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Capítulo II

Eu sai cedo da casa do meu pai sabendo que hoje seria o dia que Helen ia chegar, não ia demorar para Emily acordar e ir encontrá-la na rodoviária e eu precisava manter distância dela.

Esse tinha sido o motivo real de eu ter saído de São Paulo, peguei minhas férias atrasadas e decidi usar vindo para o mais longe dela, sabendo que se ficasse perto de Helen não responderia por mim, não ia suportar ficar tão perto dela e não a tocar, não querer cuidar dela e isso me faria ceder aos desejos dela como sempre fiz, então quando percebesse estaria apoiando a ideia de ter aquela criança.

— O que está fazendo aqui tão cedo? — Vitor questionou ao me ver no bar da cidade pela manhã.

— Você está de serviço? Porque não estou vendo nenhuma farda. — ele sorriu se jogando na banqueta ao meu lado. — Também não sabia que a polícia tinha virado fiscal de bar.

— E não virei, só estou surpreso de vê-lo aqui advogado.

Vitor era da idade da minha irmã, e como a maioria das pessoas em São Fernando ele não tinha saído da cidade depois do ensino médio, só preferiu seguir a carreira do pai na policia local.

— Eu também não estou aqui a trabalho, então cale a boca e beba comigo. — falei batendo no balcão e pedindo mais uma cerveja.

Não tinha ido até ali com a intenção de beber, mas agora que tinha alguém do meu lado eu ia fazer apenas para manter as aparências, porque a última coisa que precisava era que descobrissem que eu estava fugindo da minha mulher.

Mas eu havia me esquecido de como as pessoas daquela cidade eram falantes e intrometidas, ninguém ali sabia cuidar da própria vida, então eu fiquei surpreso quando a primeira coisa que ele perguntou foi sobre Helen.

— E então onde está sua bela mulher? Seu pai me disse que estão esperando o primeiro filho. — Vitor tagarelou depois de um gole de cerveja.

— Ela está chegando. — murmurei ignorando a parte daquela conversa que eu queria evitar. — Hoje ela chega na cidade.

— Ai que ótimo, podemos sair todos juntos. — falou entusiasmado, mas não, não podíamos mesmo. — Cara eu nem consigo imaginar como deve ser bom a sensação de ser pai.

De repente eu estava arrependido de ter aberto a boca e dito qualquer coisa, talvez tivesse sido melhor se eu ficasse trancado dentro do carro, provavelmente era a única forma de garantir que eu estaria sozinho.

— Vai deixar a cerveja esfriar se ficar falando tanto. — resmunguei torcendo para que ele parasse por ali, mas já sabendo que seria impossível.

— Não me importo com isso, faz tempo que não te vejo e é bom colocar o papo em dia. Me conta ai como andam as coisas lá em São Paulo?

— Uma loucura como sempre, muito diferente disso aqui que parece ter parado no tempo. — fui rápido em responder dessa vez antes que voltasse aos assuntos sobre Helen e o bebê. — Mas isso é bom, toda essa quietude e tranquilidade é uma coisa boa.

— É sim, mas não se engane, São Fernando tem suas agitações, a última foi David finalmente sendo acusado pela mulher. — ele contou como se fosse a notícia do século, mas levou só um segundo para se lembrar de um detalhe importante. — E que você já deve saber já que é o advogado dela.

— Sim, já estou sabendo disso. E do clube, da Bete grávida do Carlos, do meu pai arrumando confusão enquanto estava bêbado. Sei de tudo o que acontece aqui, as fofocas correm rápido.

— Então já sabe que Emily se mudou pra cá e que ela e Marcos estão juntos de novo. — trinquei meus dentes ouvindo aquilo. — Cara, é muito bom ver eles juntos de novo, já que mesmo com todos esses anos longe eles continuavam se amando.

Eu não só sabia como tinha dado um jeito de fazer os dois caírem na real, depois de Emily ter perdido o bebê vindo atrás dele nesse fim de mundo eu achei que ela tinha aprendido uma lição e que ficaria longe do bastardo que a abandonou.

Mas não demorou muitos dias aqui para que os dois tivessem feito as pazes e embarcado em um novo romance. Só que foi fácil trazer minha irmã de volta a realidade, já que ela tinha escondido de Marcos o que aconteceu anos atrás, foi só contar ao bastardo para ele sair correndo a deixando para trás.

Marcos achou que seria fácil me julgar por não querer esse filho, me dizendo como um homem de verdade deveria agir, quando ele tinha sido o babaca que fez minha irmã sofrer por anos, quando foram as atitudes infantis dele que a fizeram perder o filho perfeito deles.

— Sim, já sei de tudo. Vai ser difícil me surpreender.

Meu celular tocou com uma mensagem do meu pai avisando que Helen tinha chegado, não consegui evitar que meu coração disparasse no peito, com a agitação só em pensar em ficar cara a cara com ela.

Fazia duas semanas que eu não a via, duas semanas desde a nossa briga e que me levou a sair de casa. Eu nunca tinha ficado tanto tempo assim sem vê-la desde que nos casamos, na verdade desde o começo do nosso namoro.

Mas bastava pensar que ela estaria com uma barriga maior, carregando aquela criança, para que eu me lembrasse o motivo de eu estar aqui e sem ela. Helen queria o divórcio, tinha decidido ficar com nosso filho, eu perdi essa batalha contra ela pois ela jamais desistiria do bebê.

— Ei, porque não foi buscar sua mulher na rodoviária? Ela está grávida Fernando e você aqui bebendo no bar? — a voz de Vitor e todo o julgamento em sua voz fizeram meu sangue ferver.

Tudo o que eu tinha escutado desde que expressei minha decisão foram criticas e mais criticas, todo mundo parecia ter uma opinião sobre como eu deveria agir, mas nenhum deles estava no meu maldito lugar.

— Porque não cuida da sua vida porra? — me levantei gritando e já saindo de lá, ou não responderia por mim e acabaria socando a cara do policial.

Entrei no carro e fiquei lá, não sei ao certo quanto tempo fiquei trancado pensando e repensando sobre nós dois. Helen tinha mexido comigo desde o primeiro dia que nos vimos, aquele jeito durão dela só a deixavam mais sexy e eu não quis saber de mais nada que não fosse estar aos pés dela.

Liguei o carro decidido a vê-la, não conseguia ficar longe dela sabendo que estavamos tão perto, eu precisava colocar meus olhos sobre ela mais uma vez.

Nunca pensei que estaríamos naquela situação agora, eu a venerava e só queria o melhor pra ela, como ela não conseguia ver isso?

— Onde ela está? — cheguei em casa desesperado já questionando minha irmã.

Emily me olhou com aquele olhar de reprovação, quase como se eu tivesse cometido o pior dos crimes, mas eu só era culpado de amar de mais a minha esposa.

— No meu quarto, mas ela está dormindo. — não me importei com mais nada, corri para o andar de cima indo direto para o quarto de Emily. — Não vá incomodá-la! — ela gritou quando eu já tinha alcançado o segundo andar.

Abri a porta devagar não querendo acordá-la e paralisei ao vê-la dormindo profundamente, Helen parecia mais magra do que a duas semanas e isso partia meu coração, saber que ela não estava comendo direito e que não tinha ninguém para cuidar dela acabava comigo. Não era pra ser assim, não foi como planejamos aquela gravidez.

Estava fazendo um calor terrível na cidade e eu me lembrei de como ela estava calorenta desde o começo da gravidez, então decidi abrir as janelas e deixar um pouco de ar fresco entrar, mas mantive as cortinas fechadas não querendo acordá-la.

Me virei para minha linda mulher e me ajoelhei ao lado da cama, sem conseguir me conter minha mão voou até seu rosto, acariciando a pele macia, antes de afastar os fios de cabelo que caiam.

Como eu queria que ela me entendesse, que visse as coisas pelo meu ponto de vista, não estaríamos os dois sofrendo com a separação agora. Mas eu precisava ser forte, não podia ceder e ver Helen se arrastar pra uma vida cheia de cuidados e tristezas, já tinha sido o bastante ver meu pai se sacrificar para cuidar da minha mãe doente, por isso eu não podia deixar que ela trouxesse uma vida ao mundo para ter que viver nesse inferno!

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