Capítulo 8 Como Você Quer que Eu Responda?
Natália levantou a cabeça lentamente, quando olhou nítida a cara do homem, disse com surpresa:
- Dr. Anderson.
Havia um grupo de pessoas atrás dele e Natália ficou ainda mais surpresa:
- O que você está fazendo aqui?
Seu irmão Nicolas tem autismo e foi diagnosticado por Anderson. Eles foram se conhecendo melhor com o tempo.
Anderson sorriu gentilmente e antes que pudesse dizer algo, o diretor falou:
- Dr. Anderson está aqui para dar uma palestra em nosso hospital.
Anderson Werner é um famoso psiquiatra e tem conhecimento ímpar na área de autismo.
- E quanto a você, por que você está aqui? Você não está se sentindo bem? - Anderson perguntou.
Pensando na atitude determinada de sua mãe, Natália tremeu.
- Nati! - Com o checklist em mãos, Fernanda veio do outro lado do corredor ao se assustar com a comoção e com o que a enfermeira disse.
Natália mordeu o lábio e sentia vontade de chorar.
- Mãe.
Anderson disse ao diretor:
- Podem ir, tenho algo a fazer.
- Então não vamos incomodar mais. Estou convidando o Dr. para trabalhar em nosso hospital, se houver algo que precise, vou fazer o possível.
Anderson disse:
- Vou considerar a respeito.
- Sra. Fernanda, vamos falar lá fora, aqui não é o lugar certo. - O hospital estava lotado, não seria adequado conversar ali.
Fernanda também conhecia Anderson. Quando ia examinar seu filho, mesmo sem dinheiro, ele dava um jeito.
Ela tinha um grande respeito por Anderson.
Ela apanhou Natália pelo braço, com medo de que ela tentasse fugir de novo.
Logo depois de sair do hospital, Natália se ajoelhou para Fernanda.
- Mãe, por favor, Nicolas se foi, deixe-me mantê-lo, está bem?
Anderson não entendeu o que ela quis dizer, mas logo entendeu ao olhar no laudo médico na mão de Fernanda. Natália estava grávida.
Era realmente inacreditável.
Ele estava curioso para saber o que estava acontecendo, mas agora não era hora de perguntar.
Natália nunca havia chorado na frente de Fernanda, nem mesmo quando seu irmão morreu. Ela chorou em segredo.
Fernanda não queria pressionar, mas ela teria algum futuro com esta criança?
Dizem que se tornar mãe te transforma mais forte. Vendo a expressão da filha, sabia que seria difícil fazê-la desistir. Fernanda suspirou profundamente:
- Seja como você quiser.
Ela disse isso, virou as costas e foi para casa, muito magoada, não sabia mais como encarar sua filha.
Natália se abaixou, se rendeu às lágrimas. Ela não queria chorar, mas não podia segurar. A mágoa e dor acumulados emanava no seu coração, que a fizeram não conseguir mais aguentar.
Anderson as procurou antes que ambas voltassem para Santa Cruz, e descobriu que seu irmão havia morrido num acidente de trânsito.
Ele não sabia o que aconteceu neste período.
Anderson agachou-se, apertando seus ombros. Ainda era uma adolescente quando a conheceu no passado, mas ela já sabia como cuidar de seu irmão e de sua mãe.
Uma vez, viu quando somente tinha dinheiro para comprar dois almoços e comprou um para sua mãe, outro para o irmão, disse para Fernanda que já havia comido o dela.
Antes que Anderson pudesse tocar na cabeça de Natália para confortá-la, ela se levantou de repente e olhou para ele.
- Obrigada por ter me ajudado antes. Eu definitivamente pagarei de volta quando eu tiver dinheiro no futuro.
Anderson ria, cerrou a palma e retirou a mão parada sob a cabeça da garota.
- Não precisa retribuir a minha ajuda, foi de coração.
Natália abanou a cabeça.
- Você é gentil, mas não posso aceitar ambos a bondade e dinheiro.
Ela devolveria assim que possível.
Anderson ajudou ela a se levantar.
- Onde você mora? Vou lhe dar uma carona.
Natália estava preocupada com Fernanda, então aceitou a carona e lhe disse o endereço.
Ao chegar, Natália saiu do carro, Anderson perguntou:
- Você vai voltar para Atalaia?
- Não vou.
Era tão difícil voltar a Santa Cruz.
Quando Natália entrou na casa, viu Fernanda sentada, secando suas lágrimas. Sentiu uma profunda tristeza ao ver sua mãe naquela situação.
Fernanda disse enquanto limpava o rosto:
- Estou bem, pode voltar para casa de Marchetti.
- Mãe.
- Eu não cuidei bem de você. - Fernanda não conseguia parar de chorar, chorava e secava seu rosto, sem parar.
Natália a abraçou. Mãe e filha se abraçaram e choraram, limpando toda a amargura que acumulavam.
Demorou para que elas se acalmassem. Natália contou a Fernanda sobre o acordo com Jorge, pediu a mãe não se preocupar.
Fernanda estava chocada pois não achava que o casamento seria um negócio.
Fernanda não estava a favor de casamento ao contrato, mas o herdeiro de família Marchetti também não quis uma esposa grávida de filho de outro homem. O acordo seria uma boa solução.
À noite, Natália retornou para a mansão. Jorge não estava lá. Depois do jantar, ela passeou ao redor do pátio da mansão até fazer a digestão enquanto observava o ambiente ao redor da casa.
Mais tarde ela passou na cozinha e serviu um copo de água.
No momento que Natália estava pronta subir para dormir, ouviu a maçaneta girando e a porta do quarto se abriu.
Com isso, duas silhuetas entraram no quarto, uma alta e outra delgada que a seguia.
Natália estava perplexa.
Não esperava que Jorge traria sua namorada para casa tão tarde da noite.
Ester também se surpreendeu. Pensou: era aquela mulher que vira no hospital.
Ela olhou para Jorge, seu perfil tinha características de dureza.
Por que ele estava tão irritado no hospital?
Será que tinha algo a ver com esta mulher?
As mulheres sempre são sensíveis. A raiva de Jorge fez com que Ester desconfiasse de Natália.
- Vou para quarto. - Natália não queria incomodar ninguém.
- Espere. - O olhar de Jorge pesava em seu corpo. Ela estava vestindo pijamas muito conservadores, com a saia até seus tornozelos, mostrando dois braços finos e brancos, aparentava sua inocência.
Só de pensar no que estava acontecendo o deixava ainda mais furioso:
- Ester, não sou o único dono da casa, entende?
Natália achou seu comentário desnecessário já que ela nunca era de fato dona da casa. Qual o motivo de enfatizar?
- Já estou indo para a cama. - Natália foi em direção ao seu quarto.
- Srta. Natália - Ester a chamou e disse, - sinto muito.
Natália não entendeu o subentendido, olhou para ela surpreendida.
Ester estava como se sentisse por ela.
- Sei que vocês têm um casamento arranjado, mas eu conheço Jorge a mais tempo do que você. Se não fosse você, eu que estaria casada com ele, nós nos amamos. Então...
- E daí? - Natália achou-a estranha.
Ela entendeu muito bem seu papel e não queria se intrometer.
Por que ela está dizendo isso?
- Sinto pena de você porque se casou com Jorge, mas ele não te ama. Ele me ama.
- Não precisa dizer isso. - O normal não seria ficar quieta e não se misturar com a outra?
Ela disse isto para demonstrar sua bondade na frente de Jorge?
Por isso, Natália não tinha uma boa impressão com ela.
Jorge pregou na cara dela, disse:
- Que atitude é essa?
Natália franziu os lábios. Só queria que este mês terminasse logo, pegar o que era dela e ir embora.
Mas esta mulher veio aprontar, dizendo essas coisas.
O que ela deveria dizer?
- Como você quer que eu responda isso? – Natália não sabia como continuar a conversa com Ester.