Capítulo 5
Uma porta;
Uma batida na madeira;
Algo quebrando.
Sempre prestei atenção suficiente para tentar descobrir qual era o som.
Sem saber exatamente por quê.
Seja para minha segurança ou de um dos meus pais.
Meu olhar pousou em um escorregador atrás da pia do banheiro e ficou lá por longos segundos.
Eu deveria ter deixado cair antes de sair para a festa.
Peguei a lâmina com cuidado, girando-a entre os dedos.
Eu a examinei antes de puxar meu vestido um pouco mais para cima.
Olhei para as cicatrizes nas minhas coxas e comecei a contar.
- ... ... , , , , ... , , , , ... - A contagem continuou em silêncio, mesmo quando novos ruídos foram ouvidos. - , , , , , .
Quando cheguei à última cicatriz, não tão curada, coloquei a lâmina.
A batida desta vez foi na porta do meu quarto e em questão de segundos revelou a imagem da minha mãe furiosa.
*cena retrospectiva*
O som de Aubrey fechando e trancando as janelas com o que parecia ser um cadeado me trouxe de volta, e também foi saudado pelo olhar preocupado de Niani.
- O que acontece se eu quiser abrir a janela? - Niani perguntou com raiva.
A resposta de Aubrey foi fechar a porta.
O silêncio se instalou na sala e percebendo que ainda estava com os braços cruzados, descruzei-os.
Niani se aproximou de mim, pegando meus braços e prendendo minha atenção com o carinho suave que fazia com os dedos.
Eu não gostava de abraços, ela sabia disso.
Então, ele encontrou outras maneiras de me confortar.
- Você não vai se perder. - O sussurro.
Pecado.
Enquanto crescia, ouvi de várias bocas não tão bonitas que eu era um pecado com pernas.
Eu não sabia se deveria considerar isso um elogio ou uma forma de me chamar de “feio pra caramba”.
Mas sou um amor, então só restou a outra opção.
Todas as bocas que me chamavam de pecador, gritando que eu era um monstro, eram piores que eu.
Eles se esconderam com ódio, dizendo que estavam enojados comigo pelas coisas que fiz, mas que eram os maiores pecadores.
Uma batida na porta da sala de aula me fez parar com a escova na mão.
Este era um quarto abandonado que acolhi como se fosse minha própria filha.
Não faria sentido alguém me encontrar aqui.
Ficava em um dos prédios mais distantes da escola.
Preparando-me, me virei, apenas para encontrar uma porta já entreaberta, que eu não tinha ouvido abrir, e um garoto curioso na porta.
James.
Esse filho da puta está me assediando?
- O que você está fazendo aqui? - Levantei-me do banquinho e caminhei em direção a ele feito um louco.
- Estou perdido. - Ele disse a título de explicação, fechando a porta.
- Meu filho, você está sempre perdido. - Estreitei os olhos. - Ele parece cego em um tiroteio.
- Por favor, largue a escova. - Ele perguntou e só então percebi que ele segurava o pincel como se fosse uma faca pronta para matar uma galinha.
James não era uma galinha tão feia.
- Não é possível um ser humano estar tão perdido quanto você. - Continuei apontando o pincel para ele. - Nem uma criança é assim.
- Você está dizendo que uma criança é mais esperta que eu? - Ele ergueu uma sobrancelha, incrédulo.
- Eu falei. - Eu me aproximei. - Porque é isso que parece. Você estava no dormitório feminino há algumas horas e agora está aqui nas primeiras horas da manhã. Você ao menos encontrou seu quarto? - eu ri incrédula.
- Na verdade, eu encontrei. - Ele se afastou da parede e se aproximou de mim. - Mas aquela garota que estava com você se aproximou de mim e me convidou para ir ao quarto dela.
- A baixinha, cheia de ódio na alma e com cara de bebê? - tentei confirmar, sem acreditar.
- Não, o outro. - Ele esclareceu e meus olhos se arregalaram.
Filha. De. Hum. Bolsonaro.
-Aubrey? - Abri um sorriso incrédulo.
- Esse é o nome dele? - Ele parecia confuso.
- Ele te chamou para o quarto dele e...? - Resolvi saber de todas as fofocas.
Fofoca quente é meu alimento diário.
Mesmo no escuro, as bochechas de James estavam vermelhas e de repente ele parecia incapaz de fazer contato visual.
Só melhora...
- Diga-me, lindo garoto. - perguntei a ele e ele me olhou imediatamente.
- Você pode largar essa escova, por favor? - Ele perguntou mais uma vez, agora estreitando os olhos.
- Você promete me contar o que aconteceu? - Eu concordei.
- Promessa. - Ele alternou o olhar entre o pincel e os meus olhos com medo.
Larguei a escova, coloquei um sorriso angelical no rosto e fui embora.
- O que você fez no quarto dele? - Inclinei a cabeça para o lado e James respirou fundo antes de responder.
- Quando entrei, ela... me pediu para sentar. - Ele franziu a testa.
- Em seu pau grosso? - Abri bem os olhos fingindo estar surpresa.
Os olhos de James se arregalaram imediatamente e eu segurei um sorriso, notando suas bochechas rosadas.
- Na cama. - Ele corrigiu sem jeito.
- Que chato. - Sentei no meu banquinho, desejando que fosse um pau.
Esse ato fez com que James diminuísse a distância entre nós e se aproximasse, sentando-se na mesa ao lado da minha.
Aposto que ele queria que fosse um bilau também.
- Ela, do nada, tocou uma música, e não era evangélica. - Ele me olhou como se isso fosse uma catástrofe, o que me fez sorrir com todos os dentes.
- Abominável. - Eu sussurrei.
- Ela... se aproximou...
- Fala, cara!
- Ele subiu em cima de mim.
Que garota sacanagem.
Me julgando e fazendo a mesma coisa pelas minhas costas.
Vou guardar para ele um lugar agradável e quente no inferno.
No colo do diabo, já que ele gosta muito de subir em cima das pessoas.
- E o que fizeste? - Levantei-me do banquinho e me aproximei de James, forçando-o a erguer o rosto para que pudesse olhar para mim e manter o contato visual que ele parecia tanto precisar agora.