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Cap. 2

Seus olhos vagavam do livro ao caderno que escrevia com leveza, sua letra sempre lhe chamou atenção, tinha total cuidado com a escrita e seu português impecável. Terminava seu trabalho de quinze paginas com um orgulho dentro do peito, quando sua “mãe” adentrou a casa.

— Cheguei – Clara girou no banco de madeira na ilha que dividia a sala da cozinha e encarou Amélia andar até ela e depositar um beijo em sua testa. — Oh, querida, estudando como sempre, não?

— Sim. Estou – Voltou a se virar para os livros e fechou o primeiro. — Você chegou cedo.

— Ah, eu troquei meu plantão. O que acha de saímos para comer alguma coisa? - Sugeriu. A rosada abaixou a cabeça para caderno que também foi fechado.

— Porque não pedimos algo, e comemos aqui? - Amélia sorriu de canto, Clara era um ser muito precioso, tímida e cheia de sardas naquele rosto lindo que tanto adorava olhar.

Clara tinha um medo dentro de seu coração que nem em dois anos Amélia conseguiu retirar. Clara era órfã, e por órfã, foi rejeitada por muitas pessoas, por crianças que não tinham a mínima sensibilidade de jogar na cara da rosada o que ela realmente era. Começou a evitar as pessoas antes de sair do orfanato, todas sempre a rejeitava. Os pais passavam por ela sem se importar, por muito, achou que fosse invisível aos olhos daquelas pessoas que sempre preferiam crianças de cinco anos para baixo.

Quando completou quinze anos, Amélia, uma das conselheiras do orfanato, ofereceu uma casa, um abrigo, sua amizade e seu terno amor. Clara aceitou porque a amava acima de tudo, Amélia sempre foi gentil, lhe dava atenção, lhe amava.

— Tudo bem. Como você quiser querida. Mas pode guardar esses livros, vou pedir uma pizza e sentamos para assistir um filme. Certo? - Clara assentiu animada e levantou do banquinho.

Amélia a seguiu com o olhar, quando estava em casa, Clara gostava de usar calças folgadas e blusas de manga comprida, dizia se sentir com frio, mas Amélia apenas entendia que não gostava de se expor. Quando começou a ir à escola particular, passou dias procurando uma força de ela usar uma saia para bater como uniforme. Mas, achou uma solução quando lhe deu um par de meias cor de rosa, ela gostou tanto da cor, tanto, que pintou seus cabelos com total orgulho.

Clara entrou no quarto deixando seus livros no lugar e chegou á janela para aguar suas plantinhas com amor, por instinto, olhou para frente e pela primeira vez desde que morava ali, viu a janela da frente também aberta. Seu rosto corou quando viu um corpo levantar e se espreguiçar. Rapidamente se escondeu atrás da cortina, virou as costas e correu para fora do quarto descendo as escadas.

Encontrou Amélia já sentada no sofá e ouviu o barulho do microondas.

— A pipoca está pronta.

— Eu pego – ofereceu-se correndo até a cozinha.

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Seus olhos se abriram rapidamente quando o som do despertador atingiu seus tímpanos no som estridente que o deixou nervoso de raiva. Virou seu corpo para a direita batendo no despertador querendo se livrar do som. Sentou na cama olhando para seu quarto ainda bagunçado pelas coisas que começou arrumando, mas terminou com ele deitado na cama e dormindo até aquele momento.

Não se lembrara de trocar o horário que despertaria, pois, o fuso horário de Seant para Beathan eram completamente diferentes, sendo assim, agora, lá, deviam ser exatamente às sete horas da manhã, a hora que ele acordava para ir à escola, mas em Seant, são exatamente cinco e trinta e cinco.

Levantou-se da cama sabendo que não conseguiria mais dormi. Foi ao banheiro lavar seu rosto e a sua boca, voltou ao quarto e se direcionou a parte arrumada do seu guarda roupa para pegar um short de malha e uma camisa de manga comprida. Vestiu rapidamente e logo saiu do quarto. Correria um pouco, para conhecer a vizinhança de madrugada.

Já estava acostumado quando jovem Quinl sempre o acompanhava por ser mais novo, mas agora, ele podia fazer sozinha, quando no auge dos seus dezessete anos, Max parecia bem maior que o irmão mais velho, sem contar com o peitoral másculo, os braços grandes e sua postura rígida, embora fosse um homem muito gentil e delicado.

Atravessou o quintal da sua casa dobrando a direita para se acostumar com as cores novas. Não havia mudado quase nada a não ser as cores das casas, o jardim e novos enfeites. Rodeou todo o quarteirão sem parar de correr e quando cansou, notara que estava em frente à casa de Amélia, sua vizinha, botou as mãos no joelho e olhou para toda a fachada da casa, antes era de uma cor creme, bem morta, hoje, a cor vermelha e amarela fazia da casa algo mais vibrante animado, talvez a Dona Amélia, viúva, houvesse arrumando um novo namorado.

Decidiu, então, voltar para casa, o sol começara a nascer. Atravessou o quintal e rapidamente lembrou-se que se entrasse pela porta da frente com todo seu corpo soado e com os tênis sujos, sua mão o mataria. Resolveu, porém, entrar pela porta dos fundos, onde, primeiramente, deu de cara com uma mesa farta para o café da manhã, sua boca salivou, nem percebeu que sentira fome até botar os olhos naquela jarra grande de suco.

— Max, voltou! – A voz de sua mãe o despertou. Com um sorriso inocente, foi até a mulher que manteve uma distância considerável do filho quando o viu todo soado. — Confesso que senti vontade de vê-lo desse jeito.

— Sim. Onde eu morava com o pai, não há como correr – lembrou-se rapidamente. Em Beathan, eles moravam em um prédio cheio de regras e um síndico chato. — Tudo isso é só para o café da manhã? - Perguntou Max, já se acomodando á mesa. Naomi se aproximou deixando um prato de torradas sob a toalha verde e sentou na cadeira próxima a de Max.

— Eu quero conversar com você, a respeito de... Jerry – Disse meio acuada, Max parou na movimentação de sua mão e encarou os olhos negros de sua mãe. Não sei como agir diante da situação, afinal... É a primeira vez que apresento um namorado meu á você.

Max ficou a olhando por alguns segundos e trouxe a jarra de suco para encher seu corpo. Tecnicamente, Max não tinha nada haver com quem seus pais estavam namorando agora, uma vez que ainda se falavam, e se consideravam amigos. Eles escolheram se separar, quando o grande “flagra” foi alarmado, e nenhum dos dois fez questão de voltar atrás durante todos esses anos.

— Está tudo bem – Concluiu o Oliver dando uma golada em seu soco. Minutos depois, Quinl resolveu aparecer, um sorriso gritante nos lábios, olhos brilhantes e felizes. — Ora, ora, quem acordou de bom humor.

— Desde que ele começou a namorar Fannie, ele se tornou uma pessoa muito sorridente. – Confidenciou a Max, que sorriu com o segredo relevador de Quinl.

— Não. Eu sempre fui sorridente, e agora, tenho um motivo há mais. – Alfinetou para o irmão que pagava todas as torradas.

Um sorriso nasceu nos lábios de Naomi, vendo ambos brigarem pelo prato de torrada, embora odiasse brigas, estava feliz em ver seus filhos juntos, crescidos, vivendo sua própria vida. Queria sentar e conversar com Max, saber mais sobre os anos que passou fora, talvez ele não tenha contado tudo pelo chat que sempre conversavam, mas no momento, iria trabalhar.

— Max, tome um banho e se arrume. Francis irá passar para ir com você á escola. Não se atrase – beijou a cabeça dele que só se importava em devorar as torradas com geleia e mel.

— Pode deixar – Deixou seu veredito quando a mulher saiu de casa.

Depois de tomar café e brigar com Quinl pelas últimas torradas, finalmente ele terminou sua refeição e subiu para o quarto. Tomou um banho gelado para despertar qualquer preguiça e logo estava na frente de sua mala procurando uma roupa qualquer para voltar à escola.

Escolheu uma calça jeans de algodão e uma blusa branca com uma jaqueta também jeans por cima. Bagunçou os cabelos para um lado, o escondendo com uma toca preta, pegou sua mochila, os óculos de leitura, mas não o colocou, deixariam para usar somente na sala, e se precisasse, e estava pronto para ir à escola naquele dia. Sentia-se feliz em voltar a sua rotina de antes, voltar a rever seus amigos. Max já era popular quando se mudou, sempre manteve o contato com os amigos, mas pessoalmente era outra estória.

Enquanto descia as escadas, ouviu a campainha tocar, sabia que era Francis. Abriu a porta já mostrando um sorriso de felicidade, estava oficialmente voltando a sua vida antiga.

— Ah, pensei que teria que te jogar da cama – indagou o melhor amigo puxando o corpo de Max para fora. - Estava com saudades de ir para a escola com meu melhor amigo.

— Está bom! Eu também. Mas me solta, por favor. – Pediu ao conseguir largar-se de Francis e começaram a andar em direção a escola.

O colégio não ficava tão distante da residência do Oliver, tão pouco, o caminho pareceu longo quando se ia encontrando os amigos. A felicidade dentro seu peito não cabia. Claro que sentiria falta do seu pai, e dos poucos amigos que conseguiu, mas Seant era sua cidade, e não pensaria em outra tão cedo.

Ao chegar ao colégio, se deparou com a grande reforma, que ela passou. As paredes antes pintadas de branco, agora eram verde musgo, as janelas contornadas pelo bege, completamente diferente. Seguiu os meninos para dentro do lugar onde não havia mudado nada.

— Ah, eu tenho que ir à secretaria pegar meus horários – Disse ao grupo e se distanciou. Francis logo se encontrou com a namorada e pareceu não vê mais nada. Sorriu. Estava feliz pelo amigo. Saiu sozinho para a secretaria e achou com facilidade. — Oi, bom dia?

— É proibido usar qualquer tipo de boné aqui dentro – Max puxou a toca com tudo, bagunçando os cabelos negros. — Muito bem senhor Oliver – Ela lhe olhou dos pés cabeça por baixo dos óculos de graus cor dourada. — Seja bem-vindo de novo e não faça nada de errado para que não venha muitas vezes á diretoria – resmungou a diretora, Max soltou uma risada, antes de receber o papel e voltar para o corredor, que já estava esvaziando.

Procurou pela primeira aula no segundo corredor, quando achou a sala, bateu devagar e foi atendido pelo professor de biologia, Orochimaru.

— Seja bem-vindo, estava esperando por sua presença – disse o homem de longos cabelos pretos vestido numa túnica. Max estranhou; que tipo de pessoa ainda usava aquelas roupas naquele tempo? - Sente-se em qualquer lugar, irei começar a aula.

Max olhou para a turma e viu a namorada de Francis sentada à esquerda da sala, andou até ela e se sentou ao seu lado. Ela sorriu sem jeito e Max olhou para frente. A aula começou com os mesmos assuntos que ele já estava estudando na antiga escola, não demorou muito para pegar o que se passava.

O exercício foi passado, e Max terminou primeiro, depois de conferir que a sala toda ainda estava escrevendo, estirou os braços rapidamente e o sentiu bater em algo do seu lado direito. Olhou de súbito para saber em o que bateu e seu olhar encontrou o de uma garota com a mão no queixo.

Max entreabriu os lábios, incrédulo, a aula toda ele passou sem perceber que do seu outro lado tinha uma garota de CABELO COR DE ROSA.

Seus olhos encontraram os da moça que brilharam, não sabia se era pela surpresa, ou pelas lágrimas que podiam vir depois daquele soco em seu queixo.

— Me desculpe – a moça tirou a mão do queixo e abaixou à cabeça, seu rosto estava corado. — Me desculpe eu não queria... – ele se calou quando recebeu um papel vindo dela. Max abriu ainda olhando para a estranha menina e começou a lê: Está tudo bem! — Você é muda? – Max olhou para a menina de novo o sinal bateu, avisando que a aula tinha chegado ao fim.

Sem responder à pergunta, a garota ajeitou suas coisas rapidamente e saiu da sala sem olhar para trás. Max olhou para mão e fechou seu punho, ele tinha dado um soco em uma garota sem querer. Ele realmente tinha DADO UM SOCO em uma garota. UMA GAROTA.

Meu Deus!

Que homem tão ruim.

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