03
TIRANA – ALBÂNIA
HULK
OS GRITOS AGUDOS ECOAM poderosos. Senti uma dor latejante em minha cabeça e com ela as lembranças de quando falava com Vitor se fizeram presentes, naquele justo momento, enquanto eu o questionava o motivo do dinheiro que ele havia colocado em minha conta, o som potente do choro de Enzzo ecoou do outro lado da linha, eu jamais esqueceria aquele barulho causado pelo pequeno herdeiro da família Demisovski. Meu irmão ainda disse que era uma forma do pequeno intimar o tio a comparecer para conhecê-lo. Deixo meus pensamentos de lado quando o homem a minha frente, que havia colocado a criança no chão, levou uma das mãos até a cintura.
Um pensamento passou pela minha cabeça e no impulso saí de cima do veículo e minha mão como se tivesse vida própria, foi de encontro a minha arma. Meu sangue gelou assim que o desgraçado colocou sua arma em punho e direcionou para o seu alvo. Assim que ele levou o dedo ao gatilho, o som de um disparo deu lugar ao barulho que antes era causado pelo choro do bebê.
Um ruído alto saiu rasgando a garganta do maldito, que soltou a arma que segurava, em seguida levou sua mão esquerda em direção ao ombro ferido. Enquanto ele ainda se encontrava desorientado, tentando assimilar o que aconteceu e me movendo com uma velocidade semelhante à bala, que havia atingido o desgraçado, avancei em sua direção e quando ele enfim parecia que tinha ignorado a dor e virou-se buscando encontrar o que o havia tingido, fechei uma das mãos em punho e o golpe certeiro atingiu a sua face. O canto da sua boca transforma-se, uma grande quantidade de líquido avermelhado escorria entre as laterais da sua cavidade bucal, desviei meu olhar por uma fração de segundos em direção à criança, que se encontrava no chão frio e ao ver aqueles olhos salientes da cor de um azul-ensolarado, fixos em minha direção, meu corpo todo se aqueceu no mesmo instante que um ódio descomunal tomou conta de todo o meu ser, ao pensar no que esse maldito iria fazer com o meu sobrinho. Meus pensamentos foram interrompidos quando um ardor se fez presente em um dos lados do meu rosto, minha boca transformou-se numa linha dura, meus olhos pareciam estar em chamas, assim como os órgãos localizados dentro da minha caixa torácica começaram a funcionar num ritmo intenso, como nunca havia sentido antes. Fechei minha mão novamente em punho e quando o infeliz tentou se abaixar para pegar o objeto que se encontrava no chão, movi minha mão em direção a suas costas, acertando-o com um golpe cruel, fazendo o seu corpo desabar de imediato.
Não satisfeito, ele mudou de posição e tentou se levantar e foi nesse momento que subi em cima do desgraçado e movido pela raiva que incendiava em minhas veias como fogo líquido, comecei a bater no maldito sem parar. A certa altura, mesmo com dificuldade, sussurros saindo entre seus lábios se fizeram presentes e lembrando-me que precisava descobrir o que havia acontecido, antes de acabar com sua vida miserável disse:
— Quem te pagou para acabar com a vida de Enzzo Demisovski?
O homem tossiu e logo em seguida uma grande quantidade de sangue escorreu entre seus lábios. Mesmo com dificuldade e com a voz fraca, ao ouvir o nome que foi dito por ele, meus batimentos cardíacos dispararam no mesmo instante que um ódio mortal pairou sobre mim.
— Om... Omar Petrovic!
Assim que seus lábios se uniram, fechando a sua boca, deferir um último soco contra o seu rosto o nocauteando. Levantei-me, e em seguida puxei o maldito pelas pernas em direção ao carro, me detive ao chegar próximo ao porta malas, deixei o infeliz no chão, enquanto ia tratar de acionar o portão para que a porta fosse aberta, em questão de segundos voltei novamente para perto do corpo dele e o joguei dentro do veículo. Esse homem é o único que pode esclarecer tudo o que aconteceu e se conseguiu retirar o meu sobrinho de dentro dos domínios de Vitor, algo muito sério deve ter acontecido.
Meus pensamentos foram interrompidos quando o choro do meu sobrinho novamente se fez presente, fechei a porta e fui ligar o aquecedor, pois com tanto tempo exposto a essa temperatura, Enzzo certamente estava com frio, movi a chave no contato ligando o automóvel e em seguida o aquecedor. Andei alguns metros de distância, até onde meu sobrinho estava e ao ficar a centímetros de distância dele, me agachei pegando o pequeno em meus braços, no momento que me levantei, um estrondo terrível preencheu todo espaço deixando o veículo em chamas.
Cinco anos depois...
— Tio, acorda!
A voz e o toque das pequenas mãos de Enzzo me despertaram. Fiquei com os olhos fechados durante alguns bons segundos, esperando que a dor terrível em minha cabeça desse uma aliviada. A ressaca monstruosa certamente era resultado da festinha particular que fiz ontem à noite. Meus pensamentos foram interrompidos quando meu corpo começou a ser sacudido.
Resmunguei em protesto, em seguida fiquei paralisado ao seu comando.
— Olhe para mim.
Desorientado, movi meus olhos identificando o responsável pelo ato. Seus olhos azuis faiscaram, a fúria latente estava nítida em suas palavras.
— Levante-se está na hora do meu treinamento.
Ele continuou com seu olhar cravado em minha direção. Ainda estava furioso e o que deveria, de alguma forma me causar um certo incômodo, por um ser tão pequeno e falar comigo desta formar, só fez todo o meu corpo vibrar, ao constatar que ele daqui há alguns anos estará pronto para o confronto com aquele usurpador. Omar assumiu o controle da máfia albanesa, destruiu a vida da família do meu irmão. Como o único que poderia dizer à verdade que ele foi o responsável pelo ataque que resultou na morte de Vitor e Helen, foi eliminado naquela explosão, não me restou outra opção a não ser manter Enzzo em segurança.
Minha existência sempre foi desconhecida por todos, seria a minha palavra contra a do homem de confiança do chefe da máfia, que sempre foi respeitado por todos. Aquele traste certamente daria um jeito de sair ileso, virando o jogo e eu estaria colocando a vida do meu sobrinho novamente nas garras daquele traidor.
Saio do estado catatônico que me encontrava e me levanto em um pulo. O meu pequeno ainda se encontrava petrificado com suas sobrancelhas grossas arqueadas, analisando minuciosamente todos os meus movimentos.
— Peça a Yolanda para providenciar algo leve para você comer e me espere lá fora.
Seus olhos brilharam de imediato, suas feições mudaram e um largo sorriso surgiu em sua face. Enzzo saiu saltitando do cômodo, pois desde que começou a entender as coisas, tive que contar toda verdade e para minha surpresa, desde aquele dia, todas as manhãs ele sempre ao acordar vem até o meu quarto já pronto para o seu treinamento. Em passos firmes, andei em direção ao banheiro, no entanto, as lembranças de anos atrás surgiram em meus pensamentos.
"Eu jurei, no túmulo do meu irmão, que Enzzo teria tudo que lhe foi roubado, não importa o tempo que leve para isso acontecer, aquele que todos deram como morto vai renascer, assim como uma fênix, porém desta vez, Omar vai acertar as contas com o monstro Renascido".