Prólogo
* Corvus *
Ser o chefe de uma organização de assassinos de aluguel, vai além de autorizar mortes e missões. Por muitas vezes escolhemos o destino até da vida pessoal de alguns agentes em forma de acordos.
Acordos de casamento são os mais fáceis, quando querem unir duas organizações, porém tem o acordo de união, aquele que o casal escolhido fica apenas um ano, servindo apenas na cama um do outro. Um casal com data de começo e fim, sem sentimentos, apenas sexo.
O problema é que o chefe quando faz um acordo de união só pode ser com outra pessoa de igual poder. Ou a sorella do chefe da outra organização, ou a figlia. E foi em um problema desse que me enfiei quando o chefe da organização Galaretto, veio até mim.
O relógio na parede marca 10:45h, foram horas e horas discutindo as melhores formas de fazer a união entre as organizações, várias ideias foram faladas, mas em nenhuma tivemos sucesso, se não, até o acordo que eu sugeri.
No fundo, eu acreditei que nenhum homem em sã consciência, entregaria sua figlia em minhas mãos, não quando sabe como é o acordo. Eu torcia para que ele negasse essa opção, porém ele a aceitou.
Agora com os papéis assinados em mãos, vi que tem alguém disposto a fazer isso, e não posso mais voltar atrás na proposta, eu tenho de manter a minha palavra, pois a palavra de um chefe é sua honra.
E me odeio internamente por isso.
— Tem certeza de que está disposto a me entregar sua figlia? Mesmo sabendo que ela me servirá apenas na cama, realizando as minhas vontades, fazendo tudo que eu quiser? – Pergunto apenas para ter certeza, mesmo que eu saiba que ele não voltara atrás, assim como eu não voltarei.
— Certeza absoluta. Essa união entre as nossas organizações é algo que tenho planejado há um bom tempo. – Diz sério me encarando e posso ver o quão obstinado é o seu olhar.
— Ela irá aceitar?
— Minha figlia é treinada como você, não é uma flor que vai se quebrar tão fácil. – Ele diz com tanta certeza, que posso ver o orgulho em suas palavras.
Abro um sorriso indignado, mas palavra é palavra e cumprirei a minha.
— Tudo bem, em dois dias irei buscá-la.
_ Va bene, comunicarei a ela. Até breve Corvus.
_ Até Sr. Galaretto.
Assim que o Sr. Galaretto sai do meu escritório, suspiro fundo. Faz anos que a companhia feminina não ultrapassa de uma noite na minha cama. Para mim, é mais do que o suficiente. Há vinte anos não permito uma mulher a passar mais de uma noite em minha casa. Apenas, uso-as e descarto, como deve de ser, pois a única vez que uma entrou em meu coração, foi no intuito de me destruir.
Há vinte anos me fechei, me tornei outra pessoa, assumindo outra identidade. O meu eu do passado, o homem que sonhava com uma famíglia... morreu e está enterrado.
Mas agora ter uma mulher debaixo do meu teto, por um ano completo, é diferente. Maledetto Galaretto, não podia aceitar casar sua fligia com um dos meus homens e assim fazer essa união? Mas não, tinha de ser a mim, tinha de ser o chefe!
Passo as mãos em meus cabelos, pensativo com tudo, inferno. Hannah Galaretto, será minha por um ano completo.
*** .... ***
Assim que a noite chega, vou para casa, tenho essa novidade a contar para Antônia. Eu sei que ela vai gostar do que ouvirá. Ela tem esperança de que algum dia, outra mulher entre no meu coração. Mesmo que isso nunca tenha passado em minha cabeça. Depois do que Liandra me fez, não acredito mais em sentimentos verdadeiros.
Sempre que fecho os olhos, é a imagem de Liandra, a mulher que mais amei, que no final era apenas uma infiltrada que foi enviada para matar toda a minha família, que vem em minha mente.
Abro a porta e entro desanimado, com o olhar, chamo Antônia para o escritório e assim que ela entra, fecha a porta e caminha devagar para perto de mim. Sigo pensando nas palavras a serem ditas, me sento em uma poltrona e com os dedos cruzados, abaixo do queixo falo de uma vez, não tem por que enrolar, ela saberá de qualquer forma.
— Antônia, arrume o quarto de visitas, teremos uma mulher em casa, durante o próximo ano. — Seco, é assim que falo, minha voz deixar escapar como estou insatisfeito com essa situação.
— Quem? – Ela me pergunta curiosa e posso ver um brilho em seu olhar.
— Hannah Galaretto. — Antônia abaixou a cabeça, mas não esconde o sorriso, eu sei que tem algo em sua mente.
— Vai se casar com a Senhorita Galaretto? — Pergunta, confirmando minhas suspeitas, não sei quando ela irá entender que ninguém vai ocupar o lugar em meu peito, o lugar que Liandra matou, sem piedade nenhuma.
— Não. Eu apenas fiz um acordo, Antônia, e o pai dela aceitou. Ele é louco, pensei que nunca alguém me entregaria sua figlia. — Digo seco, olhando para a janela do escritório, lembrando da nossa reunião e de como ele aceitou sem pensar duas vezes na minha proposta. – Deixe o quarto vermelho sempre arrumado. A senhorita Galaretto me servira apenas na cama, fora dela não será nada para mim.
_ Ela será a senhora da casa durante esse ano? – Respiro fundo, fecho os olhos e os abro outra vez.
_ Terá de ser respeitada por todos, conforme as regras do acordo ela vivera como minha moglie. As ordens que ela der, terão de passar por mim antes de serem cumpridas.
_ Claro chefe.
_ Antônia... – Digo olhando em seus olhos. – Não se iluda, é apenas um acordo e para mim, não passara disso. – Digo firme e ela abaixa a cabeça com um sorriso triste.
Levanto-me e saio deixando Antônia no escritório, subo para meu quarto, preciso de um banho frio. Esquecer os pensamentos que me rondam, mas é difícil não pensar em Liandra. A maledetta mulher que acabou com a minha vida.