Capítulo 9 — ÉMIE
Émie Carter:
Amanheceu chovendo, eu poderia parecer estranha, mas adoração ouvir o barulho dos trovões durante a madrugada. Não consigo entender como ele conseguiu acordar tão cedo… Quando chegamos, Michael agarrou-se a uma garrafa de vinho e se trancou em seu quarto, logo em seguida.
Estava olhando a chuva através do vidro quando senti aquela sensação de que alguém estava ali muito perto, tornado seu hálito quente uma tremenda falta de respeito com a carência alheia.
— Eu não vi você tomando café da manhã. — me arrepiei quando Michael sussurrou ao pé do meu ouvido, realmente, não estava com fome.
— Estou sem fome. — peguei minha bolsa, meu casaco e fui andando em direção a porta. — Até mais, Michael.
— Isso é uma despedida, Émie?
— Talvez seja, afinal, eu sou um ser humano e tem grandes chances de haver interesse da minha parte. Portanto, acho que se ficarmos distantes um do outro, será melhor.
— Me desculpe, não era minha intenção te fazer pensar desta forma. Eu também desejo você, mas não quero que não se sinta amada.
— O amor para mim não é um problema, Michael, passei a vida toda sendo rejeitada e sem nenhum pouco de afeto. — girei a maçaneta e quando iria sair, sua mão deslizou em meus cabelos, o desprendendo do coque e deixando-o solto.
— Eu levo você. Está chovendo, não quero que pegue uma pneumonia. — sair em direção ao elevador e o mesmo se posicionou ao meu lado.
Como eu disse, sua casa era grande, formada por quatro andares, muitos quartos e outros cômodos. Seu celular não parava de chegar mensagens, rapidamente ele digitava, na tentativa de responder todas de uma só vez.
— Eu posso ir andando, Michael. Parece que está ocupado demais nesta manhã e eu não quero ocupar o seu temp… — tive meus lábios tomados pelo seu, enquanto sua mão percorria acima da minha nuca, fazendo com que os meus sentidos se despertasse automaticamente.
— A única coisa que pode ocupar meu tempo é isso aqui. — agora com beijos mais suaves, ele tentava controlar sua respiração enquanto me olhava com desejo.
O elevador abriu e duas pessoas nos olharam com uma cara de espanto. Me recompus e segui andando, envergonha e sem ação.
Não havia muito trânsito, então chegamos rápido à biblioteca. O barulho dos trovões estava cada vez mais contínuo, coisa que eu adorava. Tentei não conversar durante o trajeto, eu não sabia o que falar com ele.
— Oito horas eu passo aqui e nós vamos jantar. Não adianta dizer que não, porque você não vai a lugar nenhum. — com um beijo em minha mão, estávamos nos despedindo quando ele colocou em minha bolsa um cartão.
— Pra quê isso? — isso já era demais, não poderia aceitar tanto, me sentia mal com isso.
— Você não tomou café da manhã, precisa se alimentar. Coma alguma coisa, por favor. Fique à vontade para comprar o que deseja. — Antes que eu lhe respondesse, ele foi embora tão rápido quanto o vento.
A abertura era por minha conta, assim como o fechamento também. Já não era um lugar muito procurado, as pessoas preferiam as telas do que os livros. Dona Emília não era casada, nem tinha filhos ou família próxima. Sua vida ela dedicou ao que amava, não queria se sentir presa a algo ou alguém. Mas, se isso aqui fechasse por agora, eu não saberia o que fazer. Estava olhando as horas quando o celular tocou.
“Bom dia, Srta. Carter, estou ligando para lhe dizer que a vaga que estava esperando, já foi preenchida. Desejamos boa sorte à Srta.”
"Obrigada por avisar, tenha um ótimo dia!"
O que era pra ser algo bom, se tornou mais uma tentativa falha, enfim… agora mais que nunca eu vou ter que correr atrás.
Dona Emília era generosa, mas não queria abusar da sua bondade e mais que nunca estava precisando de dinheiro, precisava sair da casa de Michael antes dele voltar para a Itália.
Betsy estava cruzando a porta com um homem ao seu lado, e os dois estavam de mãos dadas.
— Olá, Émie, como vão as coisas? Onde estava ontem? Fui até sua casa ontem a noite e a sua mãe disse que você não estava.
Não gostava de mentir, principalmente para Betsy que sabia quando isso estava acontecendo, mas seria estranho dizer que estava morando com o seu irmão. Quais seriam seus pensamentos? Com certeza coisas indiscretas, manter isso em segredo, por ora era a melhor opção.
— Eu saí com um amigo, fomos jantar e por isso eu acabei vindo direto pra cá. Mas você deveria ter me ligado ou enviado alguma mensagem, eu iria encontrar você. — e só então notei que o homem ao seu lado era o Rick, conhecido como Honey na época da escola, por ser cobiçado pelas patricinhas que estudavam lá. — Oh meu Deus! Eu quase não te reconheci, você está muito diferente.
— Não queria atrapalhar você, afinal, é ótimo saber que está saindo com alguém. Ah, eu e Rick estamos noivos há dois anos, e quero te convidar para ser madrinha do nosso casamento.
— É claro que eu aceito! — respondi sem pensar, pois não sei nem mesmo onde seria, mas jamais recusaria um convite deste. — E eu não estava em um encontro, era apenas um momento divertido com um amigo que eu não via há muito tempo. — Betsy e Rick se entreolharam e riram.
— Claro! Apenas amigos! — ela esperava que eu dissesse mais alguma coisa, mas sem chance disso acontecer. Já estava nervosa por estar mentindo, era uma coisa que eu odiava fazer. — Vamos sair nós duas amanhã? Rick vai jogar tênis com Michael e eu pensei que você poderia, talvez sair um pouco com a sua melhor amiga?
— Sabe que eu nunca digo não a você. — sorri e concordei, retornando para trás do balcão. — Depois você diz a hora, não estou em um clima agradável com meus pais e não quero que você chegue em um momento de caos lá.
— Pode deixar, também não sei o que seria capaz de fazer se visse você no meio do caos novamente. Bom… amanhã a gente se vê, até mais, Émie, eu amo você. Se cuida!
— Se cuida também. — nos despedimos e ela se foi, arrastando seu noivo pelo braço enquanto tagarelava sem dar uma pausa no seu ouvido.
“Estou em horário de almoço” — essa era a frase que ficava em destaque em cima do balcão enquanto eu ia almoçar, mas não tinha fome, então peguei um livro e fui para a sala onde eu dormia às vezes. Tinha um sofá médio, uma mesa pequena com uma cadeira ao lado, um micro-ondas e outras coisas que eram essenciais para o dia a dia.
Perdida em pensamentos, me senti especial por alguns segundos, não sei explicar o porquê, mas também não consigo acreditar que ele seja um homem mau. O gosto do beijo dele estava marcado em mim e todas as vezes que eu fechava os olhos, as imagem dos seus olhos me encarando vinham a minha mente. As lembranças dos beijos, dos olhares e da sua bondade, tudo era um misto de sensações intensas que me faziam perder-se no tempo todas as vezes em que eu fechava os olhos. Eu não me apaixonaria errado, por isso, tenho certeza que por trás daquela armadura, há um coração estilhaçado.