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Respiro e me isolo da realidade, quero ficar na bolha de Quin, em sua totalidade. Quero pensar que ele está no trabalho agora e que voltará esta noite, que faremos amor antes de dormir e que ele sussurrará para mim o quanto sou sua garota simples. Quero acreditar que nossa vida diária não foi destruída. Não.
Não me lembro dos acontecimentos que se seguiram à minha partida, só sei que estou na casa de Stella desde esta manhã. A mãe de Quin chegou à tarde, me abraçou como se eu fosse seu filho, partindo meu coração, chorei com ela e ela me consolou quando eu deveria consolá-la. Meus pais, por outro lado, conversaram com Stella e fiquei sabendo que eles já estão a caminho, devem estar aqui amanhã de manhã. Quando chega a noite, fecho os olhos e tento respirar, mas o nó na garganta dificulta, quase impossível. Tudo o que vejo é a expressão vazia de Quin e me pergunto no que ele está pensando... nos últimos minutos de sua vida. Será que ele sofreu? Ele vai ficar com medo? Ele pensou em mim? Perguntas sobre perguntas para as quais nunca terei uma resposta. A dor no meu peito parece não parar, eu me levanto e vou para a cozinha. Neste momento, em outras circunstâncias, eu estaria enviando uma mensagem para ele dizendo o quanto sinto sua falta. A ideia me vem à mente, então pego meu celular e abro nossa conversa, então começo a digitar.
For Love: Olá meu amor, sei que você não poderá mais me responder, mas ainda estou escrevendo para você porque sinto sua falta de uma maneira inexplicável. Meu coração não bate mais regularmente, luta com o pensamento de ter perdido você, a mente ainda não aceita. Hoje te olhei e não te reconheci, morri de medo, Quin. Seus olhos não estavam brilhando e o sorriso se foi.
Como vai querida? Você está em paz agora? Eu vou orar por você todos os dias, sabe? Vou rezar por sua alma porque é em paz que você deve estar. Te quero muito. Você é meu maior amor. Meu primeiro. Vos amo. Sua garota simples.
Eu fecho meu celular e o coloco contra meu peito.
- Ela? - Olho para cima e encontro Stella.
- Normalmente, se eu acordasse à noite, eu mandava uma mensagem para ele para que ele soubesse que eu pensava assim. - sussurrar
- Eu sei, foi bom. - aproxima-se lentamente.
- Na manhã seguinte ele respondeu que depois teria que dormir em casa e que sentia minha falta. Ele... – engulo um soluço – costumava dormir com uma perna entre as minhas e uma mão no meu peito. - sugestão de uma risada através das lágrimas. Stella junta sua mão com a minha, enxuga algumas lágrimas e sorri suavemente.
- Olá. - Nós dois nos viramos para a porta, Gabe na porta.
- Fofoca sem mim? - tente brincar.
- Acabei de descobrir que Quin estava dormindo com uma mão na teta da Elle. - diz Stela.
- Ah sim? Peculiar, mas bonito. - toma seu lugar na borda da ilha olhando para mim.
- Eu também disse a ele que ele era um cara estranho, mas que ele nunca se importou. Ele disse que dormia melhor e quem era eu para impedi-lo de ter sonhos pacíficos? - Dou de ombros, o movimento me incomoda.
- Nenhum mesmo. - Stella responde com uma pitada de riso.
- O menino com quem eu estava saindo queria que eu lhe desse a chupeta antes de dormir. - Gabe fala tão rápido que mal a entendemos.
- Você está de brincadeira? - Stella a olha incrédula.
- Essa é a verdadeira razão pela qual eu o abandonei. - explica a morena.
Um riso histérico escapa dos meus lábios, os outros me seguem e logo o riso se transforma em lágrimas. As duas meninas me abraçam e suspiram.
- Nós não vamos deixar você, você entende? - Gabe soluça.
- Estamos aqui. Vai ser difícil, às vezes você vai pensar que não vai conseguir, mas vai superar. Você vai, Elle. - Stella apoia o queixo na minha cabeça.
E eu sei que eles estão certos, eu vou conseguir, mas agora... é muito legal pensar em um futuro onde não há Quin. É tão verdade e dói como o inferno.
Meus pais chegaram pela manhã, por volta das oito horas, ambos me abraçaram como se a vida deles dependesse daquele abraço e acho que também entendo o porquê. Talvez pudesse ter sido eu em vez de Quin. Enquanto a mãe e o pai do meu namorado se encarregavam de organizar o funeral e descobrir por que Quin tinha ido embora, o meu não tinha feito nada além de ter certeza de que ele tinha tudo o que podia para ficar bem. Ele agradeceu aos meus amigos e ao Adam por terem estado comigo até aquele momento e depois se encarregou de preparar um delicioso brunch para todos, pois ainda não se sabia como o dia se desenrolaria. Eu não tinha comido muito e ninguém me obrigou. Eu não tinha falado muito e ninguém me obrigou. Então eu anunciei que iria descansar um pouco, mas essa não era realmente a intenção, eu só queria ficar sozinho por um tempo.
Eu consegui me esgueirar para o telhado do prédio de Stella pelas escadas de incêndio em um momento de confusão e aqui estou eu, sentado no concreto frio admirando as luzes da cidade começando a ganhar vida. O vento acaricia suavemente meu rosto frio, quase como se quisesse me confortar, fecho os olhos e solto um suspiro. Eu não percebo que estou molhando até que uma mão pousar levemente na minha bochecha. De repente, abro os olhos e me viro, um leve sorriso emoldura meu rosto quando vejo papai.
- Ei, pequena. -
- Batata. - Eu descanso minha cabeça em seu ombro.
- Você nos assustou, sabia? Não conseguimos mais te encontrar. -
- Sinto muito. Eu juro que não tenho esses pensamentos. Além disso, Quin nunca iria querer uma coisa dessas. - Eu o tranquilizo em voz alta porque percebo a necessidade que ele tem de ouvi-lo.
- Quer que eu lhe diga algumas coisas ou prefere evitá-las? - pergunta cautelosa.
- Diga-me, não faz diferença agora ou em algumas horas. - respondo olhando o sol se pondo. Pensar que de vez em quando no telhado a gente realmente vinha ver o pôr do sol.
- Eu insisti que o funeral fosse amanhã, mas não foi possível devido... a autópsia, então vai demorar mais dois dias. Eu sei que é de partir o coração, na verdade, não, não, e espero nunca saber. Apenas o pensamento da minha garotinha tendo que experimentar isso em sua pele... caramba. – sua voz falha e eu insinuo outro pequeno sorriso.
- Sou forte. Você sabe, não sabe? Dou-lhe um beijo na bochecha.
- Eu sei querida, eu te vejo e te admiro. Eu só... Eu gostaria de nunca ter descoberto. -
- Eu também. - sussurrar.
- Enfim - respire fundo - Os resultados da autópsia devem chegar amanhã mas eu quero te dizer uma coisa, Miranda. - Eu me afasto e olho para ele esperando.
- Gostaria que ouvisse o que aconteceu depois do funeral. Quin merece um enterro tranquilo e você não ficaria lúcido sabendo os motivos de sua morte. Você acha que pode lidar com isso? - Movo meu olhar em direção ao pôr do sol e mordo meu lábio inferior.
Ele me conhece, ele sabe que eu não pensaria em outra coisa.
- Acho que sim. Eu acho que você está certo. - Eu respondo.
- Bem - insinua um sorriso - agora vamos voltar para baixo, está começando a ficar frio aqui. Você sabe que eu não tinha perdido esse tempo estúpido? - Ele bufa se levantando.
Pego sua mão e o sigo escada acima. Uma verdadeira risadinha escapa dos meus lábios, o rosto do meu pai se ilumina e nesse momento eu sei: a dor vai me dominar, mas eu vou conseguir. Para todos eles.
O dia do funeral chegara mais cedo do que o esperado; após o anúncio da morte de Quin, as horas pareciam ter parado, então me encontrar envolta em um vestidinho preto e casaco no caminho para o banheiro foi um choque. Esta manhã a tensão no ar poderia ser cortada com uma faca. Meus pais sentaram na minha frente, ao meu lado, a mãe de Quin e Gabe, Stella com Adam. Observei a paisagem do lado de fora da janela com um ar ausente, quase como se estivesse dentro de uma bolha de ar, uma bolha fora do mundo. Como se Quin estivesse me esperando no Turner para nosso café da manhã de sábado.
Quando chegamos, eu ignorei os olhares de dor que todos tinham reservado para mim e caminhei pelo corredor. Engraçado, pensei em seguir esse caminho de vestido branco, talvez em alguns anos, mas em vez disso estava de luto. Continuei andando, depois olhei para cima e congelei, minhas pernas tremiam e meus olhos umedeceram quando vi o caixão colocado no centro, a poucos passos dos primeiros bancos. Stella e Gabe correram para me ajudar, mas não conseguiram parar meus soluços. Eu tinha olhado a foto do Quin escolhida para homenageá-lo e quase não vomitei quando percebi que tinha tirado aquela foto para ele. Tinha sido cortada, mas eu a reconheci mesmo assim, desde a época em que ele me levou para LaFayette Greens Gardens.
- Vamos lá. Gabe sussurrou.