Capítulo 7
Jackie
—Parece que alguém aqui tem um admirador. — Franzo a testa, apoiando a cabeça no ombro de Elisabeth para entender de quem ela está falando. Assim que vejo o veterinário encostado no para-choque de um Camaro branco, meus olhos quase explodem.
Eu pensei que tinha sumido.
Engulo em seco enquanto Shaila e Debbie fazem expressões travessas. — Chega, não vai acontecer nada entre mim e ele — nego com convicção. Elisabeth revira os olhos e inclina o rosto para o lado. —Você também não acredita. — Eles nunca vão me entender, ainda não sabem nada sobre mim: sou complicado, tóxico e só iria arruinar a vida deles. Aperto mais a jaqueta em volta do torso e dou passos em direção ao veterinário. Sorrio brevemente, olhando para o carro branco. “Belo carro”, parabenizo, mordendo o lábio inferior. —Você aceitará que eles te levem? -
“Me chame de Jackie,” eu sorrio.
— Já que estamos fazendo as apresentações necessárias — ele esclarece seu tom, me oferecendo a mão. — Cristian — ele anuncia, enquanto eu aperto mais.
—Eu não deveria falar com estranhos—, minto.
Ele sorri e olha em volta. “Mas eu sou o veterinário do Marvin, não sou um estranho”, ele pisca para mim, me fazendo rir. Ele sempre encontra ótimas brechas, eu lhe dou crédito por isso.
Seus olhos escuros estão direcionados para a entrada do clube, aqueles meus três colegas estúpidos provavelmente estão rindo e observando a cena. Viro a cabeça e vejo os três homens de cabelos escuros nos olhando com curiosidade e conversando em voz baixa. Reviro os olhos e depois me viro para Cristian. — Melhor ir embora, senão continuarão a nos olhar como se não houvesse amanhã. — Ele se afasta do para-choque, abre a porta para mim e eu o acho muito galante. Agradeço e sento no assento aquecido. Assim que entra no carro, ele muda de marcha e liga o motor. - Eu sou sempre assim? - ele pergunta curioso.
“Hum, eles adoram fofoca,” dou de ombros.
Não me sinto desconfortável com o Cristian, ele é um pouco diferente do Scott. Muitas vezes com Scott tive que encontrar uma maneira de preencher nossos silêncios, enquanto com Cristian há uma paz estranha que ainda não consigo definir.
—Você não é de Washington, é? —ele diz me olhando brevemente.
— Não, sou de Jacksonville — respondo.
“Então você percorreu um longo caminho”, diz ele.
— Sim, eu precisava de uma mudança de… ar — minto.
— Não se preocupe, não vou perguntar por que você se mudou — ele sorri, me tranquilizando. — Parece que algo está te bloqueando — ele me estuda, enquanto eu balanço a cabeça.
- E como você sabe? - Perguntado.
—Você está bastante distante, em alerta. — Trocamos um olhar breve e bastante intenso, sou obrigada a desviar os olhos dos dele porque esse homem me coloca em uma posição emocional estranha.
Assim que passa o semáforo ele me pergunta onde moro, então dou-lhe as indicações corretas para o endereço. A viagem continua em silêncio, fecho os olhos e quase adormeço no seu lugar. Porém, ao ver a porta da casa, pisco e viro as costas. “Obrigado pela carona,” eu aceno, virando-me para olhar para ele por um breve momento. Ele balança a cabeça, parecendo considerar algo enquanto eu saio.
“Jackie”, ele chama, então eu me viro.
- Sim? -
Ele lambe o lábio inferior, iluminando seu tom. — Não se atrase para o compromisso — ele ordena, com um tom de voz mais severo que o que acabou de usar. Concordo com a cabeça, confuso, fecho a porta e saio para a calçada. Ele sai sem nem esperar a porta abrir. Acho que não fiz nada de errado, então não entendo essa mudança repentina de humor. Deixo Cristian e sua atitude estranha em paz, fecho a porta atrás de mim e vou em direção à porta. Uma vez no apartamento, Marvin me deixa feliz. Acaricio sua cabeça, deixo um beijo em sua cabeça e depois vou até a cozinha pegar um copo d'água. Nos minutos seguintes tomo um banho rápido, ensaboo o cabelo e depois aplico vários cremes no corpo. Uso muito pouco ou nada o secador, deixando o cabelo tomar forma sozinho. Deito na cama de pijama e deixo o ar condicionado fazer o resto. Marvin coça o lençol que está para fora, então eu o levanto para descansar ao meu lado. — Você é muito teimoso — sorrio, divertida.
Dou um beijo em sua cabeça, ficando mais confortável no travesseiro. Fecho os olhos e sinto o cansaço tomar conta de mim. Adormeço pensando pela primeira vez em como teria sido minha vida sem Beltrán. Acordo na manhã seguinte, mas não me sinto tão descansado quanto gostaria. Respiro fundo e rolo no colchão enquanto Marvin continua roncando de bruços. Passo a mão no rosto, lembrando-me que hoje é segunda-feira e tenho consulta no veterinário. Ainda tenho tempo, então vou ter calma esta manhã. Meu café da manhã é sempre acompanhado de uma xícara de café e um lanche da despensa. Faço minha rotina odontológica habitual e depois visto um suéter de nogueira e jeans azul claro. Calcei as botas de salto agulha, agarrando a jaqueta azul e a gola de Marvin. Quando saímos do prédio, o vento chicoteia meus cachos nas costas. Espero o Uber e de vez em quando verifico a hora no meu celular. Estou atrasado para o veterinário, mas certamente não é minha culpa. Quando bato na porta da clínica é o Cristian quem me convida para entrar. Encontro-o atrás da mesa, ocupado digitando algo no computador. À minha direita há prateleiras com produtos e acessórios, à minha esquerda há uma cama de cachorro. — Olá, desculpe a demora mas o trânsito estava realmente caótico esta manhã — sorrio, enquanto ele me ignora e volta a prestar atenção em seu computador.
"Você pode deixar na cama", ele diz sem olhar para mim.
Concordo com a cabeça, colocando Marvin no chão. Cristian permanece severo durante toda a sessão: tira os pontos do rabo e eu tento acalmar Marvin com carícias suaves.
—A ferida fechou, pode ficar tranquilo. Mês que vem faremos a segunda vacinação – diz ele enquanto eu aceno e limpo a voz. - Há algo errado? — pergunto, perplexo com seu tom profissional. Quer dizer, até ontem ele estava me levando para casa e flertando sem problemas e agora parece que ele está conversando com um de seus clientes regulares. Ele balança a cabeça e dá a volta na mesa para se sentar.
— Não, está tudo bem — ele dá de ombros, me ignorando.
"Você parece muito frio", eu estudo.
Ele respira fundo, como se estivesse chateado e isso me irritasse. — Acho que o melhor é manter uma relação estritamente profissional. "Eu não deveria ter incomodado você daquele jeito ontem à noite", ele ressalta exasperado.
— Não precisa se preocupar, você não me incomodou. -
— De qualquer forma, isso não acontecerá novamente. Agora tenho outros pacientes para atender então preciso adiantar a fila – ele desvia o olhar para outro lugar, me deixando perplexa. Pego Marvin e olho para Cristian. "Sabe, talvez seja melhor eu procurar outro veterinário já que você está tão ocupado", respondo, irritado, abrindo a porta sob seu olhar. Nem me preocupo em fechá-la, ando pela saída com fogo debaixo das botas. Os outros clientes olham para mim como se eu tivesse três cabeças, mas eu os ignoro. Não é à toa que Cristian não foi suficiente para estragar meu dia, até o Uber que pedi para me esperar saiu me deixando encalhada. Passo a mão pelo cabelo, desesperada e com raiva do mundo inteiro. Parece que hoje todo mundo está conspirando contra mim, sou só eu? Não acredito.
— Marvin, não precisamos de ninguém — falo com o cachorrinho que enquanto isso inclina o rosto para o lado e me olha com uma expressão confusa. —Iremos a pé. — Apesar da crença, ainda acho que deveria ter chamado um Uber na volta para casa. Caminhei sem parar por cerca de trinta minutos, meus pés doíam e estou até suando. Marvin é o único que parece gostar desse passeio, felizmente. — Preciso de uma pausa... — Minha respiração fica presa enquanto me encosto na parede de uma loja. Sei que estou perto de casa, mas preciso parar por um momento. Eu distraidamente levanto a cabeça e meus olhos se arregalam quando vejo a cabine telefônica pela qual passo todos os dias. Sinto que meu coração está acelerado, meus lábios estão secos e é como se cada célula do meu corpo estivesse me empurrando para tomar a decisão errada. Inspiro e dou uma breve olhada ao meu redor. A cabine telefônica fica logo à minha direita, parece me convidar a entrar. Levado pela nostalgia e pela desolação, finalmente me aproximo da portinha e empurro-a. Marvin se agacha aos meus pés e olha para mim com aqueles seus grandes olhos azuis. Sorrio nervosamente, depois pego o telefone com os dedos trêmulos e disco um número que não deveria. Começa a tocar e quanto mais o tempo passa, mais me arrependo do que estou fazendo. Alguns segundos se passam, estou pronto para desligar, mas de repente não ouço mais o bipe. - Preparar? - minha mãe responde. Perco o ritmo diante de seu tom rouco e cansado; Eu sentia falta dela mais do que qualquer coisa no mundo. Meus olhos ficam vidrados: não consigo conter a emoção, basta ouvi-la.
- Oi mãe. -