10. SE PREPARANDO PARA O ENCONTRO

Larissa retornou ao trabalho com o coração aos pulos e uma sensação curiosa revirando dentro de si — borboletas no estômago, ansiosas, agitadas, como se cada batida do coração fosse um aviso: algo está mudando.

Ela tentou focar no que restava do expediente, mas os pensamentos se negavam a cooperar. A imagem de Jacob — seu olhar, sua voz, o toque quente e seguro em seu ombro — voltava à sua mente como um eco doce e perturbador. Ela mal acreditava no que tinha acontecido. Um jantar? Hoje à noite? Como assim?

A reunião das 16h, para a qual ela tanto havia se preparado, acabou não sendo sobre o novo chefe, como todos imaginavam. Em vez disso, foi algo ainda mais surpreendente: a Imperium Beauty estava firmando uma nova parceria com uma renomada agência de propaganda, especializada em campanhas de impacto com modelos selecionadas a dedo para representar grandes marcas.

A ideia era ousada: trazer novos rostos para dar vida aos produtos da Imperium, tornando-os ainda mais desejados no mercado. A energia na sala era de entusiasmo e expectativa, e mesmo com o cérebro meio ausente, Larissa sentiu-se intrigada com a novidade. Seu nome não foi citado diretamente, mas algo em seu interior dizia que aquele anúncio também cruzaria seu caminho de alguma forma.

Mas, no fundo, tudo aquilo parecia ruído. Porque sua mente estava completamente dominada por uma única coisa: Jacob.

Assim que o relógio marcou o fim do expediente, Larissa praticamente saltou da cadeira. Não deu tempo para longas conversas nem para o habitual “até amanhã”. Ela apenas pegou suas coisas e saiu em disparada, sentindo a adrenalina pulsar sob a pele.

Seu coração batia mais rápido do que o normal — e não era por causa dos saltos apressados que ecoavam pelos corredores da empresa. Era a antecipação. Aquele friozinho na barriga que só aparece quando o inesperado bate à porta e você decide... abrir.

Ela não podia se atrasar. De jeito nenhum. Era como se, mesmo sem perceber, ela soubesse que aquela noite poderia mudar tudo.

Larissa estacionou o carro na rua calma de sempre, mas seu coração batia como se estivesse em uma avenida movimentada. As mãos ainda tremiam levemente no volante, uma mistura de emoção, ansiedade e aquele calor morno que Jacob deixara em seu corpo — uma sensação nova e desconcertante. Ela desligou o motor e ficou ali por alguns segundos, tentando organizar os pensamentos.

Quando finalmente saiu do carro, seus passos eram apressados, decididos. O salto dos sapatos ecoava pelo corredor do prédio antigo enquanto entrava no elevador, com a mente em chamas — revivendo cada detalhe do encontro inesperado, do toque sutil no ombro... e da última frase de Jacob: "Passo para te pegar às 20h."

Ao chegar diante da porta de seu apartamento, Larissa parou. Seu peito subia e descia com a respiração acelerada. Ela levou a mão até a bolsa, tateando as chaves, mas antes de abri-la, fechou os olhos por um instante e respirou fundo, como quem tenta conter um sorriso que insiste em escapar.

Ela sabia que precisava entrar com leveza. Sua mãe merecia boas notícias. E por mais que tudo ainda estivesse confuso dentro dela, havia uma certeza dançando em sua pele: algo tinha mudado.

Girou a chave na fechadura e abriu a porta devagar. O cheiro familiar da casa a envolveu — uma mistura de chá de camomila, lavanda e o perfume suave da mãe. No sofá da sala, a cena a fez sorrir instantaneamente: Dona Giovana estava sentada, com o olhar distraído preso na televisão, enquanto Dona Matilde, sempre atenciosa, estava ao seu lado tricotando calmamente.

— Larissa, querida! Já em casa? — exclamou Dona Matilde, surpresa e sorridente.

Larissa não respondeu de imediato. Caminhou até o sofá com um brilho radiante nos olhos, aquele brilho que há muito tempo não visitava seu rosto. Sentou-se ao lado da mãe com delicadeza e tomou suas mãos entre as suas.

— Mãe, lembra do Jacob, aquele rapaz que conhecemos no litoral?. — disse, quase em um sussurro animado. — Ele me convidou para jantar e logo ele estará aqui.

Os olhos de Giovana brilharam com emoção, mesmo por trás da névoa do cansaço.

— Claro que lembro daquele rapaz.. tão gentil, tão educado, mas com os olhos carregados de tristeza.

Dona Matilde, interrompeu o momento com um comentário carinhoso:

— Eu sabia que algo bom ia acontecer. Você tem uma luz, Larissa. E luz não se apaga...

Larissa sorriu, agradecida. Ela sentia o amor ali, pulsando no pequeno espaço que chamavam de lar.

— Agora vá, minha filha. — disse Giovana com a voz suave. — Você não deve se atrasar.

Larissa assentiu, levantando-se com um brilho nos olhos que há tempos não aparecia ali, mas antes perguntou:

— Onde está o Gustavo?

Dona Matilde se antecipou em responder:

— O Gustavo está no quarto, já fez as atividades e já jantou.

— Obrigada.

Larissa agradeceu sorrindo, em seguida, correu para o banheiro. Abriu o armário e escolheu com cuidado seu sabonete preferido de lavanda e baunilha. Queria estar impecável, cheirosa, mas ainda assim discreta. Deixou que a água morna escorresse pelo corpo, levando embora o cansaço do dia e acalmando seus pensamentos.

Depois do banho, foi até o quarto e abriu o guarda-roupa. Seus dedos correram pelas roupas, até encontrarem um vestido floral, de tecido leve e modelagem simples, mas que abraçava seu corpo com delicadeza. Vesti-lo foi como vestir um pedaço da própria essência: feminina, forte, mas sem precisar dizer uma palavra.

Diferente dos outros dias, ela decidiu soltar os cabelos. Os cachos ruivos, sempre presos por praticidade, agora desciam livres até os ombros, se movendo com leveza e naturalidade. Um batom suave, um toque de perfume e ela estava pronta.

Então, antes de sair passou no quarto de seu irmão, ele se ajeitava sob o cobertor, ela foi até ele se inclinou, acariciou os cabelos ruivos e despenteados do menino e depositou um beijo afetuoso em sua bochecha.

— Boa noite, meu amor. Dorme bem.

— Boa noite, mana. Você está linda. Vai sair? — murmurou ele com um sorriso travesso.

— Só por um pouquinho. Durma com os anjos. — respondeu ela, fechando devagar a porta do quarto.