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Capítulo 6

― Este será o lar de vocês pelas próximas semanas. Vou tentar sair todos os dias com vocês para conhecê-las, mas confesso que poderá haver dias que não conseguirei, pois no andar debaixo, como vocês viram, é o meu restaurante. No fim de conhecê-las, poderei me casar com as duas ou apenas com uma. Tudo depende se conseguiremos nos conectar como casal. ― Disse Hamzaf para mim e Grace. Quem diria! As escolhas mais inusitadas que eu poderia pensar.

Aparentemente, Hamzaf havia gostado de mim e de Grace e nós duas iríamos morar por tempo indefinido no apartamento de Hamzaf. Olhando da sala, até que era um espaço confortável. Entrávamos num corredor, à direita havia um sofá confortável e uma TV, mais a frente seguindo pelo mesmo corredor, havia um quarto à esquerda com suíte e outro quarto também a esquerda também com suíte. Seguindo reto pelo mesmo corredor havia a cozinha. E só. Não havia mais nada no apartamento. Mas até que era bem mobiliado e ele até que tinha um bom gosto para decoração. Se bem que acho que não tinha sido ele que havia decorado. Deve ter contratado alguém. Ainda assim, interessante.

A mídia tirou algumas fotos e fez algumas tomadas com nós nos apresentando e ficou de no dia seguinte nos acompanhar no primeiro passeio que teríamos com Hamzaf. Ela mal saiu e Hamzaf suspirou enquanto se desculpava:

― Infelizmente, não poderei passar boa parte do período noturno na presença de vocês. O restaurante está enchendo e eu preciso comandar o meu restaurante. Mas até meia noite estou subindo. Não se preocupem. Durmam. Amanhã teremos um dia cheio. ― Concordamos as duas com a cabeça e isso pareceu suficiente para que Hamzaf sumisse das nossas vistas e fosse para seu restaurante. Aparentemente seis da tarde já era horário tarde demais para que ele aparecesse.

― Ah, eu nem acredito! ― Disse Grace e eu sorri.

― Nem eu! Tipo… Eu cheguei atrasada… ― Grace riu.

― Eu sei. Agora que a tensão passou, vou tomar um banho e descansar. Estava com os nervos a flor da pele. ― Concordei com Grace e a vi sumir para dentro do quarto. A segui. Na verdade, só queria ver como o quarto era.

Havia duas camas de solteiro, um guarda-roupa e só. O quarto era bem simples, como se fosse só para receber visitas e só isso. Grace rapidamente se mandou para o banheiro e eu me aproximei da janela que dava para ver os últimos raios de sol se despedindo da cidade.

Quando cheguei, achei que Dubai estava me dando um azar demoníaco, brincando com a minha cara para ver até onde iria a minha determinação. Mas talvez tudo fosse plano de Dubai mesmo, conhecendo o seu inquilino mor e como que eu poderia me destacar para ele. Pensar que não faz nem três horas que isso aconteceu, e, muito menos ainda que fui escolhida, parece tornar tudo ainda mais irreal. Parece um sonho do qual vou acordar daqui a pouco.

Suspiro. Como deve estar papai? E mamãe? Não sei nem quanto tempo de fuso horário é daqui até lá. De qualquer forma, não estou nada a fim de falar com mamãe agora. Sei como ela vai reagir. Sei que vai gritar de felicidade. E não tenho coragem de encarar sua felicidade sabendo que tudo foi justamente um golpe de sorte que Dubai decidiu me dar.

Decido que não é hora de pensar nisso. Caminho de volta para a sala. Não quero bagunçar o quarto onde eu e Grace vamos ficar. Na verdade, não quero bagunçar lugar nenhum, mas não vejo mal nenhum em tirar meu tênis e minhas meias a caminho do sofá para assistir uma TV e relaxar. Já que vou ter que estar à disposição do árabe, que seja assistindo alguma coisa.

Ainda bem que tem Netflix e que dá para escolher a língua na qual quero assistir. Imagina ficar num lugar onde só há legendas árabes? Eu morreria. Não entendo nada e meio que não tive tempo de aprender uma palavrinha sequer.

Deito no sofá e coloco um filme qualquer enquanto minha mente divaga. Agora sem tensão, minha mente fixa as palavras de Hamzaf e seu rosto ao dizer cada uma delas. Seus cabelos negros estavam com um topete levemente arrepiado e sua barba por fazer combina com as sobrancelhas grossas. O terno cinza realmente cai bem nele. Se o visse em qualquer outro lugar, não acharia que era muçulmano. Nem pelos traços. Muitos brasileiros tem traços como o dele. Ele não se vestia com Keffyier ou qualquer coisa do tipo. Mais parecia um empresário ricaço americano do que um árabe chef em Dubai.

Não sei quanto tempo fiquei com a mente vagando sem local certo, mas em determinado momento a fome bateu mais forte e sentindo o estômago roncar, decidi que faria alguma coisa para comer.

Abri os armários procurando qualquer mísera coisa que servisse de alimento, mas Hamzaf devia deixar tudo no andar debaixo, na cozinha do restaurante, porque fora uma lata de sardinha, havia apenas um pouco de milho de pipoca e farinha. Só! Suspirei enquanto decidia que a pipoca provavelmente seria suficiente para tirar um pouco da fome ou, no mínimo era o que teria que servir.

Eu não ia me aventurar nesse dia maluco que tive só para comprar algo para comer. Chega de loucuras por um dia só. Uma pipoca está ótima.

Voltei a assistir TV enquanto comia pipoca. Felizmente, por conta da vida louca que eu tinha no Brasil, nunca tive chances de ter tempo para assistir séries e ser feliz. As poucas que eu assistia já estavam atrasadas. Agora, eu conseguiria colocar todas elas em dia. Olha que alegria!

Também não sei em que momento deixei-me vagar pelo mundo dos sonhos, mas em algum momento me desliguei da TV, do fato de estar em Dubai, de não conhecer Hamzaf direito, de me sentir solitária, dentre tantas outras coisas, e apaguei ali mesmo, com a TV ligada e tudo.

Acordei com uma mão me empurrando com veemência e pedindo para que eu acordasse. Resmunguei. Não queria acreditar que Nícolas, meu irmão, estava me enchendo o saco. Era normal. Ele costumava fazer esse tipo de coisa quando já não tinha mais dinheiro para pagar os vícios dele e queria por que queria me pedir, mais uma vez, dinheiro emprestado.

E eu já estava cansada de dizer não.

― Eu não tenho dinheiro… ― Murmurei ainda de olhos fechados. Eu me recusava a abrir os olhos tão longe do meu horário de despertar.

― Eu sei disso. ― Ouço, mas a voz não parece ser a do meu irmão. Abro os olhos assustada e me levanto apressadamente dando de cara com Hamzaf de braços cruzados, um pouco medonho demais, me encarando como se de repente tivesse um terceiro olho na minha testa. Sei lá, vai ver tinha mesmo.

Engoli em seco. Eu estava ferrada.

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