9. UM ENCONTRO?
Jacob inclinou levemente a cabeça, seus olhos deslizando lentamente pelo rosto de Larissa, como se estivesse memorizando cada traço com uma precisão quase poética. O olhar dele parou por um instante em sua boca, depois subiu de volta até os olhos dela, e então um pequeno sorriso se formou em seus lábios — não um sorriso comum, mas aquele tipo que surge quando alguém sabe exatamente o que está fazendo.
— Mas seu carro vai precisar de um reparo, — ele disse, com a voz baixa, grave, carregada de uma calma que parecia proposital. — Se algum guarda te parar dirigindo com as luzes assim, quebradas… você pode acabar sendo multada.
Ele falava com uma tranquilidade perigosa, como se cada palavra fosse uma isca lançada em direção a ela. E Larissa... não conseguiu se concentrar no que ele dizia. Suas palavras soavam distantes, abafadas pelo som abafado de seu próprio coração acelerado.
Porque, na verdade, tudo o que ela sentia era a mão dele.
Aquela mão quente ainda repousava sobre seu ombro — um toque firme, mas gentil — e era como se a pele dela tivesse acendido sob o contato. Um arrepio traiçoeiro percorreu sua coluna, e ela sentiu o calor subir, lento, pelo pescoço, tomando-lhe o rosto com um rubor que não conseguiu disfarçar.
Jacob a observava com atenção. Não era um olhar qualquer. Era um estudo silencioso, profundo, que transbordava algo entre domínio e desejo. Como se ele conseguisse, de alguma forma, sentir a reação dela em cada músculo que tremia sob sua pele.
Era insuportável e fascinante ao mesmo tempo.
— Você está bem? — ele perguntou, outra vez com aquela voz baixa, como um sussurro rouco que parecia deslizar diretamente por seus sentidos.
Larissa piscou, tentando se recompor. O que havia naquele homem? O que havia em Jacob que a fazia sentir como se estivesse à beira de um abismo — entre perder o controle e se jogar de vez?
Ela desviou o olhar. Por um instante, seus olhos traíram sua vontade e repousaram na boca dele. Aqueles lábios firmes, delineados, que acabavam de pronunciar seu nome com uma doçura perigosa. Ela não deveria estar se sentindo assim. Não depois de um acidente. Não depois de bater no carro de um completo estranho.
Mas... ele não era um completo estranho.
Não para o corpo dela. Não para algo dentro dela que reconhecia sua presença com uma urgência inexplicável.
E Jacob percebeu.
Oh, ele percebeu.
Seus lábios se curvaram em um sorriso quase imperceptível, mas o brilho nos olhos denunciava tudo. Ele sabia exatamente o que estava fazendo. Sabia que a proximidade entre eles não era mais casual — era química, era campo minado.
E estava se divertindo com isso.
Larissa tentou piscar rápido, recuperar o foco, sair do transe em que ele a colocara. Seu corpo estava em estado de alerta, sentindo o eco daquele toque quente no ombro como se tivesse sido marcado ali. Respirou fundo, forçando-se a voltar à realidade.
Mas Jacob também estava lutando com sua própria realidade.
Naquele instante, uma lembrança invadiu sua mente como um fantasma indesejado: Giovana. Dois anos atrás. Ela sorrindo em um dia de verão, como se nada pudesse tocá-los. Ele sentiu o peso disso no peito. Jurara para si que nunca mais se deixaria envolver. Nunca mais amaria com aquela intensidade devastadora.
No entanto, ali estava ele.
Sentindo.
Desde a primeira vez que viu Larissa naquela praia — os pés descalços, o vento bagunçando os cabelos dela, os olhos fechados como se estivesse escutando o mar conversar com sua alma — algo dentro dele se mexeu. Uma fagulha. Um tremor. Uma maldita lembrança do que era se sentir vivo.
E agora, tão perto, sentindo a pele dela sob seus dedos, observando o modo como os olhos dela fugiam e voltavam, ele soube.
Se não agisse naquele instante, se deixasse a razão tomar o controle, perderia a única chance de quebrar a própria promessa.
Então ele inclinou-se um pouco mais. Seus olhos mantinham os dela presos, como uma âncora. Havia algo entre eles — algo que palavras comuns não poderiam explicar. A tensão era densa, elétrica. Intensa demais para ser ignorada.
E então, com a voz rouca e direta, ele perguntou:
— Você aceita jantar comigo? Hoje à noite.
O silêncio que se seguiu pareceu durar mais do que devia. As palavras pairaram no ar como um segredo revelado. Eram diretas. Intensas. Inescapáveis.
Larissa sentiu um choque percorrer seu corpo. O coração disparou de forma tão violenta que ela teve certeza de que ele podia ouvi-lo.
— O quê?— foi tudo o que conseguiu dizer, sua voz saindo mais como um sussurro trêmulo do que uma pergunta real.
Jacob não se abalou. Ao contrário. Seu sorriso se alargou — um sorriso cheio de confiança e intenção.
— Isso é um sim, — disse ele, como se fosse um fato já determinado, como se tivesse ouvido a resposta antes mesmo que ela a desse.
Sem esperar por protestos, ele puxou o celular do bolso e o estendeu para ela.
— Anote seu número.
Larissa hesitou. Seu cérebro gritava para dizer não. Para ser racional. Mas seus dedos — malditos dedos — já estavam se movendo sozinhos, digitando os números como se pertencessem a outra pessoa.
Quando devolveu o celular, ele a observou como quem já havia vencido uma batalha silenciosa. E então, com aquela mesma voz que parecia roubar o fôlego dela, completou:
— Passo para te pegar às 20h.
E, sem dar espaço para perguntas, sem permitir que a lógica a salvasse, Jacob simplesmente virou-se e voltou ao seu carro com passos seguros e firmes. Entrou no veículo e, segundos depois, sumiu entre os carros da avenida, deixando atrás de si o perfume amadeirado que ainda flutuava no ar... e o coração de Larissa descompassado.
Ela ficou ali, estática, as mãos trêmulas e a respiração curta. O que acabara de acontecer?
Como aquele homem, em menos de dez minutos, conseguira bagunçar completamente o mundo dela?
Ela não sabia.
Mas sabia que às 20h... ela estaria pronta.
Ou, ao menos, tentando estar.
