A Guerra
O mundo havia chegado a um ponto em que, embora a tecnologia tivesse avançado muito e a ciência se multiplicado nas mutações genéticas, não se encontrou uma cura para um vírus que atacou os vampiros, tirando sua racionalidade e aumentando sua sede de sangue humano.
Foi uma chacina dos humanos, que beirou a extinção, se não fossem os shifters e os embriões congelados.
Os chamados impuros se multiplicaram e na falta de humanos, começaram uma caçada aos shifters mais indefesos. Foi quando houve uma união de lobisomens, shifters, híbridos e as criaturas criadas em laboratórios com a mistura de genomas humanos com o de animais, na tentativa de fortalecer o gene humano. Foram chamados mixtos.
A guerra foi muito acirrada. Os mixtos não haviam percebido o crescimento gigantesco dos impuros, que com a morte de seus primordiais e com poucas fêmeas para acasalar, se tornaram, na maioria, insanos. Cresceram, formando cidades subterrâneas, onde não se notava a existência na superfície.
Quando os ataques se intensificaram, cidades inteiras foram dizimadas e viraram entulho, mas não atingiu as cidades dos impuros.
No final da guerra, quando os impuros se isolaram e pararam de atacar e os mixtos se ocultaram por trás de imensas fortalezas, a maior parte dos seres vivos sobre a terra havia morrido e os sobreviventes não faziam ideia da quantidade de impuros restantes nas cidades subterrâneas.
Passaram-se cinquenta anos até que os mixtos percebessem o que os impuros estavam fazendo. Mesmo durante a guerra, eles prenderam vários seres, principalmente mulheres grávidas e crianças perdidas, por seus pais terem sido mortos. Assim eles cresceram seu contingente de servos e de alimento. As fêmeas eram usadas para satisfação sexual e procriação, até que não aguentavam mais e eram sugadas até a morte, antes de morrerem de exaustão.
Quando os mixtos descobriram essa artimanha, não tinham como combatê-los, por não conhecerem suas cidades, como entravam, saiam e andavam lá dentro. Então criaram sua força armada militar de vigilância e resgate. Nos primeiros anos, conseguiram identificar onde era uma das pontas de uma cidade e tentaram invadir, mas não conseguiram e muitos mixtos morreram.
Perceberam então que algumas crianças mixtas crescidas lá, tornaram-se vigilantes da cidade, principalmente os alados, prejudicando o trabalho de busca e resgate.
Foi então que tiveram a ideia de implantar nanochips de localização, nos fetos e nas fêmeas grávidas. Caso essas mulheres fossem pegas, teriam como encontrá-los e resgatá-los. Foi nessa época que Mira começou a trabalhar no quartel general e apesar de aparentar seus dezoito anos, tinha mais de cem.
Claro que era um meio preventivo, pois estas mulheres eram super protegidas e não saiam das cidades fortificadas, mas podia acontecer durante uma viagem ou saída necessária. Foi o caso da irmã de Mira, acasalada com o general que não queria ter filhos, pelos raptos e por sua falta de sentimentos por crianças em geral.
Mara, como se chamava a irmã de Mira, mesmo o companheiro não querendo, emprenhou de seus três filhos. Ela era uma das principais pesquisadoras sobre o solo e o restabelecimento da flora e fauna naturais. Foi em uma das incursões pelos escombros, que não se apercebeu que chegara o entardecer e foi capturada, antes de conseguir se defender e retornar a nova cidade.
Mira perseverou em perseguir os sinais e em sua ânsia de resgatar sua irmã e seus sobrinhos, conseguiu descobrir a tubulação de esgoto que levava a masmorra onde estavam as crianças. Conseguiu resgatar várias, mas nenhuma eram elas. Foi nessas tentativas que descobriu várias instalações, feitas para proteção em caso de guerra nuclear, sendo usadas pelos impuros.
Agora Mira finalmente conseguiu encontrar seus sobrinhos, que já completaram cinco anos. Mas não sabia nada de sua irmã. Seu cunhado, o grosso e insensível general, acreditava que uma união entre os dois seria bom para o futuro dos trabalhos gerenciais do quartel, mas Mira tinha nojo dele e já se esquivara várias vezes de suas investidas.
Tendo Mira encontrado os sobrinhos, o general Soro, era o nome de guerra dele, desistira um pouco das investidas, mas continuava olhando para ela com cobiça.
O que Mira nunca conseguiu entender, era porque o general não sentia empatia pelas pessoas que perderam seus parentes, raptados. Pois o próprio Soro, também havia perdido seu irmão gêmeo para os impuros e foi por isso que ingressou nas forças armadas, para tentar encontrá-lo. Ele iniciara nas forças, cinquenta anos antes da formação de Mira, era apenas um rapaz e chegou, com esforço, ao posto máximo em que está hoje.
Se ele resolvesse tomar Mira como companheira, não haveria quem o impedisse, somente se ela encontrasse seu companheiro destinado. Mas Mira nem pensava nessa possibilidade, apenas fugia o máximo que conseguia, das investidas de seu cunhado, vulgo general Soro.
***
Dias se passaram, as crianças se adaptaram bem e já começavam a falar frases inteiras. Soro não se aproximava de nenhum deles, nem de Mira, para não correr o risco de ouvi-la mencioná-los. Porém, seus dias solitários estavam pesando em seu corpo e alma e nem os aparelhos de desestresse ou as mercenárias sexuais, estavam conseguindo acalmá-lo. Precisava de Mira. Ela sim, conseguiria aguentá-lo em todo seu fulgor, pois a estrutura dos dois eram semelhantes.
– Soldado Lima, peça para a comandante Mira que venha ao meu escritório - ordenou, apertando um botão no interfone.
– A comandante Mira ainda não chegou, general, seu horário é só daqui a uma hora. - Respondeu a secretária.
– Inferno – chingou Soro, atirando o aparelho na parede.
Na sala ao lado, a secretária enviou uma mensagem criptografada para Mira:
"General Soro naqueles dias, te procurando. "
Quando Mira decifrou a mensagem, sabia do que se tratava, graças a Lila, tinha conseguido se livrar várias vezes dos arroubos de paixão do general.
Aproveitou como desculpa, o check up físico que todos que voltavam de uma missão fora das muralhas, precisavam fazer. Ela sempre adiava, para poder aproveitar e fazer nesses momentos.
Chegou ao andar destinado aos exames e trocou de roupa. Entrou na primeira sala, exames de taxas sanguíneas, sentou-se em uma poltrona acolchoada e vários aparatos automáticos, se auto introduziram nela. Terminou dali e foi para a segunda sala, exames eletrocardiograma e encefalograma. Neste, ela deitou em uma maca e um drone rotator passava por ela, soltando pequenos feixes de luz sobre seu corpo. Terminou ali e foi para a terceira sala.
Teste de resistência e velocidade. Andou e correu em uma esteira, pedalou em uma bicicleta ergométrica e fez flexões de braço. Só então foi para a arena de luta. Onde seus reflexos, força e habilidades em ataque e defesa, seriam testados. Não estava cansada, mas doida para dar uns bons socos e chutes em alguém.
Quando abriu a porta e olhou no centro do tatame, quem a esperava era o dito cujo, bobão e lascivo, general Soro. Ela sorriu e ele pensou que ela havia gostado de vê-lo.
Ela foi até ele, o cumprimentou com uma inclinação de corpo e se pôs em posição.
Ele fez um sinal com a cabeça, autorizando a marcação do tempo e começaram a luta.