5- Eu precisava do meu emprego para pagar as minhas contas.
Eu segurei seu olhar. Queria poder falar poucas e boas para ele. Mas eu precisava do meu emprego para pagar as minhas contas.
Seus olhos se demoraram em mim.
— Podemos ser mais profissionais?
—Profissionais? Isso é ótimo. —Eu disse séria.
Um sorriso devasso se projetou na sua boca e não tinha nada a ver com profissionalismo.
—Ótimo. —Seus olhos se demoraram em mim.
Calada observei Zachary se afastar, absorvendo tudo o que aconteceu, e ainda sem respostas para as minhas dúvidas.
Como ele conseguia?
Eu não fui à namoradinha dele de beijinhos na boca.
Ele me levou para a cama. Fomos íntimos! E diante tudo que descobri, era normal minha atitude. A dele que era fria demais.
Sabe que eu via com tudo isso? Que eu nunca fui importante para ele, e eu sentia como se ele tivesse passado uma borracha em tudo sem deixar rastros. Nada!
Me sentia uma idiota manipulável!
As lágrimas começaram a pingar na mesa.
Droga!
Limpei meus olhos e me levantei. Caminhei em direção ao toalete.
No refúgio dele, observei minha imagem no espelho. Passei um papel, limpando o lápis que tinha descido um pouco. Nunca mais compraria essa marca, o barato sai mais caro e mais fácil.
Por que me importo?
Sempre fui forte, não sou passional, sou bem lógica, nem tempestuosa, mas comedida.
Por que então, as lembranças me abalam dessa forma?
Jonathan! Sim, era por que tínhamos um filho. Essa era a explicação lógica de tudo isso. Por isso ele conseguia me afetar dessa forma.
Abri um artigo que escrevi sobre o “Passado/Futuro”.
"Se o futuro não existe, porque pensamos tanto nele? Tudo o que pensamos a respeito do futuro é um belo chute, pois não sabemos o que a vida nos prepara para o próximo mês ou para o próximo ano. Perdemos muita energia planejando o futuro sem observar o presente, ao mesmo tempo em que projetamos neste futuro nossos desejos de consertar nosso passado, que também não existe. O passado já passou. Ter qualquer sentimento ou pensamento por qualquer um desses tempos verbais é loucura, é êxtase de drogados viciados em dor, uma vez que temos o presente, que não cala e não passa, e a todo momento nos dá dicas mostrando a maneira correta de agirmos de acordo com a nossa própria natureza.
Como planejo o futuro? Perguntará o leitor atento. De forma bastante simples. Enxergo o que me alegraria fazer no presente e faço. Tendo prazer e realização, é isto que farei no próximo dia, e nos próximos, e nos próximos. Aumento minha ação no presente e espero, sem criar nenhuma expectativa, que se for de minha oportunidade, poder atuar da maneira como imagino daqui a uns anos mais à frente.
Como enxergo meus erros do passado? Simplesmente não os vejo e não penso sobre eles. Apenas aceito ter feito isto ou aquilo por ingenuidade e ignorância no passado e pronto. O que puder reparar, pedir desculpas, voltar atrás para conversar, eu converso. O resto, me perdoo, pois não tem jeito. Isto que vivemos é somente uma experiência. “Sem chances de sucessos ou fracassos.”
Quando terminei de ler, a sensação que eu tinha era que outra pessoa tinha escrito isso tudo.
Aquelas palavras ditas por mim eram verdades, mas eu só não contava com uma situação.
E se seu passado bate à sua porta e sem que você queira, entra novamente na sua vida? Eis aí uma questão difícil de resolver.
Senti a presença de alguém e ergui meu rosto.
—Não irá à reunião com Taylor?
Priscila esperava minha resposta.
—Sim irei.
—Percebi que você não gostou muito da mudança de diretor.
—Não cabe em mim gostar ou desgostar. Gostando ou não, ele será nosso diretor.
—Você não estava aqui quando ele assumiu, estava?
—Não, nesse dia cheguei atrasada por causa do meu carro.
—Talvez seja por isso que não simpatizou com ele. Ele se apresentou a todos, e nas suas palavras percebemos que ele é muito carismático, inteligente e dinâmico.
—Pode ser. —Foi minha resposta.
—Bem vou indo, eles já devem estar esperando. Se apresse.
Priscila se afastou e eu fiquei a olhar para o vazio...