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Capítulo 2

O olhei novamente pasma, eu não acho que tenha visto alguém tão bonito quanto ele por toda a cidade, talvez somente os condes chegassem tão perto assim. Será que ter um título atraia beleza?

— Entre, senhor — falei saindo do meu torpor, ele parecia estar acostumado com aquele tipo de reação e sorriu de lado. — Vou levá-lo até a sala onde estão. — Ele apenas maneou a cabeça e me seguiu.

— Até que enfim Arthur — O pai do rapaz se levantou indo em direção ao filho. Vi o olhar mortal que Antônio lançou a ele assim que seus pés pisaram a sala.

— Rose? — Dona Arlete me chamou e fui em sua direção. — Fique conosco hoje? — olhei assustada para Antônio que levantou a sobrancelha sem entender a mãe. — É sempre bom ter mais companhias femininas a mesa, não é meninas? — as irmãs de Arthur me olharam de cima a baixo e nada comentaram. Eu realmente não estava arrumada para uma ocasião como aquela. Tudo que eu queria era voltar para o quarto e velar o sono de Otávio.

— Não acho que seja prudente, senhora. Otávio pode acordar a qualquer momento. — falei tentando pedir ajuda a Antônio.

—Quem é a moça? — Arthur falou tentando matar sua curiosidade e de toda a família.

— Ela é irmã da esposa de meu filho mais novo, a única que conseguiu descobrir o que meu neto sentia. Cuida dele desde então. — Fiquei vermelha com a atenção recebida. — Rosely se dispôs a ajudar Antônio nesse momento tão difícil.

— Foi uma perda terrível, pobre Margareth, uma moça tão linda e jovem. — A mãe de Arthur falou e vi ele se remexer desconfortável na cadeira assim como Antônio. Os dois se encarando o tempo todo. — Vamos conhecer seu filho? — ela disse se animando.

— Otávio já está dormindo, presamos muito por esse período da noite. Ele teve muitas dificuldades em se adaptar ao horário correto de sono — falei não esperando por Antônio. Eu nunca o traria ali, era gente demais, com certeza ele não ficaria confortável e acabaria despertando, se irritando e quem ficaria a noite toda acordada seria eu. Todos os olhares continuaram focados em mim.

— Exatamente, podemos marcar durante o dia para que vocês o conheçam, Lady Bermon — Antônio respondeu a duquesa me olhando agradecido.

— Mesmo assim, insisto que fique aqui conosco — dona Arlete era persistente.

— Mamãe... — Antônio tentou persuadir.

— Venha, vou com você até a cozinha para ver se tudo está como deveria e já voltamos para cá — ela fingiu não ouvir o que o filho tinha a dizer e me levou para a cozinha.

— Tem que ficar no jantar — disse serena — Gosto da sua companhia, não tenho o que conversar com as outras — ri de sua explicação.

— Mas eu achei que eram grandes amigas — falei ironizando.

— Grandes amigas é demais, mas não tenho assunto e isso é frustrante. — Bianca estava terminado de montar os pratos e Luana já os levava até a sala de jantar.

— As filhas são mudas? — perguntei dando a última inspecionada em cada prato.

— Querem se casar o quanto antes e para não cometerem nenhuma gafe, não falam nos jantares. — Revirei os olhos — Não sei como pretendem arranjar algum marido assim.— eu e as meninas rimos do comentário da condessa. — Meu filho é um excelente partido, mas ainda tenho minhas reservas.

Nada comentamos, somente nos olhamos e continuamos a arrumação.

—Agradeço o convite, mas como pode ver estou simples demais para a ocasião.

— Está mais linda do que as duas emperiquitadas na sala. — Neguei com a cabeça.

— Senhora...

— Rosely, eu ainda estou pedindo. Se não gosta de sua aparência, te dou 10 minutos para se trocar, mas solicito sua presença. — Agora eu não tinha para onde correr. Subi as escadas até meu quarto e de ponta de pé procurei qualquer coisa para a ocasião. Se Otávio acordasse eu ficaria muito brava.

Saí do quarto e fui até o banheiro, consegui achar no escuro um vestido verde simples que era melhor do que o que eu usava naquele momento. Eu tinha trabalhado o dia todo, como a condessa poderia me comparar aquelas moças a mesa? Troquei rapidamente de roupa e passei uma água no rosto. Soltei meu coque e fiz uma trança lateral e calcei os saltos baixos que eram escondidos pelo vestido. Ao sair do banheiro me dei uma última olhada, mas pensei em ir até a cozinha antes para que as meninas confirmassem se estava tudo certo.

— Rose? — a foz imperiosa de Antônio correu até mim.

— Shiuuu, vai acordar o bebê — falei me aproximando dele.

— Por que se trocou? — ele me olhava de cima abaixo.

— Sua mãe não me deu muitas escolhas, senhor — falei com um meio sorriso. Ele sabia como ela era geniosa e não aceitava não como resposta. Nem mesmo os filhos conseguiam contornar as coisas que ela "solicitava".

— Eu imaginei quando percebi a demora de vocês e a volta dela sozinha para a sala sem anunciar o jantar. — Ele suspirou pressionando o centro dos olhos com os dedos. — Sinto muito por isso, eu não sei o que ela quer provar, mas não responda nada que não sinta vontade.

— Vou tentar me lembrar disso.

— Então vamos descer — ele me estendeu o braço e eu o admirei por um breve segundo antes de aceitar. Ele era extremamente gentil quando queria.

Todos da sala nos olharam assim que adentramos, a mãe de Antônio batia leves palminhas ao me ver e neguei com a cabeça rindo de sua reação.

— Viu, eu disse que essa moça era uma das meninas mais lindas dessa cidade. As outras são suas irmãs, uma já é minha nora e as outras duas ainda são muito crianças. — Vi as filhas do duque se olharem. Pareciam se comunicar sem dizer uma só palavra.

— Realmente é belíssima, nem mesmo na capital vi tamanha beleza. — Eu fiquei roxa e senti Antônio bufar baixo com o comentário do senhor Vasconcelos.

— Acho que está na hora de jantarmos — Antônio anunciou nos levando até a sala de jantar, puxou uma cadeira ao lado de sua mãe para que eu me sentasse e ouvi o risinho da condessa.

— As mocinhas não estão acreditando no que estão vendo. — olhei para as irmãs de Arthur que me fuzilavam com os olhos, mas o que me chamou realmente a atenção foi o olhar sugestivo que o filho do duque me lançava descaradamente.

Antônio se sentou na ponta da mesa e seu pai do outro lado. Eles eram os anfitriões e gostavam de ficar no poder, mesmo que o duque tivesse mais força que eles. Eu me sentia observada o tempo todo, até tentei não dar importância para isso, mas sempre que eu levantava a cabeça via os olhos do filho do duque me estudando e eu não sabia se isso era bom ou ruim, porque na mesma proporção os olhos de Antônio me seguiam.

Comi quieta sempre respondendo apenas o necessário, a verdade é que eu nem queria estar lá e se era para estar que fosse com o mínimo de exposição possível.

— Então Rose, o que faz além de cuidar do pequeno filho de Antônio? — a duquesa também me olhava com ar de interesse, deve ter percebido o quanto o filho me olhava.

— Estou auxiliando com os cuidados da casa, a governanta teve que se ausentar e está muito difícil encontrar outra.

— Sabe cuidar de uma casa? — ela questionou achando aquilo ainda mais interessante.

— Sim, senhora — resumi.

— Mesmo com Otávio tomando boa parte de seu tempo, ela consegue direcionar os funcionários de uma forma impressionante. —Antônio elogiou. Agradeci maneando a cabeça.

—Minha nora e Rose são mulheres completas, tem que ver os pães que elas fazem, as chamo de meninas mão de fadas. — Lady Dion falou pousando a mão em meu braço — Se eu morasse aqui comeria as roscas doces todo santo dia. — Eu ri com o seu comentário.

— Não seja por isso, posso mandar uma para sua casa todos os dias — falei pousando minha mão sobre a sua e apertando seus dedos — Tenho certeza de que me sobra um tempinho para fazer esse mimo a senhora.

— Ah menina, você sabe mesmo como fazer uma senhora feliz. — Olhei para Antônio e ele tinha um pequeno sorriso nos lábios.

— Além de linda é prendada, quais são as chances de um pobre rapaz conseguir um pouco da sua atenção? Adoraria levá-la ao circo que está na cidade. — Arthur soltou a bomba sem que ninguém esperasse — Ou a senhorita é comprometida? — Eu queria me esconder debaixo da mesa nesse exato momento.

— Ela tem muitos afazeres, não terá tempo de sair com você — Antônio respondeu mal-humorado.

— Não perguntei ao senhor e sim a ela. — Ele me olhava esperando que minha resposta fosse o contrário do que Antônio tinha acabado de dizer.

— Sinto muito senhor, mas o que o senhor Antônio falou está correto, nesse momento eu não tenho como aceitar o seu convite. Otávio é minha prioridade e como disse mais cedo, priorizamos o período da noite para ele. Então é impossível que eu saia e o deixe em casa. — Abaixei a cabeça morrendo de vergonha da situação.

— Mas haverá outras oportunidades, meu filho, deixe que Antônio resolva a situação que ele está agora e depois Rose terá mais tempo de sobra — a condessa falou ao meu lado e me assustei. Por que será que ela estava incentivando o cortejo do futuro duque?

— Vou pegar algo para tomar, alguém aceita? — Antônio se levantou bruscamente da mesa e nem esperou pela resposta de ninguém. Conde Henrique foi atrás dele.

— Vou aguardar ansioso pelo dia que me dê a honra da sua companhia. — Arthur voltou a falar e vi suas irmãs revirarem os olhos.

[...]

A noite passou devagar depois dos comentários do futuro duque, Antônio estava extremamente irritado e nem olhava mais na cara dele ou na minha. Eu realmente não sabia o que tinha feito para receber tal tratamento, mas preferia ficar na minha, eu só queria subir até o quarto e dormir igual Otávio fazia.

— Bom acho que já passou da hora de irmos — O duque falou se levantando e convidando a família a segui-lo. Fiquei ao lado de dona Arlete para me despedir deles e Arthur parou a minha frente puxando minha mão e lhe dando um beijo no dorso durante uma leve reverência em minha frente.

— A noite foi extremamente especial pela presença da senhorita, espero poder vê-la em breve.

Confirmei com a cabeça sem saber exatamente o que responder. Ele me deixava sem reação, sem palavras. Eu que sempre tinha tudo sobre controle, tinha meus movimentos comandados por cada fala mansa que ele dizia. Ele se endireitou e cumprimentou a condessa de uma forma menos empolgada e quando chegou à frente de Antônio, mal o olhou.

Todos sentíamos a tenção que emanava entre eles. O mínimo contato já poderia causar uma catástrofe. A única certeza que podia ter desse encontro é que não haveria facilidade de nenhuma das partes para que o convívio fosse mais fácil.

— Também já vamos meu filho — Conde Henrique falou e se despediu de mim. Dona Arlete como sempre veio me dar um abraço, mas seu sorriso era diferente, eu podia sentir em minha pele que ela estava mais do que satisfeita com os rumos tomados no jantar.

— Vá descansar, menina. A noite foi longa e logo logo meu neto acorda querendo sua atenção — ela me disse — Amanhã venho vê-lo, estou morrendo de saudades do meu menininho.

— Venha sim, ele acorda cedo, então venha no horário que quiser. — Ela sorriu e me deu um beijo no rosto.

— Até amanhã então — acenei enquanto eles saiam pela porta e assim que Antônio fez menção de fechar a porta me virei para ir para meu quarto.

— Boa noite — proferi ao me retirar.

—Onde pensa que vai? — Eu não sei o que foi pior, a entonação ou as palavras mencionadas. Eu já estava no primeiro degrau da escada quando me virei para encará-lo e vi que seu rosto estava retorcido de raiva. — O que foi aquilo? — sua voz estava irada e baixa, cortante como a faca mais afiada da cozinha.

— Não entendi sua pergunta — falei descendo o degrau e me aproximando devagar, eu estava com medo daquele Antônio, mas não me afastaria como uma covarde.

— Você flertou a noite inteira com aquele babaca — ele chegou ainda mais perto jogando suas palavras em mim.

— Eu não flertei com ninguém — me defendi com a voz controlada. Não era possível que ele estivesse dizendo uma coisa dessas.

— Eu vi os olhares que trocaram Rosely, eu e a mesa toda — ele bufou irado.

— Desculpa, mas eu não percebi nada senhor, se me der licença vou...

— Não, eu não deixo você sair daqui até me explicar o que aconteceu aqui. — Ele só podia estar ficando doido, eu nem sabia do que ele estava falando. Sim, era verdade que Arthur tinha jogado seu charme a noite toda sobre mim, mas não fiz nada além de observar a situação. — Cheia de sorrisos e olhares para aquele idiota, acha mesmo que não vi? Se está pensando em se envolver com ele...

— Qual seria o problema? — o enfrentei, eu odiava ser acusada de coisas que não tinha feito. — Eu sou solteira e posso fazer o que bem entender. — Antônio ficou ainda mais irado.

— NÃO DEBAIXO DO MEU TETO— me afastei dois passos com medo. — Eu não quero esse tipo de situação em minha casa! — Respirei fundo olhando desacreditada para aquilo. — Já tinha lhe dito quem é aquele homem e mesmo assim você achou prudente levar a uma situação tão descabida quanto essa.

— Como quiser — falei me virando sem esperar por mais nenhum comentário.

— Eu ainda não terminei — ele chegou ao pé da escada quando eu já estava na metade do caminho.

—Mas eu já — falei rude — Você é meu patrão, não meu dono. Não é porque me salvou aquele dia que tem direito sobre a minha vida! Não vou fazer nada que o desrespeite. Tenha uma boa-noite — terminei de subir os degraus sentindo que sua presença ficava cada vez mais próxima a minhas costas.

— Rose, espere... — não fiz questão acelerei meu passo e entrei no quarto de Otávio trancando a porta. Eu sabia que ele não faria nada que pudesse acordar o bebê.

Eu queria muito entender sozinha, no escuro, o que tinha acabado de acontecer. Me troquei repassando cada momento daquela noite e não entendi onde ele estava vendo tamanha falta de respeito. Me deitei na cama ainda muito chateada com a situação, eu nunca tinha feito nada que pudesse manchar a reputação dele, minha ou de sua família.

Me foquei em lembrar de cada detalhe do jantar, cada sorriso, cada suspiro. Mas nada partiu de mim, foram sempre coisas que os filhos do duque fizeram. Tanto as formas de chamar a atenção de Antônio quanto a minha. Eles se empenharam bem a noite toda, o único detalhe é que Antônio tinha entendido tudo errado e jogado todo o drama em seu colo. Mesmo assim não queria acreditar que ele realmente pensava que eu era uma pessoa atirada.

Quando estava quase pegando no sono o rosto de Arthur passou ligeiro por seus pensamentos, os olhos azuis fascinantes e o sorriso fácil que fazia qualquer moça mais boba suspirar pela sua visão, contudo Antônio, em questão de milésimos de segundo se fez presente afastando o futuro duque e levando seus pensamentos para o mar dos sonhos das quais ela já estava acostumada.

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