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Capítulo 6

— Não sei amor.. não sei.. — Levantei lentamente a saia mas parei imediatamente ao ouvir alguns assobios vulgares. Virei o rosto naquela direção e vi uma dúzia de soldados em uma carruagem completamente diferente olhando pelas janelas. Apertei as roupas com muita vergonha, mas não desanime.

— Vamos, levanta essa maldita saia, puta! Vamos ver isso! — Alguns deles gritaram. Cadela? Ei? Eles estavam brincando. Cerrei minha mandíbula com força e fechei meus lábios em uma linha dura. Eu não deveria permitir que minha voz fosse vulgar, não deveria me rebaixar ao nível deles. Ele pode até ter morrido, e por quê? Por algo tão sórdido, eu nem respondi. Minha mãe, porém, pegou minha irmã com muita rapidez e com olhos brilhantes elas voltaram para o trem.

— Venha aqui um pouco para se divertir, querido! Olha essas coxas e esse rosto! És uma deusa! — Outros, porém, ousaram ser viris. Tive vontade de vomitar, minha inocência chorou. Cerrei os punhos e olhei para eles novamente, com extrema dignidade. Foi só nesse momento que atrás dos homens em pé notei um homem sentado, com um chapéu especial no rosto. Era igual aos outros, mas com o emblema dourado. O que mais me chamou a atenção, porém, foi a enorme rosa colorida tatuada em seu pescoço. Ele estava dormindo e eu não conseguia ver nenhuma característica em seu rosto, exceto sua mandíbula forte e afiada. Rastejei até me esconder, me aliviei, depois endireitei a saia e saí da parede. Passei por aquelas feras e tirei o cabelo dos ombros em sinal de superioridade.

-Oh oh! — Gritaram ao sinal claro de desafio. Não fiz mais nada, voltei para a carruagem e me acomodei muito mais leve e relaxado. Os soldados se aproximaram novamente, os mesmos dois de antes. O tenente húngaro passou entre nós com um cesto e recolheu os últimos bens de quem já não queria sentir o sabor amargo da coragem. Não nos restava nada além da nossa dignidade.

- São oitenta de vocês em cada carro, se faltar algum eles vão atirar em todos vocês como cachorros. — Essas foram as últimas palavras do policial, depois fecharam novamente as grades e saímos novamente.

Tal como o soldado havia previsto, naquela mesma tarde chegamos a uma nova estação. Quem estava perto das janelas estava lá e disse o nome: Auschwitz. Ninguém nunca tinha ouvido falar dele. O trem não partiu. A tarde passou devagar e então as portas da carruagem se abriram. Dois homens poderiam descer para pegar água. Quando voltaram, disseram que conseguiram descobrir qual era a estação de chegada. Eles teriam nos libertado. Havia um campo de trabalho lá. Boas condições. As famílias não seriam separadas, ou pelo menos estávamos convencidos disso. Apenas as crianças iam trabalhar nas fábricas, os idosos e as crianças cuidavam dos campos. Por um momento, respiramos aliviados. Ficamos no comboio por mais algumas horas e então, depois de comer alguma coisa, a Sra. Acender começou de novo.

- Fogo! Olhe para lá! — Com um sobressalto corremos em direção à janela. Nós acreditamos nele, mais uma vez, mesmo que apenas por um momento. Lá fora, porém, não era mais seguro à noite. Dessa vez vimos chamas, chamas reais saindo de uma chaminé em direção ao céu negro. Um cheiro nauseante encheu o ar e tive que cobrir a boca com uma das mãos para não vomitar. Eram nove da noite e tínhamos chegado a Birkenau.

Vanda

No carro estavam os objetos queridos que trouxemos para cá e com eles, no final, nossas esperanças. A cada dois metros um SS estava pronto para atirar, apontando sua metralhadora para nossos rostos. Segurei as mãos de Zack e de minha mãe, inevitavelmente criamos uma corrente humana, apertada entre os dedos um do outro. Um soldado SS se aproximou de nós com um bastão preto nas mãos e, com medo, apertei ainda mais a mão do meu namorado.

—Homens de direita, mulheres de esquerda! —Palavras ditas com calma, com indiferença, sem qualquer emoção. Meu coração tremeu violentamente enquanto toda a minha família não hesitou nem por um segundo em se separar. Nós não queríamos isso de jeito nenhum. Não conhecíamos nada nem ninguém, um lugar totalmente novo. Pelo menos queríamos ficar juntos, mas sabíamos que no final eles não nos abandonariam. Infelizmente homens e mulheres foram separados. Alguns se rebelaram e foram punidos. Meu pai ficou preso no local sem saber o que fazer, não queria nos abandonar, assim como a família do Zack. Ouviram-se alguns tiros de metralhadora que nos fizeram pular muito alto. Olhamos naquela direção e notamos horrivelmente o cadáver de um homem cuja vida acabava de ser tirada. Sua esposa chorava desesperadamente segurando seus filhos. Eles também foram levados e os gritos de agonia desapareceram gradualmente. Eu tremi. Foi assim que meu pai deu um beijo na boca da minha mãe e um beijo na testa em cada um de nós, exceto no meu irmão que o seguiu. Meu irmão Lohan beijou minha mãe e minha irmã, depois me abraçou forte em seus braços enormes, inalei seu cheiro como se fosse a última vez, acariciei seu rosto e alguns soldados os levaram junto com um grupo. Olhei para Zack com lágrimas nos olhos, não queria que isso fosse um adeus, apenas um adeus.

— Eu prometi a você que nos casaremos e teremos nossa própria família, minha pequena... tudo ficará bem, seja uma boa menina e não desobedeça seus superiores... Por favor, espere, eu te amo. —E ele me beijou, parecia que foi a última vez, talvez fosse assim. Apertei sua mão enquanto minha mãe carregava a mim e minha irmã em prantos, meus dedos escorregaram suavemente dos dela, nunca mais o vi. Eu nem tinha me despedido da família dele, não deu tempo. Chegou o momento em que abandonei minha família. Tudo aconteceu tão rápido que ele nem teve tempo de pensar. Minha mãe me agarrou pelo pulso e minha irmã, assustada, do outro lado. Numa fração de segundo vi meu pai e meu irmão desaparecerem diante dos meus olhos, a mão deste último nos cabelos do homem que nos criou com tanto amor e nos deu a vida. Continuei marchando com as mulheres, gritando a torto e a direito, caos. Na minha cabeça só tinha o pensamento de não desistir, de não ficar sozinho. A voz dos soldados soou mais uma vez, poderosamente. Ruim.

- Força! Fique em fileiras de cinco! —Foi tudo um tumulto, então fizemos. Pouco depois, uma garota se aproximou de mim vestindo um estranho pijama listrado. Só quando estávamos dentro do local é que percebi que todos estavam usando. Talvez fosse o uniforme de trabalho dela. Eu fiz uma careta para ela, ela nunca tinha parado de olhar para mim.

- Quantos anos você tem, garota...? —Ele sussurrou, certamente não conseguia falar normalmente, ninguém tinha permissão para isso. Abracei minha mãe com mais força enquanto marchávamos incansavelmente em uma direção desconhecida. Não confiei em ninguém, mas naquele momento achei certo relatar o que a morena estava perguntando.

- Dezesseis. —Eu imediatamente o interrompi. Ele cerrou os dentes.

— Não. Você tem dezoito anos. Eu fiz uma careta, suspeitando que ele tivesse me entendido mal.

- Não me entende? Eu disse dezesseis. — Murmurei e então olhei para as estrelas da noite. Era noite, noite profunda. Eu não tinha certeza da hora, mas presumi que fosse tarde.

—Escute o que estou lhe dizendo, estúpido. Você tem dezoito anos, sua mãe tem quarenta. Entendido? Mas sua irmã não pode mentir. —Ele falou muito baixo, sua voz estava cansada e quente e era difícil para mim até ouvi-la. Tomei isso como uma ajuda da parte dela, balancei a cabeça rapidamente, um pouco intimidado, depois não a vi mais. Ela desapareceu na noite, logo depois outra mulher, vestida com o mesmo uniforme, se juntou a mim.

— Você deveria ter escapado a tempo, estúpido. Você não deveria ter permitido que os soldados o arrastassem até aqui, você sofrerá as consequências. Todo mundo sabe o que acontece aqui em Auschwitz. —Ela falou da mesma forma que a primeira, só que a mulher era ainda mais velha que a primeira, eu poderia jurar que a primeira tinha mais ou menos a minha idade. Decidi responder a ele da mesma forma, mesmo que ele não estivesse falando comigo, mas com uma mulher atrás de mim.

—Você acha que viemos aqui por diversão ou por opção? Arrastaram-nos a todos para aqui, arrancaram-nos brutalmente das nossas casas, tiraram-nos tudo o que tínhamos e, pior ainda, separaram-nos dos nossos pais e namorados. — Não me virei, sussurrei da minha mesma posição, a mulher pareceu entender que estava com L consigo. Ele veio para o meu lado.

—Você vê aquela chaminé ali? Você vê? As chamas altas. É para lá que você irá. É o seu túmulo, resigne-se. Você ainda não descobriu onde está, eles vão te queimar até virar cinzas. —Fiquei quase histérica, olhei nos olhos dela e fiquei paralisada. Suas veias estavam rachadas, deixando o bulbo vermelho de sangue. Abracei minha mãe com mais força e daquele momento em diante ela não parou de chorar com minha irmã nos braços. A menina, por outro lado, não disse uma palavra. Ele estava com a cabeça apoiada nos seios do salva-vidas. Todos ouviram o que a mulher disse quando passamos pelo arame farpado e as portas se fecharam atrás de nós. Ficamos todos imobilizados, não tive coragem de falar, uma menina na minha frente teve.

- Algo deve ser feito. Não devemos deixar-nos matar, não podemos ir para o matadouro como animais. Precisamos nos rebelar. —Ela falou apressada, tinha medo de ser ouvida, dava para perceber no tom de voz dela, nos movimentos dela. Havia alguns presos do sexo masculino bem construídos entre nós, mas eles não tinham permissão para se aproximar ou nos tocar. Algumas das mulheres, no entanto, esconderam alguns punhais ou facas nas calcinhas ou meias, dispostas a perder a vida para se rebelarem.

— Não podemos, ninguém pode. Já tentámos fazê-lo e alguns de nós foram pendurados de cabeça para baixo em caves e torturados até à morte. Pense em trabalhar e conservar forças, o general aqui é um verdadeiro canalha. —Minha irmã adormeceu nos braços de minha mãe, enquanto eu, por outro lado, persistia em conversar com a velha em voz baixa. Ele estava falando de um homem cruel, cujo nome e rosto não conhecíamos. Na nossa pele apenas uma enorme vontade de voltar para casa e o medo, um medo cego.

— Tem que ter cuidado, ele tem uma rosa grande tatuada no pescoço e todo mês ele volta aqui depois de visitar a família. Seus olhos são frios como a neve, frios como o inverno. Aqui é chamado assim. A mãe dela também trabalha aqui, ela é chefe da patrulha feminina. —Ele abaixou a cabeça e continuou andando ao nosso lado. Ele fingiu nos controlar, quando na verdade estava conversando comigo e com outras mulheres. Ele queria nos avisar, nos ajudar. No final éramos mulheres, com a nossa própria dignidade e sozinhas, sem os nossos homens. Era preciso agarrar-se um ao outro sem confiar muito, sob pena de traição e morte.

— Acho que vi no trem, enquanto descia para minhas necessidades pessoais, Um apelido... o quê? — perguntei corajosamente enquanto minha mãe silenciosamente me puxava para mais perto dela para me manter quieta. No entanto, uma falha grave na minha personalidade era a curiosidade. Às vezes eu simplesmente não conseguia deixar de pedir informações.

—O Soldado Invernal. -Eu estava tremendo. Um nome tão frio para um homem que talvez tivesse filhos e esposa em casa. Eu não o conhecia, mas ele já havia sido pintado como o pior dos seres humanos, prometi a mim mesma não deixar ninguém me manipular. Os soldados conversaram entre si. Insultaram-nos de forma desumana, sem qualquer atitude. Tive a coragem de olhar para cima para entender um pouco do que diziam. A mulher ao meu lado deu um tiro logo depois, chamada por alguns guardas, não tive coragem de me virar. Estávamos num espaço estreito, enquanto alguns de nós pararam porque nossas saias ficaram presas no arame farpado. Vi casas muito compridas mas com traços finos e fracos. Pareciam cair a cada sopro de vento, depois entramos pelas portas, acima das quais li uma escrita. .

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