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Ela só pode ser meu fim

RÔMULO GUIMARÃES

Não consegui dormir. Fiquei de um lado para o outro no meu quarto, perturbado com aquela maldita garota. Eu não posso deixar que ela faça nada contra mim. Se ela falar que eu a maltratei ou sobre a morte do seu pai, o meu nome pode ir para o lixo. Por isso não consegui pregar sequer um olho durante a noite.

Alguém bateu na porta do meu quarto e eu ordenei que entrasse. Era Sérgio.

— O senhor também não conseguiu dormir?

— Não. Não consigo pregar um olho. Onde está a maldita garota? Me diga que ela está dormindo, em coma, sei lá... — me virei para ele, agoniado.

— A encontrei na cozinha. Ela estava querendo ir embora.

— Não deixe que isso aconteça, Sérgio. Essa garota pode ser o meu fim.

— Não tem como ela ir. Mal se mantém de pé. Sente fortes dores de cabeça. Eu a deixei no quarto.

Andei de um lado para o outro e depois parei. — O que ela disse? Ela disse alguma coisa?

— Disse que quando sair daqui, irá direto para a delegacia, denunciar tudo.

Maldita! Maldita!

— Essa garota não vai sair desta casa até que tenhamos certeza de que ela nunca falará coisa alguma. Nem que... Nem que tenhamos que sumir com ela de uma vez por todas, mas ela não vai destruir a carreira que demorei anos para construir.

— Ela não vai a lugar algum, senhor. — ele garantiu. — O senhor quer alguma coisa? Um chá?

— Um chá, por favor.

O décimo chá do dia. E em nenhuma das vezes ele me ajudou a ficar calmo. Sei que esta noite não irei dormir. Não consigo. Não sinto sono. Não sinto nada além de raiva e também outro sentimento que não posso admitir.

Sérgio saiu do meu quarto e eu fui tomar um banho quente para tentar relaxar. Me tranquei ali e a raiva era tanta, com aquele rosto, aquela voz me afrontando que não se apagavam da minha cabeça, que eu acabei fazendo algo que a tempos não sinto vontade.

Eu não sei porque fiquei tão excitado com isso. Como alguém fica excitado ao pensar em alguém que tem odiado tanto? Ela fez o que mais odeio! E eu não sei como, mas fiquei e não tive outra alternativa a não ser a convencional para resolver este problema. Quando tudo passou, fiquei me tremendo tanto, que precisei sentar no chão do banheiro até que a minha respiração normalizasse.

Acho que um pouco da minha raiva e todo o estresse saíram naquele ato, pois me senti aliviado, tão relaxado, que poderia adormecer ali mesmo. Levantei e tomei mais uma chuveirada, depois vesti um roupão e saí do banheiro. Sérgio chegava com a bandeja de chá e alguns biscoitos. Ele os deixou sobre a mesa e depois perguntou se eu precisava de mais alguma coisa. Recusei. Acho que nem do chá eu precisava mais. Ele então deu boa noite e foi embora. Sentei na poltrona ainda tremendo e tomei o chá aos poucos, pensando no que havia acontecido.

Ultimamente nada tem me excitado.

Essa garota só pode ser o meu fim mesmo.

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