CAPÍTULO CINCO
Definitivamente, acordar com um homem gostoso em minha cama não estava nos meus planos, e para a felicidade geral da nação, ao acordar, o português já não estava mais lá. Satisfeita, eu pulei para fora do colchão e fui para o banheiro. E, sobre as cenas maravilhosas antes do orgasmo perfeito? Apaguei tudo da memória. Não preciso me lembrar a cada segundo desse dia que a antiga Marina venceu a nova Marina por um round. Saio do banheiro com o meu antigo sorriso faceiro no rosto e ponho a minha melhor roupa para um dia cheio de trabalho, e depois de uma maquiagem e de pôr um os meus saltos altos, deslizo os meus dedos entre os fios compridos dos meus cabelos, os colocando em seus devidos lugares. Olho para a minha imagem no espelho, escancaro o meu sorriso e pisco um olho travesso para mim mesma. Estou pronta para mais um dia.
Notaram a diferença? Essa manhã não houve dilemas e nem lamentações, e tudo isso porque o sexo é como se fosse uma droga pra mim. Ele me anima, me alegra, me estimula, me deixa mais leve... Enfim, estou renovada. A parte pior é que não vou levar isso a diante porque eu quero, eu preciso ser essa nova pessoa e não a antiga Marina, que abafa as suas dores debaixo de um homem, fazendo sexo com ele. Minutos depois, salto para fora do meu carro e adentro a loja com uma explosão de alegria.
_ Bom dia, Lua! O dia não está lindo essa manhã? _ falo de modo espalhafatoso, jogando os braços animados para o alto, quase que cantarolando a exclamação. A mulher ergue a cabeça a cima do balcão e o seu sorriso se abre para mim com um par de olhos brilhantes.
_ Bom dia, chefa! Viu alguns passarinhos verdes hoje? _ Arqueio as sobrancelhas pra garota curiosa e jogo uma resposta bem atrevida pra ela.
_ Não, mas vi seus ovos no ninho e, Deus do céu, que delícia! _ Sigo animada para a minha sala, ouvindo o som sonoro da sua gargalhada alta. Paro em frente à minha porta, mas antes de entrar no meu escritório, meus olhos param na porta ao lado. Eu respiro fundo, fazendo um não interno com a cabeça e abro a minha porta, parando bem na entrada completamente estarrecida, quando encontro o pequeno e apertado cômodo, recheado de buquês de flores.
Que porra é essa?! Indaguei, na verdade eu gritei por dentro.
_ Foi o dono dos ovos que estavam no ninho que as enviou? _ A voz de Lua soou bem ao meu lado, quando ela esticou a cabeça para bisbilhotar lá dentro. Suspirei, porque não havia muito o que fazer. Entrei na minha sala, fechando a porta na cara da minha funcionária, antes que ela tivesse o atrevimento de entrar também, peguei meu celular e liguei imediatamente para o meu gerente de distribuição de produtos, e ele me atendeu praticamente em festa.
_ Bom dia, ruivinha! Gostou da minha surpresa? _ bufei segurando toda a minha irritação e respondi mais educada que pude. Porra, foi só um jantar seguido de uma boa transa, e o cara já está se dizendo apaixonado? Com esse pensamento gritando de um canto a outro dos meus delicados tímpanos, eu parei estupefata. Não sou capaz de amar também e definitivamente não sou diferente dos meus pais. Isso seria um defeito ou uma qualidade? Não sei. _ Marina? _ Ele me despertou dos meus devaneios assustadores. Olho para as flores, são muitas delas e de vários formatos, cores e perfumes.
_ Gostei _ falei de uma forma quase esganiçada e me repreendi imediatamente, porque se tem uma coisa que eu não tenho, é falso caráter. Gosto de dizer o que penso, o que vem na minha cabeça e pela primeira vez na minha vida, estou me escondendo atrás das minhas verdades.
_ Eu sabia que você ia gostar! Então, eu pensei que poderíamos aproveitar esse final de semana, e... Blá, blá, blá, blá... Pronto, enjoei! Já nem quero mais ver a cara do português. Uma pena, porque aquele corpo grande e forte, aqueles cabelos castanhos claros, cheios de cachos largos, que batiam em sua nuca e aquele par de olhos azuis me proporcionaram um final de noite incrível. Mas eu não quero ter que incorporar a antiga Marina outra vez.
_ Desculpa, Patrício, mas não vai dá! _ Consigo até imaginar aqueles ombros largos caindo, o rosto quadrado, com aquele cavanhaque gostoso murchando, e em seguida vem o som da sua respiração. Viu, acertei! Era isso que acontecia com os poucos pretendentes que eu tive e agora acabei de fazer mais uma vítima.
_ Outro dia então? _ Ele faz aquela costumeira tentativa.
_ Não posso, Patrício. É que eu tenho muita coisa para fazer e não estou com cabeça para passeios, e nem para relacionamentos agora.
_ Marina, eu gostei muito de você!
_ Eu sei, eu também gostei de você, mas como um amigo, entende? _ Ele fez silêncio e eu segurei uma respiração profunda.
_ Entendi _ disse com frieza na voz e simplesmente desligou na minha cara. E é exatamente agora que eu me sinto um nada. Será que eu sou quebrada? Será que eu nunca serei amada de verdade por alguém? Ou será que eu nunca amarei alguém de verdade? Me jogo em minha cadeira de todo jeito e solto uma respiração profunda.
Como imaginei que seria, o meu dia foi uma completa merda! Trabalhei empurrada, focando o máximo que pude nos relatórios do consultório de veterinária e dos serviços de higienização. Mal pude calcular os gastos semanais. Uma batida na porta me fez tirar os olhos dos papéis e encarar a porta branca ainda fechada. A maçaneta girou e a Lua pôs a sua cabeça na brecha que acabou de abrir. Ela sorriu, olhou para as flores e depois para mim.
_ É hoje à noite, animada? _ pergunta, entrando de vez na sala e fecha a porta logo em seguida. Uma noite de dança e de bebedeira, era tudo que eu estava precisando agora. Penso me sentindo bem melhor.
_ E como estou!! _ Deixo a empolgação na minha voz falar mais alto. A coisa é bem simples, beber, dançar, curtir e beijar na boca. Já está de bom tamanho. Sexo, só se for com alguém sem nome para não ter de provocar o mesmo incidente de hoje cedo.
_ Maravilha! Esse é o endereço. _ Ela arrasta um cartão preto sobre o tampo da minha mesa, que tem o nome da danceteria escrito com letras cheias e em tons de prata e vermelho.
_ Hu! Beijo Noturno? Isso é bem inspirador _ falo com um tom cheio de malícia e a minha funcionária ri achando graça.
_ Até a noite, chefa! _ diz saindo da minha sala em seguida. Encostada em minha cadeira, deixo o pequeno cartão deslizar de um dedo para o outro e abro um sorriso animado.
*****
No final do expediente, saio da loja para levar algumas coisas para o meu carro. Logo mais à frente, no estacionamento, escuto o som da risada de Deby, e vejo o doutorzinho pôr um capacete em sua cabeça com um cuidado que eu acho desnecessário. O quê? Ele pensa que a cabeça dela vai se esfarelar, só porque está colocando a merda do capacete? Em seguida ele sobe na moto e a garota se aconchega atrás dele, abraçando a sua cintura e eles saem em seguida. É estranho o que essa cena me fez sentir. É uma mistura de raiva, com medo e não sei mais o que. E porque isso me incomoda? Eu também não sei. Só sei que é algo muito novo para mim. Largo minha bolsa no banco de trás do carro, algumas pastas de contabilidade e um buquê de jasmins. Eu amo jasmins, e resolvi salvar esse entre tantas flores. O resto foi para o lixo sem o menor remorso. Volto para dentro da loja e tenho o cuidado de fechar bem a porta com a chave, depois de ligar o alarme de segurança e logo depois entro no carro animada para a noite que me espera.
*****
A música agitada, a fumaça de gelo seco espalhada por todo ambiente, as luzes de neon se misturando aos corpos suados, garçons levando bebidas de um lado para o outro. Você até poderia dizer:" Marina está em seu habitat natural" e eu lhes digo, vocês não poderiam estar mais errados. Embora eu tenha esse comportamento impulsivo, eu me casei cedo demais para viver caçando homens nas noitadas. Mas confesso, que isso aqui é o paraíso e que eu estou louca para usufruir de tudo o que eu tenho direito. Passo os olhos pela multidão a procura de Lua e imagino que ela esteja sozinha me esperando, porque o seu marido está em uma viagem de negócios, mas ela não está sozinha para a minha completa e irrevogável surpresa. Na mesa redonda de quatro cadeiras, estão praticamente todos os meus funcionários, com exceção do Rick, que a está hora deve estar babando o seu bebê recém-nascido. Eu respiro fundo e caminho para a mesa, olhando o mais novo casal da minha lojinha de pets. Heitor & Debye. Sério, eles nem combinam um com o outro. Resmungo internamente e quando estou chegando mais perto, pego um copo de uísque na bandeja de um garçom, que passa apressado ao meu lado e tomo um gole avantajado. Arg! Uísque não é a coisa mais gostosa desse mundo. Eu prefiro a minha bebida avermelhada, com o sabor adocicado, para acalmar o furacão dentro de mim, ou seria para libera-lo? Não importa, o que interessa é que ao me aproximar da mesa, os meus olhos encararam firmemente os olhos castanhos escuros do doutorzinho e de mais ninguém.
_ Chefa, você veio! _ Lua diz animada, levantando-se da sua cadeira para um inesperado abraço e depois de cumprimentar a todos, me dediquei a minha própria diversão. e entre um copo e outro, me senti ainda mais animada. _ Vamos dançar, chefa. _ Minha funcionária gritou, levantando tão festiva quanto eu e nós duas fomos para o meio da pista de dança lotada.
A dança não tinha nada de comportada, nós nos esfregávamos uma na outra, eu a abraça por trás e depois ela fazia o mesmo, só faltou mesmo rolar um beijo. Mas acredite, esse não é o meu forte e no meio da quinta música, de rabo de olho, vi a Deby beijar rapidamente os lábios do doutorzinho, pegar a sua bolsa e ir embora. Ai eu me perguntei, que espécie de namorado deixa sua namorada sair sozinha no meio da noite de um lugar como este? Eu preciso saber mais sobre isso. Efeito do álcool é foda! Penso quando me aproximo do Heitor atrevidamente, enlaçando o pescoço do homem e levando o meu rosto bem perto do seu, e solto um convite para dançarmos.
_ É melhor não. _ Ele me respondeu sério demais.
_ É por causa da Deby? Se for não se preocupe, eu não vou arrancar pedaços _ insisto, mas ele segura os meus antebraços e se livra do meu agarre.
_ Não, Marina. _ Ok, não sou de insistir. Eu aceno um sim, pra ele e me afasto erguendo as mãos para o alto, voltando à pista de dança e começo a fazer isso sozinha.
Eu amo uma boa música dançante, do tipo eletrizante mesmo e quando começo a dançar, fecho os meus olhos, sentindo a minha cabeça dá um giro leve, e sorrio me entregando a esse universo. Logo sinto um par de mãos firmes segurar os meus quadris e eu penso... Ele desistiu da sua decisão, mas logo outro par de mãos se apossou da minha cintura e eu abri os olhos, encontrando um loiro alto, bem na minha frente. Ele sorriu e agora eu já não sou mais eu, se é que vocês me entendem. Na segunda música já sinto a boca do homem atrás de mim tocar a minha nuca e o rapaz da frente desliza as suas mãos pelas minhas coxas. É nesse momento que o meu antigo eu se sente envolvido e desejado. Uma droga... E eu preciso dessa droga para finalizar a minha noite. O ruim disso é que eu sei que amanhã tudo isso terá passado. Mas não importa, eu preciso ser amada, nem que seja só por algumas horas. Uma mão desliza por trás da minha cabeça, segura os meus cabelos completamente suados e me puxa para um beijo. A adrenalina corre solta em minhas veias, mas o inesperado acontece e um Heitor enraivecido afasta os dois homens de perto de mim e me tira da pista de dança. Minha reação? Eu ri, eu ri muito, vocês não tem noção. Logo estávamos do lado de fora da boate e dentro de um táxi.
_ Me passa o seu endereço. _ Ele pede com rispidez. Mas porra, eu simplesmente não consigo parar de rir. Eu lhe passo o meu endereço e nós chegamos ao meu prédio em questão de minutos. Andamos em silêncio, um ao lado do outro, até pararmos em frente à minha porta. Heitor me pede as chaves com toda a sua marra de homem mal-humorado e eu lhe entrego. Ele abre a porta e faz sinal para que eu entre. Eu dou dois passos para dentro do apartamento e noto que ele não faz o mesmo.
_ Você não vem? _ pergunto dessa vez baixinho e me sentindo insegura.
_ Não, Marina.
_ Porque não? _ indago voltando em sua direção.
_ Porque eu só vim trazê-la sã e salva para casa. _ Ele leva as mãos aos bolsos da sua jaqueta de couro e me encara sério. Não. Eu penso. Não quero terminar essa noite sozinha, como era na mansão dos meus pais.
_ Fica _ peço baixinho.
_ Boa noite, Marina! _ Ele se afasta, mas rápida demais eu colo o meu corpo ao seu, e lhe roubo um beijo. Nossa, foi rápido demais, mas foi tão... eu não sei explicar. A dor veio logo depois que ele me afastou e me olhou com desprezo.
_ Não faça isso, você merece mais. _ Ele disse baixo demais e simplesmente se foi. Trêmula, insegura e me sentindo um nada, eu entrei em meu apartamento, fechei a porta e me pus a chorar.