Capítulo 4
Olho para suas mãos, que repousam gentilmente o jornal sobre a mesa. Ele tem dedos másculos, bem cuidados e afiados, e veias inchadas ao longo do braço que se entrelaçam e desaparecem sob a manga da camisa.
Eu me pego pensando que são as maiores e mais belas mãos que já vi em minha vida. Odeio o fato de minha mente correr para imaginá-las em meu corpo, seus dedos cravando a carne de minhas coxas, suas pontas tocando meus arrepios....
- Está faltando? - Ouço o eco de uma voz, mas é o cotovelo de Angi que me traz de volta à realidade.
Olho para a classe que me encara e para o professor que me olha com irritação, será que ela estava me contando?
- Ele estava? - Pergunto, colocando as mãos nas minhas bochechas quentes, ela percebeu que eu estava olhando para ele?
- Você é sempre tão distraída na aula? - ele pergunta severamente, fazendo-me morder a parte interna da bochecha.
Você é um idiota certificado, vou expulsá-lo desta escola assim que seu tempo acabar, você vai ver.
O diretor certamente vai mandar prendê-lo, já posso imaginar seu rosto estampado no primeiro plano dos jornais.
- Não - inclino meu rosto, segurando seu olhar duro. - Desculpe, isso não vai acontecer de novo - ele chia, forçado a abaixar a cabeça, por enquanto.
- Espero que sim, você não vai querer fazer sexo no primeiro dia de aula", ele brinca, ciente de que agora está em vantagem.
- Não, de fato, eu evitaria isso. - Aperto minhas mãos com força sob a escrivaninha, tendo que me conter para não mandá-lo para o inferno.
- Isso seria desastroso para seu GPA, que imagino ser impecável.
É isso que ele quis dizer com isso, é uma declaração aberta de guerra.
Respiro fundo, quem disse a ele que tinha uma dívida moral em matemática? Aqueles que têm uma dívida moral também podem ser questionados no primeiro dia para provar que compensaram suas deficiências durante o verão.
Como ele era o antigo professor de matemática, eu não me importava muito com a dívida moral. No máximo, eu teria estudado uma matéria e conversado com ele sobre isso, mas agora estou na merda.
- Mais ou menos - murmuro, tentando ser o mais vago possível.
- Como foi sua aprovação nas minhas matérias no ano letivo anterior? Estou curioso - ele pergunta, entrando em detalhes -, como ele deve estar se divertindo ao dificultar minha vida.
- Não me lembro bem - sacudo a cabeça como uma cabeça de vento, na verdade estou apenas ganhando tempo para escapar dessa situação terrível.
- Alguém se lembra? - ele pergunta de repente à classe, fazendo com que meus olhos se arregalem como pires.
- Beni, se não me engano, você disse no grupo que tinha uma dívida moral em matemática e física, não foi? - Giorgia intervém, sorrindo para mim.
Cerro a mandíbula, cerro os punhos sob o balcão e digo, retribuindo o sorriso tenso - Certo... obrigado, Giorgia. -
- Dívida moral - ele repete, cruzando os braços.
- Alguém mais teve dívida moral em matemática e física? - pergunta o garoto para a classe.
Ninguém disse uma palavra, Guglielmo também tinha uma dívida moral! Por que Giorgia não fala nesses casos também? Ah, claro... ele a leva para casa em sua Ferrari.
- Excelente, então só posso interrogá-lo", ele decreta, virando-se para mim.
Prendo a respiração e olho em volta, merda, merda!
- É possível fazer isso amanhã? -
- Por que amanhã, se podemos nos livrar dessa pedra hoje? -
Ele está se referindo ao meu futebol. Se eu pudesse cavar uma cova e me enterrar vivo no subsolo, faria isso sem pensar duas vezes.
- Claro... mas primeiro eu posso ir ao banheiro, estou ficando sem - murmuro desesperadamente -, eu poderia procurar algo na Internet enquanto isso.
Tenho que sair daqui imediatamente.
Ele me olha divertido e, virando-se de costas para mim para ir ao quadro-negro, diz: - Não deixe sua calcinha molhar, vá -
Abro bem os olhos e a boca com Angelica e me levanto tremendo, será que ela realmente disse isso?
- Alguém pode resumir o programa de física do ano passado para mim? - ela pergunta enquanto eu saio correndo da sala de aula e desço três lances de escada.
A paciência definitivamente ultrapassou seu limite.
Vou até a secretaria da escola e procuro a porta do diretor, batendo com determinação.
Quero aquele desgraçado fora de minha vista agora.
- Não há ninguém aqui - diz o zelador atrás de mim, fazendo-me dar um pulo no ar, o que há de errado com todo mundo esta manhã?
- Ah, hum... Onde está o vice-diretor? Preciso falar com você sobre um assunto urgente.
- Ele foi trocado, o novo vice-diretor deve ser... deixe-me verificar - ele se abaixa para olhar um pedaço de papel e, seguindo uma linha imaginária, diz - em D -
Fico paralisado, sentindo minhas veias congelarem - por acaso poderia ser o professor Robis? -
- Sim, seu idiota! - ele se aproxima de mim e murmura suavemente - Se você tiver problemas com o diretor, tenha cuidado com a forma como se dirige a ele. Ele já fez com que a Lucia fosse demitida.
- A Odduccia? Era para ser ela quem nos levaria para os exames! -
- Shh! Eles podem nos ouvir, entrar na sala de aula e fugir dali, deixando-me sozinho.
Fico parado olhando para a porta do diretor e começo a me dar conta de que estou preso. O idiota é dos andares superiores, ninguém vai acreditar em mim.
Começo a subir as escadas novamente, decepcionado, e, chegando ao terceiro andar, mais desconsolado do que antes, entro no banheiro.
- Que bom! - exclamam Angi e Mati dentro do banheiro.
- O que está fazendo aqui? - murmuro estranhamente.
- Dever de casa? Você está fora há dez minutos, o professor nos mandou buscá-lo.
- Ah... ele já sente minha falta - murmuro, abrindo a torneira e enxaguando as mãos e o rosto.
- Ele não vai fazer mais perguntas, disse que estamos muito atrasados no programa de geometria e física e que temos de começar amanhã.
- Tudo bem", murmuro, desligando a água e pegando papel higiênico.
- O que há de errado com você? Parece que você viu um fantasma - Mati coloca a mão no meu ombro.
Eu me apoio no vaso sanitário e murmuro com tristeza - Meninas, acho que vou ter que mudar de turma, é claro. Desta vez, fiz um grande esforço, é a única maneira se eu quiser passar de ano.
- O que você fez? O novo professor tem algo a ver com isso, não tem? - pergunta Mati, entendendo imediatamente.
Aceno com a cabeça e começo a contar tudo em detalhes.
- Ele é o novo vice-diretor? Porra - Angi pragueja, colocando as mãos nos quadris.
- Você nem sequer o ajudou a se levantar depois do chute? - pergunta Mati, cruzando os braços.
- É claro que eu também olhei para ele com satisfação. Você deveria ter visto o modo como ele me encarou. Se olhares pudessem matar, ele já teria morrido há muito tempo.
- Mas sou da opinião de que não se deve fugir. Você não tem testemunhas do que aconteceu hoje de manhã, mas se eu o tratasse de forma justa na aula, todos nós seríamos testemunhas. Comece a estudar matemática e física com seriedade; tente me convencer, Mati.
- Eu deveria ir à secretaria imediatamente e relatar a mudança de seção - murmuro, admitindo a derrota.
- De jeito nenhum! Você quer dar o recado assim? - Angi aponta o dedo para mim com firmeza.
- Não! Mas o que mais eu deveria fazer? Já sou ruim em matemática, sem falar nos resultados que poderia obter com ela; roo as unhas ansiosamente.
- E por que você é ruim em matemática? - pergunta Mati com uma sobrancelha levantada.
- Por que eu não estudo? - suspiro desanimado.
Mati me olha com reprovação e Angi exclama em apoio: "Exatamente! Este ano você vai estudar e dar uma surra nele!
- Duvido muito disso", murmuro, fazendo uma careta.
- Se você melhorar, o professor não terá escolha a não ser dar a nota que você merece. Ele também está de mãos atadas", explica Mati, pegando minha mão.
- Ainda estou pensando em mudar de seção", insisto, com um mau pressentimento.
- Você quer deixá-lo vencer, onde está a coragem que você teve quando lhe deu uma joelhada? - Angi pergunta com severidade.
- Então... vocês estão dizendo que eu deveria enfrentá-lo? - Olho para eles com ceticismo, mordendo o punho.
- Com a cabeça erguida - confirma Mati.
- Sim, mas você me ajudará a estudar matemática e física! - Eu recomendo que dure.
- Claro que sim! Mas agora vá logo, não precisa dar mais motivos para ele descontar em você", murmura Mati, arrastando-me para fora do banheiro.
- Não, espere! Preciso de um pouco mais de tempo... Angi! - grito a última palavra, enquanto ela me arrasta pela mão até a porta da sala de aula e a abre, forçando-me a entrar.
Eu a amaldiçoo mentalmente, mas sou forçado a parar de repente quando o professor também começa a sair e nos encontramos a centímetros de distância um do outro. Ficamos olhando nos olhos um do outro com grande expectativa, pois não faz muito tempo que estamos tão próximos.
Ele é o primeiro a desviar o olhar e, passando por mim, continua falando... só agora percebo que ele estava falando ao telefone.
Entro com o olhar abaixado e depois o levanto novamente sobre o paletó e a pasta imaculada dele, esfregando os braços contra os calafrios que subitamente atingem meu corpo.
- Não se preocupe", sussurra Angélica em meu ouvido ao me ver estremecer na hora.
- Não estou convencido, Angi - digo sinceramente com um nó na garganta.
Ela me olhou com ódio antes, estou realmente com medo do que pode acontecer comigo.
- Mantenha a calma, não deixe que ele veja que você está com medo ou você só vai piorar a situação. Finja que nada aconteceu", sugere Angi, colocando a mão em meu ombro.
Inspiro seu intenso perfume de colônia e engulo... Sinto-me como no médico quando sentimos o cheiro de álcool e sabemos que logo uma agulha vai perfurar nossa pele, mas ainda assim tentamos manter a calma e o medo dentro de nós.
Fico ofegante quando a porta se fecha e o professor se senta novamente em sua cadeira e, em seguida, remexe em sua pasta.
Sai um registro azul claro e, abrindo-o, ele clica na tampa da caneta preta e escreve algo no registro, talvez a data de hoje e o que conversamos.
- Alaya Myriam - inicia a lista de chamada.