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— Liguei para a Nicole e disse que você estava chegando. Ela ficou muito animada para vê-lo e disse que era uma coincidência que sua ex-namorada estivesse no hotel ao mesmo tempo. A Organização Miss Universo fará um baile para angariar fundos amanhã.
Marco estava sério. Sua mente estava em algum lugar distante. Fazia tempo, mas ele ainda estava muito magoado pela vergonha e pela traição da garota anos atrás. Essa era uma ferida que parecia ter sido aberta ontem.
— E aí, o que acha de dar uns amassos na sua ex? Que bela folga, hein.
— Não brinque com isso Roman, é irritante. — Marco disse com raiva. — Eu não estou aqui de folga. Você esqueceu que meu objetivo é falar com você e Luciana sobre seu relacionamento proibido?
— Isso é ridículo. — Roman bufou. — Nosso relacionamento não é proibido, só seu pai acha isso. Os meus pais não ligam.
— Roman, somos parentes. Primos.
Marco tinha prometido à sua mãe que tentaria. Bom... ele estava fazendo isso, mesmo que não acreditasse nessa coisa de primos que não eram de sangue.
— Não, não somos e você sabe. Nossa família é louca por ter nos criado assim. E apenas o tio Eduardo encana com isso.
— Seja como for, cara. Eu quero que você dê um jeito, porque se não, vai acabar virando um problema meu. Papai está irredutível e mamãe quer evitar uma briga dele com você ou seu pai.
— Tio Eduardo é um cabeça-dura. — Roman balançou a cabeça. — De qualquer forma, se for para haver briga por causa disso, haverá, porque eu não vou abrir mão da Lu.
Marco gemeu. Sua mãe cozinharia sua cabeça com esse assunto. Ele era um homem ocupado demais, não podia perder tempo com sua irmã maior de idade.
— E então, como será esse baile? — Marco mudou de assunto, esfregando a testa com as pontas dos dedos. Ele lidaria com isso depois. — O que é esperado?
— Ah, o de sempre. Muito dinheiro e bebida envolvida.
Marco não queria demonstrar, mas estava nervoso em rever Charlotte depois de tanto tempo. Porém, havia uma coisa boa nisso tudo. Se ela falasse com ele, Marco tentaria se aproximar... e então faria com ela exatamente o que ela fez com ele. Conquistaria sua confiança e em seguida destroçaria seu coração. Cadela maldita, era exatamente o que merecia.
— Você está com uma cara nada boa, Marco. — Roman comentou, olhando fixamente para o rosto do primo. — Por acaso está planejando uma fuga só para não vê-la?
— Não. Não sou um covarde. Charlotte não é mais nada para mim.
— Isso é bom. Nunca se sabe, talvez ela tenha mudado, mas se não mudou, não é bom confiar nela. Ela já te deixou na merda uma vez.
— Você não tem que me lembrar, eu sei disso.
O tom de voz de Marco deixou claro que ele não queria falar disso. O assunto “Charlotte” não era um assunto que deveria ser mantido em pauta.
— Vamos para o hotel. — Roman disse, olhando Marco de soslaio. — Eu estou com saudade da Luciana, não nos vemos desde essa manhã.
Marco suspirou. Ele sabia que Roman e Luciana iriam acabar na cama novamente. Que Deus os ajudasse se seu pai os flagrasse.
— Odeio você, seu idiota. De tantas mulheres no mundo, tinha que trepar logo com a minha irmã?
Nicole Valdez era a irmã mais nova de Roman de vinte e quatro anos. Era muito bonita, embora se escondesse do mundo. Tinha um rosto angelical, surpreendentes olhos verdes que escondia com óculos de armação grossa, e seus cabelos loiros sempre estavam presos em um coque. Era uma mulher deslumbrante, com um corpo lindo que ela mantinha escondido embaixo das suas roupas conservadoras de negócios.
Nicole era um ano mais nova que Marco. Sempre foram muito unidos e tinham uma relação agradável. Marco até mesmo ensinou a garota a dançar quando eram adolescentes. Mas já fazia dois anos desde que os dois se viram. Toda vez que ela participava de alguma reunião familiar, Marco não estava presente, ou vice-versa. Era como se eles brincassem de esconde-esconde um com o outro, nunca se vendo pessoalmente, apenas falando por telefone, às vezes.
Nicole administrava o Royal Garden Hotel & Resort, na Califórnia. Era um dos hotéis cinco estrelas de propriedade da família Valdez no estado e era famoso por seu luxo, designs inovadores – desenvolvido pela empresa de Marco – e uma vista incrível.
Roman subiu diretamente para o quarto dele, onde Luciana agora estava ficando, enquanto Marco saiu à procura da prima. Ele a encontrou ocupada na cozinha, fazendo mousse de chocolate. Ela adorava experimentar coisas novas, e andava fazendo aulas de culinária. Quando a cozinha do hotel fechava, ela colocava as mãos na massa.
— Por que está se escondendo aqui na cozinha? — Marco perguntou e a abraçou, mantendo-a contra ele com firmeza.
Ela ficou não ficou surpresa, pois já sabia que ele chegaria e fazia o mousse especialmente para ele, mas teve um susto por sua chegada furtiva.
— Marc! Meu Deus, você me assustou, seu louco.
Marco riu.
— Por que você está aqui? Você deveria estar em seu escritório. — ele virou seu corpo de frente para si. Então pegou uma toalha de papel e limpou algumas manchas de chocolates das suas bochechas.
Nicole corou um pouco.
— Me apaixonei pela culinária recentemente. Comecei a fazer um curso. — Ela disse sorrindo.
— Por que você ainda está usando óculos? Achei que faria a cirurgia LASIK mês passado. — Marco, tirou os óculos dela e os colocou em cima da mesa suja de chocolate.
— No sei se devo. E se eu não me sair tão bem como você?
Marco tinha feito uma cirurgia LASIK havia alguns anos para corrigir seu problema de visão. Ele decidiu fazer depois do que aconteceu com Charlotte e talvez aquilo tivesse sido a melhor coisa que resultou daquele relacionamento.
— Sei que está nervosa, mas já conversamos sobre isso. — Ele sorriu. — Vai dar tudo certo. É um procedimento bastante seguro.
Nicole fez que sim, mas não respondeu. Pensaria depois nisso mais um pouco. Agora ela só queria curtir ter seu primo de volta. Luciana era ótima, e ela adorava poder conversar com uma garota, mas Marco era seu primo favorito.
— Eu senti muito a sua falta. — ela disse, abraçando-o de novo.
— Eu também senti sua falta.
Marco beijou sua testa e acariciou seu cabelo.
— Até que enfim um pouco de folga do trabalho, seu maníaco.
— Sim, mas apenas graças ao idiota do seu irmão. Mamãe pediu para falar com ele e Luciana. Papai está soltando fogo pelas ventas.
— Eu sei, Roman me disse. Oh, deixe-me dizer que Charlotte está aqui.
Marco revirou os olhos com a mudança repentina de assunto.
— O que você vai fazer quando a encontrar?
— Quebrar seu pescoço, mandá-la ao inferno, ou talvez empurrá-la escada a baixo.
Nicole soltou uma gargalhada. Marco não pôde deixar de notar como ela era linda fazendo aquilo.
— Isso é muito bom. Você tem todos os motivos para odiá-la.
— Eu não a odeio, só não gosto do jeito como ela me tratou. — ele disse com um pouco de amargura.
— Hmm, sei...
Marco pensou no que tinha dito e sorriu. Ele não a jogaria por uma escada ou a estrangularia, claro ele não era um criminoso, mas sabia ser um canalha. Anos atrás, seu pai lhe ensinou a arte de seduzir. Marco não era muito bom naquilo e teve o melhor professor que alguém desejaria. Ele sabia que se quisesse, deixaria Charlotte de joelhos. E quando ela estivesse desse jeito, ele partiria seu coração assim como teve o seu partido, ou até pior.
— Você quer vingança. — Nicole, que observava a expressão dele, disse com um sorriso torto. — Você ainda a ama.
A cor sumiu do rosto de Marco.
— Não. Eu já superei isso, Nicole.
Ele não precisava deixar ninguém saber que tinha um plano.
— Marc, por que não admite? Sou eu, a Nicole. Você ainda a ama, admite pra mim vai.
— Eu não a amo mais. Ela é uma vadia, ok.
Nicole estalou a língua e franziu os lábios.
— Diga isso mais um milhão de vezes e quem sabe você se convence.
— Droga, Nicole. Pare com isso. — Marco disse, frustrado. Ele não queria se irritar com a prima. — Vamos lá, me mostre meu quarto. Estou muito cansado.
— Ok, espere. Eu só vou lavar as mãos.
Nicole tirou o avental e lavou as mãos. Ela pediu a um dos assistentes que terminasse de preparar o mousse e que fosse levar ao quarto do Sr. Villa-Lobos quando estivesse pronto. Então acompanhou Marco até a suíte presidencial, assim como Roman havia prometido.
Ele assobiou, tirando a jaqueta e os sapatos.
— Onde é o seu quarto?
— Eu fico com metade do andar de cima. Roman com a outra.
— Estou certo em presumir que Luciana está no quarto do Roman?
— Sim. Eles estão apaixonados, Marco. É tão lindo.
Lindo, sei. Sempre é lindo no começo. Marco quis dizer isso em voz alta, mas se resguardou, afinal, queria que sua irmã fosse feliz e odiaria cortar as bolas do seu primo se ele a magoasse.
— E você? Tem namorado?
— Você está brincando comigo? Eu não levo o menor jeito pra isso.
— Porque você escolheu assim. Você é linda, Nicole. Inteligente. — Marco a examinou de cima a baixo e ergue uma sobrancelha. — Gostosa.
Nicole corou e deu um tapa no braço dele.
— Você pode ser tudo que quiser. Com sua voz, beleza e corpo, poderia ser tantas coisas.
— Não estou interessada em ser alvo dos paparazzi. Quero uma vida calma. Mas se quiser, pode me ajudar a arrumar um namorado. Não é possível que com vinte e quatro anos eu ainda seja virgem.
Marco começou a rir.
— Pare com isso, seu idiota. Te contei porque é meu primo favorito e meu melhor amigo, mas não é pra você rir.
Nicole fez cara feia e se virou para ir embora, mas Marco pegou sua mão e a impediu.
— Desculpe, eu não estou rindo de você. É que você soltou isso do nada, como esperava que eu agisse?
— De qualquer jeito, menos assim.
— Vem cá. — Marco a levou até o espelho. — Olhe pra você. Você é linda, não precisa da minha ajuda. Qualquer cara seria sortudo em ser seu namorado.
Nicole, no fundo, sabia que Marco tinha razão quanto aos seus atributos físicos, mas não sabia como lidar com aquilo. Eles eram os nerds da família, e quando ele mudou, ela não teve mais ninguém que levasse a vida assim como ela levava, então se fechou. Agora, em parte, ela se arrependia disso.
— Vá para o seu quarto e vista algo sexy. — Marco disse, observando as expressões dela. — Tenho certeza que você dará um nocaute em alguém. Hoje à noite, você será minha acompanhante. E eu serei invejado por todos os homens.
— Achei que fosse dormir.
— Por você, querida prima, eu faço qualquer coisa.
— E isso não tem nada a ver com fazer ciúme para a sua ex? — Nicole perguntou com um sorriso não tão inocente.
— Não. Hoje minha mente estará pensando apenas em você.
Charlotte estava estonteantemente bonita em um vestido apertado de veludo preto, com as costas nuas até a cintura e gola alta. Seu cabelo estava amarrado em um coque francês elegante e ela bebia vinho no bar enquanto esperava seu agente, Craig Cooper, descer e se juntar a ela. Eles iriam jantar no restaurante do hotel e em seguida, passariam um tempo em uma boate próxima.
Charlotte e Craig estavam no Royal Garden Hotel & Resort para um evento de caridade de angariação de fundos. Mas não era só isso, Charlotte achava a Califórnia um dos melhores lugares para descansar. Ela tinha tido um ano estressante, passando por inúmeros eventos como Miss Universo e no fim, estava feliz por seu tempo com a coroa e a faixa estarem acabando. Ficaria muito satisfeita em ceder tais coisas a outra mulher, afinal, já tinha feito a vontade de sua mãe. Agora, ela só queria relaxar um pouco e com certeza, seu agente cuidaria disso. Ele adorava uma boa farra. Depois que todo o glamour acabasse, Charlotte pretendia por em ação o que tinha aprendido na faculdade. Desejava abrir seu próprio negócio e então seria completamente livre. Como sempre quis.
Ela olhou no relógio por cima do ombro de um dos barmen e suspirou por Craig estar demorando tanto. Ao seu lado, um homem sentou-se em um dos banquinhos do bar e pediu um Martini. O coração de Charlotte começou a bater muito rápido, pois ela achou a voz muito familiar, embora que um pouco mais grave e rouca do que ela costumava ter em sua cabeça.
Ela olhou para o lado devagar e sua garganta secou com a visão que seus olhos tiveram. Meu Deus, é ele. Marco virou-se para ela e arregalou os olhos, momentaneamente surpreso. Mas logo cobriu seu rosto com uma máscara e a encarou friamente.
— Olá, Charlotte. — Marco deu um sorrisinho que fez as entranhas de Charlotte se contrair. — Há quanto tempo.