Capítulo 5
Nilton
Depois de ver o Matheus naquele bote, entrei em contato com o coronel e confirmei que o bote estava à nossa disposição. Aquele pulha, com certeza, tá aprontando. Mas não vou ficar atrás dele não, vou focar no que preciso descobrir e pra isso, tenho que trabalhar e não ficar vigiando o infeliz.
Levantei às cinco horas, meu horário normal e fiz um café, torradas e ovos. Comi e comecei meus preparativos.
Separei a roupa de mergulho e todos os instrumentos necessários.
Hoje chegará um grande amigo, sempre chamo ele pra me ajudar, quando preciso mergulhar.
Não é à toa a proibição de mergulhar sozinho. Já passei certas situações difíceis embaixo d'água e foi ele que me socorreu, por isso ainda estou aqui.
Preparei duas roupas, chequei os cilindros, máscaras, medidores de pressão, os sonares e câmeras. Meu material é top de linha, além de seguros, têm grande alcance de captação. Como as águas aqui são embaçadas, preparei as lentes com desembaçador. Levei o material pro barco, junto aos pés de pato, deixei só a roupa na casa, para vestirmos antes de sair.
Matheus levantou ao mesmo tempo que meu amigo tocou a campainha.
Abri a porta.
- Valeu meu irmão!!! Seja bem vindo.
Nos seguramos pelo antebraço direito e nos abraçamos, dando tapinha nas costas. Era sempre o mesmo cumprimento.
- Aeh camarada, quando você me pede chorando, que eu não faço gargalhando? - gargalhou...
- Entra Luciano, vem tomar um café.
Fomos pra cozinha e o outro tava lá.
-Este é o Matheus, também tá trabalhando por aqui, mas em outra área, este é o Luciano, Matheus, ele vai trabalhar comigo - Peguei a cafeteira e servi o café pro meu amigo. Já tinha posto a mesa, crendo que ele chegaria com fome.
- Senta aí, come a vontade cara, tem um bolo de laranja, do céu... Fique à vontade.
- Uau, preparou tudo isso pra mim? Tu é o cara, meu! Sabe que amo bolo de laranja.- Foi logo se servindo sem cerimônia, com a gente não tem disso.
- Aquela infeliz de novo - resmungou Matheus olhando pela janela, onde estava, com uma caneca de café.
Levantei e fui olhar.
- Quem é infeliz? - Questionei ele, sério, quando vi quem era.
Ele saiu resmungando e quando olhei pela janela, lá estava ela, caminhando pela praia, indo na direção do deque.
- Vem ver quem fez o bolo, Luciano.- chamei, gesticulando com o braço esticado. Ele veio e viu Lissa, com sua roupa de ginástica, rabo de cavalo, sem boné. O dia tá nublado hoje.
- Que pitelzinho meu irmão! - Falou todo alegrinho.
- Mas tira o olho, essa não é pro seu bico não - dei um tapinha na sua nuca.
- Ah entendi, ela é só pro "seu" bico!- deu risada e voltou pra mesa, fiquei ali olhando ela com sorrisinho bobo no rosto.
Finalmente estamos pondo o barco n'água, já vestimos nossa roupa de mergulho, vamos revezar, colocando os sonares e filmando.
- Aqui Luciano - abri o mapa que já havia estudado e mostrei os locais que queria investigar.
- Segundo as fotos de satélite, foi nessa área que o raio caiu. Vamos cobrir toda essa área - mostrei a área circulada com lápis, que abrangia todo o centro da lagoa
- Tem uma área, mais pro lado do canal de ligação, que a profundidade chega a 19 metros, mas nessa parte é de uns 3 metros só, pode ser que o raio tenha aberto uma cratera ali, é isso que vamos investigar. Ok?
- Ok, entendi, então vamos...
Ele entrou no barco e empurrei-o mais pra dentro d'água, subi e usei o remo pra tomar maior distância da areia e das pedras, aquela parte é rasa e não suporta ainda, o motor. Quando, enfim, tivemos profundidade, baixei o motor e seguimos pro local que marquei no mapa.
Luciano já estava ajustando o computador de registro dos sonares que colocaríamos, quando ouvimos um bip bip.
- O que é isso? - Perguntei.
- Olha isso cara - falou me mostrando o visor - Captamos sinal de outro sonare colocado próximo daqui.
- Deve ser daquele infeliz do Matheus, vi ele chegando ontem, em um bote motorizado, guardando na casa de barcos do vizinho. Cara mesquinho, o bote é pra uso conjunto e ele escondeu. Se ele escondeu o bote e plantou os sonares, aí tem! Dá pra ver alguma coisa? - Me foquei na imagem embassada, nem pra ele colocar desembaçador... é um idiota mesmo...
- Pelo que dá pra ver aqui, o solo tá compacto, a vegetação normal e a fauna tranquila. Quer que grave isso?
- Não, mas deixa conectado, esse aparelho é flexível, vamos monitorar os dele e o nosso, o bom é que vamos poder cobrir uma área maior. Já estamos chegando, também tem sonar dele aqui? - perguntei e parei o barco, olhei pra ele esperando a resposta.
- Não, tô marcando no mapa a localização do dele, assim, colocamo o nosso fora do caminho dele e aproveitamos todos. Pelas imagens, acho que ele não tem uma aparelhagem boa, talvez não consiga captar o nosso. - Olhava o tempo todo para a tela, assinalando no mapa com uma caneta.
- Ok. Vou descer agora com a câmera, faço um reconhecimento e coloco o sonar. Vai falando como tá as imagens - Coloquei a máscara que já tem os comunicadores, os pés de pato e pulei n'água, não podia correr o risco de sentar na beira do barco e cair de costa, pois o meu peso poderia desestabilizar o barco e derrubar nosso material.
Fui nadando devagar e descendo, não é muito fundo aqui, a vegetação tá legal, pequenas algas que se alimentam dos resíduos de dejetos, que ainda permanecem solidificados aqui no fundo, mas a fauna tá próspera e estruturada, tem algo, que não identifico na água, vou pegar uma amostra, a cor tá estranha.
- Tá pegando isso Luc? Vou levar uma amostra pra examinar em casa, já instalei o sonar, vou subir.
Fizemos isso em toda a área que demarquei e em algumas partes, a água estava mais turva que em outras, contaminada com a mesma coisa que não identifiquei antes.
No último mergulho, Luc mergulhou também e revezamos, até filmarmos toda a área e enfim voltamos.