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06

HELENA

ANTES DE DEIXAR O MEU QUARTO, a minha mãe, disse que estaria me aguardando para o café da manhã. Para muitas garotas, hoje seria motivo de muita felicidade, ter o tão sonhado 18 anos. Mas para mim, só me faz lembrar tudo que venho passando durante todos os anos da minha existência.

Levantei-me e andei na direção da porta que dava acesso ao banheiro. Segundos depois, entrei no cômodo, dei alguns passos e me detive ao ficar próximo ao espelho, lentamente movi as mãos em direção a minha camisola e levanto a peça pelo meu corpo, passando pela minha cabeça e por último a segurando em uma das minhas mãos. Meu olhar ficou fixo no espelho a minha frente, virei um pouco de lado e tudo que conseguia sentir ao olhar para o meu reflexo se resumia em uma única palavra: nojo.

As lágrimas desceram pelo meu rosto sem a minha permissão, a imagem do homem que se tornou o meu carrasco e o meu maior tormento, surgiu em minha frente, e com ela as lembranças terríveis que vem destruindo não só o meu corpo como a minha alma. Omar Petrovci, aquele que é considerado por todos como um empresário renomado, marido e pai dedicado, muito respeitado e temido por aqueles que conhecem sua verdadeira face. O homem que por trás do empresário é na verdade o chefe de uma das maiores organização criminosa de todos os tempos, colocando mulheres e crianças indiscriminadamente, como alvo de sua ambição em ter o poder absoluto.

Eu passei toda infância desejando receber somente um único gesto de carinho da parte do homem que me deu a vida. Quando criança, não entendia o motivo daqueles olhos tenebrosos ficarem faiscando quando eram direcionados a mim. De início, a minha mãe dizia que tudo iria passar, que meu pai só estava sofrendo ainda pela morte do meu irmão. Mas, o tempo passou e seu ódio ao estar em minha presença só aumentava, primeiro vieram as agressões verbais, mas, a medida que fui crescendo, era como se isso só o deixasse mais enfurecido, pois a minha mãe engravidou novamente e meses depois teve outra complicação e como consequência um aborto . Aquilo foi o estopim para despertar a fúria do animal selvagem que habitava dentro dele.

E as palavras foram substituídas por algo mais doloroso. A pessoa que eu mais amo na vida, no princípio sofreu as consequências daquele ódio descomunal, pois sempre se colocava em minha frente e se tornava o alvo das atrocidades do homem que deveria ser um protetor, aquele de quem eu só queria o amor. Eu cansei de ouvir os gritos dela, de ver que o brilho do seu olhar, que sempre aqueceu meu coração, estava desaparecendo, se eu era o motivo de tanta tristeza, se fui a responsável pela morte do meu irmão, era eu quem deveria enfrentar a fúria do demônio que tenho por pai.

Cada estalar do seu cinto, não só deixou muitas marcas em minha pele. Ele não só me marcou como a um animal, mas cada ato seu, só fez aquela criança deixar os sonhos de lado e aceitar o seu destino. Foi somente a força do amor da minha mãe a razão de não desistir de lutar para me manter viva. Eu não posso deixar ela a mercê da fúria dele, enquanto eu estiver aqui, eu sei que seu ódio estará sempre direcionado para mim e de alguma forma, eu estarei evitando que ele possa descontar sua raiva nela.

Vocês devem está se perguntando o porquê de não gritar para todos quem é o monstro que eles consideram um anjo. Ele sempre me privou do convívio com as pessoas, tive aulas em casa e a maior distância que me era permitida ir, era o jardim da nossa própria casa. Sempre dizia a todos que não estou bem de saúde e as poucas pessoas que me viram desde o meu nascimento, foram os membros do conselho e até me chamam de princesinha da máfia. Algo que ele odeia, mas tenta disfarçar perante todos.

Deixo meus pensamentos de lado e caminho em direção ao box. Meia hora depois, desliguei o chuveiro e caminhei até a pia, após escovar os dentes, fui até o meu closet. Já arrumada andei em direção à porta, deixando o quarto e atravessando o enorme corredor que dava acesso ao primeiro andar. Desde criança que sempre sinto calafrios ao andar pelos corredores do segundo andar. Minha mãe disse que, antes a família do falecido chefe da máfia morava aqui e foram brutalmente assassinados, após a invasão dos seus inimigos.

Meus pensamentos foram interrompidos quando ouço a voz da minha mãe.

— Vamos filha!

Depois de descer os últimos degraus, ela segurou em umas das minhas mãos e seguimos até a sala. Alguns instantes depois, já acomodadas, começamos a comer, como era de costume, Omar Petrovci dificilmente se sentava a mesa quando eu estava. Ficamos tão distraídas conversando, que não notei a aproximação dele, até que sua voz potente ecoou no cômodo, fazendo um calafrio percorrer por todo o meu corpo.

— Bom dia!

Levantei a cabeça e fiquei atordoada ao vê-lo com um largo sorriso no rosto. No entanto, em se tratando do homem implacável que estava a minha frente, eu não podia esperar nada de bom e ao ouvir as palavras que foram ditas por ele, um nó se formou em minha garganta, meu sangue gelou no mesmo instante em que meu coração começou a bater descontrolado. Só aí entendi o motivo da sua felicidade.

— Agora que completou 18 anos, chegou o momento de aceitar a proposta de Gustavo Albrantes, pois seu casamento com aquele idiota me trará bons lucros.

Antes que eu cogitasse em processar o que estava acontecendo, a voz da minha mãe preencheu o cômodo.

— Você só pode estar brincando. Aquele homem tem idade para ser o pai dela. Como você pode querer a união da nossa filha com aquele homem pervertido? — As feições dele logo mudaram, seus olhos sombrios estavam faiscando de ódio e novamente a voz firme dele se fez presente.

— Eu jamais brinco querida esposa, deveria saber disso, no entanto, até que fim, essa infeliz me terá alguma serventia. Farei de tudo para que esse casamento aconteça o quanto antes, e, amanhã mesmo será oferecido um jantar para oficializar perante os membros do conselho o noivado.

As palavras proferidas por ele caíram como um soco no meu estômago. Quando achei que Omar não pudesse me atingir mais do que vem fazendo ao longo dos anos, sua atitude só demostrar o quanto o seu ódio por mim não tem limites.

Enquanto isso, não muito longe dali...

ENZZO

— Quando você pretende ir para Durrês?

— Vou hoje à noite.

— Achei que ia esperar mais alguns dias. Você precisar tomar bastante cuidado.

— Ao contrário daquele infeliz, eu tenho a vantagem em saber onde encontrá-lo e conheço o seu rosto. Eu tinha cogitado em ir somente daqui alguns dias, mas algo me diz que preciso ir hoje mesmo. Não sei o que me aguarda naquele lugar, mas é como se um ímã me puxasse naquela direção.

"Omar Petrovci, em breve terá o fim que ele merece."

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