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Esses últimos meses estão sendo tão difíceis, fazia praticamente um ano que estava casada e toda a esperança que tinha em que Filipo pudesse gostar de mim foi embora, na verdade, nem eu mesma estava gostando da ideia.
Depois que Filipo assumiu sair com outras mulheres, todo meu pensamento de fazer esse casamento dar certo foi de água abaixo.
Eu tinha dúvidas, não iria negar, mas quando se ouve a verdade da própria boca da pessoa não tem como esconder e fingir que está tudo bem, não mesmo! Ainda mais, quando o homem com quem se casou e tem ainda um tipo de afeto, dorme mais fora de casa do que em outro lugar.
Não tenho mais olhado em sua cara, toda vez que ele sai, imagino que esteja com uma amante, me dá nojo e meu coração chega a doer.
Mas de umas duas semanas para cá, ele anda diferente, hoje ele dormiu em casa e não foi trabalhar, ficou em seu escritório pela manhã inteira, perto do almoço saiu e veio bater na porta do meu quarto, quando ouvi sua voz, o ignorei, pensando que assim desistiria e iria embora, mas não! As batidas estavam ficando mais fortes a cada momento, então decidi abri a porta.
— O que quer? – Disse sem nenhuma empolgação, queria mostrar na primeira oportunidade que não queria conversa.
— Quero que se arrume muito bem, porque hoje a noite iremos jantar com novos investidores, que serão muito importantes para o futuro da empresa.
— Não estou a fim de sair. — Disse.
— Isto não foi um pedido e sim uma ordem. — Sua voz era séria.
Como sempre, ele achava que mandava em mim, mas agora as coisas estavam bem diferentes.
Desde que acordei pela manhã e me olhei no espelho, decidi que não seria mais a otária de antes, a partir de hoje, seria uma nova mulher, ele que saia e dê ordens em quem quiser, a Amália bobinha, deixou de ser besta e acordou.
— Coloque uma coisa em sua cabeça Filipo, você não manda em mim! Se eu digo que não vou, não irei. — Ia fechando a porta, mas, seu braço impediu que eu continuasse.
— É claro que mando, você é minha esposa e irá, sim, sua presença é importante lá, todos irão com suas esposas, como chegarei sozinho num evento como esse? — Dizia indignado.
— Sou sua esposa de fachada, não é mesmo? Pegue e leve uma de suas amantes, não quero sair com você. Na verdade, tenho vergonha de ser vista ao seu lado.
— O quê, como assim? — Perguntou com olhos totalmente esbugalhados para fora, se o conhecesse, diria que estaria ofendido.
— Sei lá, você se acha demais, e nem é isso tudo que finge ser. — Adentrei para o quarto, deixando a porta aberta, se ele quisesse continuar a escutar, teria que entrar, e foi o que fez. Entrou, me acompanhando, eu me dirigi até o closet e fingia procurar alguma coisa na gaveta. — É nojento sair com alguém do seu tipo, sabe se lá quem são as mulheres com quem sai, se está se prevenindo, ou... — O olhei dos pés a cabeça de propósito. — Prefiro nem falar, imagina se me confundem com alguma de suas prostitutas, como ficaria a minha reputação? Já nos casamos, não está satisfeito? Faça suas próprias coisas e pare de depender de mim.
Filipo estava indignado com minhas palavras, parece que o reizinho que habitava em sua barriga, nunca havia sido contrariado na vida, seu ego estava ferido e nem conseguia disfarçar.
— Como ousa dizer que tem vergonha de mim? — Questionou.
— Você não teria? Imagina aí se fosse eu, que tivesse esses tipos de atitudes, gostaria de continuar saindo comigo, sabendo o que as outras pessoas pensam?
— Amália não começa, não quero discutir com você hoje — Respirou fundo — Na verdade, não quero mais discutir com você, nem hoje, nem nunca mais, cansei de tudo isso.
— Do que você está falando, está louco? Nós nem estamos discutindo, afinal, essa é a primeira vez que conversamos civilizadamente. Não precisamos nem manter contato dentro desta casa se quiser de agora para frente, assim terá certeza que não arriscaremos discutir.
— Amália, escuta. Eu tentei evitar todas as formas de ter um confronto com você, mais isso é inevitável, já que não temos escolhas, vamos tentar conviver, sim, já que vamos ter que viver aqui por muito tempo, então vamos fazer dessa convivência uma das melhores possíveis.
— Depois de tudo que passei? Claro que não! E não será muito tempo, serão dois anos, já que um já está indo embora, graças a Deus, dois anos contadinhos. Daí você faz de sua vida o que quiser, que cuidarei de minha vida também, eu te dei uma sugestão antes, de convivermos em harmônia, e você foi super grosso, me deixando de lado, agora você quer ter uma convivência agradável? Deixa eu te falar uma coisa, que fique bem clara daqui para frente, as coisas não irão mais funcionar do seu jeito.
— Olha, esquece tudo que passou, vamos tentar ser melhores uns com os outros.
— Não dá, você me machucou de mais. — Disse sincera, mas sem demonstrar nenhum tipo de emoção.
— Não posso apagar o passado, Amália.
— Pois é, você me pareceu ser um homem maravilhoso no começo, se tivesse me dado a oportunidade de nos conhecermos, talvez esse casamento não seria tão desagradável como está sendo agora.
— Não quero falar sobre isso. — Disse por vencido. — Esteja pronta as oito, e é melhor não me desapontar.
— Por quê? O que vai fazer se não for? – Perguntei com ironia.
— Não irei fazer nada! Entretanto, quero que saiba que esse jantar é muito importante, para nossa empresa. — Acabando de falar, saiu do quarto e fechou a porta.
Fiquei surpreendida com a paciência que estava comigo, ele nunca estava aberto ao diálogo, ainda mais em falar assim, que pena que já era tarde para isso.
Não queria sair de casa, porém não tinha jeito, Filipo deixou bem claro, que esse jantar era importante, comecei a me arrumar um pouco mais cedo, pois queria arrumar meus cabelos, vesti um vestido vermelho que tinha em meu closet, nunca havia vestido-o antes, ele era novinho, mangas longas, e justo no corpo, seu comprimento ia até os joelhos, fiz uma linda maquiagem, coloquei meus saltos de cor nude, e os brincos de argola de ouro, que havia comprado na Itália em minha última viagem.
Já era tarde quando estava pronta, desci as escadas em direção a sala onde Filipo me aguardava, quando ele me viu descendo, me olhou de um jeito que nunca havia olhado para mim, seus olhos me mapearam dos pés a cabeça, confesso que fiquei meio sem jeito com a situação, ele veio em minha direção com um sorriso no rosto dizendo.
— Sabia que não iria me desapontar, você está linda! — Estendeu a mão para que eu a pegasse.
— Não me arrumei para agradar você, guarde sua saliva, não preciso desse elogio estúpido, e encolha esse braço, sei descer as escadas sozinha. — Me encarou com os olhos arregalados, acho que não esperava por uma resposta assim.
— Mesmo assim, você está mais linda do que esperava.
— Para com isso, que está ficando chato. — Olhei para um lado e para o outro. — Não tem ninguém aqui para você ficar com esses elogios baratos, e sua opinião ao meu respeito não me importa.
— Você está dificultando as coisas. — Bufou.
— Eu não estou fazendo nada, só não quero dar continuidade a esse teatro, e cá para nós, você está dando uma de bonzinho, porque quer alguma coisa. Já deixei claro o que farei daqui a dois anos, se você ou meu pai, inventarem alguma coisa, terão que arcar com as consequências sozinhos, porque, do mesmo jeito que ninguém pensou em mim ou no que estava sentindo, farei o mesmo, vocês que se lasquem!
Terminei de descer as escadas, andando bem firme, o deixando com cara de bobo para trás, era assim que devia ter sido desde o começo, se tivesse tido a atitude de uma mulher adulta talvez seria mais respeitada, e nem nesse casamento teria entrado, mas todos irão me pagar, Filipo, os pais dele, e meus pais.
Todos se arrependerão de ter me feito de besta, se acharam que eu não tinha sentimentos, tudo bem, eu não teria!
Não me preocuparei nem com minha família, nem com a dele, se quiserem fazer mais uma jogada dessas, deixarei todos na mão, inclusive meu pai, o pior causador desta situação, se for preciso para a minha liberdade os deixar na miséria, então ficarão, agora só pensaria em mim, e na minha vida em diante, não irei me importar de começar de baixo, já que tudo que conquistarei na minha vida, será fruto do meu suor e trabalho.