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6

Vincet sentiu–se muito estúpido, ou foi essa a sensação que teve ao ser visto pelo seu secretário e pelo guarda, por se ter simplesmente esquecido que a rapariga vivia agora com ele. Não que fosse fácil habituar–se, até o próprio Lukas estava surpreendido por o amigo deixar uma mulher viver com ele, quando mal as deixava ficar quando faziam sexo e, na manhã seguinte, já as expulsava da sua propriedade.

O diretor–geral terminou as formalidades, pediu o telemóvel de Alicia e, depois de verificar que ela podia aceder a ele a partir do átrio do hotel, que a sua impressão digital estava registada na fechadura do apartamento e que ela tinha o seu número para o contactar e vice–versa, sentiu–se um pouco... menos imbecil.

Tinha deixado a rapariga todas aquelas horas, literalmente, estendida na rua. Não sabia porquê, mas tinha o peito apertado, e o pior é que não tinha recebido nenhuma queixa, que ele usaria como desculpa para responder, mas não, ela estava simplesmente parada na sala como se não soubesse o que fazer.

Talvez isso se devesse ao seu atraso mental. Embora ele tivesse as suas suspeitas... ela não agia como se tivesse mesmo isso. Era bastante recetiva, compreendia bem, mantinha uma conversa e até falava outra língua. Tocou no queixo, pensativo, e virou–se para a secretária.

–Lukas, leva–a a comprar coisas para abastecer a despensa– acenou com a cabeça, –e dá–lhe indicações enquanto fazes isso. Não quero que ela interfira na minha vida, se é que me entendes.

–Lukas riu–se, mas virou–se para Alice, que parecia estar à espera do que os dois homens iriam dizer.

A jovem estava muito tensa. Engoliu em seco, perguntando–se o que iria acontecer agora. O diretor–geral parecia irritado e o que estava com ele... deixava–a nervosa. Ela não tinha ignorado como ele a tinha olhado de cima a baixo quando se encontraram lá fora.

Bem, pomba, vamos embora– disse Lukas, pondo–se à frente dela e sorrindo, revelando uma fila perfeita de dentes.

Alice ergueu uma sobrancelha e inclinou–se para olhar de lado na direção de Vincet, que estava a servir–se de um copo de uísque.

Ouviste–me,– sentiu o peso do olhar dela sobre ele, –vai com ele e compra toda a comida que precisares para encher a despensa. Se vais ficar aqui, o mínimo que podes fazer é cozinhar, e eu não tenho muito para isso. O Lukas tem um dos meus cartões negros, por isso não precisas de te limitar a isso.

Alicia ficou rígida durante alguns segundos e voltou a concentrar–se em Lukas... não gostava mesmo nada deste tipo, mas só podia acenar com a cabeça e segui–lo enquanto ele saía pela porta.

Vincet deita–se no sofá, desabotoa a camisa e bebe um gole da sua bebida. Que dia estava a ter, deixaria o resto para Lukas analisar a mulher. Ninguém melhor do que ele para saber se devia ter cuidado com ela, não podia deixar–se guiar pelo facto de ela ser muito mais nova do que ele, se fosse parecida com a sua mãe, certamente estaria a tramar alguma.

***

–Não precisas de ficar tão tensa, não te vou dar uma dentada– brincou Lukas ao lado da rapariga que segurava o cinto com força nas mãos.

–O meu nome não é pombo– respondeu ela, com a voz tensa. A atmosfera dentro do carro estava muito carregada. O homem parecia querer intimidá–la. Era ainda pior do que quando ela se encontrou com Vincet e ele estava aborrecido.

É verdade, o teu nome é Alice, mas eu quero chamar–te pomba. Não posso – não era uma opção. Ele faria o que quisesse.

Alicia nem sequer insistiu mais e soltou um suspiro, olhando para a janela, mas tinha de o dizer.

–Não precisas de me intimidar mais. Não vou fugir porque não posso ir a mais lado nenhum.

Isso fez com que Lukas parecesse perplexo e depois soltasse uma enorme gargalhada que fez com que o carro se inclinasse na estrada e Alicia apertasse ainda mais o cinto de segurança contra ele. Aquele tipo era mesmo perigoso.

–Tu és muito engraçado. Por esta altura, a maioria das pessoas já saltou da janela e confessou os seus crimes mais escondidos.

–Quem confessou foi porque tinha algo a esconder– respondeu rapidamente e baixou a cabeça para que ele não visse a sua expressão.

O sorriso no rosto de Lukas congelou e depois relaxou a sua expressão.

–É uma rapariga muito interessante– disse ele, –Vai ser divertido brincar contigo.

E continuou a conduzir até pararem num semáforo que ficou vermelho durante um minuto e meio.

–A propósito, há coisas que preciso que saibas sobre Vincet– a sua voz já não tinha um tom divertido, mas um tom sério que fez com que Alicia olhasse para ele, –Há três regras fundamentais que nunca deves quebrar. Em primeiro lugar, nunca entres no quarto dele a não ser que ele te autorize, em segundo lugar, nunca desafies as suas decisões, se ele diz não, é não, e em terceiro lugar, se ele estiver com visitas ou a fazer sexo em casa, não o interrompas, se nem sequer puderes aparecer, não o faças, ele fica furioso quando o orgasmo lhe é cortado e no dia seguinte está todo irritadiço, e todos nós sofremos na companhia.

Os olhos de Lukas estreitaram–se à sua volta.

–Compreendeste?

–Falamos a mesma língua, claro que percebi– respondeu calmamente, fazendo uma anotação mental para não cometer erros.

Lukas sorriu de forma estranha e ligou o carro nos semáforos. Depois de estacionarem ao lado do centro comercial, saíram os dois e ela seguiu–o para dentro, embora o centro comercial fosse de um nível muito mais elevado do que aqueles em que ela estava habituada a fazer compras.

–O quê? Parece que entraste num jardim zoológico ou num museu de relíquias. Achas que a despensa de Vincet é comida de baixo nível?– Lukas pôs–se à frente dela de forma prepotente: –Ele tem gostos mais refinados do que parece, porque achas que usa um cartão preto.

Alicia franziu os lábios. Ela não entendia muito bem os ricos. E mesmo que eles tivessem uma quantia ilimitada para gastar, era difícil para ela não ir atrás das pechinchas.

***

Vincet abriu os olhos quando ouviu a porta do apartamento abrir–se. Tinha adormecido no sofá depois de ter bebido o seu segundo copo de whisky. Olhou para as horas e tinham passado cerca de três horas.

–Vincet, estamos de volta– a voz de Luka era estridente no interior do apartamento. Ele carregava vários sacos e, atrás dele, Alicia estava curvada com mais três sacos que pareciam pesar mais do que ela.

Ele levantou uma sobrancelha e levantou–se.

–Pelo modo como vens, parece que gostaste bastante da viagem– por alguma razão se sentia desconfortável com a forma como o amigo se comportava. Lukas... não era assim tão sociável, a não ser que quisesse conseguir alguma coisa.

–Mais do que podes imaginar. Esta rapariga é muito interessante– diz abertamente, como se a pessoa que está no centro da conversa não estivesse atrás dele.

A sério?– perguntou Vincet com ironia, agarrou facilmente nos sacos que Alicia trazia com uma mão e dirigiu–se para a cozinha, falando com Lukas, que parecia muito interessado em contar–lhe a viagem.

Alicia limpou o suor da testa. Estava exausta. Lukas tinha–lhe feito várias perguntas durante toda a viagem de ida e volta, sobre vários assuntos, alguns estúpidos, outros sobre os quais ela devia pensar, outros sobre si própria, mas pelo menos não tinha tocado no assunto da sua família, talvez porque, quando tentou fazê–lo, ela quase empalideceu no seu lugar.

–Hey, porque é que estão aí parados? Estas coisas não vão tomar o seu lugar sozinhas– Vincet virou–se com as mãos nos bolsos, –E o Lukas vai ficar para o almoço.

Ele disse–lhe antes de se virar e desaparecer de novo na cozinha. Alicia respirou fundo e, apesar de lhe doerem os braços e de só querer dormir um pouco, seguiu–o. Quanto mais depressa acabasse, melhor, porque ainda tinha trabalho de tradução para fazer e, ao contrário do diretor–geral, não tinha um cartão de crédito com montantes ilimitados. Quanto mais depressa acabasse, melhor, porque ainda tinha trabalho de tradução para fazer e, ao contrário do diretor–geral, não tinha um cartão de crédito com montantes ilimitados.

 

 

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