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CAPÍTULO 2 - MELISSA

MELISSA

Eu não tenho muitas amigas, mas as poucas que adquiri na escola interna, nova aliança, no interior de Minas gerais, me ligaram desde que descobriram o que aconteceu com tia Solange. Ontem o número de ligações aumentou drasticamente quando Cinthya descobriu sobre minha saída do colégio. Estava doendo em mim aquele afastamento também, no entanto, era o melhor para a minha família nas circunstâncias atuais e sinceramente, a garota sempre teve estava fazendo uma cena maior do que o necessário, mas isto era ela e sua inclinação para o drama falando. Elas fizeram conferência por vídeo para tentar encontrar uma solução, porém, não havia um problema para tal e encerrei o assunto.

Hoje faze um mês desde o enterro e minha rotina se resume a tomar café da manhã com Lorenzo, vê-lo partir para o restaurante e esperar por sua volta, esta é a pior parte, porque ele sempre chega quando já estou indo dormir. É frustrante pra caralho! Sinto que é proposital, como se minha companhia fosse demais pra ele suportar. O que obviamente, me deixa triste e culpada.

—Bom dia, Mel.

—Bom dia, Lorenzo. —Enfatizo seu nome e ele para a garrafa de café no meio do caminho. Seguro um sorriso. Falar o nome dele sempre funciona.

Sento na mesa, fingindo não perceber seus olhos em mim.

Coloco a torrada com geleia no meu prato e começo a procurar por algo mais apetitoso. A mesa está recheada, com vários tipos de fruta, pão, bolo e mingau. Sorrio quando percebo meu iogurte desnatado. Olga é uma santa.

—O que fiz dessa vez? —Pergunta, cutucando meu braço.

—Nada. —respondo, afastando minha cadeira da dele. Ele resmunga, mas não me impede.

—Quais são seus planos para hoje, princesa?

Dou de ombros.

—Não sei, pensei em ajudar a Olga com as tarefas de casa e depois ir ao shopping.

Ele fica em silêncio, então começo a cortar alguns morangos para colocar no meu iogurte. O barulho da cadeira arrastando no piso me faz olhar para ele.

Seu rosto fica vermelho.

Ergo uma sobrancelha.

—Princesa, eu… bem, você parece diferente hoje. Eu não gosto disso. Tem algo te incomodando?

Bufo.

—Seriamente? —ele me olha espantado, então coça a nuca sem jeito.

—Foi algo que fiz, não é? Você pode me dizer?

Seguro seu olhar por quase um minuto e fico puta quando percebo que ele realmente não faz ideia do quanto me machucou nos últimos dias.

—Não importa, apenas se tranque no seu escritório e continue me ignorando.—rosno, perdendo o apetite. Faço o movimento para deixar a mesa, mas ele segura meu braço para me impedir. Eu puxo, não querendo continuar qualquer diálogo com ele. Seu aperto aumenta e torço o nariz.

—Você está me machucando!

—Não, eu não estou. – –ele solta meu braço e me dá um olhar irritado. – –Agora me diga o que diabos você tem e vamos tomar café da manhã em paz.

Pressiono os lábios juntos.

Estou tão irritada com ele agora.

—Por que acha que fez algo? Talvez, eu apenas não queira conversar. —Indago, enquanto me acomodo de volta no lugar e corto uma fatia de bolo de cenoura.

—Melissa...

—O quê, Lorenzo?! O quê?

Ele joga as mãos para cima e aponta para mim.

—Você me chamou de Lorenzo. De novo. —Explica e dou de ombros, fingindo não entender seu ponto.

—É o seu nome.

Ele cruza os braços e gira todo seu tronco em minha direção num único movimento.

—Você só me chama assim quando está chateada. O que eu fiz?

—Nada. —Continuo a comer enquanto sinto seus olhos queimarem em mim.

– –Tenho todo o tempo do mundo, Melissa.

Meu sangue ferve mediante suas palavras.

—Desde quando? —Giro em sua direção e encaro sua expressão surpresa.

—O que houve com você? – –Pergunta, aturdido com minha reação.

—O que houve comigo? —Repito sua pergunta, minha cabeça dói e de repente sinto vontade de lhe pontuar todos os motivos para minha irritação.

—Você. —resumo.

Seus lábios apertam e seus olhos checam cada parte do meu rosto, buscando algum esclarecimento.

—Eu não fiz nada. —se defende quando percebe que não direi mais nada.

—Isso mesmo, como eu havia falado antes, nada. Absolutamente nada.

—O que você quer dizer?

—Eu sou a adolescente aqui. Eu quem deveria criar situações. No entanto, quem está se trancando no escritório e ignorando as pessoas, é você.

Ele bufa.

Bufo de volta.

—Eu não queria falar com ninguém. —Defende-se.

Ele parece exausto. Bem, somos dois.

—Nem comigo? —Murmuro magoada.

Seus braços me amparam e de repente estamos os dois em pé entrelaçados.

—Eu sempre quero falar com você. —Traz as pontas de seus dedos em minhas costas fazendo pequenos círculos. Os pelos do meu pescoço se arrepiam com seu toque.

—Você me excluiu. – –Resmungo, parecendo melosa e carente.

—Não foi minha intenção. —Sua respiração sopra os fios soltos e finos de meus cabelos. Nosso abraço se intensifica, me sinto saudosa e sensível.

—Me senti sozinha. —Estou fungando contra seu peito, nem ao menos tinha reparado que comecei a chorar.

—Eu tô aqui, agora. Sempre estarei. —Promete.

Desço meus braços de seu pescoço e os passo por sua cintura apertabdo-o ainda mais contra mim. Ele solta uma gargalhada fraco e bagunça alguns fios dos meus cabelos.

—Sentiu mesmo minha falta, hein. —Brinca e o afasto, dando uma cotovelada em sua costela de leve.

—Eita, você tá ficando muito fortinha.

Dou de ombros.

—Você vai trabalhar? —Pergunto. Seus olhos me encarando.

—Sim, mas voltarei logo. Até vou te fazer um jantar. —Pisca e o encaro surpresa.

—Você nunca mais cozinhou. — Comento empolgada e ele sorrir de canto, tendo a certeza que me ganhou com sua promessa.

—Será algo especial. Coloque uma roupa bonita.

Sinto vontade de pular tamanha alegria, mas me contenho e dou-lhe outro abraço apertado. Ele descansa a cabeça no meu ombro e toca meu cabelo.

—Você não sente falta de cozinhar? —questiono, voltando minha atenção para o meu café da manhã.

A fome voltou.

—Eu tive meu tempo como cozinheiro, mas gosto do rumo que as coisas seguiram. Tenho as minhas filiais de restaurante e posso administrar tudo do meu escritório, junto com meus novos empreendimentos.

—Será que você ainda leva jeito?

Ele me encara parecendo ofendido, mas acaba sorrindo.

—Espere até hoje a noite, garotinha. Espere e veja. —diz convencido.

—Apenas não me mate. —Pisco em sua direção e ele parece avaliar a sugestão.

—Você anda muito atrevida, garotinha. Vai se lambuzar com a minha comida.

—É melhor não colocar tantas expectativas, titio.

Ele me encara em um olhar diferente, um avaliativo, que me faz encolher no lugar.

—Muito atrevida. —Volta a sorrir e solta uma piscadela.

—Vou dispensar a Olga, trarei notícias para você hoje. Até mais tarde, Mel.

Ele se inclina sobre mim e beija minha testa.

—Até mais tarde, tio Enzo.

O observo se afastar e tento não suspirar.

Encerro o café da manhã e volto para o meu quarto, retiro a maior quantidade de roupas do meu closet e tento encontrar algo que não seja florido ou antiquado. Acontece que a maioria das minhas estão no internato e as que tenho aqui são de quando eu era mais nova. Sorrio ao encarar o vestido verde oliva escondido entre alguns jaquetas. Foi um presente dele, algo que ele achou combinar com meus olhos, azuis, que dependendo do ambiente e iluminação, ficam verdes.

—Temos um vencedor. —penso em voz alta, admirando minha imagem no espelho, fantasiando com sua expressão quando me ver usando seu presente depois de tanto tempo.

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