Capítulo 8 — MICHAEL
Michael Williams:
Estavam perdidos em memórias do passado quando Suzan aproximou-se da mesa em que eu estava, sentando na cadeira à minha frente, onde estava sentada Émie antes de ir ao toalete.
— Pelo que vejo você até que foi rápido, escolheu a dedo a mais pobre e idiota. Está saindo com a garota que trabalha na biblioteca, Michael, não se envergonha disso? — Suzan pegou meu copo e bebeu o líquido em apenas um gole.
— Já não temos mais nada, Suzan, e eu te disse pra ficar longe de mim, principalmente em locais públicos. — alertei ela pela última vez, antes de perceber para onde ela estava olhando.
— Eu estava de passagem e te vi aqui, daí resolvi cumprimentar você pela última vez. Te desejo sorte, não queria estar em sua pele. — antes de sair, ela se aproximou do meu ouvido e sussurrou: — Espero que encontre alguém que lhe dê o prazer que você busca, pois jamais encontrará outra igual a mim.
Após Suzan levantar e ir embora, senti que algo estava nos observando e ao olhar para trás, vi Émie parada disfarçando para colar depois que ela fosse embora. Devagar e sem graça, ela se aproximou novamente e me olhou disfarçadamente.
— Sente-se, por favor! — Eu estava com raiva do que havia acabado de acontecer e Émie parecia incomodada com aquilo.
Permanecemos calados por todo o jantar, ela mal encostou na comida, embora tivesse passado o dia todo mal alimentada.
— Eu sinto muito pelo que acabou de acontecer, não queria que isso lhe causasse constrangimento. — tentei tocar sua mão, mas no momento ela levou a taça até a boca e saboreou o vinho que o garçom havia acabado de servir.
— Não precisa se desculpar por nada, Sr. Williams, eu… — particularmente eu odiava ser chamado de Sr., isso me tornava um homem com um aspecto rude.
— Por favor, apenas Michael, me sinto como se fosse algo superior ao ser chamado de senhor, e sem dúvidas não sou, ao menos não perto de você. — seu rosto parecia vermelho, como se ela estivesse chorando enquanto esteve fora por alguns minutos. — Estava chorando? — toquei em seu rosto, limpando o canto do seu olho que ainda estava úmido de lágrimas.
— Oh não, é que eu molhei a mão e acabei esquecendo de secar. Voltando ao assunto, Michael, você não me deve explicações de nada e já está sendo caridoso demais em me trazer em um lugar tão chique como esse para jantar, mas peço desculpas por estar sem fome alguma.
— A primeira coisa que eu quero que entenda, é que não estou fazendo caridade alguma, eu gosto da sua companhia e acho você uma pessoa legal. — o que mais eu poderia lhe dizer? Mesmo com os meus instintos me pedindo para lhe despir e experimentar cada parte do seu corpo?
— Ok…
Émie parecia incomodada naquele ambiente, então lhe convidei para passear um pouco e sem hesitar ela aceitou.
As ruas estavam iluminadas com as decorações de Natal, árvores, renas e muitas luzes se destacavam nas ruas que em dias normais eram escuras e quase não se via quem vinha por causa da neblina.
— Fazia tempo que andava assim, sem preocupações ou medo do horário. Betsy sempre me acompanhava em passeios quando a gente morava perto, mas depois que ela se mudou, perdi a vontade de muitas coisas.
— Betsy? — pensei alto, fazendo ela me olhar espantada e sorrir olhando para frente.
— Sim, Betsy é minha melhor amiga, mas ela não mora mais aqui, embora esteja aqui e vai passar suas férias aqui também.
Era surpreendente como as coisas sempre se tornaram ainda mais interessantes, Émie se tornava ainda mais interessante. Então Betsy era amiga de Émie, e como eu não lembro do seu rosto? Nem mesmo lembro que elas se conhecem, mas isso não é mais um problema, a não ser que Betsy me mate por não ter lhe dito que a conhecia quando ela nos apresentar.
— E você, o que gostava de fazer em suas horas vagas? — essa era portanto uma pergunta difícil, assim como não tive uma hora infância, até ser adotados por minha tia.
— Eu gostava de andar sem rumo, com o pensamento que a qualquer momento chegaria em outro mundo, ou que tudo que eu estivesse vivendo fosse apenas um sonho. Mas nem sempre foi assim, também carregava comigo muitos problemas, que para algumas pessoas eu era um perdido. Mas não queremos falar sobre tristeza, não é? Então, o que você mais gosta de fazer?
— Eu amo ler, e quando não estou fazendo nada gosto de sentar para ler um bom livro, é por isso também que eu amo o meu trabalho, posso fazer de lá o meu lazer. — como ela conseguia viver desse jeito? Vivendo um verdadeiro inferno e ainda sim feliz em relembrar certos momentos, como era possível?
Enquanto ela falava sobre muitas coisas ao mesmo tempo, eu estava em meu mundo e não conseguia prestar atenção em suas palavras, apenas em seus lábios enquanto se mexiam sem parar. Me recuso a acreditar que dediquei tantos anos da minha vida a Suzan, eu poderia ter tido uma com menos problemas, menos dores e sem angústias, que me levam a não acreditar em ninguém ou que o amor seja inexistente.
Passávamos por uma rua escura, onde as paredes eram pichadas e não havia nenhuma alma à vista.
— Você ouviu o que eu disse? — ela me olhava parada, enquanto eu tentava assimilar o que tinha acabado de acontecer. — Andamos bastante, vamos acabar nos perdendo aqui, acho melhor a gente…
E naquele momento eu não pensei em nada, só desejei e segui meus instintos. No momento em que minha língua invadiu sua boca, senti como se eu precisasse daquilo e não a encontrasse, enfiando a mão por dentre meus cabelos, ela cedia ainda mais a cada toque meu em sua pele.
Encostei em um muro e a puxei para os meus braços, abraçando seu corpo miúdo e tentando demonstrar que agora ela estava segura, embora não soubesse como dizer tal coisa.
— Émie… eu não sou um homem que merece o seu amor. Não sou um homem que merece você! — disse tentando convencer a mim mesmo que ela não era para mim, sua alma pura e inocente, não merecia saber das minhas dores.
— Acho que se esta frase estivesse sob minha posse causaria mais efeito, Michael. Não pense que ninguém tem problemas, as pessoas apenas tentam deixar as coisas no passado e tentar seguir em frente, uma pena que pouco conseguem isso. — suas palavras estavam carregadas de dor, seus olhos denunciaram isso quando encheram-se d'água.
— Émie… — seu olhar para trás, ela se saiu do meu abraço e começou a andar sem rumo. — Émie, espere! — segurei em sua mão e ela diminuiu os passos.
— Amanhã cedo tenho que trabalhar, Sr. Williams, não seria melhor continuar lhe chamando assim?
— Não quero que as coisas sejam assim, Émie, eu não quero fazê-la sofrer. — embora eu não tivesse planos para o futuro, estava sendo movido pelo álcool que já corria em minhas veias.
— Então vamos para sua casa, eu preciso dormir, eu tenho que acordar cedo para trabalhar.
A contragosto eu me calei, soltei sua mão e nós dois fomos andando um ao lado do outro, parecendo dois desconhecidos.
Chegamos em casa e ela foi direto para o seu quarto, trancando a porta por fora e me impedindo de ter qualquer contato. — Droga! — pensei comigo, batendo a mão contra a mesa de vidro. Peguei um vinho e vi que não precisaria de taça, afrouxei a gravata, peguei uma carteira de cigarro junto a garrafa de vinho e fui para a varanda.