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07

CECÍLIA DEMISOVSKI

Acordo no meio da noite, sobressaltada, molhada de suor. Tento respirar fundo e meu coração parece que vai explodir, sinto um aperto no peito.

— Ana!

Num pulo levantei-me da cama e saí correndo em direção à porta, depois de passar por ela, só me detive quando cheguei frente ao quarto da minha irmã. Minha respiração estava ofegante, sendo cortada pelo incômodo forte em meu peito e assim que abri a porta, meus olhos ficaram fixos na imagem dela esperneando-se sobre a cama.

— Não! Não! Eu não sou igual a você. Se afaste de mim.

Com passadas largas, eu me aproximei do seu leito. Ana estava toda suada e com lágrimas descendo pela sua face, porém, seus olhos estavam fechados me dando a confirmação de que ela estava em meio a um pesadelo. Sentei-me na cama e segurei uma de suas mãos, em seguida o som da minha voz repercutiu entre as paredes do cômodo.

— Acorda Ana, acorda!

Sua expressão era de desespero e continuou a se debater e quando voltei a chamá-la. Um grito de medo ressoou no ambiente a fazendo se sentar na cama.

— Nãooooooo...

O choro dela, que surgiu logo em seguida, é profundo. Seu corpo todo estava trêmulo e diante da sua dor, a minha única reação foi abraçá-la fortemente. Segundos e minutos se passaram, quando seu pranto cessou, ela se afastou um pouco e olhando fixamente para mim disse.

— Você pode dormir comigo?

— Eu jamais iria deixar você sozinha.

Ana se deitou e fiz o mesmo. Ficamos as duas, uma de frente para outra, nos encarando, o que me fez lembrar-me da garotinha que após aquela noite terrível em New York, onde Ethan salvou as nossas vidas, passou sempre a ter pesadelos e acordava aos prantos pedindo para dormir comigo. Meus pensamentos foram interrompidos pela voz dela.

— Você também acha que puxei para aquele homem?

— Claro que não. Você é a minha irmã e dentro do seu coração existe muita luz, só precisa entender que as pessoas não são os brinquedos que você tinha quando criança, que podia brincar, quebrar e depois descartar porque sempre teria outro para fazer a mesma coisa.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos e de alguma forma, eu era tão culpada quanto os meus pais, pois, sempre fiz as vontades de Ana, mesmo sabendo que ela estava errada. Novamente a calmaria foi interrompida por ela.

— Eu tenho muito medo de me transforma em um monstro — disse e as lágrimas voltaram a inundar o seu rosto. Passei uma de minhas mãos em seu rosto, limpando as lágrimas que desciam pela sua face avermelhada.

— Isso jamais vai acontecer, tanto os nossos pais, quanto eu, faríamos o impossível para que a escuridão nunca tome conta do seu coração. Se fosse desleal, eu restauraria a sua fé. Se perdesse a fé, eu a converteria de novo.

— Obrigada.

— Você tem uma família que te ama incondicionalmente e no momento certo, a pessoa que está predestinada a você, irá surgir em sua vida.

O silêncio tomou conta do ambiente, ela parecia perdida nos próprios pensamentos, até que foi vencida pelo cansaço e logo em seguida eu também me entreguei a um sono profundo.

No dia seguinte...

Eu estava dentro do box do banheiro, com os cabelos todo ensaboado e as lembranças de horas atrás invadiram a minha mente. Fui acordada por Ana, que já estava a todo vapor e há muito tempo não a via sorrindo como hoje, tinha um brilho diferente nos olhos. Mesmo com toda empolgação da minha irmã e de todos os outros, acordei sentindo um desconforto no peito, muito mais intenso do que da noite anterior. Contudo, tentei aproveitar ao máximo todos os minutos na companhia daquele que amo, já que o casamento seria só na parte da tarde. Além do café da manhã delicioso, o almoço feito pela vovó Yolanda, que mesmo aos 80 anos está esbanjando saúde, foi um verdadeiro banquete, a comida estava esplêndida, a sobremesa divina e o mais importante, ter todos eles reunidos no momento que eu estava tomada por uma sensação de desconforto, um sentimento de medo pelo que estava por vir.

Entretanto, nem tudo foi só alegria, pois, uma hora depois do café da manhã, a minha mãe recebeu uma visita totalmente desconhecida por mim e para meu tormento, fui forçada a fazer depilação. Acredito-me que até os soldados em volta da mansão escutaram os meus gritos, e, eu preferia mil vezes passar pelas provas impostas pelo meu pai, do que ter novamente a minhas partes íntimas sendo massacradas por uma desconhecida que por pouco não deu vontade de estrangular. De nada adiantou suas palavras de conforto, dizendo que ela já estava bastante tempo fazendo aquele trabalho, pois, quando a mulher começou a puxar a cera, gritos e mais gritos ecoaram dentro do cômodo e já estava prestes a me levantar, quando a minha mãe entrou no cômodo.

— Eu não vou mais fazer isso.

Tanto ela, como a mulher, começaram a sorri e só aí me dei conta de que ainda não havia terminado o serviço. Contra minha vontade deixei que ela concluísse e ruborizei, só de imaginar que assim como ela, aquele homem também olharia as minhas partes íntimas. Arrepiei-me da cabeça aos pés, aquela constatação me fez estremecer e depois de vários pelos arrancados da forma mais dolorosa possível, eu sobrevivi, porém, tinha a leve sensação de estar toda ardida.

Afasto as lembranças e assim que desligo o chuveiro, saio de dentro do box. Instantes depois, estava vestindo uma belíssima lingerie branca, corselet com bojo em renda, um roupão por cima e com uma toalha nos cabelos úmidos. Segui para dentro do quarto e quando entrei no cômodo, o barulho provocado pelas batidas na porta chamou a minha atenção.

— Filha! O pessoal já esta aqui.

— Pode entrar mãe.

Assim que a ordem foi dada, ela surgiu com mais três mulheres em minha frente.

— Vou deixa você aos cuidados da equipe de Raquel.

A mulher havia sido indicada pela minha sogra, além de muito bonita, ela também pertencia à máfia Sérvia. Fizeram-me sentar na poltrona em frente ao espelho e assim foi longas horas da minha tarde, enquanto a manicure fazia o trabalho dela, Raquel, em posse da sua maleta de maquiagem, entrou em ação e em seguida foi a vez dos meus cabelos serem cuidados.

Entre um puxa aqui e outro ali, que até me fizeram perder a noção do tempo transcorrido, finalmente terminaram e quando ela pediu que eu levantasse, meu olhar foi de encontro ao vestido que escolhi e estava em cima da cama. Era branco, tomara que caia estilo princesa e com detalhes delicados em volta da cintura, feito com rendas italianas, nada chamativas ou extravagantes, era próprio para um casamento no jardim durante a primavera.

Elas me ajudaram a colocar a peça e alguns minutos depois, assim que colocou um pouco mais de spray nos meus cabelos, já estava pronta.

— Você está belíssima — disse Raquel.

— Uma princesa — falou à manicure que se chamava Isabel.

— Obrigada.

Em seguida as três se despediram e assim que sumiram da minha frente, virei-me para o espelho e meu coração disparou ao ver o meu reflexo, mesmo não gostando da ideia de me casar, eu tinha que reconhecer que estava muito bonita. O vestido havia encaixado perfeitamente em meu corpo. Nos meus cabelos foi feito um coque clássico e na lateral uma grinalda com pedras de diamantes.

Fiquei olhando a imagem lindíssima refletida nele e não acreditava no que via.

— Você está perfeita — a voz chorosa da minha mãe me trouxe ao presente.

— Obrigada mãe, estou nervosa — minhas mãos estavam frias e ela as segurou firme.

— Vai dar tudo certo. Por mais sombrio que seja o coração do seu futuro marido, ele não resistirá a você.

Não sei o porquê ela disse aquilo, como se eu fosse ter a sorte em viver num casamento assim como o dela ou da minha sogra, que apesar de tudo, o amor prevaleceu. Fomos interrompidas pelo meu pai.

— Está na hora.

Os olhos azuis me analisaram e mesmo tentando disfarçar, aquele homem enorme estava muito emocionado.

— Vamos! — disse minha mãe, quebrando o silêncio a nossa volta.

— Cadê Ana?

— Foi com sua avó e Hulk.

Nós três deixamos o cômodo e minutos depois, estávamos dentro do veículo que corria veloz pela estrada rumo ao lugar onde aconteceria não só uma, mas duas uniões. A unificação entre duas organizações que fortaleceria o território da máfia albanesa e um casamento que me deixava assustada pela perspectiva de como será a minha vida ao lado dele. Antes, eu era só a sua prometida e daqui a alguns minutos, me tornarei a sua esposa, a dama da máfia e como tal, devo agir com cautela e sabedoria. Minhas incertezas foram interrompidas com a chegada ao lugar destinado para selar a união.

Minha mãe foi a primeira a sair do veículo e foi se juntar aos demais. Quando chegou a minha vez, o meu pai me ajudou e logo em seguida uma melodia ressoou no espaço. Respirei fundo, minhas pernas do nada começaram a ficar bambas, ele vendo o que estava acontecendo, apertou com força a minha mão e disse.

— Você está linda minha filha, uma verdadeira princesa. Quando soube da sua existência e da sua irmã, senti uma emoção nunca vivida até ali, e, hoje não é diferente — ele toca meu rosto e continua. — Apesar de parecer frágil e delicada, nunca se esqueça de que você pode ser uma mulher, mas, é muito mais forte do que imagina. Sempre mantenha sua cabeça erguida e jamais deixe que nenhum obstáculo lhe enfraqueça.

— Eu o amo pai. Obrigada!

— Também a amo minha princesa.

Confiante, assim que ele entrelaçou o seu braço no meu, em perfeita sintoma, caminhamos em direção ao corredor e quando ele parou, fiquei olhando para tudo a minha volta. O jardim estava impecavelmente bem decorado, as flores brancas predominavam e deixava tudo em perfeita harmonia. A cada passo dado, encontrava rostos familiares e também desconhecidos e novamente minhas pernas ficaram pesadas quando os meus olhos focaram na figura dele, elegantíssimo em um belo terno azul-marinho, impecável, o traje caia perfeitamente em seu físico.

Quando nossos olhares se cruzaram, o homem mantinha uma expressão fechada e não dava para saber o que passava em sua mente tenebrosa. Lembrei-me das palavras do meu pai e com passos firmes cheguei até o altar.

Quando paramos em sua frente, o meu pai beijou as minhas mãos e me entregou a Ethan. A cerimônia iniciou com o padre fazendo um pequeno sermão, depois que nós dois falamos sim e em seguida foi feita a troca de alianças, ele nos declarou marido e mulher. Então o homem vestido de branco a nossa frente disse:

— Pode beijar a noiva.

Fiquei petrificada e engoli em seco com as palavras ditas, mas logo saí do transe que estava, quando Ethan segurou firme em minha cintura e me puxou para mais junto de si. Meus olhos ficaram tão arregalados que pareciam que iam saltar a qualquer momento do meu rosto. Aproximou a sua boca da minha, meu coração disparou assim que seus lábios tocaram os meus e ele aprofundou o contato. Meu corpo ficou tão leve, que parecia que tinha sido transportada para outra dimensão e quando os aplausos se fizeram presentes, ele interrompeu o ato.

Desvinculei-me de suas mãos assim que os convidados vieram nos cumprimentar. Estava ao lado da minha mãe e de Ana, quando o meu pai chegou ao lado de um desconhecido e só então ele apresentou o homem que se chamava Gael, este manteve seu olhar direcionado para minha irmã, que parecia desconfortável perante a situação.

O resto da festa fluiu animada, após o brinde que fizeram desejando vida longa ao novo chefe supremo da máfia, comecei a dançar ao lado de Ana, Clara e Ayla. Por fim, nos últimos minutos, já estava com lágrimas nos olhos ao saber que estava chegando a hora de sair da festa e ir trocar de roupa.

— Vamos! — Ethan fala próximo ao meu ouvido e antes de se afastar, sussurra. — Agora você é só minha — suas palavras de posse fizeram um calafrio atravessar a minha espinha.

Enquanto isso...

— Yan! — atendo a ligação.

— Acabei de enviar o pessoal para Itália, como combinado.

— Dessa vez, Sanada, espero que os infelizes façam o trabalho direito — digo por entre os dentes.

— Um raio não cai duas vezes sobre a mesma pessoa e com as informações que tivemos, teremos tempo suficiente para encurralar e exterminar os dois.

— Agora mais do que nunca, eles precisam ser enviados ao inferno e depois disso, será mais fácil acabar com Dusan e Enzzo. Veremos o quanto ficarão devastados com o que está por vir.

Encerro a ligação sentindo o gostinho da vitória.

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