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Capítulo VI

-Bem, sim, quem não gostaria? Embora, como sou um pobre filho da puta e já tenho um, vou me contentar com esse, me ajuda a desabafar.

-Bem, que culey você é, safado e conformista pra caralho. Não sei como você pode chamar de velha essa coisa que você tem na sua casa, eu caí porque tem até os joelhos para trás e as chichas seguidas, bigodudo e rabona a porra da gorda.

-Não suga, Borolas, tudo bem que minha velha não é um monumento, e ela é um pouco feia, mas ela tem um lugar e isso é o mais importante de tudo. Não?

-Para você que acha que tem o pau muito grosso e a net se tem assim, mas de sujeira, por isso não se sente mal quando remenda tudo guandajona.

Uma vez joguei e tá velho pra caralho, sério tem um buraco maior que um poço de petróleo. A sério.

-Não manche, porra do Borolas, total, não mexa com a minha velha, afinal ela te xingou, né? Então é bobagem você falar dela. Além disso, gosto do jeito que é e de jeito nenhum, Patch me ama à vontade e cuida de mim.

-Eu quero que você entenda, das coisas lindas que a vida tem. Tudo isso para todas as mães que não foram feitas para nós e que deveríamos ter.

-Aí está, se não foram feitos para nós, então o que você está brincando, melhor chupar e parar de puxar porque você está me fazendo sentir mal.

"É, cale a boca, seu grande sacana, isso são punhos mentais, nunca vamos ter o que você quer", e num grito aberto, Pedotes começou a chorar no ombro de Borolas.

-E por que continuar nessa vida de dragões e gachos, meus bons Pedotes? A rede pura é que a vida não vale nada... a vida não vale nada...

-Tudo bem mães, meus bons Borolas, até o pulque vocês me azedaram. Agora até para mim tem gosto de merda", exclamaram os pedotes, cuspindo um pouco de pulque.

-Você tem esse gosto, porque seu focinho o contamina, não seja boi... Pulque vale um chapéu, meus bons Pedotes. Essa porra de vida é a que deveria ter gosto de merda para nós. Juro que até quero me matar agora para não poder mais continuar assim.

-Bem, sim, assim como você pintou a fachada, por que conhecemos o resto da casa? É melhor jogar fora de uma vez e acabamos com tudo.

- Pois é, se combinarmos vamos bater na mãe. Olha, o Trem da Luz não demora a passar, a pista fica a dois quarteirões daqui está tudo montado.

-Será que me apaixonei pelo patrão que rachou?

-Agora, preto e sombrio se não puxa, você e eu fomos amigos todas as nossas vidas infelizes, então é justo que vamos juntos jogar seus cremes no chamuco.

Determinados, meio peidos e juntos como nas briagas. Aquele infeliz casal partiu para a linha férrea, mentindo para todos.

Aquelas ruas na direção eram tão escuras quanto as nádegas de um negro africano. E naquela parte da linha férrea, enormes cercas foram erguidas nas laterais, o que tornava mais sombrio o lugar solitário por onde caminhavam.

Eram quase doze horas da noite e ninguém se atreveu a perambular pelo percurso, sob pena de ter até a certidão de nascimento rasgada.

-Ei Pedotes, que tal eu te amarrar nos trilhos do trem para que na hora você não enrugue e rache? murmurou Borolas, no momento de chegar ao local que escolheram para sua ação macabra.

-Não mães, já combinamos que quem dividir, também fico preto e escuro para quem não cumprir o que foi combinado.

"Se preferir, posso amarrar vocês dois para que nenhum de vocês fique vivo e assim vocês possam sair deste mundo como as máquinas que sempre foram", disse uma voz cavernosa atrás deles, fazendo até o garotinho franzir a testa.

As duas se transformaram em mães, de repente um olhar de horror se desenhou em seus rostos e seus olhares se fixaram em um homem elegantemente vestido todo de preto que calmamente lixava as unhas, pregadas em um buraco na cerca que cercava os trilhos do trem, parecia assustador, mas não ameaçador.

-Pelate meu bom Borolas, quem sabe quem é esse boi... talvez seja o daninho e queira se virar com as varas que vendemos na semana passada -gritaram os Pedotes, começando a fugir até onde as pernas aguentavam.

Borolas reconheceu que o seu camarada podia ter razão e correu atrás dele, mas o primeiro tropeçou e o que o seguia não conseguiu evitar e colidiu com ele, caindo ambos ao chão com o focinho e de forma ostensiva.

-O que há de errado com seus malditos covardes? -disse o elegante senhor, aproximando-se dos dois para ajudá-los a se levantar- primeiro estão com tanto tesão que querem se matar para acabar com essa porra de vida que levam e ficam zacatonas quando veem que aparece um homem para ajudá-los em suas planos macabros.

Eu só posso imaginar o que teria acontecido se em vez de falar com eles, o trem tivesse aparecido, ainda agora eles estariam correndo de medo, talvez eles até batessem nas calças de puro medo, um par de traidores de merda.

Os pedreiros olhavam para ele com medo e respeito, embora a gentileza do belo senhor os fizesse confiar um pouco.

Aquele homem era alto, facilmente vinte centímetros mais alto do que qualquer um deles, magro e fino, com um cavanhaque espesso, nariz muito pontudo.

Seus lábios eram finos, e sua boca regular, seus olhos brilhantes, negros e de olhar profundo, pareciam ser capazes de ver até suas ideias. Ele estava vestido com um terno preto muito fino, com um chapéu e luvas.

-Você está errado, o que você pensa, não somos zacatones de merda, o que acontece é que não esperávamos encontrar ninguém a esta hora. É por isso que vê-lo aqui, escondido na cerca, sem fazer barulho, nos deu uma sensação legal.

E a net, porque este não é um lugar muito apropriado para você estar aqui e principalmente neste momento - disse o Borolas com firmeza, tentando fazer sua voz soar natural e sem medo, embora sentisse.

-O que acontece é que meu carro quebrou perto daqui e eu estava procurando ajuda quando ouvi sua fala e fiquei interessado, então me aproximei de você para ver até onde você conseguia ir -explicou o homem naturalmente

-Que conversa? -perguntou Pedotes, visivelmente assustado- a verdade é que estávamos falando besteira, ele não teria nos ouvido.

-Não, não tentei me desculpar amigo, o que você disse é verdade. Não há dúvida de que os seres humanos vivem uma existência vil.

Quer sejam muito ricos, quer sejam muito fodidos, a maioria suporta uma rotina nojenta. Isso leva muitos a pensar, por que diabos eles vieram ao mundo?

Acima de tudo, pessoas como você, que têm que se ferrar de segunda a sábado, sem consideração ou reconhecimento, depois no sábado à tarde, um banho quando há tempo e um pulque madral para esquecer tudo o que não podem consertar.

Domingo, para curá-lo, se puder e continuar chupando com seus amigos, para que à noite eles vão dormir bêbados para que na segunda-feira, mesmo com a ressaca horrível, eles vão para o calcanhar, para foder forte sob os raios de um sol que não perdoa, suportando as impertinências e empurrões de um engenheiro que se sente um merda e os trata como escravos.

Na hora do almoço, os tacos de feijão tornam-se um hábito, além de chegar em casa à tarde, cansado, irritado, e ter que aturar as queixas de uma velha, os gritos das crianças chorando, os gritos de todos, a agitação constante. Finalmente eles vão dormir onde todos estão roncando, valendo a mãe o que acontece.

Às vezes, quando o pau para, você tem que jogar um pau naquela velha do seu lado, só para ela não reclamar e não sair procurando briga com outro boi, o que vale é que aquela vadia não nem dá mais vontade, vê-la imunda, gorda, velha, feia, e por último mas não menos importante, suja e fedorenta, sim, com muito tesão e vontade.

Aposto que a maioria prefere tricotar um casaco bonito pensando nas nádegas da vizinha, ou nos peitos da fofoqueira, ou nas pernas da cunhada que ainda tem coisas boas, já que visto assim quando ela chega de visita.

Tudo isso é preferível a ter que subir naquelas bolas de carne deformadas que eles têm como esposas - o estranho terminou de filosofar sem tirar os olhos delas.

-Vamos nos matar de vez, carnal, eu caí! -ordenou Borolas ao seu bem resoluto companheiro- depois de ouvir as verdades que esse safado diz, dá até nojo de viver.

A essa altura, já havia chegado um lindo carro preto importado, para o qual o estranho os convidou a entrar com um gesto gentil e amigável.

-Filho patrão, o que você está reclamando da vida com esse carro legal, com motorista e tudo, além desses macacões que você usa ficam lindos? disse Borolas.

-Bem, acredite ou não, com tudo que tenho, também vivo minhas próprias lutas. Vivo numa luta constante que nunca vai acabar enquanto houver gente neste mundo.

Todos os dias ganho e perco batalhas, todos os dias tenho triunfos para comemorar e derrotas que me fazem chafurdar na raiva, pessoas que me chamam e outras que me xingam e fogem de mim.

Felizmente, há mais triunfos que vergonhas -comentou o estranho, depois fez uma sugestão- A propósito, não gostaria de me ajudar a vencer minhas batalhas? Eu pagaria bem e você teria tudo o que quisesse.

Os infelizes pedreiros trocaram olhares significativos, duvidando da veracidade da oferta do estranho.

-Não, você está apenas contando conosco. Ele quer nos ver com cara de boi, bem, mais do que já temos", disse Pedotes com franca confiança.

-Oh não…! Não, de forma alguma eu tiraria sarro de você. Eu sou muito sério nas minhas relações, acho que é a única coisa boa que eu tenho, vou te pagar um drink e conversamos bem sobre isso aí. Bem, se eles estão interessados e querem melhorar e mudar a porra de suas vidas.

Isso era algo que eles nunca acreditaram que pudesse acontecer com eles, eles se beliscaram para ver se não estavam sonhando com tudo o que aconteceu com eles naquela noite macabra.

O elegante automóvel do senhor de preto partiu silenciosamente, afastando-se daquele humilde bairro. Pedotes e Borolas já haviam subido, cheios de curiosidade sobre aquele estranho personagem.

O carro seguia para um dos lugares mais exclusivos da cidade, lugar onde só podiam entrar pessoas importantes e elegantemente vestidas, sem exceção.

O rapaz e seus convidados desceram do carro e foram até a entrada, ninguém se atreveu a atrapalhar, apenas protestaram porque se sentiram incomodados diante de toda aquela gente ilustre.

"Ei, a gente não vem vestido pra estar num lugar desse, é melhor a gente ir na pulcata, aí se não tem pum com o que a gente tá vestindo", diziam os pedotes.

"Não se preocupem, sou influente aqui e vocês serão tratados com cortesia", disse o que os convidou e batendo palmas chamou a atenção de um dos garçons.

A música de um conjunto de cordas alegrou o ambiente, enquanto uma garrafa de conhaque fino e três taças foram colocadas sobre a elegante mesa.

O lugar estava lotado de gente e o clima era de franca alegria, principalmente pela quantidade de belas mulheres que iam tomar um ou mais drinks naquela noite.

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