Cap 4 - "Se aprende a perder, mas o conforto nunca chega quando arrancam alguém de nós"
Clarice estava no ponto de ônibus a espera de sua condução, quando avistou o carro do professor Alberto, e pensou:
“Esse mala não desiste, terei que dar outro passa fora nele. Que homem seboso!”
Tito que ainda descia o Morro, chegou a estrada cego de ódio bufando feito um javali, viu Clarice no ponto de ônibus que nem se deu conta do carro de Alberto. Mirou a arma para professora e ditou:
— Eu te avisei vagabunda, falei para não se meter com a minha família.
O assassino disparou de forma fria. Clarice ficou paralisada ao vê-lo e quando tentou correr era tarde demais. A munição entrou de frente no meio do seu peito. A professora pôs sua mão direita onde sentia queimar, abriu a boca como se quisesse dizer algo, do seu olho escorreu uma lágrima e caiu ao chão. Agonizou por mais alguns segundos e veio a óbito.
Tito com um sorriso de satisfação pegou a bolsa da professora para simular um assalto.
O carro de Alberto era filmado com película escura, o bandido pensou que o veículo estivesse estacionado sem ninguém dentro, quando Tito voltava, Alberto se desesperou, pensou que o assassino estava indo ao seu encontro e arrancou com o carro. Tito atirou no veículo, mas não conseguiu acertar, porém memorizou a placa de cabeça.
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Ao ir à janela, Anttone ver a filha da vizinha chegar da quadra sozinha, logo estranhou o fato do jogo ter acabado e sua mãe rapidamente não ter voltado, pois Maria não era das que gostava de ficar muito tempo fora de casa. O menino indaga.
— Cadê nossas mães?
— Estão na quadra, a minha está acalmando a sua que tá feito uma fera para cima do seu pai.
— Pai?! — pergunta Anttone já pálido — meu pai está aqui?
— Chegou quase agora e atrapalhou da gente ver o final do jogo.
— Vou pra quadra. — Anttone diz de forma desesperada.
— Se for por causa do seu pai não precisa, ele já veio embora. Minha mãe vai trazer a sua mãe. A confusão já acabou.
— Veio pra onde? — o desespero dele aumenta.
— Não sei. Pensei que tivesse vindo pra cá.. — a expressão de pavor na face de Anttone fez com que a menina perguntasse — está tudo bem?
— Está tudo certo. Eu preciso ir agora.
O menino deixa a vizinha e desce o Morro correndo.
[...]
Chegou no asfalto e não tinha ninguém, olhou para os lados e nada. Fitou o ponto de ônibus de maneira fixa, estava sem seus óculos. No desespero havia deixado a calçada da escola.
Se aproximou e viu que tinha alguém caído por detrás do banco no ponto. Seu pensamento foi.
“ Que medo Jesus! Que seja alguém bêbado.”
Não tinha mais como negar, por mais que o rosto de sua professora estivesse coberto pelo cabelos, viu o sapato caído ao chão e teve a certeza que se tratava dela. Sentiu algo que não sabia explicar, um nó na garganta abafamento no peito.
Queria estar no lugar de Clarice. Era um sentimento de culpa, impotência e de perda. Era só um garoto e começou a chorar copiosamente. A todo tempo pensava.
“A culpa é toda minha, se eu não tivesse me iludido com essa história de nova escola. Minha professora adorada estaria aqui.”
Ficou ao lado do corpo e sua consternação era algo aparente. Não sabia se ficava ali, ou se saia correndo para pedir uma ajuda que nada adiantaria. Sem acreditar ainda no que seus olhos insistiam em lhe mostrar.
Anttone somente saiu do transe quando ouviu a sirene da polícia. Foi se afastando do corpo devagar, subiu o morro pensando: quem poderia ter avisado a polícia?
Viu populares no meio da rua, para que alguém reconheça a professora, disse que ouviu dizer que tinha um corpo no ponto de ônibus. Sabia do interesse mórbido da população, que saiam correndo para ver quando aparecia um “presunto” .
Anttone rodou em torno de sua casa, não queria entrar. Estava assustado sua cabeça dava mil voltas em perguntas que o menino tinha certeza das respostas.
Seu pequeno coração transbordava sentimentos difíceis para um menino de dez anos, estava sobrecarregado de culpa, raiva e dor. Não queria olhar o homem que era o causador de todo seu desalento.
Após rodar muitas vezes em torno de sua casa, finalmente pensou que enfrentar aquela situação era algo que não tinha como fugir. Tomou coragem e entrou em casa, seu pai ainda não estava, sua mãe se encontrava na cozinha.
O menino passou “pisando em ovos” sem dizer uma só palavra, entrou no quarto deitou em sua cama, fechou os olhos desejando que quando os abrisse, tudo não passasse de um terrível pesadelo.