02
OMAR
DESVIEI MEU OLHAR DO CORPO sem vida do desgraçado jogado no chão e, levei minhas mãos de encontro à maçaneta da porta, assim que ela foi aberta, a vadia que segurava o monstrinho virou em minha direção. A expressão que antes parecia ser de alívio, deu lugar ao pânico no momento em que seus olhos foram de encontro ao corpo sem vida do infeliz e logo em seguida olhou a arma em minhas mãos. Ver o medo em suas órbitas azuis só me deixou com mais vontade de acabar com sua miserável vida, o choro irritante do fedelho logo se fez presente. A mulher que antes estava petrificada, saiu do estado estático em que se encontrava quando coloquei minha arma em punho apontada em sua direção.
— Não! Não! Seu malditoooo... — disse a desgraçada, segurando firme o pequeno pacote em seus braços.
Deixo os meus pensamentos de lado quando a infeliz desvia seu olhar de mim e mira em direção à porta que está a sua direita, e, no momento que notei uma movimentação em suas pernas, minha voz se fez presente no mesmo instante que meu dedo ficou fixo no disparador.
— Não adianta fugir, assim como aquele maldito você irá partir dessa para pior.
Se movendo como um relâmpago, a mulher logo se aproxima da porta, mas antes que ela cogitasse em entrar no ambiente, puxo o gatilho e ela é alvejada pelas costas, um grito alto sai por entre seus lábios, suas pernas perdem as forças, fazendo a mulher pôr-se de joelhos e como reflexo, colocar a criança que estava em seus braços no chão. Um segundo tiro atinge a cabeça da maldita, fazendo seu corpo cair para o lado e logo o ambiente é preenchido pelos berros da criança a minha frente.
Senti o ódio inflamar em minhas veias, com algumas passadas, me aproximo do pirralho a minha frente e se não fosse pelas palavras daquela velha, eu mesmo daria a ele o destino igual ao dos seus pais.
Acabo com a pequena distância que me separa do único ser que falta para ser eliminado. Quando pego o pequeno embrulho, o som irritante que ele fazia parou de imediato, no entanto seus enormes olhos azuis como o mar, se abrem e vão de encontro aos meus.
Um calafrio inexplicável atinge as minhas pernas e logo se apodera de todo o meu corpo. As vibrações vinda dessa criança causam um incômodo como nunca tinha sentido antes, lutando contra o desconforto que pairou sobre mim, segui em direção a porta, em questão de segundos deixo o cômodo indo para o lugar combinado.
Os estrondos dos tiros se faziam presentes, mas eu precisava agir rápido antes que, o alerta que foi enviado, certamente por Vitor, fizesse desse lugar a própria cede da máfia, logo todos os seus homens estariam chegando nesse lugar. Atravessando o corredor feito uma bala, cheguei ao lugar combinado e assim que abri a porta, Inbrain já estava me aguardando.
— Você sabe o que deve fazer. Assim que chegar às montanhas, deve colocar o corpo dele em contato com o chão e, em seguida matá-lo. O sangue do último membro dos Demisovski marcará o início do meu legado.
— Assim será feito chefe.
— O carro já está a sua espera, pelo visto o fedelho sabe que seus minutos estão contados, pois acabou adormecendo. Agora me dê a sua arma e leve a minha, preciso que aqueles idiotas não tenham dúvidas que assim como eles, eu também fui um alvo.
Assim que o homem me passou sua arma e com a criança já em seus braços, antes de deixar o ambiente, fiz o sinal para que ele fizesse o que tínhamos combinado. Apontando a arma em minha direção, um último disparo foi feito, lógico que ele sabia exatamente o lugar que deveria acertar para que eu saísse com vida de tudo isso. De repente, tudo ficou escuro, antes do homem sumir do meu campo de visão e eu perder totalmente os sentidos, movi minha mão de encontro ao relógio em meu pulso, ativando a bomba instalada no carro, jamais deixarei esse idiota vivo, ele terá tempo suficiente para eliminar Enzzo Demisovski, no entanto ao entrar novamente naquele carro jamais chegará ao seu destino.
HULK
Após a morte da minha mãe, fui criado por Yolanda, já que minha mãe era órfã e não tinha parentes vivos. A mulher que mesmo sendo escolhida pelo temido Nicolas Demisovski, não me viu somente como o menino filho de alguém poderoso, a quem ela receberia uma alta quantia para cuidar. Ela me deu muito mais que atenção, eu cresci cercado por seu carinho e muito amor.
Mesmo sendo o filho bastardo do poderoso chefe da máfia albanesa, sempre tive toda atenção do meu pai e quando conheci Vitor, um sentimento inexplicável pairou sobre mim. O meu irmão me recebeu de braços abertos, mesmo sendo alguns anos mais novo do que eu, e embora com toda insistência, sempre quis me manter afastado de todos ao redor dele. Mas assim como Vitor, passei pelo treinamento, pois o nosso pai disse que mesmo não gostando, isso algum dia teria utilidade em minha vida.
Acabei aceitando o meu destino, pois o sangue do sanguinário Nicolas Demisovski corria em minhas veias e ser um predador foi algo que descobri que fazia muito bem. Com o passar dos anos, sempre que tinha algum obstáculo, que meu irmão encontrava dificuldade para tirar do seu caminho, eu estava lá para fazer aquilo que fui treinado, caçar a presa e eliminá-la.
Descobri ontem, que uma alta quantia foi depositada em minha conta e esse foi um dos motivos que me fez sair das profundezas da escuridão e vir até Vitor, além do quê, precisava conhecer aquele que dará continuidade ao legado da nossa família. Depois de minutos que pareciam uma eternidade, assim que me aproximei do meu destino os estrondos de tiros ecoaram no espaço. Um vento frio passou por mim, assim como senti uma sensação ruim, reduzi a velocidade da minha moto e apaguei o farol.
Com minha visão semelhante à de uma coruja, capaz de ver de grande distância e com a pouca luz, meus olhos grandes e redondos ficaram fixos na imagem a minha frente. Os soldados de Vitor estavam caídos no chão, os sons dos disparos pararam e quando ia ligar novamente o farol da moto, um carro saiu em alta velocidade, eu sei que deveria entrar e ver o que estava acontecendo, mais era como se uma força sobrenatural tivesse tomado conta de mim e assumido o controle do meu corpo, pois algo me puxava para ir em direção aquele carro. Lembrando-me das palavras de Yolanda, que sempre devemos levar em conta a nossa intuição, liguei o farol, contornei a moto na direção que o carro tinha ido e aumentei a velocidade. Tentei me manter o máximo possível afastado do veículo, no entanto não o perdendo de vista. O carro seguiu em direção à estrada que dava acesso as Montanhas Dajti, ou seja, meu território.
O automóvel continuava em alta velocidade, o que me deixou ainda mais intrigado. Depois de quase 50 minutos, o veículo reduziu a velocidade, me mantive afastado e não demorou muito para um homem vestido de negro sair do carro e sem delongas deu meia volta e abriu a outra porta e tirando de lá um embrulho. Ele deu alguns passos e logo colocou o pequeno pacote no chão, e foi nesse exato momento que som que ecoou no espaço, atingiu os meus tímpanos fazendo o meu corpo ficar em chamas, no entanto, tudo que veio em meus pensamentos foi Enzzo.