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Capítulo 2 — Arrependimento

— Não vai nos convidar para lhe acompanhar em seu solitário jantar, querida? 

— Quem são vocês? Quanto meu pai está devendo? Podemos negociar, eu posso pagar um pouco agora. Por favor, entrem. – Me afastei da porta dando passagem para o cara grande e ele entrou, mas o outro homem continuou lá, imóvel. 

— Então vamos logo ao que nos interessa, quanto você tem em mãos? – Bem, a jóia que meu pai roubou estava avaliada em 15 mil dólares, foi uma jóia que ele começou em um leilão quando eu era criança ainda, desde então ele era meu. Deus queira que ele tenha pago ao menos uma parte desta dívida, não pode ter feito apostas ou eu não sei o que fazer. 

— Tenho uns 10 mil em dinheiro e jóias, podemos fazer negócio? 

— Sabemos que o imbecil do Parkinson é um homem sem limites, estou mentindo? Lamento dizer a senhorita que você é o pagamento. – Há? Agora quem está confusa sou eu. 

—  Você só pode está blefando não é? Tudo bem, ele é um cara viciado, mas tenho certeza que ele jamais faria isso comigo, você deve está enganado. 

— Como você é ingênua, vadia. Seu pai é um homem que é totalmente dependente de jogos e drogas. E… como ele não tem como pagar e tem medo de morrer, nos deu você como pagamento. 

  Eu gostaria muito de que tudo isso estivesse apenas sendo um pesadelo, mas as mãos do homem estava me machucando, não vi o momento em que mais dois entraram e me seguraram meus braços de forma bruta, meus olhos estavam presenciando cada cena horrível deste momento miserável, estavam me levando fora de casa quando eu vi meu pai atrás do homem que estava encostado ao carro. Ele sorria e fingiu não me ver em momento algum, eu gritava desesperadamente por ajuda, mas estava sendo inútil, eu estava sendo realmente o pagamento da dívida dele. 

Fui jogada com brutalidade dentro do porta malas e machuquei meu pé, a noite estava muito fria, o carro fede a gasolina e maconha. Uni minhas mãos e fui pedido para ter uma morte rápida e que não passasse pelo ato da violência sexual mais uma vez. 

Maurício 

 Hoje a leiloada será apenas virgens safadas querendo se dar bem, a maioria está aqui contrato suas vontades mas que se foda, o problema são delas. Neste momento, a minha mais nova mercadoria está a caminho. 

— Então onde ela está? – Roberto pergunta agarrado na cintura de uma mulher. 

— Ela quem? Se está se referindo a filha do Parkinson ainda não chegou. Que horas Mirabelli chegará? Não posso dar início ao leilão sem ele presente. 

— Ele já está a caminho. Hoje a noite será produtiva, posso dar meu lance hoje? – Ninguém da máfia pode participar dos leilões e isso é regra, mas Roberto não faz parte da máfia em si, ele só me ajuda nos pequenos detalhes e é meu sócio. 

— Espero que, bom…olha quem já nos deu o prazer de hoje! – Mirabeli hoje veio trazendo seu filho mais velho consigo, temos a mesma idade e vejo que agora os mesmos interesses também. 

 Roberto foi para longe de todos ao lado da mulher de ontem, e eu fui dar atenção aos nossos convidados enquanto ele se divertia. Jack, filho de Marabeli, era tão bom de conversar quanto de bolso, sinto que hoje será uma noite de muitos lucros. O leilão estava prestes a começar e nenhum sinal da garota, espero que tenham dopado ela pois assim evita algum escândalo. 

Ligação Ativa 

— Já estamos com a garota, o que temos que fazer agora além de deixá-la junta com as outras? 

— Já fizeram o que eu mandei, está ótimo assim. A deixe numa sala separada e não encostem nela. 

— Qual é Maurício! A garota é uma graça e gostosa pra um caralho. 

— Façam isso e dêem adeus às suas vidas de merda, caso contrário não toquem nela. Ela está apagada? 

— Não foi preciso. Pensei que ela fosse fazer um escândalo mas ela mesma sabe o pai que tem. Vou deixar ela longe das outras e vou para o salão, espero que hoje seja meu dia de sorte também. 

 Ligação Inativa

 Laerte é obcecado por mulher, principalmente se a vítima demonstrar ser indefesa e medrosa. 

 Com todos os meus convidados presentes, o leilão se deu início já com altos lances. Laerte andava pelo salão com um sorriso sacana estampado no rosto, todas as garotas estavam de pé, vestindo apenas um biquíni para que tivessem total visão de cada detalhes de suas curvas, mostrando cada detalhe de seus corpos. Duas delas estavam drogadas para que ficassem quietas, as outras 11 estavam todas comportadas. 

— Ela é uma graça patrão, não quer fazer bom negócio comigo? Eu vi que ela tem muitos defeitos pelo corpo e desse jeito vai ser impossível conseguir algum livro em cima dela. – Laerte a colocou onde eu mandei mas já estava aqui. 

— Agora não, Laerte. A coisa não está à venda. – Eu ainda não a vi, mas se estão interessados é porque alguma coisa boa ela tem. — Não se interessou por nenhuma dessas que estão aqui? 

— Até gostei da ruiva, mas ela tem cara de prejuízo então eu estou sossegado, tenho certeza que você mudará de ideia, por isso vou esperar esse momento chegar.

— Se você quer assim que seja então. Fez um bom trabalho hoje, foi mais rápido do que eu imaginei. 

— Ela estava fazendo o jantar quando chegamos, e como eu disse; ela não deu trabalho pois sabe bem o pai que tem. 

  A última a ser vendida foi Vivian, uma portuguesa que também foi pagamento de seu pai viciado, mas tivemos muitos problemas com ela por ser menor ainda quando chegou aqui. Sempre esperei completar a maior idade para fazer negócios, ontem ela fez 19 anos e estava mais que pronta para seguir sua vida.  

Louise 

  Sozinha, com fome e frio, eu estava jogada em uma pequena sala que é toda de mármore, deixando o ambiente ainda mais gélido. 

  Sempre soube que meu pai usava drogas e afins… não falava nada quando minhas coisas sumiam porque sabia que ele sempre as usou como pagamento de algo. Agora ele entrou como se eu fosse um objeto, para pagar sua maldita dívida. — Meu Deus, o que eu fiz pra merecer tanto sofrimento? — Tive meus pensamentos interrompidos quando a porta de ferro se abriu, revelando uma mulher por fora da porta, ela usava um vestido vermelho cheio de pérolas, um batom cor de vinho, um saldo que deve ter uns 13cm de altura e com os cabelos presos em um rabo de cavalo. Ela era bonita, mas a voz deixava muito a desejar. 

— Ôh, o que faz aqui? Não deveria estar com as demais?— Quê, tem mais meninas aqui? 

— E-eu… — Travei e não consegui falar absolutamente nada. 

— Ela não vai com as outras, leve-a para a mesma sala de revistas onde reunirá as outras. — A rouca e grave vem de um homem que não tem uma feição muito legal, ele estava vestido um smoking preto, mas pelo que vi está muito justo já que ele tem mais de um 1,80. 

— E como irei ensinar tudo a tempo para ela? 

— Faça o que estou pedindo Ju, depois me encontre na minha sala. – Antes de sairmos ele me lançou um olhar medonho. Meu corpo se arrepiou por inteiro. 

 Eu ainda estava com o meu pijama da Barbie, conforme andávamos pelos corredores mais medo eu sentia. Sentir medo, solidão e vontade de chorar, muita vontade de desmoronar aqui mesmo na frente desta mulher estranha. 

— Chegamos, por favor retire suas roupas e me siga novamente. — Ela simplesmente virou as costas para mim. 

— Nua? — Perguntei surpresa. Meu corpo estava gelado, Deus me perdoa eu estava brincando quando disse que queria morrer! 

— Exatamente, você é uma garota esperta, tenho certeza que irá se dar bem. Se quiser vestir esse roupão fique a vontade também. 

  Peguei o roupão que estava pendurado na porta e vesti o mais rápido possível, nunca deixei que ninguém visse meu corpo e agora serei exposta a não sei quantas pessoas. A sala pequena abrigava mais de 20 mulheres, todas devem ter a mesma faixa etária que eu tenho, já estavam todas peladas. 

— Vamos lá querida, tire a roupa e junte-se a elas. — Quando o roupão caiu no chão, eu senti olhares em minha direção. Na verdade, todas elas estavam me olhando como se eu fosse uma coisa muito estranha. 

Maurício 

 A minha expectativa era que ela fosse mais indesejável pelas coisas que Roberto falou, mas vejo que ele exagerou um pouco. O leilão foi rápido, houve alguns imprevistos, tive que ir checar mercadorias que chegaram. 

 Juliana já as levou para a sala de revistas, eu não deveria, mas estou indo até lá. 

— Então, posso saber aonde está indo? 

— Fazer a checagem para ir embora, você já não deveria ter feito o mesmo? – Roberto quando cisma com alguma coisa ela enche a porra do meu saco direitinho. 

— Deveria, mas tô afim de ir dar um olhada nelas com você. 

— Sem essa Roberto, para de bancar o otário e se manda. Se quiser me esperar pra depois daqui a gente ir tomar umas por ai beleza, mas se for encher meu saco vai pra casa. — O convite não foi aceito e ele foi embora. 

  Ao chegar entrei na sala e meu olhar foi direcionado para o corpo cheio de cicatrizes, que tem um foda par de olhar tristes. Tentei não focar muito nas marcas, mas é quase inevitável não reparar. O rosto dela não há nenhuma marca, seu olhar expressa a dor que ela já carregou. Juliana fez a revista e saiu para buscar novas vestes para todas elas. 

— Maurício, eu preciso falar com você. — Andamos a seguir para um pouco distantes. 

— Houve algum problema? 

— Como assim algum problema? Não viu aquela garota? Ela não vai dar lucro algum, imagina o tumulto que ela irá causar quando for exposta! A garota chegou aqui vestida com um pijama da Barbie Maurício, tem noção do prejuízo que aquilo ali é? 

— Ela não vai participar de nada aqui, simplesmente porque ela vai vestir a roupa da Barbie dela e vai comigo. 

— O quê? Ficou louco de uma vez? — Ela estava sem acreditar e eu sem paciência. 

— Quem está de brincadeira aqui é você, se insistir em me desafiar quem vai se arrepender é você. Agora mande ela vestida a roupa que eu tenho pressa, quanto às outras será o mesmo processo de sempre. 

  A garota permaneceu com o olhar baixo e imóvel, ela tem os mesmos olhos do canalha do Parkinson. 

 Ana já havia levado ela para vestir a sua roupa, mas estava demorando demais para voltar então eu fui até a sala. Abrir a porta e ela estava de joelhos, nua e chorando. Ao me ver levantou muito rápido e colocou as mãos sobre os seios. O olhar de desespero foi direcionado a mim como um pedido de socorro. 

— Por favor, não me toque. Se for me matar que seja agora. 

— Quem está falando em morte aqui? Se veste logo que temos que ir embora logo, eu tenho pressa. Está com frio? – Ela se vestiu muito rápido e até que fica bem no pijama dela. 

  Saímos e ela não falou absolutamente nada. Chegamos na minha casa e eu a levei até seu quarto de empregada, como eu disse ela será minha empregada e quem sabe mais pra frente poderá me ajudar na contabilidade. 

Parkinson

  Na mesa estava o jantar dela, o repolho queimado e o peso na minha consciência, não tive coragem para olhar nos olhos dela, mas isso não será eterno, eu juro que vou dar um jeito de tirar ela das mãos dele. Maurício não presta.

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