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- 6 -

NÃO FOI O SUFICIENTE

(ATHOS)

Cego. Não dava pra olhar aqueles riscos de sangue, passar um caralho de pomadinha e mimar a garota como se tudo fosse ficar bem. Eu fiquei cego. Nem ferrando que aquela velha acha que vai foder na minha vida e sair intacta, no mínimo eu ia mandar ela pro inferno.

— Não dá. — respondi na raiva, saí do quarto e cruzei com Max.

— Não, Athos, volta! — pediu ele quando passei pelo mané frouxo e tomei a droga do chicote que ele estava segurando — Ah, qual é! — reclamou quando ele viu que teria de se esforçar um pouco mais.

Caminhei rápido o suficiente para que Max precisasse se apressar, pouco me fodi para os termos e regras, encontrei os guardas, assoviei alto e a velha virou para trás. O ódio me comeu por dentro, a costas da garotinha estava detalhadamente gravada na minha visão e o chicote se ajustou na minha mão como se fossemos um um só.

Pensa na merda de uma parceria fodidamente clássica, digna de uma cena válida à uma premiação. Os guardas se afastaram, a velha arregalou o olho e eu sentei a mão. A filha de uma puta gritou, colocou a mão no rosto, caiu que nem merda e esticou a outra mão para tentar se proteger. Quando eu levantei a mão de novo, Max pegou a droga do objeto, me deu um empurrão fodido, tomou distância e empunhou a arma, e apontando contra mim.

Ele parecia um pavão peitudo, com uma arma na mão. Uma sorte ele ser para mim, um irmão. Se fosse outro, sentava a mão.

— Vou dar uma na tua perna. — ele avisou baixo — Respira, Athos! Se meter a mão na tia do pavê agora, só vai aumentar a pilha de problemas. Cuida da garota, não foi pra isso que a gente veio? Presta atenção, cara!

Eu olhava pra mulher com um risco e uma marca sangrando no meio da cara, enquanto os guardas tentavam ajudar ela. Respirei fundo, olheu pro idiota do Max e me perguntei se ele tinha algum problema. Para a minha desgraça, o puto tinha razão.

— Se der um tiro em mim, encho tua cara de paulada. — resmunguei pro bundão, que não ia atirar de qualquer jeito.

Virei as costas e saí meio puto, tentando não desmontar no bundão do Max que, além de não ter nada haver com a merda, ainda tinha razão. Enquanto ouvia seus passos atrás de mim, me apressei, já que a garotinha estava minando sangue gratuito pelas costas.

— Cara, tu ia amassar legal a cara dela. Precisa se conter! — reclamou.

— Não é tuas costas que foi partida numas cinco fatias. — resmunguei em respostas e me aproximei da porta, parando apenas pelo toque do bundão, me fazendo olhá-lo.

— Relaxa cara, só não esquece que a gente está contigo. — ele me deu um tapa no ombro e me mandou uma piscada — Vou deixar você bancar o herói, já que os planos tiveram outro rumo. A gente refaz o plano e tenta outra hora.

Abri a porta, olhei a garotinha quase apagada e olhei pro Max.

— Vou levar ela até o Foster.

— Merda… — reclamou ele, notando o estrago.

(...)

— Você precisava ter visto — contou Max na maior empolgação — Ele estava disposto a fazer a tiva do pavê engolir o chicote. — ele estalou os dedos, como se demonstrasse um açoite no ar — Athos, o terror das tias do pavê! E o herói das novinhas do crime.

Apolo sorria enquanto ouvia a repetição do momento mágico, eu estava fodido e estressado, olhando pra droga do celular e esperando a merda do retorno do Foster. Aquela velha maldita estava fodendo com a garotinha no primeiro dia e eu queria foder com a vida dela no mesmo instante; e se não fosse o cuzão do Max, eu teria mesmo enfiado a vida dela no meio daquele cú frouxo.

— Sabe que fazer a mulher engolir o chicote, não vai sarar as costas da mocinha, não é? — sua majestade sabidona, já tinha um sermão preparado.

— Não me importo. — respondi com os pés em cima da mesa do escritório, com o celular na beirada e olhando pro aparelho, impacientemente. — Puxei os vídeos. A rata de rua colocou uma vadias no lugar e a desgraçada daquela velha resolveu açoitar ela. Como resultado, a garotinha estava fedendo a sangue e mijo.

Apollo e Max se entreolharam, eu pouco me fodi pra qualquer droga que eles pudessem estar pensando e, para a minha sorte, o assunto tomou outro rumo. Sua majestade pegou a nova pasta, olhou as fotos de Rato, junto a uma comparação de outra foto antiga. Era uma confirmação, e estava debaixo do nosso nariz o tempo todo.

— É o filho dele, não é? — confirmei — Quanto tempo acha que ele está aqui? — perguntou cauteloso.

— Ainda estão puxando as memórias e reconhecimento facial, mas o ponto mais antigo é a informação que a garotinha passou. Quatro anos atrás. — respondi sério — Os negócios dele ainda é meia boca, não subiu tanto e a base é drogas. Problema da polícia local.

A tensão parou o lugar e as lembranças daquele dia invadiu minha mente. Rato e Max tem a mesma idade, e com sorte, as lembranças de Max podem ser menos pesadas do que as que eu e Apolo tem. Infelizmente, o problema retornou.

— Se ele estivesse morto… — bati na mesma tecla de antes.

— Eu não ia mandar executar ele, de jeito nenhum. — retrucou Apolo — Vejamos essa situação como um novo problema, remoer aquela merda não vai solucionar as costas da sua garota e nem aliviar a nossa família.

Apollo bateu com as fotos em cima da mesa, sentou na sua cadeira e olhou para Max. Acho que eles iam dizer algo, mas meu telefone tocou. Eu o peguei, enfiei ele na orelha e não me despedi de ninguém.

— Sem muita gracinha, Foster, já estou chegando.

(...)

Era uma sala de atendimento particular e decente. A garotinha estava meio grogue, sem roupas e com a porra de um lençol tampando só da bunda para baixo. Uma enfermeira aplicava uma medicação dentro do soro dela e a outra aplicava alguma coisa nos cortes das costas. A sala não fedia a sangue, a garotinha estava limpa e o lugar muito mais confortável que a droga do chão largado onde a encontrei. Uma pena eu realmente não ter fodido com aquela mulher de uma vez.

— Senhor, não pode entrar assim, estamos cuidando da paciente e precisamos de privacidade.

— Dane-se, eu vou ficar. — resmunguei enquanto fechava a porta.

— Senhor, é algum parente próximo da moça? Um marido? — eu levantei os olhos e vi a moça insistindo — Precisa se retirar e esperar até que a paciente seja liberada.

— Continuem. — repeti seco, zero paciência e olhando pras costas surrada da garotinha.

Ela me olhou de cima para baixo, olhou para a mocinha e desistiu, terminou o procedimento, pegou as tralhas em cima de um apoio de metal e sumiu com a outra enfermeira. Eu me sentei na poltrona ao lado da mocinha, apoiei uma perna na outra e fiz a merda de olhar a curva da cintura, até a curva amassada dos seios. A vontade de enfiar a mão debaixo do lençol e checar o resto, era fodidamente grande. Merda!

— No que está pensando? — perguntou sua voz fraca.

Eu desviei os olhos e, por segurança, fiquei na minha. Já surtei o suficiente por um cú que não é meu. Então, sem essa. Não ia me estressar de novo em tão pouco tempo, nem pensar naquela velha fodida.

— Tenho algumas perguntas e você precisa estar totalmente consciente para responder. Tô afim de fazer o meu trabalho, apenas.

— Bateu nela? — perguntou baixinho, eu olhei para aquela cara corada e de olhos fundos e arquiei uma sobrancelha, me perguntando que porra de diferença minha resposta ia causar. — Eu ouvi ela gritar. — contou.

— Não te interessa. — respondi sério.

— Ela é uma mulher. — reclamou como se fosse mesmo fazer diferença, e eu revirei a droga dos meus olhos — É desvantajoso para ela, principalmente com um grandão do seu tamanho.

— Foda-se. — resmunguei de volta — Ela enfiou na bundda a desvantagem quando juntou dois manés pra te segurar e sentar a vara. Eu enfiaria aquela merda na fuça dela numa boa, se não fosse o bundão do Max.

Para a minha desgraça, a garotinha sorriu. Mostrando a dentição tímida no meio de uma feição cansada e dolorida, quase fazendo o brilho dos seus olhos azuis sumir.

— Achei que você não gostava de ratas de rua.

— Não gosto. — respondi seco — E não fode.

— Max, é o nome daquele moço bonito e carismático? Ele é tão sorridente, tão diferente de você.

— É oficial Kennedy e eu disse, não fode. — resmunguei sentindo minha impaciência subir — Max é um bundão molenga, você uma rata surrada e eu sou o caralho que tem que resolver o meio termo. Vou repetir: não fode.

Ela virou o rosto, tentou se acomodar no meio das suas dores e eu tive a leve impressão de ver a garotinha suspirar num choro silencioso. As costas não estavam tão feias quanto antes, talvez pelo sangue seco que já foi tirado, o fato é que a garotinha parecia que ia desmoronar a qualquer momento.

Uma batida na porta se fez ouvir, Foster adentrou o quarto e sorriu ao me ver.

— Chegou rápido. — comentou tirando uma caneta do bolso e indo para a caderneta que estava à beira da maca — Está tudo bem com ela, exceto que, como eu havia dito antes dela sair daqui, os números estão baixos. Pressão baixa demais, pouca alimentação, falta de algumas vitaminas essenciais…

— Sei. — respondi sem muito me mexer, agora olhando pros cortes.

— O sangramento não foi o pior, ela só não está em condições de aguentar nada. Podia ter sido algo menos doloroso, mas acredito que ela teria essa mesma reação. — Foster devolveu a caderneta pro lugar e cruzou os braços — Vai me contar qual é o seu lance com a garota?

— Não tem lance nenhum e o que eu tinha de paciência hoje, já foi. Se já fez a tua, pode cair fora Foster.

O médico levantou as mãos, ainda assim, sorriu.

— Tudo bem. — ele se dirigiu a porta e se retirou do mesmo jeito que entrou.

O santo silêncio reinou, o que me permitiu ter certeza que a garotinha chorava baixinho, escondendo o rosto. Me recordei da cena, senti ódio de novo e suspirei impaciente. O choro dela não estava ajudando em porra nenhuma.

— Engole a droga do choro, aquela vadia não vale a merda que um mosquito caga. — resmunguei, me sentindo um puto inútil, mas ela continuou chorando — Eu vou sair daqui se você não parar de chorar.

Ela parou. Eu massageei a testa, olhei pro lado, vi ela se ajustar de novo e com isso teve de levantar o corpo, expôs a curva bem desenhada do seio e voltou a amassá-los contra a cama, colocando o braço na frente da gloriosa visão. A droga do meu pau doeu na minha calça e no estado em que ela estava, não ia rolar nem punheta! Que merda! Que porra eu estou fazendo nesse quarto mesmo?

— Obrigada. — sussurrou baixo.

Max tem razão, às vezes bancar o herói te faz ter pontos positivos com a mocinha. Pera aí, mocinha? Mocinha o caralho! É uma Rata, uma ratinha fodida e gostosa, e eu deveria estar cumprindo com as minhas obrigações, mas estou aqui, estourado e focado na maldita rata.

— Athos. — eu a olhei de canto e a vi se preparar para dizer algo — Minha colega de cela…

Afinei os olhos, procurei absorver cada detalhe do movimento ouvindo e olhando bem pra garotinha. Eu já sei quem é a colega de cela dela, uma fodida problemática que causou problemas grandes. Só que, como sempre, o crime não compensa. Na hora da merda você não tem amigos. Ella foi pega no velho esquema da “amizade”, onde fizeram uma merda grande e deixaram os mais “inúteis” para trás. Suspirei fundo, fingi não dar importância e mantive meus ouvidos atentos. Pensei em interromper para lembrá-la que é oficial Kennedy, mas no fundo eu estava cagando pra isso.

— O que ela fez? Ela não parece ter feito algo tão ruim para estar naquele lugar horrível… — me mantive em silêncio e aguardei.

Apoiei a cabeça para trás, levei os braços para servir de apoio à cabeça, suspirei fundo e fechei os olhos. Porque essa caralha de garotinha não é só mais uma fodida, julgada e trancafiada? Essa turma é tudo farinha do mesmo saco. Eu tinha outros meios pra futricar o processo “rato”, mas porque eu estava tentando envolvê-la nisso? Eu devo ser um doente chegado em problemas…

— Saudades das vadias do crime, garotinha? O que vocês eram, um amontoado de maria fuzil? Eu fico me perguntando o que passa na cabeça dessas merdas pra gostar dessa vida. — resmunguei pensativo

— E eu não gostava dessa vida. Só que…

Abri os olhos, apoiei a mãos no joelho e olhei pra imagem da garotinha de olhos azuis me admirando por alguma porra de motivo aleatorio.

— Dorme. Não somos amiguinhos e não vamos bordar panos enquanto compartilho com você o quão fodida é suas amiguinhas do crime. — ordenei, peguei o telefone e sai da sala.

Disquei o número, esperei Max atender e fui direto.

— Se da próxima vez você se intrometer em qualquer que seja meu processo, Max, eu juro que vou….

— Você sabe que ela tem que voltar lá, não é? Ainda assim, tem outro jeito — respondeu Max, me interrompendo, cagando pro meu ódio — Porque não tenta pensar de novo e refazemos os planos?

— Não. E eu quero a velha morta. — resmunguei com ódio.

— Athos, tem outro jeito de resolver essa parada. Uma bunda não devia te estressar tanto, cara. Ao contrário, bunda geralmente é pra relaxar.— ele tentou me convencer,

— Eu quero a velha fodida morta, ou eu pego aquele chicote dela pra socar no teu cú. — resmunguei, sem negociações.

Max suspirou, pensou e voltou a responder

— Vamos fazer uma movimentação e tirar ela de lá, melhorou?

— Não. Se quiser dificultar, tente, mas você sabe que vou dar um jeito. — respondi fodido.

— Certo Athos, só segura as pontas. Se ela der mais uma, faz o que você quiser. Mas só se ela der mais uma. Entendeu? Segura as pontas.

Pus a mão no calibre em minha perna, desliguei o telefone e abri a porta, apenas para espiar a garotinha dormindo no meio de uma brecha. Eu vou meter a bala na cabeça daquela caralha e foda-se. Acho que estou gostando de bancar o herói, pra ladras de olhos azuis, e não consigo tirar aquela merda da minha cabeça.

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