animada.
— Eu estou sempre preparado!
— Eu também! — Eles respondem e começamos a rir... passamos a tarde toda juntos, no final do dia deixamos a Liz em casa e depois Stev me leva até casa...
…
— Elli, sobre o que aconteceu ontem em casa da Liz, eu não quis... — Está tudo bem Stev, não aconteceu nada!
— Mas você não quer falar sobre aquilo?
— Não podemos falar sobre algo que não aconteceu, vamos esquecer o que estava para acontecer para não tornar o clima estranho, okay?
— Como queira!
— Até segunda então! — Dou um beijo na bochecha dele, saio do carro e vou para casa…
Entro e encontro os meus pais conversando com o Sr. James...
— Boa noite... estão dando alguma festa de pijama dos pais, ou algo assim?— Digo no deboche.
— Estávamos a sua espera! — Diz o meu pai.
— O que está havendo? Eu não aprontei nada!
— Eu e o seu pai vamos viajar!
— Está bem, façam boa viagem e… nos vemos daqui à uns dias! — Respondo com um ar despreocupado enquanto enchia o meu copo com água.
— Não é bem assim filha…
— Semanas?— Pergunto.
— Eu e o seu pai partimos esta noite para Austrália e vamos ficar lá durante 6 meses!
— O quê? — Grito quase me engasgando.
— Você está bem? — Sr. James pergunta já preocupado.
— Eu estou bem… 6 meses?
— Já sabe como é... coisas do trabalho!— Meu pai responde.
Meus pais são empresários, eles comandam uma das empresas mais famosas de tecnologia do nosso país, desde pequena que eu os vejo a trabalharem duro para chegarem onde estão hoje e claro que nunca foi fácil para mim não tê-los por perto quando mais preciso e ter de ouvir as pessoas praticamente me obrigando a ser a segunda versão deles e me julgando por preferir viver a vida do que estar fechada em uma sala de reuniões...
A desculpa deles é sempre a porcaria do trabalho e nunca têm tempo para mim mas quando é para me cobrarem coisas eles arranjam sempre um tempo.
— Já pararam para pensar como eu vou ficar aqui? Caso não se lembrem, vocês têm uma filha... e se estão considerado uma mudança repentina, a minha resposta é não! Eu não vou para Austrália com vocês!
— Filha… — Okay já percebi... eu não me importo de ficar aqui sozinha, vou cuidar da casa como se fosse minha!— Digo num tom irônico.
— De jeito nenhum…
Você vai ficar em casa do Sr. James!
— O quê? Claro que não, se for assim eu prefiro ir com vocês!
— Não pode ir connosco, isto não é uma viagem de férias!
— E porquê que eu não posso ficar aqui em casa sozinha, sou alguma criança por acaso?
— Não é isso, é que... — Então o que foi? Tenho quase 18 anos, consigo cuidar de mim!
— A gente não pode deixar você aqui sozinha!
— O que estão pensando, que eu vou fazer da casa um motel ou uma discoteca? Eu não sou a adolescente irresponsável que vocês pensam...
— São preocupações de pais...— Mas quando é que vocês vão parar de me tratar como uma criança? — Grito.
— Quando para de agir como uma!— Meu pai grita também.
— Quando é que vocês vão confiar em mim e deixar de pensar que eu sou uma adolescente imatura que suga o vosso dinheiro?
— Não é uma questão de confiança, é proteção!
— Então me meterem em casa do nosso vizinho por 6 meses é proteção? Sr. James você aprovou uma coisa dessas? — Pergunto olhando para ele e ele confuso sem saber o que dizer.
— O James não é nenhum estranho!
— E eu sei muito bem cuidar de mim...
Se vocês estivessem mais tempo em casa notariam que eu tenho maturidade suficiente para ficar aqui sozinha até porque mesmo com vocês aqui é como se eu estivesse sozinha! — Respondo saindo de casa irritada, minutos depois ouço a voz do Sr. James no fundo da rua.
— Ellionora... Ellionora! — Ignorava a sua voz e continuava a andar, ele corre mais depressa e se põe na minha frente.
— Me deixe em paz por favor!
— Agindo assim só vai dar motivos para eles continuarem a pensar que é uma criança...
— Na moral, nada contra o Sr. mas eu não me vejo ficando na sua casa por tanto tempo, principalmente com a sua filha que nunca me tratou bem!
— Eu percebo mas tenta perceber... — Nada do que vocês me dizerem vai me fazer mudar de ideias.
— Okay e se a gente fizesse um acordo?— Ele pergunta olhando no fundo dos meus olhos.